20/01/2024

O que é Liberdade?

Prólogo

 

1. O que é liberdade? Esta pergunta tão simples, por evocar uma palavra tão conhecida, pode aos olhos de muitos ser desnecessária; mas elucubrar e falar sobre a liberdade nunca é demais; na verdade, falar e elucubrar sobre a liberdade sempre é necessário, útil e benéfico; principalmente em tempos onde o comunismo domina e em tempos onde o conservadorismo está perdido e desfigurado.

Pois, a penúltima barreira para a destruição da liberdade é o conservadorismo; portanto, quando o conservadorismo é enfraquecido e dominado pelo comunismo, se faz necessário revirar o baú de tesouros da filosofia conservadora e reviver a importância inegável e indelével da liberdade, a joia mais preciosa do baú de tesouros do conservadorismo, e o atavio mais importante da vida em sociedade.

2. Mas a reflexão sobre a liberdade se faz ainda mais necessária em tempos atuais devido a tentativa de dominação do comunismo-globalismo, que açambarca tudo, desde as mídias sociais a impressa, as informações e notícias, etc.; Bauman descreve esta situação a partir do Panopticon de Jeremy Bentham, como uma espécie de máquina de controle universal; esta máquina é mais conhecida como globalismo e seus similares; ou indo na raiz no problema, esta máquina de controle universal é fruto do comunismo; logo, onde há as invectivas do globalismo há a “mão invisível” do comunismo, e estes sempre se colocam contra a liberdade.

3. Por isso, é necessário se elucubrar sobre a liberdade; pois, a liberdade plenamente estabelecida, plenamente conhecida, e responsavelmente vivida, constitui-se a maior arma contra este infame globalismo e contra a nefasta doutrina comunista, pois, já asseverara Pio XI: “o comunismo despoja o homem da sua liberdade na qual consiste a norma da sua vida espiritual; e ao mesmo tempo priva a pessoa humana da sua dignidade”.

Portanto, levantar a voz em defesa da liberdade, é levantar a voz contra o comunismo, em defesa da vida e em defesa da dignidade humana. E, assim, fazer com que as palavras imorredouras de Sir Winston Churchill ecoem novamente: “Vida longa a causa da liberdade!”.

4. Assim, se põe a questão: o que é liberdade? Ao que se responde a esta questão com vinte proposições, as quais são:

Em primeiro lugar, a liberdade pertence a Deus.

Em segundo lugar, a liberdade é dádiva divina.

Em terceiro lugar, a liberdade é nexo constitutivo da ordem da realidade.

Em quarto lugar, a liberdade é princípio relacional da vida humana.

Em quinto lugar, a liberdade é estabelecida para o desenvolvimento do mandato cultural.

Em sexto lugar, a liberdade é fundamento para o encargo do ato cultural.

Em sétimo lugar, a liberdade é fundamentada na Razão.

Em oitavo lugar, a liberdade é apriorisma da vida humana.

Em nono lugar, a liberdade é proposição inquestionável.

Em décimo lugar, a liberdade é fundamento da pólis.

Em décimo-primeiro lugar, a liberdade é princípio impreterível da Política.

Em décimo-segundo lugar, a liberdade é princípio irrevogável para o desenvolvimento do saber.

Em décimo-terceiro lugar, a liberdade é princípio imutável da sobriedade racional.

Em décimo-quarto lugar, a liberdade é sublimada pela compreensão do que é a não-liberdade.

Em décimo-quinto lugar, a liberdade é princípio para o desenvolvimento da ciência.

Em décimo-sexto lugar, a liberdade é fundamento da vida na Natureza.

Em décimo-sétimo lugar, a liberdade é atestada pela estrutura biológica da Natureza.

Em décimo-oitavo lugar, a liberdade é comprovada pelas relações entre os seres humanos e a natureza.

Em décimo-nono lugar, a liberdade é um fundamento da sobriedade psíquica.

Em vigésimo lugar, a liberdade é fio indivisível pelo qual se constrói a civilização.

 

Resposta I

 

O que é Liberdade?

