06/01/2024

Sobre a Mentira

Prefácio.

           

A mentira é um tema comum da vida; é um tema do cotidiano da vida; por esta razão, este assunto tende a passar desapercebido; mas isso não diminui a gravidade da mentira; e muitas são as aporias e as confusões que existem sobre a mentira; por isso, se faz necessário aclarar o tema da mentira a partir da Escritura, e compreender o que a Palavra de Deus fala sobre este assunto espinhoso.

Pois, compreender biblicamente este assunto, aguça a percepção para os perigos inomináveis da mentira na vida em sociedade; não somente por conta da religiosidade, mas também pelo fato de que a vida em sociedade requer as virtudes cardeais; e como a mentira mata a verdadeira religião, e corrompe as virtudes cardeais, então, onde há a mentira há a desfiguração da religião e há a corrupção na vida em sociedade.

Por isso, a Escritura assevera: “Pela bênção dos sinceros, se exalta a cidade, mas pela boca dos ímpios é derribada” (Pv 11.11); logo, onde se tem a ação da “boca dos ímpios”, isto é, onde a mentira impera, a própria cidade, ou seja, toda conjuntura da sociedade e da organização social, acaba por ser derribada. A boca dos ímpios efetua a morte na cidade, isto é, a morte de tudo aquilo que é necessário para a vida em sociedade; a boca dos ímpios, as bocas mentirosas, matam a fraternidade, destroem a honra, vilipendiam a virtude e inferem a liberdade, despejando assim todas as consequências infernais destes atos viciosos na alma da sociedade.

Assim sendo, se faz necessário uma análise sobre a mentira; e é isto que este ensaio se propõe a fazer, elucidar a mentira a partir das descrições bíblicas; analisar a mentira a partir do que o próprio Deus revelou sobre este assunto; pois, não somente se deve compreender a mentira como pecado e a partir da descrição dos mentirosos, mas principalmente compreender como Deus vê a mentira; e, ao se compreender estes aspectos, se conseguirá ter uma compreensão mais adequada sobre a mentira, e, com isso, se poderá evitar os engodos e os males provenientes da mentira.

Soli Deo Gloria!

In Nomine Iesus!

05 de janeiro de 2024.

 

I. A Mentira.

 

1. Ao se adentrar num estudo, seja o estudo mais sintético e propedêutico, seja num estudo mais extenso, uma questão fundamental é entender sobre o estado do assunto, se possível, em relação ao cotidiano, se o mesmo assim se referir diretamente a uma questão vivencial; no caso do estudo proposto, é um tema de suma importância já refere-se a uma tema cotidiano, pois, se trata de um assunto que, ao parecer simples, passa desapercebido, e, assim deixa de ser analisado e elucubrado; mas, é por esta razão que é um assunto de que tem de ser analisado, já que é uma questão que se apresenta a todos os seres humanos, indistintamente, todos os dias. Na verdade, pode-se dizer, sem sombra de dúvidas, que é uma questão existencial, que assola tanto a cristãos quanto a não cristãos. 

2. E este assunto, que fora proposto de se analisar, é sobre a mentira; a mentira, tema tão corriqueiro do dia a dia; transformada em letra de música; conhecida como parte dos adágios populares; repreendida pela sabedoria dos mais velhos, etc. Este assunto tão corriqueiro do dia a dia, talvez por ser corriqueiro se torna quase que de maneira imperceptível parte do dia a dia das pessoas; mas, pela gravidade do assunto, quase ninguém pensa verdadeiramente sobre o tema da mentira; e a isto também se engloba muitos cristãos, que pelo desconhecimento do tema, ou pela correria do dia a dia, acabam por enveredar pelo tortuoso caminho da mentira. Por isso, já Santo Agostinho, num livro intitulado “A Mentira”, asseverara: “A grande questão que nos inquieta [quando pensamos] sobre a mentira é que muitas vezes ela já se encontra como que fazendo parte das nossas ações e do nosso cotidiano[1].

3. Que expressão de Santo Agostinho, que ao defrontar-se com a questão da mentira no tempo em que fora bispo, resolvera escrever um pequeno livro sobre o assunto, para dele discorrer e assim, ensinar uma boa parte do povo de sua época, tão engendrado pela mentira. Na verdade, a atitude de Santo Agostinho, o primeiro dos padres da Igreja a tratar de maneira singular o tema da mentira, deve também ser a nossa atitude diante de um tema de suma importância como esse; outrossim, é que, pela mentira também fazer parte do cotidiano dos cristãos, pois, ou se enveredam por tal caminho, ou vivenciam diariamente aqueles que por tal caminho se enveredam; por esta e outras razões, a questão sobre a mentira se coloca de maneira inescapável.

4. Aliás, os temas concernentes a teologia moral, ou a ética, são de suma importância à vida cristã; seja analisado sob a perspectiva das virtudes e dos vícios, seja analisado sob a perspectiva da liberdade cristã; pois, a forma como os cristãos vivem diz respeito ao que eles creem; pois, a doutrina está conectada com a vida; logo, tudo o que a Escritura Sagrada prescreve como normativa de vida àquele que crê, que tem fé, deve ser tomado como orientação e norma de conduta para a vida pessoal; e a questão da mentira, se coloca justamente aqui, a fim de abalizar a conduta cristã digna do evangelho e a conduta indigna do evangelho. Pois, a conduta digna do evangelho passa pelo entendimento sobre a mentira, já que a conduta condigna do evangelho não acopla a mentira; ao passo que a conduta indigna do evangelho acopla o vício da mentira.

5. A primeira questão a ser analisada é sobre uma distinção fundamental; pois, existem muitas questões gerais, que parecem mentira, mas não o são, e por isso, são taxadas e condenadas como mentira; esta distinção fundamental e basilar é para abalizar o entendimento sobre isso, a fim de clarificar o verdadeiro sentido da mentira, e não por coisas que, tendo aparência de mentira não o são. Esta distinção, diz respeito ao falar uma mentira e contar uma mentira.

6. Falar uma mentira, é o que se constitui a mentira, o objeto desta investigação; contar uma mentira, é utilizar-se de meios fictícios, ou ficcionais, para algum fim. Falar uma mentira é enganar fraudulosamente, o que se constitui a definição de mentira, como mais a abaixo será analisado; contar uma mentira, é dizer algo de maneira jocosa, como uma anedota, ou um causo, ou uma história ficcional (que se definia como estória), que conquanto não sejam verdade, não são formadas e criadas para enganar fraudulosamente. Santo Agostinho confirma esta questão com a seguinte expressão: “Excetuando, portanto, as anedotas, que nunca foram tomadas por mentiras, uma vez que elas têm um sentido bastante claro, devido à própria tonalidade em que são pronunciadas e o seu espírito jocoso, que em nada tem a intenção de enganar, ainda que não diga coisas verdadeiras. Outra questão, que não pretendemos examinar por aqui, é se uma alma perfeita pode fazer uso de tal modo de expressão. Portanto, excluindo as anedotas, primeiramente, não devemos considerar mentiroso quem não está mentindo[2].

