1. A apologia em prol do pacifismo sempre é permeada
por desequilíbrio, inverdade e burrice; na verdade, seja de acordo com a reta
razão seja de acordo com a fé, o pacifismo sempre é um caminho irracional e
assaz perigoso; pois, a atitude mais correta, e é a que a Sagrada Escritura
também ensina, a saber, de ser pacificador (cf. Mt 5.9), mas jamais pacifista;
pois o pacifismo contradiz plenamente um preceito do Senhor Jesus: “Não
cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada” (Mt
10.34); o pacifismo é contra os ditames do Santo Evangelho.
2. Na verdade, há uma grande diferença entre o
pacificador e o pacifista; pois, o pacifismo tem uma face bonita, e é agradável
aos ouvidos encharcados com a cera das ideologias, mas traz efeitos terríveis, já
que gera apatia quanto ao avanço da tirania; por isso, o pacifista que diz
buscar a paz acaba por ajudar aqueles que buscam a guerra para matança e
domínio. No entanto, o pacificador busca e propaga a paz, sem decair em
indolência e sem deixar de ter a percepção correta quanto ao discernimento dos
tempos.
Pois, o pacifismo sempre traz uma compreensão errada
em relação aos problemas da vida humana, entre os quais a maldição da guerra;
assim, se compreende que embora seja uma maldição terrível, a guerra é algo que
faz parte da história da humanidade e continuará a ser parte desta história até
a consumação dos séculos; portanto, negar este fato é incorrer em
irracionalidade; e, pior, tentar transmogrifar este fato buscando uma paz de
cemitério, é evidência de imbecilidade.
3. Deste modo, se constata que de acordo com a fé se
deve ser a favor da guerra quando esta se mostra necessária; e há sim momentos
onde a guerra é necessária; além do que, a Sagrada Escritura prescreve que há
tempo de paz e tempo de guerra (cf. Ec 3.8b), demonstrando que goste-se ou não,
aceite-se ou não, a guerra é um problema humano, que infelizmente nunca deixará
de existir. Por isso, o pacifismo é contra um preceito da Sagrada Escritura.
E, neste mesmo sentido, se constata que não há nada de
cristão no pacifismo; na verdade, o pacifismo é evidência de impiedade, porque
busca uma solução divina sob mãos humanas para um problema humano; aliás, o que
a fé prescreve, e também é atestado pela reta razão, é que os fiéis devem ser
pacificadores; por isso, o pacifismo é contra a bem-aventurança proclamada pelo
Senhor Jesus.
4. Todavia, nas circunstâncias onde a guerra é
necessária, não se pode haver pacifismo; o pacifismo que querem evocar em nome
da fé, além de demonstrar a soberba e a insolência dos falsos pacifistas, não
consegue lidar com firmeza e esperança com um terrível problema; nenhum dos
pacifistas consegue lidar com a guerra quando esta acontece; então, o problema
é do pacifista; agora um pacificador, quando todas as tentativas pela paz são
malfadadas, sabe como lidar com a guerra.
E isso se aclara com um exemplo, Sir Winston
Churchill, um pacificador, mas não um pacifista; o lendário primeiro-ministro
britânico sempre buscou a paz em todos os momentos, mas quando chegou a
maldição da guerra, não se deixou vencer pela indolência e insolência dos
pacifistas e batalhou para manter incólume e alçada a bandeira da liberdade; e
este é apenas um entre tantos exemplos.
5. Assim, se constata que a fé verdadeira também se
coaduna com a possibilidade da guerra; não da guerra simplesmente pela guerra;
mas também não do pacifismo pelo pacifismo; por isso, ser cristão também é ser
favorável a guerra quando esta é necessária; e embora isso seja parte da
absurdidade da vida, se for negado é negação da própria realidade; não se pode
negar algo da vida humana, senão se decai na anti-realidade.
Portanto, o pacifismo que busca negar a guerra, na
verdade é uma negação da própria realidade, pois a guerra, infelizmente, é
parte da vida humana; por isso, o Pregador ao pensar sobre os absurdos da vida
constatou que os períodos cíclicos da história se coadunam na dialógica paz e
guerra, guerra e paz.