Em primeiro lugar, a liberdade pertence a Deus.

1. A liberdade, este “excelente bem da natureza”, tal como afirma Leão XIII, por ser excelente e por ser bem, pressupõem uma fonte donde provêm; a liberdade, portanto, mais do que apenas um princípio, é uma realidade que está inserida no todo da vida humana; onde existe um ser humano, ali há a liberdade pressuposta como bem da natureza; o preâmbulo da “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, afirma que o reconhecimento da dignidade inerente de cada ser humano, e de seus direitos inalienáveis, constitui o fundamento da liberdade no mundo; verdadeiramente, a existência da liberdade pressupõem a existência e o respeito pelos direitos humanos, e os direitos humanos pressupõem a liberdade como excelente bem da natureza.

2. Deste modo, a liberdade é base para os direitos humanos; sem liberdade não há direitos humanos; e isto se evidencia a partir da fonte donde a liberdade provêm, a única fonte donde pode emanar este excelente bem da natureza. Se a liberdade é um excelente bem da natureza, então, provêm de uma fonte de um bem ainda maior; a liberdade provêm do Sumo-Bem, o próprio Deus; a liberdade humana fora outorgada por Deus aos seres humanos, criados a Sua imagem e semelhança; além disso, a liberdade humana é reflexo imperfeito da liberdade soberana de Deus; o Deus soberano que cria livremente, outorga a sua criação a liberdade como excelente bem da natureza para o desenvolvimento da vida humana; pois, onde há liberdade, há desenvolvimento.

3. Além disso, Tertuliano assevera que a liberdade pertence a Deus (cf. Adver. Herm., cap. XVI). A liberdade pertence a Deus, pois fora Ele quem a outorgara aos homens; além disso, o Deus soberanamente livre prescreve como os homens livres devem agir; por isso, segundo Karl Barth, fala-se da liberdade do Deus soberano e da liberdade do homem responsável; o Deus soberano, outorga a liberdade aos homens que Ele criou para viverem responsavelmente como mordomos da criação. Portanto, a liberdade, excelente bem da natureza, existe para que os seres humanos cuidem da própria natureza; o cuidado com a criação pressupõe a liberdade.

Por isso, onde há não-liberdade sempre há destruição da natureza; é caractere qualificador da não-liberdade a violência no coração, e, consequentemente, a destruição da natureza.

4. A liberdade, portanto, pertence a Deus; e, por isso, é um excelente bem da natureza; e sendo um excelente bem da natureza, é de fundamental importância que se preserve a liberdade do mesmo modo como se preserva a natureza; que se cuide da liberdade como se cuida da natureza; o ímpeto pelo cuidado com a natureza deve ser medido pelo zelo para com a liberdade.

Pois, se a liberdade pertence a Deus, quem infere a liberdade, quer se tornar como Deus; é um simples raciocínio, mas que demonstra a real importância de se zelar pela liberdade para se compreender o perigo inominável de se inferir a liberdade, já que quem infere a liberdade quer usurpar o que pertence a Deus, e quem quer usurpar o que pertence a Deus é precipitado ao abismo e a ruína (cf. Pv 16.18; Is 14.12-15).

 

Resposta II

 

O que é Liberdade?

Em segundo lugar, a liberdade é dádiva divina.

1. A liberdade, embora pertença a Deus, como Senhor Soberano, é uma dádiva que o próprio Deus outorga aos seres humanos; a liberdade é uma dádiva divina; pois, a liberdade é “exclusivo apanágio dos seres dotados de inteligência ou de razão” (Leão XIII); a liberdade, é uma dádiva exclusiva dos seres humanos, mordomos da criação; sendo a liberdade esta dádiva outorgada por Deus, é outorgada com um propósito, a saber, ajudar o ser humano no cuidado e na relação com a natureza.