7. Além disto, em relação a questão do se contar mentiras, pode-se exemplificar ainda mais pelas peças de literatura; principalmente pelas de literatura fantástica, isto é, aquelas peças de literatura que, sendo escritas com fábulas e coisas similares, o são com o intuito de educar o imaginário, e para ensinar verdades a partir de tais instrumentos dito fantásticos; e, mesmo nos romances, ou nas peças de teatro, ou nas novelas, a questão se dá do mesmo modo: são gêneros literários que não sendo verdadeiros, pois, na maior parte das vezes são textos escritos de maneira fictícia e não descrições de fatos reais, mas o são não com o propósito de enganar fraudulosamente, mas para comunicar verdades e ensinamentos através dos instrumentos dispostos pelos vários gêneros literários.

Na questão da literatura, pode-se elencar o exemplo de Fernando Pessoa, o genial poeta português; Fernando Pessoa escreveu com vários heterônimos, e escreveu obras magníficas, poesias incomparáveis, análises profundas, etc.; apesar de estes heterônimos terem sido inventados, e as reflexões serem ficcionais e/ou poéticas, todavia, não são mentira; pois, Pessoa não as fizera para enganar fraudulosamente, mas para escrever e escrever sob diversas perspectivas, a respeito dos mais variados assuntos. E a literatura tem diversos outros exemplos; as grandes epopeias, os grandes clássicos, etc., se coadunam com estes princípios.

8. Entendido esta breve distinção, entre o que é falar uma mentira e o que é contar uma mentira, se estabelece que, o contar uma mentira, como fora dito acima, não constitui-se o significado real do que é a mentira; mas o falar uma mentira, constitui-se o significado real da mentira, pois, falar uma mentira é enganar fraudulosamente, o que constitui o vício de enganar; ademais, a definição de mentira estabelece-se sob este segundo aspecto, o de falar uma mentira, significando que a mentira tem por significado o enganar, o enganar com o objetivo de fraudar e/ou de destruir a verdade, a veracidade.

9. Assim, portanto, a mentira é enganar fraudulosamente; mas, sob a expressão designada para mentira, o falar uma mentira, se estabelece que, nem tudo aquilo que é falso constitui-se uma mentira; pois, alguém pode, por ignorância ou desconhecimento, afirmar algo falso, sem com isso incorrer em uma mentira, se realmente o que fora afirmado, ainda que falso, seja tido por alguém como algo verdadeiro; um exemplo, são os sofismas gerais, que enganam muitas pessoas com coisas falsas, e as pessoas passam a afirmar estas coisas falsas como se fossem verdadeiras; as afirmações provenientes de sofismas são falsas, mas a atitude das pessoas em relação a estas, nem sempre se constitui como uma mentira, pois, as mais das vezes, as pessoas mais símplices não tem conhecimento ou instrução para compreender que são sofismas; mas se alguém, sabendo que um sofisma é sofisma e o afirma, então, mente, porque sabendo da verdade preferiu o engano da falsidade com conhecimento e consciência de tal engano. Tal como diz Santo Agostinho: “Assim, mente aquele que tem uma coisa em seu espírito e enuncia outra diferente com palavras ou outros sinais[3].

10. Por isso, a mentira constitui-se da intenção do coração em consonância com a compreensão do intelecto; a mentira é unívoca a intenção e a compreensão; sendo assim, uma pessoa enganada por um sofisma, pode afirmar algo falso sem com isso mentir, pois, apesar deste algo falso, a intenção da pessoa não é enganar e a compreensão da pessoa não se apercebe do sofisma tal como é; todavia, a mentira, ao confluir-se com a intenção do coração para enganar, acopla-se ao assentimento da mente para o engano e o erro; donde, mente e coração estarem interligados no ato da mentira. Santo Agostinho assevera: “Pois chama-se enganador o que tem certo desejo de enganar, desejo este que não se entende sem a alma, e se realiza em parte pela razão e em parte pela natureza: pela razão nos animais racionais, como no homem; pela natureza nos irracionais, como na raposa. O que chamo mendaz, mentiroso, existe nos que mentem. Estes diferem dos falazes, enganadores, pois todo falaz deseja enganar, ao passo que nem todo aquele que mente deseja enganar. As representações teatrais com mímicas, as comédias e muitos poemas são repletos de ficções, criadas mais por razão de lazer que por vontade de enganar. Como também quase todos os que contam piadas mentem. Mas falaz ou enganador, na verdadeira acepção da palavra, é aquele cujo intuito é que alguém se engane[4].

11. Deste modo, a mentira por si é uma atitude que engloba a alma, o coração, e a intelecção; o homem que, em seu interior, maquina o mal (cf. Sl 56.1-7; Sl 109.1-5), isto é, prepara o mal e o engano com estratagemas semeados pelo Diabo (cf. Ef 6.11), logo, tem em sua alma o desejo de enganar, que por sua vez, torna-se em ato intelectivo vicioso, a fim de levar o homem a mentir com o desejo de enganar; donde, tal como diz Santo Agostinho, no mentiroso há algo de falaz; assim sendo a mentira é algo que se torna manifesto na vontade, e depois, na razão da fala; donde, as pessoas que corretamente são chamadas de mentirosas, o fazem com a intenção do coração duplo, confirmada pela corrupção moral da vontade e do intelecto. Portanto, quem mente para enganar é indesculpável diante de Deus, pois o faz com o coração e com a razão confirmando tal ato; deste modo, quem mente para enganar fraudulosamente é filho do Diabo, pois o Diabo é o pai da mentira (cf. Jo 8.44).

12. E é do senso comum teológico, que a única paternidade e “criação” atribuída ao Diabo na Sagrada Escritura é a mentira; pois, a mentira, o faltar com a verdade, a falsidade dos homens, raiz primeira do Pecado, que levou a serpente a enganar fraudulosamente Adão e Eva no paraíso (cf. Gn 3.1-7), ao faltar com a verdade, fora calcificada na alma do Diabo; a Escritura diz que Satanás, fora um anjo, um querubim ungido (cf. Ez 28.12-17), que por ensoberbecer-se quis se tornar como Deus (cf. Is 14.12-15); e a soberba, o apodrecer por dentro, antecede a ruína (cf. Pv 16.18); pois, da soberba veio o orgulho do querubim ungido, através do qual viera a ruína, a queda do querubim ungido, e logo após a queda dos anjos (cf. Ap 12.4a), e depois a queda do homem (cf. Gn 3); e fora desta queda que iniciou-se, no coração do anjo caído, Satanás, a calcificação da mentira; e desde então, é o pai da mentira, e engana a todo o mundo (cf. Ap 12.9).

Ademais, o Apóstolo afirma que Satanás se transfigura em anjo de luz para enganar fraudulosamente (cf. 2Co 11.14-15); donde, até mesmo em questões que se transparecem de verdade, há de se verificar se não há o engano fraudulento. A mentira, o enganar fraudulosamente, portanto, é obra de Satanás. 

