A filosofia de Platão se concentra na teoria das
ideias; tudo o mais que o mestre da Academia fez e produziu diz respeito a
explicação e demonstração de que a ordem da realidade está disposta em ideias e
através de ideias; embora Platão mesmo fosse contra a escrita no tocante a
filosofia (cf. Carta VII), aquilo que ele escreveu, conquanto tenha o
norte específico em função da teoria das ideias, toca uma ampla gama de
assuntos que permeia toda a filosofia.
E, mesmo que qualquer classificação cronológica e/ou
temática dos diálogos platônicos seja tida como inapropriada, se estabelece um
parâmetro básico para uma melhor explicação didática do conteúdo dos diálogos,
não pretendendo com isso nenhuma ordenação absoluta a este respeito; a
filosofia de Platão segue o parâmetro da teoria das ideias; e a partir disso se
pode subdividi-la em dois blocos: a teoria ou doutrina das ideias e a vida nas
ideias; ou tomando outros termos: doutrina e ética.
O amplo e genial escopo da filosofia platônica se
divide em doutrina e ética; embora em todos os diálogos se mencione e se evoque
muitos outros aspectos, os quais estão todos interligados, seja num diálogo em
específico seja em todos os outros diálogos, se pode utilizar esta divisão em
dois blocos para melhor compreender a filosofia de Platão.
Com isso, o comentário a todo o Corpus Platonicum
(doravante, CP) estará em ordem e disposto de acordo com a ordenação que
emana desta divisão em dois blocos gerais, e nas subsequentes divisões que são
necessárias em cada um destes dois blocos gerais.
Pois, ao compreender a ordem ontológica da realidade,
a teoria das ideias, Platão a fizera não por um simples estalo ou revelação,
mas através da constante e genial observação da realidade, donde ele parte das
situações comuns, através quais compreende o que concerne a virtude e
similares, os verdadeiros bens da vida, e a partir disso infere um bem
superior, o Sumo Bem, e outras designações amalgamadas, tais como a Beleza, a
Verdade, etc., com os quais passa a compreender de maneira mais apurada todo o
esplendor da ordem da realidade disposta em ordenação ontológica de acordo com
a dignidade dos seres.
Assim, ao se analisar por exemplo um diálogo que toca
o tema da virtude, se analisa não somente a virtude em geral ou uma virtude em
específico, mas se sabe que a partir da análise desta virtude, se infere outro
princípio superior, que dá a forma e base para esta virtude, e assim,
paulatinamente, até se chegar ao Sumo Bem, ou Primeiro Bem; e então, do Sumo
Bem, se compreende as emanações do bem em todos as coisas e em todos os seres,
e a compreensão dos graus e das espécies desta participação dos seres inferiores
no ser superior demonstra o modo como a realidade está disposta; em suma, este
é o escopo da teoria das ideias.
Tendo compreendido isto, se pode apresentar a
disposição do comentário ao CP, de acordo com esta ordem acima descrita,
pois foi o modo como Platão desenvolveu suas obras: dos diálogos que versam
sobre temas éticos e sobre a virtude, de acordo com situações cotidianas (ética
ou vida nas ideias), para os diálogos teóricos, nos quais se têm as percepções
teóricas que são extraídas a partir da análise da realidade (doutrina ou teoria
das ideias).
α. ÉTICA.
A. Virtude em Si.
I. Protágoras.
II. Ménon.
a.
Da Virtude.
III. Hípias Menor.
a.
Hiparco.
B. As Virtudes em Geral.
IV. Laques.
V. Cármides.
VI. Lísis.
VII.
Hípias Maior.
a. Clitofon.
b. Da Justiça.
C. A
Vida na Virtude.
VIII.
O Banquete.
IX.
Filebo.
a. Hálcion.
b. Erixias.
D. A
Virtude em Sociedade, ou, Política.
X. Górgias.
a. Amantes Rivais.
b. Teages.
c. Demódoco.
XI. A
República.
XII.
O Político.
a. Sísifo.
XIII.
Crítias.
XIV.
As Leis.
XV.
Epinomis.
a. Minos.
β. DOUTRINA.
A. A Consciência de Morte, ou Iniciação ao Saber.
XVI. Apologia de Sócrates.
XVII. Críton.
XVIII. Eutífron.
XIX. Fédon.
a.
Axíoco.
B. Lógica e Linguagem.
XX. Crátilo.
XXI. Eutidemo.
XXII. Menexeno.
XXIII. Ion.
C. Ciência Natural.
XXIV. Timeu.
D. Ontologia ou Metafísica Geral.
XXV. Fedro.
a.
Primeiro Alcibíades.
b.
Segundo Alcibíades.
XXVI. Teeteto.
a.
Definições.
E. Metafísica Especial, ou Metafísica Propriamente
Dita.
XXVII. Parmênides.
XXVIII. O Sofista.
Tendo disposto esta ordem, se prossegue para esta
análise nesta ordem; outrossim é que, quando for necessário, também se fará
comentário aos diálogos ditos apócrifos, que também são acoplados no CP,
de acordo com o tema e de acordo com este panorama acima apresentado, e que
serão tomados como de autoria de Pseudo-Platão (nome genérico para designar o
que o platonismo antigo desenvolveu e que se atribuiu ao próprio Platão).
Com isso, se terá um grande e amplo escopo da
filosofia platônica; e se se observar com cuidado, se compreenderá que esta
ordenação é a que Aristóteles hauriu de seu mestre no desenvolvimento de sua
obra; aliás, em muitos aspectos é a estrutura na qual está disposto de todo o Corpus
Aristotelicum; na verdade, tal ordenação não é disposta de modo arbitrário,
mas a partir de pressuposições daquele que melhor compreendeu a doutrina de
Platão, embora não tenha sido propriamente um platônico e tenha caminhado numa
direção oposta, mas sempre em ordem aos caminhos abertos por seu mestre.
E que este projeto que aqui é evocado seja concluído, a
fim de que o Senhor Jesus Cristo seja glorificado através de doutrinas; com fé
em Seu auxílio, e confiante de Sua graça para levar a cabo tal projeto, concluo
esta nótula informativa sobre o comentário ao CP.
θεῷ χάρις!
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