2. A liberdade como dádiva divina, “confere ao homem uma dignidade” (Leão XIII), dignidade essa atestada e confirmada nos códigos de leis a partir da designação de direitos fundamentais, os quais possuem o qualificativo positivo da inviolabilidade; além disso, a liberdade, que confere ao ser humano uma dignidade, é evidenciada neste mundo a partir do reconhecimento e do respeito absoluto pelos direitos fundamentais e inalienáveis do ser humano. Com isso, a liberdade é confirmada como dádiva divina ao gênero humano: primeiro ao individuo, a pessoa, e, depois à sociedade, à polis.

3. Esta designação básica é de suma importância; pois, a correta compreensão da liberdade impede que o ser humano seja coisificado ou objetificado; a dignidade inerente ao ser humano, demonstrada pela liberdade e atestada pelos direitos fundamentais inalienáveis da pessoa humana, constitui-se um dos fundamentos da justiça e da paz no mundo; onde há inferência da liberdade, a dádiva divina é usurpada e então tal como “efeito borboleta”, ocorre paulatinamente a desordem e a destruição. Nunca houve um ato de inferência de liberdade que ficasse sem castigo e sem que ocasionasse desordem e destruição; e nesta regra não há exceção, como testemunham a Escritura Sagrada e a reta razão.

4. Deste modo, a liberdade como dádiva divina é uma bênção que Deus outorga para o ser humano individualmente e para a sociedade como um todo; e, sendo uma dádiva divina, não pode se violada; já que toda dádiva divina tem por propósito valorar a dignidade humana e proporcionar o desenvolvimento da vida humana; se uma dádiva divina é usurpada, logo, ocasionará em maldição naqueles que a usurparam e trará desordem e destruição para a alma da sociedade.

Sendo, pois, a liberdade uma dádiva divina, deve ser valorada e usufruída com responsabilidade, para que esta bênção de Deus seja preservada e conservada em honra aquele que a conferiu.

 

Resposta III

 

O que é Liberdade?

Em terceiro lugar, a liberdade é nexo constitutivo da ordem realidade.

1. A liberdade, segundo Leão XIII, “confere ao homem uma dignidade em virtude da qual ele é colocado entre as mãos do seu conselho e se torna senhor de seus atos”; o ser humano, portanto, com esta dádiva outorgada por Deus, tem em suas mãos a liberdade; e, como bem atesta Leão XIII, o importante é como o homem exerce esta liberdade; pois, a liberdade é um elo entre os nexos constitutivos da realidade; já que, pela liberdade, o homem exerce suas ações de maneira racional, cuidando da natureza, do seu semelhante e preservando a ordem estabelecida por Deus.

2. Estes nexos constitutivos da realidade, são uma forma de entender os modos como o ser humano deve viver e agir para que a realidade não se desintegre; e a liberdade, é o elo destes nexos no que tange ao ser humano agir como senhor de seus atos, em sua esfera de soberania, como mordomo da criação; por isso, Leão XIII afirma: “Sem dúvida, está no poder do homem obedecer à razão, praticar o bem, caminhar direito ao seu fim supremo”.

Com isso, o ser humano enquanto responsável por seus atos, deve exercer a liberdade de maneira sóbria, pois, tal como afirmara Leão XIII: “do uso da liberdade nascem os maiores males, assim como os maiores bens”. Estes maiores bens, constituem-se dos nexos constitutivos básicos referentes a ação humana para a ordem da realidade seja preservada através os atos dos homens e não por eles destruída; e estes maiores males é a própria destruição da ordem da realidade.

3. Assim sendo, a liberdade demonstra que está no poder do homem obedecer à razão; o ser humano é racional, e o é de maneira livre; a racionalidade humana confirma e atesta a liberdade, e a liberdade é evidência e testemunha da razão. E também, a liberdade demonstra que está no poder do homem praticar o bem; o ser humano, naturalmente, tende a prática do bem natural, a si mesmo e ao próximo, no convívio social e na solicitude da existência humana como base para a existência harmoniosa e respeitosa.

E ainda, a liberdade demonstra que está no poder do homem caminhar direito ao seu fim supremo; sem a liberdade estes nexos preservadores não seriam possíveis; e, através da liberdade, tais nexos preservadores se tornam instrumentos eficazes para que a partir da própria liberdade, este excelente bem da natureza, possam surgir ainda maiores bens, para o próprio benefício da humanidade.