 

II. A Falsidade dos Homens.

 

13. Deste modo, elucubrar e pensar sobre a mentira é de suma importância; tal como dissera Santo Agostinho, a grande questão que inquieta quando se pensa sobre a mentira é que ela já faz parte do dia a dia; mas, a Escritura reiterada vezes repreende sobre a mentira; e o único remédio para a mentira, tal como o demonstra o salmo 12, é falar sobre a falsidade do homem e a veracidade de Deus; enquanto os homens são fraudulentos e deixam-se levar pelo engano de Satanás, o salmista diz que Deus permanece sempre sendo verdadeiro, e onde há a verdade não pode haver a mentira, e vice-versa; pois, Deus não coabita com a mentira; já Santo Agostinho atestara isso: “Tu és a verdade que a tudo preside, e eu, na minha avidez, não queria perder-te, mas possuir a ti e ao mesmo tempo a falsidade. Pois, ninguém quer mentir tanto, a ponto de ele mesmo ignorar a verdade. E assim te perdi, porque tu não aceitas ser possuído juntamente com a mentira[5].

14. A asseveração do salmo 12, portanto, traz esta dialógica singular, a falsidade dos homens e a veracidade de Deus; enquanto os homens agem com falsidade e se tornam apóstolos da mentira, Deus permanece verdadeiro e santo; por isso, tal como diz o Apóstolo: “Sempre seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso” (Rm 3.4); mas, esta constatação do salmista, do mavioso salmista de Israel, apresenta alguns aspectos interessantes sobre a falsidade dos homens; é apenas uma breve alocução sobre o salmo 12, mas que delineia oito aspectos  básicos, os quais são: 

15. [i] Primeiro, faltam homens benignos (Sl 12.1a); a constatação do salmista é deveras certeira: faltam homens benignos; faltam pessoas de confiança (Sl 12.1a NTLH); os que temem ao Senhor sumiram da terra (Sl 12.1 NVT); os homens piedosos estão a desaparecer (Sl 12.1 OL); e tal asseveração por parte do salmista, já demonstra o porquê da falsidade dos homens, a saber, pela falta de homens benignos; e onde não há homens benignos, logo, haverá uma multidão de homens mentirosos; onde se falta o sal da terra (os homens benignos), logo, haverá podridão, pois onde não há sal não se preserva e conserva as coisas.

16. [ii] Segundo, poucos são os fiéis entre os filhos dos homens (Sl 12.1b); o salmista continua em sua constatação: os que são fiéis a Deus desapareceram da terra (Sl 12.1 NTLH); os fiéis estão desaparecendo depressa (Sl 12.1 NVT); são poucos os que te são fiéis (Sl 12.1 OL); e tal asseveração do salmista se coaduna com a anterior, com o propósito de demonstrar a gravidade da situação, pois, a multiplicação dos mentirosos é fruto, ou consequência, de se ter poucos fiéis entre os filhos dos homens; se se tem poucos fiéis haverá em contrapartida muitos infiéis; se os fiéis a Deus desapareceram da terra, então os infiéis a Deus se multiplicarão.

17. [iii] Terceiro, cada um fala com falsidade a seu próximo (Sl 12.2a); o salmista prossegue em sua análise, ao asseverar: todos dizem mentira uns aos outros (Sl 12.2 NTLH); todos mentem uns aos outros (Sl 12.2 NVT); cada um procura enganar o seu próximo (Sl 12.2 OL). A continuidade da análise do salmista demonstra o fruto de se terem poucos fiéis entre os filhos dos homens, a saber: a falsidade se avoluma de maneira oceânica, e, assim, todos dizem mentira uns aos outros, cada um procura enganar o seu próximo. A falta de homens de bem na sociedade ocasiona uma sociedade de homens mentirosos.  

18. [iv] Quarto, falam com lábios lisonjeiros e coração dobrado (Sl 12.2b); o salmista continua sua constatação; se cada um fala com falsidade com seu próximo, então, é porque falam com lábios lisonjeiros e coração dobrado; é porque um procura enganar o outro com bajulações (Sl 12.2 NTLH); é porque falam com lábios bajuladores e coração fingido (Sl 12.2 NVT); é porque são lisonjeiros e falam sem sinceridade (Sl 12.2 OL). E a constatação do salmista apresenta os qualificativos morais daqueles que são infiéis, a saber: têm lábios lisonjeiros, coração dobrado (duplo), enganam com bajulações, tem o coração fingido, e falam sem sinceridade. Estas são as características que o salmista observara daqueles que são infiéis e são mentirosos. 

19. [v] Quinto, o Senhor lançará em juízo os lábios lisonjeiros (Sl 12.3); mas o salmista também constata qual é o fim destes que têm os lábios lisonjeiros: “Ó Senhor, faze com que esses bajuladores se calem! Fecha a boca dessa gente convencida” (Sl 12.3 NLTH); “Que o Senhor corte os lábios bajuladores e cale a língua arrogante” (Sl 12.3 NVT); “O Senhor castigará os que falam com adulação e altivamente” (Sl 12.3 OL). O salmista compreende que o Senhor entrará com juízo e justiça a estes que tem os lábios lisonjeiros, que têm a língua arrogante, que falam com adulação e altivamente; estes o Senhor lançará em juízo; e tal como diz a Escritura, quando os ímpios entram em juízo, os justos se alegram.

20. [vi] Sexto, a soberba dos lábios lisonjeiros (Sl 12.4); o salmista ao constatar que aqueles que tem lábios lisonjeiros serão julgados por Deus, também constata a atitude destes diante a justiça de Deus; o salmista assevera sobre estes: “Eles dizem: Com as nossas palavras venceremos; ninguém vai tapar a nossa boca. Quem é que manda em nós?” (Sl 12.4 NLTH); “Eles dizem: Mentiremos quanto quisermos. Os lábios são nossos; quem nos impedirá?” (Sl 12.4 NVT); “os que dizem: Continuarei a falar como me apetecer. A boca é minha. Quem pode governar sobre nós?” (Sl 12.4 OL). O salmista constata que muito mais do que lábios lisonjeiros e enganadores, eles têm soberba no coração; pois, ao defrontarem-se com o juízo de Deus, ainda dizem “com as nossas palavras venceremos”, “ninguém vai tapar a nossa boca”, “mentiremos quanto quisermos”, e também dizem altivamente: “quem é que manda em nós?”, “Quem pode governar sobre nós”, etc. Enfim, a soberba dos lábios lisonjeiros é demonstrada diante do justo juízo de Deus.