Aliás, este também foi o dístico que Tolstói utilizara
para escrever seu grande clássico “Guerra e Paz”; ora, até na literatura
se consegue ter esta compreensão, e ainda existem pessoas de fé que se tornam
subservientes aos grimórios do pacifismo.
6. Com isso, se constata que o pacifismo, um desequilíbrio
anti-realidade, não se coaduna com a fé e nem com a reta razão. Portanto, se
reafirma que ser cristão também é ter de entender, ainda que isso seja assaz
doloroso, que se deve ser favorável a guerra quando esta é necessária. Isto, em
si, não contradiz os preceitos do Evangelho, mas simplesmente evita que em nome
de uma falsa compreensão do Evangelho, se crie um instrumento anti-realidade
que não consegue lidar com um dos mais terríveis problemas humanos, a guerra; pois,
estranhamente, o pacifismo acaba por influenciar ainda mais os tiranos na
guerra por domínio; isto, a história testemunha de forma incontestável; etc.
7. A fé e a reta razão prescrevem a doutrina
pacificadora, mas não prescrevem a doutrina pacifista. Ser pacificador é buscar
sempre a paz, mas também saber que quando a guerra é necessária não se adianta
buscar uma paz de cemitério, o tótem dos pacifistas; no entanto, ser pacifista
é querer paz quando é necessário a guerra, além do que os pacifistas sempre não
conseguem discernir os tempos: quando é tempo de guerra buscam a todo custo
transmogrifá-lo em tempo de paz (o que jamais ocorre, mas em compensação os que
assim buscam, acabam por se calcinar na anti-realidade); o pacifismo é uma
ilusão, e os cristãos que buscam o pacifismo buscam uma paz ilusória e utópica;
a flor frágil da paz não é preservada por aqueles que não sabem discernir quando
é tempo de paz e quando é tempo de guerra.
8. Ademais, a babaquice do pacifismo se tornou
costumeiramente aceito depois da publicação do ensaio de Immanuel Kant, “À
Paz Perpétua” (1795); embora, as razões de Kant sejam até certo ponto plausíveis do ponto de vista de um filósofo, a existência concreta das nações não pode se
enveredar por utopismo, mesmo proveniente de sentenças de grandes filósofos; o
utopismo kantiano no projeto da paz perpétua preparou o terreno para o desenvolvimento
da doutrina pacifista na contemporaneidade.
No entanto, este utopismo causou males terríveis; pois,
é um utopismo que não leva em conta a experiência real da vida das nações; por
isso, um preceito de Kant, de que os exércitos permanentes deveriam desaparecer
completamente com o tempo, que parecia ser algo bom, tornou-se em instrumento
de permissividade para o domínio de tiranos e carniceiros; e a resposta definitiva
a tal utopismo veio de George Washington: “estar preparado para a guerra é a
melhor maneira de preservar a paz”.
9. Deste modo, o pacifismo é um utopismo; um utopismo
kantiano; pois, se sabe que neste mundo nunca haverá paz perpétua; portanto,
querer buscar uma paz perpétua é um grimório kantiano, que nada tem de piedoso;
por isso, o pacifismo, ética da doutrina da paz perpétua, além de estar contra
os preceitos racionais e da experiência da vida humana, na qual infelizmente
sempre se tem a maldição da guerra, também está contra um preceito da Sagrada
Escritura, o qual ensina que a paz perpétua, a paz sem fim, será trazida por
Cristo, quando este reinar eternamente (cf. Is 9.6-7); antes disso, que
ocorrerá apenas no fim dos tempos, não haverá paz perpétua, pois a vida do
homem sobre a terra é uma constante guerra (cf. Jó 7.1). Portanto, a fé cristã
jamais se pode deixar levar pelo pacifismo, mas sempre deve permanecer uma fé
pacificadora; isto é o que convém a um fiel diante dos problemas humanos.
θεῷ χάρις!
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