4. Por isso, do bom uso da liberdade nascem os maiores bens; mas do mal uso da liberdade nascem os piores males; pois, a inferência da liberdade ocasiona destruição e desordem, já que a inferência da liberdade é a cristalização do mal uso da liberdade pelo indivíduo e que depois ocasiona as hecatombes morais e sociais que destroem a ordem da sociedade e que desfiguram os bens inerentes necessários à vida humana.

Sempre que os seres humanos, movidos pela influência demoníaca, ou pela apostasia ou pela inveja, ou por qualquer outro sentimento fatal e medonho, inferem a liberdade, os nexos constitutivos preservadores da ordem da realidade são destruídos e a sociedade se desintegra em ruína, desordem e a destruição horrenda que disto decorre.

 

Resposta IV

 

O que é Liberdade?

Em quarto lugar, a liberdade é princípio relacional da vida humana.

1. A liberdade, esta dádiva divina, é outorgada por Deus aos homens não somente enquanto indivíduos, mas enquanto seres relacionais; o ser humano vive em sociedade, e a liberdade é a dádiva, que salvaguardada pela lei, se estabelece para que a vida em sociedade seja permeada pelo respeito mútuo e pela cordialidade; deste modo, a liberdade, amparada pela razão e protegida pela lei natural, preserva o bem inerente da pessoa humana; mas ao mesmo tempo, gesta este excelente bem da natureza para a vida em sociedade; sobre isso, Leão XIII assevera: “porque o que a razão e a lei natural fazem para os indivíduos, a lei humana, promulgada para o bem comum dos cidadãos, o realiza para os homens que vivem em sociedade”.

2. A vida em sociedade é permeada por desafios individuais e coletivos; tais desafios são cotidianos e açambarcam a tudo e a todos; pois, o ser humano ao agir racionalmente e responsavelmente, o faz tendo diante de si a própria dignidade e a dignidade de seu próximo; tanto o é, que o Senhor Jesus afirma sobre o segundo grande mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.39).

Com isso, nas ações humanas existe por parâmetro este mandamento; todavia, na vivência social, que seria bom que fosse efetuada pela fraternidade social, existem inúmeros perigos relacionais, os quais, são mantidos em controle pela lei humana, que preserva a liberdade do indivíduo diante da sociedade, e que conserva a liberdade nas relações sociais.

3. A liberdade, portanto, é um princípio relacional da vida humana; por isso, as nações que prezam e protegem a liberdade, tendem a crescer, pois, suas sociedades se fortificam e se fortalecem no respeito mútuo para com esta dádiva divina; pois, um dos aspectos fundamentais para a preservação da ordem da realidade, é a correta harmonia racional na vida em sociedade; assim sendo, as relações humanas, só se desenvolvem com vista ao verdadeiro diálogo a partir daqueles que respeitam e honram plenamente a liberdade como dádiva divina.

Por isso, sem liberdade, o diálogo social, parte inerente da vida humana, se transmogrifa em calcificação ideológica; com a liberdade o diálogo social se torna frutífero e tende a se tornar em fraternidade social.

4. Deste modo, a liberdade, enquanto princípio relacional, é fundamental para as nuances das relações humanas; das relações humanas entre si, de um ser humano como o outro; das relações humanas no âmbito do código social, no respeito mútuo de um para com o outro diante do corpo da sociedade; das relações entre uma nação com outra nação, no respeito para com a liberdade inerente a outro povo, outra cultura, no respeito pleno pela dignidade humana.

Portanto, a liberdade, é princípio relacional individual, social e nacional; sem a liberdade, o indivíduo, a sociedade, a nação se tornam em “imagens” da realidade, a qual, as mais das vezes, se torna em arma de dominação das ideologias totalitárias; mas com a liberdade, o indivíduo, a sociedade, a nação se tornam em cultores da realidade a partir das relações humanas.

 

Resposta V

 

O que é Liberdade?

Em quinto lugar, a liberdade é estabelecida para o desenvolvimento do mandato cultural.