21. [vii] Sétimo, a veracidade de Deus diante da falsidade dos homens (Sl 12.5-7); o salmista continua, e diante da soberba dos homens que têm os lábios lisonjeiros, e afirmam que não sofrerão o justo juízo de Deus, e dizem as coisas arrogantes (v. 4); mas o próprio Deus afirma sobre o julgamento que estes terão: “(5) Mas o Senhor Deus diz: Agora eu vou agir porque os necessitados estão sendo oprimidos, e os perseguidos gemem de dor. Eu lhes darei a segurança que tanto esperam. (6) As promessas do Senhor merecem confiança; elas são como a prata pura, refinada sete vezes no fogo. (7) Ó Senhor Deus, guarda-nos sempre bem-protegidos e livra-nos dos maus” (Sl 12.5-7 NLTH); “(5) O Senhor responde: Vi a violência cometida contra os indefesos e ouvi o gemido dos pobres. Agora me levantarei para salvá-los, como eles tanto desejam. (6) As promessas do Senhor são puras como prata refinada no forno, purificada sete vezes. (7) Portanto, Senhor, sabemos que protegerás os oprimidos e para sempre os guardarás desta geração mentirosa” (Sl 12.5-7 NVT); “(5) E o Senhor responde: Eu me levantarei para defender os pobres da opressão, para fazer calar os gemidos dos infelizes. Darei salvação aos que suspiram por ela. (6) A palavra do Senhor é pura; é tão verdadeira como a prata refinada no forno sete vezes. (7) Tu guardarás para sempre os que são teus, Senhor, fora do alcance e da influência desta geração maligna” (Sl 12.5-7 OL).

Assim, Deus mesmo se encarrega de julgá-los e demonstrar a todos a Sua veracidade, através de Sua justiça e misericórdia para com aqueles que sofrem injustamente; através da pureza e certeza de Sua Palavra, que é a verdade; e através do cuidado protetor para com aqueles que são fiéis, ainda que sejam poucos. Deste modo, o justo juízo para com aqueles que tem lábios lisonjeiros é tão certo com o cuidado de Deus para com aqueles que sofrem injustamente, é tão certo quanto a pureza da Palavra do Senhor.

22. [viii] Oitavo, os ímpios se multiplicam quando os mais vis são exaltados (Sl 12.8); e assim, o salmista termina sua constatação, confirmando o que iniciara falando: os ímpios se multiplicam quando os mais vis são exaltados; “pois eles andam por toda parte, e todas as pessoas dão valor àquilo que é mau” (Sl 12.8 NLTH); os perversos andem confiantes, e a maldade é elogiada em toda a terra (Sl 12.8 NVT); “Gente perversa aparece por toda a parte; as pessoas depravadas chegam a ser mais admiradas e louvadas” (Sl 12.8 OL).

O salmista tem a compreensão de que, quando os ímpios, as pessoas com lábios lisonjeiros são elogiadas e honradas, os mais vis começam a ser exaltados e honrados; e a constatação desta máxima é sempre verdadeira: “Quando os justos se engrandecem, o povo se alegra, mas, quando o ímpio domina, o povo suspira” (Pv 29.2).

O povo suspira quando os mais vis são exaltados, quando os de lábios lisonjeiros são exaltados, quando os mentirosos são honrados. Já Rui Barbosa também constatara: “A falta de justiça... é o grande mal da nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação. A sua grande vergonha diante do estrangeiro, é aquilo que nos afasta os homens, os auxílios, os capitais. A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade... promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas. De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto[6].

23. Com isso, a estrutura deste salmo, como fora dito, demonstra esta dialética entre Deus e os homens; entre a veracidade de Deus e a falsidade dos homens; entre o Deus que é a verdade e os homens mentirosos; neste sentido, referir-se à humanidade é se referir à humanidade não redimida; Barth dissera: “quem se refere à humanidade refere-se à humanidade não redimida[7]. Logo, a mentira, é o elemento fulcral para demonstrar a humanidade não redimida, a humanidade que é descrita como a “falsidade dos homens” no linguajar do salmista; a humanidade que carece de homens benignos, que tem poucos homens fiéis, mas que tem muitos mentirosos, que tem hordas e mais hordas de homens de lábios lisonjeiros e de coração dobrado à mentira e à falsidade.

Por isso, é importante falar sobre a mentira, para entender o engodo por traz da mentira; e também para que os cristãos estejam sempre alertas com a mentira, a tal ponto de poder clamar como o salmista: “Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios” (Sl 141.3), a fim de que não pequem por causa da mentira.

 

III. Os Mentirosos.

 

24. A compreensão sobre a mentira é de fundamental importância, não somente pelo tema em voga, tão presente no cotidiano das pessoas, mas principalmente pelo caractere existencial da questão; pois, se há a mentira, entendida a distinção estabelecida entre o que é mentira e o que não é, logo há quem mente e há o mentiroso; quem mente, se numa anedota ou história, ou em qualquer outra situação que não tem a situação de enganar, apenas conta algo que não é verdadeiro mas que não falta com a verdade; mas quem é mentiroso, mente para enganar fraudulosamente; quem mente apenas fala algo que não é verdadeiro, já o mentiroso engana fraudulosamente; por isso, sobre o mentiroso, a Escritura tece alguns comentários; os autores bíblicos, inspirados pelo Espírito Santo, estabelecem algumas qualificações à adjetivação de quem é mentiroso; e estas qualificações se estabelecem de maneira tal que a própria Escritura também descreve como o mentiroso é visto pelo próprio Deus.

25. De antemão é preciso entender, que o mentiroso, diferentemente de quem conta uma mentira numa anedota ou história, possui uma culpa pelo desejo intencional de enganar; Santo Agostinho diz: “A culpa do mentiroso está em seu desejo intencional de enganar[8]; portanto, o mentiroso tem o desejo intencional de enganar, porque há uma maligna intenção que fora semeada em seu coração pelo Diabo, o pai da mentira (cf. Jo 8.44), de tal forma que tal semente floresceu e se tornou em intenção, em desejo, e, por fim, em prática viciosa da mentira. Assim, uma distinção é feita em relação ao mentiroso: (i) primeiro, na descrição do mentiroso; e, (ii) segundo, em como Deus vê o mentiroso.

26. [i] Primeiro, na descrição do mentiroso; a Escritura possui inúmeras descrições daquele que é mentiroso; a própria designação básica do mentiroso é que o mesmo é filho do Diabo (cf. Jo 8.44); mas, uma descrição bem interessante é a do salmo 109, onde o salmista apresenta suas aflições, algumas das quais, em contato direto com a perseguição por parte de pessoas mentirosas e fraudulentas; e é a partir da descrição do salmista que se fará uma alocução sobre este assunto; pois, aquilo que o salmista descrevera de suas aflições e perseguições, das qualificações que elenca de seus perseguidores, demonstram as características daqueles que são descritos nas Escrituras como mentirosos.

27. A primeira descrição feita pelo salmista é que os mentirosos, os homens vis, em suas ações e falas são chamados de boca ímpia e boca fraudulenta; numa outra tradução se fala em maus e mentirosos (NTLH), e noutra ainda, em perversos e aqueles que falam mentiras (NVT); é uma descrição precisa, pois, o salmista ao descrevê-los deste modo, demonstram o caractere essencial do caráter destes, a saber: são homens maus, e, por isso é que falam mentiras, são boca ímpia, tem perversidade para caluniar; e também é por isso que são boca fraudulenta já que falam mentira, e o fazem para enganar fraudulosamente; portanto, os inimigos que o salmista enfrenta são inimigos ímpios e de lábios mentirosos. 

