21/07/2025

Sobre o Comentário ao Corpus Platonicum

A filosofia de Platão se concentra na teoria das ideias; tudo o mais que o mestre da Academia fez e produziu diz respeito a explicação e demonstração de que a ordem da realidade está disposta em ideias e através de ideias; embora Platão mesmo fosse contra a escrita no tocante a filosofia (cf. Carta VII), aquilo que ele escreveu, conquanto tenha o norte específico em função da teoria das ideias, toca uma ampla gama de assuntos que permeia toda a filosofia. 

E, mesmo que qualquer classificação cronológica e/ou temática dos diálogos platônicos seja tida como inapropriada, se estabelece um parâmetro básico para uma melhor explicação didática do conteúdo dos diálogos, não pretendendo com isso nenhuma ordenação absoluta a este respeito; a filosofia de Platão segue o parâmetro da teoria das ideias; e a partir disso se pode subdividi-la em dois blocos: a teoria ou doutrina das ideias e a vida nas ideias; ou tomando outros termos: doutrina e ética.

O amplo e genial escopo da filosofia platônica se divide em doutrina e ética; embora em todos os diálogos se mencione e se evoque muitos outros aspectos, os quais estão todos interligados, seja num diálogo em específico seja em todos os outros diálogos, se pode utilizar esta divisão em dois blocos para melhor compreender a filosofia de Platão.

Com isso, o comentário a todo o Corpus Platonicum (doravante, CP) estará em ordem e disposto de acordo com a ordenação que emana desta divisão em dois blocos gerais, e nas subsequentes divisões que são necessárias em cada um destes dois blocos gerais.

Pois, ao compreender a ordem ontológica da realidade, a teoria das ideias, Platão a fizera não por um simples estalo ou revelação, mas através da constante e genial observação da realidade, donde ele parte das situações comuns, através quais compreende o que concerne a virtude e similares, os verdadeiros bens da vida, e a partir disso infere um bem superior, o Sumo Bem, e outras designações amalgamadas, tais como a Beleza, a Verdade, etc., com os quais passa a compreender de maneira mais apurada todo o esplendor da ordem da realidade disposta em ordenação ontológica de acordo com a dignidade dos seres.

Assim, ao se analisar por exemplo um diálogo que toca o tema da virtude, se analisa não somente a virtude em geral ou uma virtude em específico, mas se sabe que a partir da análise desta virtude, se infere outro princípio superior, que dá a forma e base para esta virtude, e assim, paulatinamente, até se chegar ao Sumo Bem, ou Primeiro Bem; e então, do Sumo Bem, se compreende as emanações do bem em todos as coisas e em todos os seres, e a compreensão dos graus e das espécies desta participação dos seres inferiores no ser superior demonstra o modo como a realidade está disposta; em suma, este é o escopo da teoria das ideias.

Tendo compreendido isto, se pode apresentar a disposição do comentário ao CP, de acordo com esta ordem acima descrita, pois foi o modo como Platão desenvolveu suas obras: dos diálogos que versam sobre temas éticos e sobre a virtude, de acordo com situações cotidianas (ética ou vida nas ideias), para os diálogos teóricos, nos quais se têm as percepções teóricas que são extraídas a partir da análise da realidade (doutrina ou teoria das ideias).

 

α. ÉTICA.

A. Virtude em Si.

I. Protágoras.

II. Ménon.

              a. Da Virtude.

III. Hípias Menor.

              a. Hiparco.

B. As Virtudes em Geral.

IV. Laques.

V. Cármides.

VI. Lísis.

VII. Hípias Maior.

              a. Clitofon.

              b. Da Justiça.

C. A Vida na Virtude.

VIII. O Banquete.

IX. Filebo.

              a. Hálcion.

              b. Erixias.

D. A Virtude em Sociedade, ou, Política.

X. Górgias.

              a. Amantes Rivais.

              b. Teages.

              c. Demódoco.

XI. A República.

XII. O Político.

              a. Sísifo.

XIII. Crítias.

XIV. As Leis.

XV. Epinomis.

              a. Minos.

β. DOUTRINA.

A. A Consciência de Morte, ou Iniciação ao Saber.

XVI. Apologia de Sócrates.

XVII. Críton.

XVIII. Eutífron.

XIX. Fédon.

              a. Axíoco.

B. Lógica e Linguagem.

XX. Crátilo.

XXI. Eutidemo.

XXII. Menexeno.

XXIII. Ion.

C. Ciência Natural.

XXIV. Timeu.

D. Ontologia ou Metafísica Geral.

XXV. Fedro.

              a. Primeiro Alcibíades.

              b. Segundo Alcibíades.

XXVI. Teeteto.

              a. Definições.

E. Metafísica Especial, ou Metafísica Propriamente Dita.

XXVII. Parmênides.

XXVIII. O Sofista.

Tendo disposto esta ordem, se prossegue para esta análise nesta ordem; outrossim é que, quando for necessário, também se fará comentário aos diálogos ditos apócrifos, que também são acoplados no CP, de acordo com o tema e de acordo com este panorama acima apresentado, e que serão tomados como de autoria de Pseudo-Platão (nome genérico para designar o que o platonismo antigo desenvolveu e que se atribuiu ao próprio Platão).

Com isso, se terá um grande e amplo escopo da filosofia platônica; e se se observar com cuidado, se compreenderá que esta ordenação é a que Aristóteles hauriu de seu mestre no desenvolvimento de sua obra; aliás, em muitos aspectos é a estrutura na qual está disposto de todo o Corpus Aristotelicum; na verdade, tal ordenação não é disposta de modo arbitrário, mas a partir de pressuposições daquele que melhor compreendeu a doutrina de Platão, embora não tenha sido propriamente um platônico e tenha caminhado numa direção oposta, mas sempre em ordem aos caminhos abertos por seu mestre.

E que este projeto que aqui é evocado seja concluído, a fim de que o Senhor Jesus Cristo seja glorificado através de doutrinas; com fé em Seu auxílio, e confiante de Sua graça para levar a cabo tal projeto, concluo esta nótula informativa sobre o comentário ao CP.

θεῷ χάρις!


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