1. A liberdade, principio relacional da vida humana, existe e é usada da maneira correta, pois, fora estabelecida por Deus para o desenvolvimento do mandato cultural; desenvolver a cultura é parte inerente da vida humana, tal como procriar e viver; e, tudo aquilo que o ser humano faz de maneira racional e consciente contribui com o desenvolvimento da cultura; desde simples atos de serviço, as manifestações de bondade, aos escritores e artífices das artes, tudo o que o ser humano produz enquanto ser racional é parte da cultura; e o ser humano só produz cultura, quando em suas ações manifesta a racionalidade que lhe é intrínseca e assim age, na esfera humana, como “senhor” de seus atos; e, o ser humano só age como “senhor” de seus atos a partir da liberdade; sem liberdade, não há ação humana racional, e sem ação humana racional não se desenvolve a cultura.

2. Com isso, a liberdade é base preponderante para o desenvolvimento do mandato cultural; pois, o mandato cultural, isto é, cuidar da natureza, procriar, desenvolver a filosofia e a ciência, etc., só é efetivado a partir das ações humanas permeadas pela liberdade e na liberdade; a liberdade é o qualificativo que assegura o desenvolvimento cultural, e que delineia a qualidade do ato cultural; portanto, somente na liberdade, é que o ser humano desenvolve o mandato cultural, através de ações responsáveis e que visam o bem comum; como Leão XIII asseverara: “Esta liberdade, que certamente é para nós a voz da natureza, o juízo e senso comum de todos os homens não a reconhecem senão aos seres que têm o uso da inteligência ou da razão, e é nela que consiste manifestamente a causa que nos faz considerar o homem responsável pelos seus atos”. Pois, na liberdade, a voz da natureza, do juízo e do bom senso, é que os seres humanos reconhecem que são seres dotados de razão, e faz com que os homens se tornem conscientes da responsabilidade de seus atos.

3. O mandato cultural fora outorgado para ser desenvolvido; e o caractere primordial do desenvolvimento do mandato cultural é o respeito pelas ordenanças divinas estabelecidas na criação; depois, a conscientização da liberdade como dádiva divina; depois, o uso correto da liberdade, em ações racionais, sóbrias e que frutifiquem a liberdade na sociedade, ao ponto de torná-la em fundamento que semeia, rega e protege a fraternidade social; a fraternidade social é um modo se de aferir o estado de alma da cultura; quando esta fraternidade se desenvolve a partir da liberdade, o estado de alma da cultura é saudável; quando esta fraternidade não se desenvolve a partir da liberdade, o estado de alma da cultura é doentio; é devido ao desrespeito pela liberdade que as doenças sociais se avolumam e assim ocorre a corrupção do mandato cultural.

4. Deste modo, a liberdade é fator indissolvível do mandato cultural; o próprio mandato cultural pressupõe a existência da liberdade como dádiva divina; por isso, o mandato cultural é expressão do encargo conferido aos seres humanos como mordomos da criação, como senhores de seus atos, na esfera de soberania dos homens para com os animais, bem como o mandato cultural é testemunha da existência da liberdade enquanto fator preponderante que ajuíza as ações humanas de maneira sóbria, racional e que é efetuada em virtude do bem comum.

 

Resposta VI

 

O que é Liberdade?

Em sexto lugar, a liberdade é fundamento para o encargo do ato cultural.

1. A liberdade é fundamento para o encargo inerente imbuído ao ser humano sobre o ato cultural; o Criador, ao designar o ser humano como “mordomo da criação” (cf. Gn 1.28), designou a este o encargo do ato cultural; e no encargo do ato cultural é que se desenvolvem tanto a filosofia, como a ciência e todo o saber humano; embora o desenvolvimento do ato cultural seja guiado pelo Espírito Santo (cf. Is 40.14), o ator do ato cultural é que produz a cultura, a saber, o ser humano; este é o aspecto dramático em relação ao desenvolvimento do saber; por isso, existe uma estrutura básica intrínseca ao mandato cultural, que influência diretamente o ato cultural.