28. A segunda descrição feita pelo salmista é que os mentirosos tem a língua mentirosa; é algo clarividente, mas a descrição dupla feita pelo salmista demonstra ainda mais a gravidade do caráter dos mentirosos; o salmista diz que eles tem falado contra ele com uma língua mentirosa; noutra tradução diz que os mentirosos falam contra ele e o caluniam (NTLH), e ainda, diz que os perversos falam contra ele e falam mentiras sobre ele (NVT); por isso, a descrição dupla, demonstra a gravidade da situação de perseguição que o salmista enfrentara; e a língua mentirosa tem duas maneiras de agir, ou levando ao engano, ou tendo a intenção de enganar; no primeiro sentido, pode ocorrer de que alguém seja levado ao engano, sem como isso ter sido sujeitado a mentira; mas sempre a mentira, feita pelo mentiroso, tem a intenção de enganar; por isso, Santo Agostinho assevera: “Mentir é querer passar pelo que não se é. Mas passar por outro do que se é — sem o querer — não é mentir. É levar ao engano. O que distingue o mentiroso daquele que leva ao engano, é que todo mentiroso tem a intenção de enganar — mesmo que não se chegue a crer nele[9].

29. A terceira descrição feita pelo salmista é que os mentirosos o cercaram com palavras odiosas; noutra tradução diz que “eles dizem coisas terríveis a meu respeito” (NTLH), e ainda, “eles me cercam de palavras odiosas” (NVT); e nesta descrição está um aspecto fundamental do caráter daqueles que são mentirosos; pois, estes procuraram cercar, procuraram estar em derredor daqueles a quem procuram caluniar e enganar; de certo modo, os mentirosos e vis, ao cercaram as pessoas com palavras odiosas, estão na verdade, agindo como o Diabo, ao ponto de para mentirem e caluniarem inferirem na liberdade de outrem; estes, portanto, são filhos do Diabo, que anda em derredor procurando alguém que possa tragar (cf. 1Pe 5.8); e assim, os mentirosos ao cercarem, ao procurarem de todo modo caluniar e mentir contra alguém, são descritos como aqueles que falam palavras odiosas; a odiosidade é própria dos mentirosos.

30. A quarta descrição feita pelo salmista é que os mentirosos pelejaram contra ele sem causa; noutra tradução diz, “me atacam sem motivo nenhum” (NTLH), e ainda, “me atacam sem motivo” (NVT); é a consequência dos mentirosos terem deixado a mentira, o engano ter sido semeado em seus corações; quem se torna mentiroso acaba por se tornar perseguidor; pois, a mentira conduz à hipocrisia e ao ato de perseguir quem não está na mentira; o mentiroso tende a perseguir quem está na verdade, ou aqueles que se lhe opõem; por isso, o salmista diz que os mentirosos o atacam sem motivo nenhum; e realmente, se se mente sobre alguém e/ou calunia este alguém sempre é sem motivo; pois, não existem motivos para se mentir sobre alguém e/ou caluniar alguém; mas, como no caso os mentirosos são filhos do Diabo, eles o fazem movidos pelo ódio e a soberba, características calcificadas no ser do Diabo.

31. A quinta descrição feita pelo salmista é que os mentirosos por terem os lábios fraudulentos deram em paga ao amor a inimizade; noutra tradução diz que “eles me acusam, embora eu os ame e tenha orado por eles” (NTLH), e ainda, “retribuem meu amor com acusações, mesmo enquanto oro por eles” (NVT); os mentirosos, por desenvolverem o ódio e a soberba em seus corações, acabam por só aceitarem ódio e acusações; o salmista chega ao ponto de falar que eles deram em paga ao amor que ele demonstrara a inimizade; os mentirosos acusam aqueles que os amam, e caluniam aqueles que oram por eles; eles retribuem amor com ódio e com acusações; a descrição do salmista serve para clarificar o estado de alma dos mentirosos, e a desordem moral que toma conta da mente e do coração dos mentirosos.

32. A sexta descrição feita pelo salmista é que os mentirosos deram mal em troca do bem que receberam e deram ódio em troca do amor que receberam; noutra tradução diz: “eles pagam o bem com o mal e o amor, com o ódio” (NTLH), e ainda, “pagam-me o bem com o mal, e o amor, com o ódio” (NVT); os mentirosos tem balança dupla; e eles têm balança desajustada; eles pagam o bem com o mal, e o amor com o ódio; e é característico dos mentirosos demonstrarem ódio e maldade, pois, o amor e a bondade daqueles que servem a Deus mostram toda a podridão espiritual que está presente no coração daqueles que são mentirosos; por isso, os mentirosos ficam com tanta raiva e chegam até a escarnecer daqueles que praticam bondade e misericórdia, pois, o amor e a bondade, testemunhados pelos fiéis são como um fanal de luz para iluminar as trevas dos mentirosos, para demonstrar que são filhos do Diabo, já que o amor e a bondade, por parte daqueles que são fiéis são fanal de luz para demonstrar a malignidade no coração do mentiroso.

 

IV. As Coisas que Aborrecem a Deus.

 

33. [ii] Segundo, em como Deus vê o mentiroso; entre as muitas descrições bíblicas do mentiroso, tal como a do Sl 109.1-5, há também a descrição de como Deus vê o mentiroso; e isto o texto de Provérbios demonstra de maneira inconfundível: “Os lábios mentirosos são abomináveis ao SENHOR” (Pv 12.22); ou noutra tradução: “O Senhor Deus detesta os mentirosos” (Pv 12.22 NTLH); ou, “Os lábios mentirosos são detestáveis para o Senhor” (Pv 12.22 NVT); os lábios mentirosos, o mentiroso, é abominação a Deus; Deus detesta os lábios mentirosos; os mentirosos são detestáveis ao Senhor; a mesma Escritura que afirma que Deus é amor (cf. 1Jo 4.8), e que Deus Seu Único Filho para morrer pelos pecadores (cf. Jo 3.16), também afirma que Deus abomina, detesta os mentirosos; e por que? Pelo simples fato que os mentirosos são filhos do Diabo.

34. Os lábios mentirosos de que o salmista e de que o autor do livro de Provérbios falam, é abominação pelo fato de que Deus detesta a balança dupla, o que nada mais é do que duplicidade de caráter; tal como diz a Escritura: “Balança enganosa é abominação para o SENHOR, mas o peso justo é o seu prazer” (Pv 11.1); pois, esta duplicidade, a “balança enganosa” tem por raiz a soberba, que tem sua raiz na Queda do querubim ungido (cf. Is 14.12-15; Ez 28.12-17); e a soberba precede a ruína (cf. Pv 16.18). Portanto, estes que perseguem o salmista, bem como a todos aqueles que se enquadram na descrição bíblica de mentirosos, tem o caráter duplo, o qual, tem a raiz na soberba; todo mentiroso contumaz e falaz é soberbo, pois, calcifica a mentira de tal modo, que a mentira passa a ser o “deus” do mentiroso. O vício da mentira demonstra a cristalização da soberba na alma.