2. O ato cultural é expressão da racionalidade e da inteligência humana; pois, a liberdade, como diz Leão XIII, é a “herança daqueles que receberam a razão ou a inteligência em partilha”; somente os seres humanos receberam a razão e a inteligência como parte da imagem e semelhança divina com que foram criados; portanto, o ato cultural é expressão desta racionalidade e inteligência, a fim de que todo o ato cultural reflita esta racionalidade; e tudo o que é feito de maneira racional, é prova da existência da liberdade; por isso, sem liberdade não há racionalidade; e a liberdade é outorgada justamente para que a racionalidade e para que tudo na vida humana possa se desenvolver; a liberdade é esteio para o desenvolvimento humano.

3. E, novamente, como assevera Leão XIII: “esta liberdade, examinando-se a sua natureza, outra coisa não é senão a faculdade de escolher entre os meios que conduzem a um fim determinado”; logo, na liberdade se demonstra a existência do ato cultural, que é a ação humana racional que conduz a um fim determinado; este fim determinado só é possível graças ao mandato cultural; portanto, somente na liberdade, o encargo intrínseco ao ato cultural é talhado de maneira direta e clarividente.

O ato cultural é expressão da ação humana, do ser humano enquanto “senhor de seus atos”; assim sendo, a liberdade é o nexo do exercício dos seres humanos da mordomia que lhes fora outorgada por Deus de maneira que esta mordomia seja expressa com ações racionais e livres, e assim, o núcleo do desenvolvimento cultural seja germinado e cada vez mais se desenvolva.

4. A proposição básica do ato cultural pressupõe a liberdade; deste modo, somente na liberdade é que o ato cultural é desenvolvido e frutifica; sem liberdade, o ato cultural perde o ímpeto e se torna esclerosado, ou pelas ideologias ou pela deificação do ser humano; pois, a liberdade, permeia todo o ato cultural, independente da religiosidade ou não do indivíduo; com liberdade todo ato cultural é talhado com vista ao bem comum; sem liberdade todo ato cultural é talhado com vista ao benefício sectário das ideologias totalitárias, seja o comunismo seja o “falso conservadorismo”; as ideologias, destruidoras do encargo cultural, sempre rejeitam e minam a liberdade; e, pela liberdade, se demonstra a falsidade destas ideologias, do comunismo se evidencia por si, e do falso conservadorismo se demonstra por atos que desfiguram a liberdade; por isso, pelo encargo do ato cultural se apercebe das ideologias que trabalham contra a liberdade.

 

Resposta VII

 

O que é Liberdade?

Em sétimo lugar, a liberdade é comprovada pela razão.

1. A liberdade, como dádiva divina, é comprovada pela razão humana; pois, a liberdade, só é corretamente usufruída como dom de Deus, a partir da racionalidade humana; pois, a liberdade, segundo Leão XIII, é “exclusivo apanágio dos seres dotados de inteligência ou de razão”; os seres humanos, por serem dotados de razão, possuem a liberdade, e tem a possibilidade de viverem esta liberdade de maneira sóbria e responsável.

2. O ser humano é um ser racional; fora criado por Deus assim; a racionalidade é parte da imagem e semelhança de Deus no ser humano; o ser humano também fora criado para raciocinar; portanto, a razão humana, é um testemunho da liberdade; pois, provar que a alma é dotada da faculdade de pensar, segundo Leão XIII, “é estabelecer ao mesmo tempo a liberdade natural sobre o seu mais sólido fundamento”. O mais sólido fundamento da liberdade é a racionalidade humana; sem liberdade, não há intelecção sóbria e frutífera; a racionalidade se desenvolve a partir da liberdade; por isso, o próprio Deus outorgou a liberdade como dádiva aos seres humanos, para que estes pudessem desenvolver sua racionalidade em contato com a realidade.