35. E a sabedoria judaica, principalmente a sabedoria salomônica, demonstra estas coisas que o Senhor aborrece e abomina, porque refletem a soberba do Pecado no coração humano; e o texto de provérbios é riquíssimo em demonstrar o que Deus aborrece e abomina; e apesar das várias afirmações concernentes a esta questão em várias passagens do livro de Provérbios, especificamente em Pv 6 se apresenta seis coisas que aborrecem ao SENHOR, e uma sétima que a alma dEle abomina: “Estas seis coisas aborrece o Senhor, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, e língua mentirosa, e mãos que derramam sangue inocente, e coração que maquina pensamentos viciosos, e pés que se apressam a correr para o mal, e testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos” (Pv 6.16-19).

E estas seis coisas que aborrecem ao Senhor, mais a sétima que Ele abomina, devem ser brevemente analisadas; estas sete coisas contrastam com as bem-aventuranças, denotando que se Cristo pronuncia a ventura sobre aqueles que possuem as características que o agradam, o texto de Provérbios pronuncia as desventuras daqueles que são abominação ao Senhor; portanto, eis este catalogo de coisas que o Senhor abomina: (a) primeiro, os olhos altivos; (b) segundo, a língua mentirosa; (c) terceiro, mãos que derramam sangue inocente; (d) quarto, o coração que maquina pensamentos viciosos; (e) quinto, os pés que se apressam para correr para o mal; (f) sexto, a testemunha falsa que profere mentiras; (g) sétimo, o que semeia contendas entre irmãos.

36. [a] Primeiro, os olhos altivos; ou noutra tradução, o “olhar orgulhoso” (NTLH), os “olhos arrogantes” (NVT); a primeira coisa que aborrece ao Senhor é a arrogância, o orgulho; pois, “a arrogância é a exaltação de si mesmo sobre outras pessoas e transgride a honra fundamentalmente igual de cada indivíduo[10]. Deste modo, o Senhor abomina os olhos altivos porque estes são sinal da soberba do coração, que faz com as pessoas exaltem-se a si mesmas para diminuir e/ou menosprezar outrem; os olhos altivos se acham superiores quando não o são, e para isso, denigrem e surrupiam a imagem do outro em proveito próprio; por isso, os olhos altivos aborrecem ao Senhor.

37. [b] Segundo, a língua mentirosa; a língua mentirosa é que engana fraudulosamente, com o intuito de fraudar e/ou caluniar, a fim de que as pessoas desavisadas ou símplices, passem a desprezar e/ou a menosprezarem aquele contra quem a mentira é desferida; sobre isso, “o desprezo pelos outros e pela santidade de sua reputação está a apenas um passo do desprezo pela santidade da vida em si[11]. Quem tem a língua mentirosa, para levar outros ao desprezo de alguma pessoa e para desprezar a santidade inerente de sua reputação, tem antes de tudo, desprezo pela própria santidade; o que, por si, constitui uma infâmia diante de Deus, e por isso, aborrece ao Senhor.

38. [c] Terceiro, mãos que derramam sangue inocente; ou noutra tradução, “mãos que matam pessoas inocentes” (NTLH); aqueles que matam inocentes aborrecem ao Senhor, que é vingador daqueles que são injustiçados sendo inocentes; se Deus se mostra juiz daqueles que são injustiçados, ainda mais para aqueles que matam inocentes, à estes Deus se mostra como o Justo Juiz; pois, a morte de um inocente, constitui um atentado contra a lei de Deus, contra os mandamentos do Senhor e contra a vida, bem inalienável outorgado por Deus aos homens; portanto, aqueles que matam pessoas inocentes são abominação ao Senhor.

39. [d] Quarto, o coração que maquina pensamentos viciosos; ou noutra tradução, “a mente que faz planos perversos” (NTLH), o “coração que trama maldades” (NVT); aqueles que maquinam pensamentos viciosos aborrecem a Deus; a mente que faz planos perversos são aborrecimento ao Senhor; pois, a mente que maquina pensamentos viciosos contamina toda a alma, e assim, as atitudes da pessoa que maquina pensamentos viciosos são, evidentemente, atitudes viciosas; e tal como diz Tomás, “o vício se opõe a virtude[12].

Com isso, o coração que maquina pensamentos viciosos, é o coração que maquina pensamentos contrários a virtude, e tudo o que é contrário a virtude aborrece a Deus, já que é contrário a natureza estabelecida pelo próprio Deus. Os pensamentos viciosos, são o estado de mente mais vil que um ser humano pode alcançar, havendo nestes estágios de degradação ainda piores, da perversidade a malignidade; mas em si, os pensamentos viciosos são a fonte de tudo o que contamina a alma em contrariedade com as virtudes.

40. [e] Quinto, os pés que se apressam a correr para o mal; ou noutra tradução, “pés que se apressam a fazer o mal” (NTLH); aqueles que se apressam, no sentido de correria temporal, mas em “agilidade” e “destreza” para fazer o mal; por isso, se fala sobre os pés, já que são símbolo do caminhar, do correr, para designar figurativamente aqueles que agem com destreza e astúcia na prática do mal; estes aborrecem ao Senhor, pois, têm mais destreza para fazer o mal do que para fazer o bem, têm mais agilidade para fazer e obrar crueldades do que vigor para ser misericordioso; os pés que se apressam a correr para o mal aborrecem ao Senhor, ao passo que os misericordiosos, aqueles que se apressam em fazer obras de misericórdia são o Seu deleite.

No início do livro de Provérbios, o conselho do sábio é posto justamente para alertar contra aqueles que se apressam a correr para o mal, aqueles que com blandícias enganam fraudulosamente; diz a Escritura: “Filho meu, se os pecadores, com blandícias, te quiserem tentar, não consintas. Se disserem: Vem conosco, espiemos o sangue, espreitemos sem razão os inocentes, traguemo-los vivos, como a sepultura, e inteiros, como os que descem à cova; acharemos toda sorte de fazenda preciosa; encheremos as nossas casas de despojos; lançarás a tua sorte entre nós; teremos todos uma só bolsa. Filho meu, não te ponhas a caminho com eles; desvia o teu pé das suas veredas” (Pv 1.11-15). Neste texto estão algumas características daqueles que se apressam a correr para o mal, que se apressam de maneira voluptuosa para fazerem maldades.

41. [f] Sexto, a testemunha falsa que profere mentiras; a falsa testemunha aborrece ao Senhor; pois, a falsa testemunha profere mentiras; e estas mentiras se tornam falso testemunho contra alguém; e assim, o testemunho da mentira afirmado e corroborado por mentirosos, torna-se a palavra de ordem diante de uma sociedade decadente e moralmente viciosa; pois, a testemunha que profere mentiras torna-se como que um pregador que proclama mentiras e surrupiações a fim de enganar; a testemunha falsa é a testemunha indigna moralmente diante de Deus; e que “profere mentiras” é em referência as ações desta testemunha; se a testemunha é falsa, evidentemente, só proferirá mentiras (mentiras no plural, porque é mais de uma mentira); e a testemunha falsa que profere mentiras aborrece ao Senhor.

42. [g] Sétimo, o que semeia contendas entre irmãos; ou noutra tradução, “a pessoa que provoca brigas entre amigos” (NTLH); ou, “aquele que semeia desentendimento entre irmãos” (NVT); esta ainda tem a descrição que é abominação ao Senhor; as seis coisas o Senhor aborrece, mas a sétima a Sua alma abomina; a abominação do Senhor está sobre aqueles que semeiam, por inveja, mentira ou falsos testemunhos, a contenda entre irmãos; aqueles que semeiam a contenda entre irmãos tem a mente perversa para fazer maquinações viciosas, das quais, a mais vil e abominável, é a semente da discórdia entre irmãos; por isso, esta é abominação ao Senhor, porque destrói a comunhão e o entendimento entre irmãos, através da prática viciosa da mentira que desemboca sempre em contendas e viciosas maquinações.

 

V. Outras Descrições dos Mentirosos.

 

43. E ao se observar as características descritas em Provérbios para o mentiroso, para aqueles que enganam fraudulosamente, em outro texto sagrado, em Pv 11, está descrito com mais precisão estas coisas que o Senhor aborrece e abomina, através de diversas sentenças, as quais, por sua vez, confirmam que a raiz da mentira, do vício de enganar fraudulosamente, está na soberba, a qual é descrita com algumas características peculiares, como sinônimos dos mentirosos acima descritos. E estas características são descritas da seguinte maneira: (i) primeiro, como perversidade; (ii) segundo, como impiedade; (iii) terceiro, como iniquidade; (iv) quarto, como hipocrisia; (v) quinto, como boca ímpia; (vi) sexto, como desprezo; (vii) sétimo, como crueldade; (viii) oitavo, como discípulos do mal.

44. [i] Primeiro, como perversidade; o mentiroso é perverso, pois a mentira além de destruir aqueles contra quem são proferidas destroem o mentiroso; pois, “a perversidade dos desleais os destruirá” (Pv 11.3b); deste modo, a perversidade dos mentirosos demonstra a impiedade de seus corações; e pela própria perversidade, os mentirosos serão julgados diante da justiça divina, tal como diz a Escritura: “na sua perversidade, serão apanhados os ímpios” (Pv 11.6b); é a própria perversidade com que mentem e fazem outras coisas abomináveis que os ímpios armarão laços para si mesmos; por isso, os mentirosos, por serem perversos, são abominação ao Senhor, pois os próprios perversos são abominação para o Senhor, tal como diz a Escritura: “Abominação para o SENHOR são os perversos de coração” (Pv 11.20a).

45. [ii] Segundo, como impiedade; os mentirosos não somente são perversos, mas cometem impiedade; e a impiedade, tal como a perversidade, é laço pelo qual o mentiroso prende-se a si mesmo, tal como assevera a Escritura: “o ímpio, pela sua impiedade, cairá” (Pv 11.5b); a impiedade do mentiroso é a fonte da ruína do próprio mentiroso; pois, a impiedade tal como erva venenosa numa refeição, mata quem a consome e quem a prepara; é como a morte na panela descrita na Escritura (cf. 2Rs 4.38-41).

46. [iii] Terceiro, como iniquidade; os mentirosos também são iníquos; pois, a iniquidade do mentiroso dá uma falsa esperança sobre a realidade da mentira ao próprio mentiroso e a quem se deixa enganar pela mentira; a falsa esperança da mentira é que a mesma não será descoberta, ou pior, a falsa esperança da mentira dá ao mentiroso a obnubilação de pensar que a mentira é verdade; mas como diz a Escritura: “a esperança da iniquidade perde-se” (Pv 11.7b); a esperança da iniquidade se desintegra, pois, a esperança dos mentirosos, dos ímpios, termina em ira, torna-se em ira, tal como diz a Escritura: “a esperança dos ímpios é a ira” (Pv 11.23b); os ímpios por terem esperança na mentira, terminam em ira, pois a esperança da mentira desintegra-se.

47. [iv] Quarto, como hipocrisia; os mentirosos também são hipócritas; pois, a mentira, o desejo de enganar fraudulosamente, as mais das vezes, é para prejudicar o próximo, e danificar a imagem do próximo; tal como diz a Escritura: “o hipócrita, com a boca, danifica o seu próximo” (Pv 11.8a); o ímpio, dos seus lábios fraudulentos, danifica o próximo com mentiras e com calúnias; e a prova que o mentiroso é hipócrita, é que o mesmo utiliza-se de mentiras para querer enganar fraudulosamente ou para danificar o próximo.

48. [v] Quinto, como boca ímpia; os mentirosos são chamados de boca ímpia; pois, antes de proferirem mentiras com a boca, tem no coração a impiedade; e a boca dos ímpios são de tal maneira inseridas em todo tipo de impiedade, que pela boca dos ímpios uma cidade é derribada; a Escritura diz: “pela bênção dos sinceros, se exalta a cidade, mas pela boca dos ímpios é derribada” (Pv 11.11); os mentirosos, por terem a boca ímpia, causam até mesmo a ruína de uma cidade; só isso já dá uma noção da contaminação que a mentira e que a boca dos ímpios causam numa sociedade.

49. [vi] Sexto, como desprezo; os mentirosos desprezam aqueles que são justos e possuem virtudes; por isso, os mentirosos são faltos de sabedoria, ou mais precisamente, são estultos; a Escritura assevera: “o que despreza seu próximo é falto de sabedoria” (Pv 11.12a); pois, a sabedoria também está em apreciar e honrar as virtudes e aqueles que são virtuosos; mas os mentirosos, por terem o coração enchidos com a impiedade, tratarão de lutar contra os virtuosos, contra os justos; mas isso é testemunho de que aqueles que desprezam e são desprezadores são entenebrecidos pelo entendimento já que foram laçados pela impiedade dos mentirosos.

50. [vii] Sétimo, como crueldade; os mentirosos são cruéis; e a perturbação dos mentirosos está na própria mentira que promulgam; a crueldade dos mentirosos está em eles se deixarem dominar pela mentira e proclamarem a mentira a todo custo contra os justos; por isso, como diz a Escritura: “o cruel perturba sua própria carne” (Pv 11.17b); a perturbação do mentiroso é que a mentira não prospera como eles esperariam; e assim, os mentirosos ficam agitados de um lado para o outro; e sobre isso, o Príncipe dos Profetas, faz a seguinte constatação: “Mas os ímpios são como o mar bravo que se não pode aquietar e cujas águas lançam de si lama e lodo” (Is 57.20).

51. [viii] Oitavo, como discípulos do mal; os mentirosos são discípulos do mal, são discípulos de Satanás; pois, o caminho da mentira é o caminho do mal, e quem segue o caminho do mal, faz isso para sua própria morte, tal como diz a Escritura: “Como a justiça encaminha para a vida, assim que segue o mal faz isso para sua morte” (Pv 11.19); além disso, o caminho do mal não fica sem a justiça divina: “Ainda que o mau junte mão à mão, não ficará sem castigo” (Pv 11.21a); pois, se o justo é punido, quanto mais o pecador: “Eis que o justo é punido na terra; quanto mais o ímpio e o pecador!” (Pv 11.31); portanto, os mentirosos são discípulos do mal para espalhar o veneno de Satanás para contaminar as almas.

52. E assim, a influência do mentiroso, daquele que está contaminado com a mentira em relação a outras pessoas é tal qual erva daninha na semeadura; isso pode ser ilustrado pela parábola do trigo e do joio, na qual o Senhor Jesus diz: “Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O Reino dos céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo; mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou o joio no meio do trigo, e retirou-se. E, quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio” (Mt 13.24-26).

Numa comparação com a descrição dos mentirosos, este joio que fora semeado junto com a boa semente, é o polinizar do mentiroso nas pessoas símplices que sendo facilmente enganáveis deixam germinar no solo de seus corações o joio da mentira; e assim, a influência do mentiroso vai germinando e germinando até produzir os maus frutos, tornando as pessoas que deixam nascer o joio da mentira em seus corações prontos para queimar, isto é, no linguajar sapiencial tornam-se abominação diante de Deus.

53. Assim sendo, diante do entendimento bíblico sobre os lábios mentirosos, e as descrições adjacentes a este entendimento, faz-se necessário uma pergunta: como vencer os lábios mentirosos? Qual o caminho para vencer os lábios mentirosos? A resposta é simples, e de antemão, já está descrita no entendimento sobre o que são os lábios mentirosos; mas, principalmente, o caminho para vencer os lábios mentirosos é compreender que “as palavras dos ímpios são para armarem cilada ao sangue” (Pv 12.6a); que “as misericórdias dos ímpios são cruéis” (Pv 12.10b); que “o laço do ímpio está na transgressão dos lábios” (Pv 12.13a); e ainda, que “a língua mentirosa dura um só momento” (Pv 12.19b); e também que “os ímpios ficam cheios de mal” (Pv 12.21b); tanto quanto, que “o coração dos tolos proclama a estultícia” (Pv 12.23b); e, que “o caminho dos ímpios os faz errar” (Pv 12.26b); entendendo que os mentirosos são assim, então, é clarividente que se deve evitar o caminho da mentira e do engano, do engano fraudulento a que os mentirosos estão sujeitos.

54. Deste modo, o cuidado para não se enveredar pelos caminhos dos lábios mentirosos deve ser constante; a vigilância para com o caminho da mentira deve sempre estar diante da consciência dos cristãos, ao ponto de se clamar como o salmista: “Põe, ó SENHOR, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios” (Sl 141.3); esta oração do salmista deve ser a oração de todo aquele que crê, que o Senhor ponha um guarda na boca, no coração, para que não se enverede pelo caminho da mentira; e para isso, é necessário o dom da continência; dom singular, que deve ser buscado em Deus, que o concede a quem o busca e a quem diligentemente observa Sua Palavra; Santo Agostinho diz que Deus ordena a continência: “Tu nos ordenas a continência, e alguém disse: Consciente de que ninguém pode possuir a continência, a não ser por dom de Deus, já era sabedoria o saber de onde vem esse dom[13].

E sobre o dom da continência, em consonância com o clamor do salmista no Sl 141.3, o próprio Santo Agostinho assevera: “Se, diante desse eloquente testemunho divino, entendêssemos a palavra ‘boca’ como de fato devemos entendê-la, o guarda da boca citado é a continência, porque ela é um dom de Deus. Certamente, é algo trivial guardar a boca do corpo apenas para que não saia dela algo que não se deseja dizer através do som da voz. É dentro da boca do coração, onde primeiro se dizem as palavras, que se deseja que um ‘guarda’ e ‘uma porta’ da continência sejam colocados pelo Senhor. Há muitas coisas que nós não falamos pela boca do corpo, mas gritamos com a boca do coração. E ainda: nenhuma palavra sobre qualquer coisa sai da boca do corpo cujo coração esteja em silêncio. Assim, tudo o que de dentro não soa, fora não ressoa; mas o que, sendo mal emanar de dentro, mesmo que não mova a língua, contamina a alma. A continência, portanto, precisa ser colocada lá onde a consciência, mesmo no silêncio exterior, fala. Em suma, é a porta da continência que impede brotar do interior algo que contamine a vida e a mente, ainda que estejam calados os lábios da carne[14].

55. Com isso, que seja feita a oração do salmista, não somente para que se conserve prudente no falar, mas também que no coração não se guarde a mentira e os sentimentos pífios que são semeados pelos mentirosos. E a respeito do como se vencer a mentira, os lábios mentirosos, é somente rogando a Deus a graça do dom da continência - e a quem pede e busca, Deus concede segundo sua soberana vontade (cf. Mt 7.7-8) -, para que se guarde com continência a razão reta, através da qual se evita os enganos e desvios irracionais da mentira; e sobre isso, Tomás assevera: “se diz que o homem se mantém em si mesmo, porque se mantém naquilo que está de acordo com a razão. Mas o que pertence à perversidade da razão não é apropriado à razão. Portanto, só se diz verdadeiramente contido aquele que se mantém naquilo que está de acordo com uma razão correta, mas não naquilo que está de acordo com uma razão pervertida[15].

Portanto, quem é continente rejeita a mentira simplesmente a partir da reta razão, para não se deixar dominar pelas baixas concupiscências. Somente assim se há de vencer os perigos e os males da língua mentirosa.

56. Termina aqui a breve exposição sobre a mentira. Bendito seja Deus por todas as coisas. Amém.



[1] Santo Agostinho, A Mentira, cap. 1, In: Santo Agostinho, A Mentira - Contra a Mentira [São Paulo: Paulus, 2019], pág. 35.

[2] Ibidem, cap. 2, pág. 36.

[3] Ibidem, cap. 3, pág. 37.

[4] Agostinho, Solilóquios, livro II, cap. 9, In: Agostinho, Solilóquios - a Vida Feliz [São Paulo: Paulus, 1998], pág. 76. 

[5] Santo Agostinho, Confissões [Coleção Clássicos de Bolso. São Paulo: Paulus, 2002], livro X, cap. 41, n. 66, pág. 322-323.

[6] Rui Barbosa, Obras Completas de Rui Barbosa Vol. XLI: 1914 - Tomo III: Discursos Parlamentares [Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1973], pág. 86.

[7] Karl Barth, A Carta aos Romanos [São Leopoldo, RS: Sinodal/EST, 2016], pág. 120.

[8] Santo Agostinho, Op. Cit., 2019, cap. 3, pág. 38.

[9] Agostinho, A Verdadeira Religião, cap. 32, n. 61, In: Agostinho, A Verdadeira Religião - O Cuidado Devido aos Mortos [São Paulo: Paulus, 2014].

[10] Bruce Waltke, Comentário a Provérbios Vol. 1: Caps. 1 a 15 [São Paulo: Cultura Cristã, 2011], pág. 441.

[11] Ibidem. Pág. 442.

[12] Tomás de Aquino, Summa Theologiae, Ia IIae, q. 71, a. 1, co.

[13] Santo Agostinho, Op. Cit., 2002, livro X, cap. 29, n. 40, pág. 300.

[14] Santo Agostinho, A Continência, cap. I, n. 2, In: Santo Agostinho, A Fé e o Símbolo - Primeira Catequese aos Não Cristãos - A Disciplina Cristã - A Continência [São Paulo: Paulus, 2013].

[15] Tomás de Aquino, Summa Theologiae, IIa IIae, q. 155, a. 1, ad. 2. 


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