3. E é algo singular; o próprio Deus que criara o ser humano com a racionalidade, outorga os meios para desenvolver esta racionalidade; a realidade, para o desenvolvimento da inteligência no contato do intelecto com a verdade; e a liberdade, para o desenvolvimento da racionalidade a medida da experiência com a realidade; portanto, a liberdade atesta a razão e a razão comprova a liberdade; a razão é como um pássaro que deve alçar voos altaneiros; mas um pássaro só voa quando não está preso; do mesmo modo é com a razão, só se desenvolve quando há liberdade; sem liberdade, a racionalidade humana fica como que presa numa gaiola; e os mais vis vilipêndios cometidos contra a dignidade humana iniciam-se pela derrocada da liberdade; pois, se a racionalidade humana está presa, logo, o ser humano se torna manipulável por qualquer tipo de ideologia totalitária.

4. Assim sendo, a liberdade é comprovada pela razão; pois, a própria razão depende da liberdade para se desenvolver, e a liberdade só é usufruída de maneira sóbria e responsável a partir da racionalidade humana; razão e liberdade, duas dádivas outorgadas por Deus aos seres humanos; a razão, como parte da imago Dei, para que o ser humano consciente de sua posição no cosmos, viva de maneira responsável como senhor de seus atos; a liberdade, como meio disponibilizado por Deus, para que o ser humano viva e exerça o mandato cultural como “mordomo da criação” e como senhor de seus atos.

 

Resposta VIII

 

O que é Liberdade?

Em oitavo lugar, a liberdade é apriorisma da vida humana.

1. A liberdade, é um apriorisma da vida humana; pois, pela liberdade, se é conferido uma dignidade ao ser humano, através da qual a vida humana se desenvolve de maneira sóbria e racional; pois, a liberdade confere esta dignidade através da qual o ser humano, segundo Leão XIII, “é colocado entre as mãos do seu conselho e se torna senhor de seus atos”. Somente com a compreensão de que o ser humano, na esfera de soberania humana, é “senhor de seus atos”, é que a vida humana cresce e se desenvolve. E o ser humano só é “senhor de seus atos”, a medida que usufrui da liberdade.

2. A liberdade é apriorisma, porque sem a liberdade, não existe vida; a vida existe e é confirmada pela liberdade; tanto que, na declaração dos direitos humanos, a vida, a liberdade e a segurança são apresentadas conjuntamente: “todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal” (Declaração Universal dos Direitos Humanos, art. 3). Com isso, a liberdade, é fundamento para que a vida seja vivida e usufruída de maneira responsável; por isso, é apriorisma da vida humana, sem o qual, a própria vida se torna difícil de ser vivida nas coisas básicas e fundamentais; sem a liberdade, a vida se torna enviesada, e a própria dignidade humana é destroçada.

3. A liberdade é apriorisma da vida, não somente porque é fundamento para a vida humana e para o desenvolvimento humano; a liberdade é apriorisma da vida porque Deus criou o ser humano para viver em liberdade, o que, pela razão natural os homens atestaram nos códigos de leis acoplando a liberdade como um dos “direitos fundamentais”; deste modo, a liberdade como apriorisma da vida, é confirmada pela revelação e pela razão; e particularmente, em relação a razão, o é ainda mais nas coisas eminentemente humanas, já que é comprovado através das leis com o preceito da inviolabilidade da liberdade. Se a liberdade é inviolável, e a razão natural assim o confirma, então, a liberdade é apriorisma da vida.

4. Na verdade, em se tratando da ordem dos apriorismas da vida em relação as coisas humanas, a liberdade aparece logo após a própria vida; evidentemente, em se tratando de apriorismas da vida em relação as coisas humanas, o mais importante é a própria vida; depois, a liberdade, sem a qual a vida não é vivida e se torna sufocada; a liberdade é o ar fresco da existência que a vida respira ao ser vivida; por isso, sem liberdade nada se desenvolve; por isso, desde os atos intelectivos aos maiores projetos humanos sem liberdade se tornam ressequidos e desfigurados.

A liberdade, portanto, é aprorisma da vida, porque a própria vida deve ser vivida em liberdade; porque é qualificativo irrevogável da vida que a mesma seja vivida em liberdade; onde há vida, deve haver a liberdade, e liberdade de maneira plena e total.

 

Resposta IX

 

O que é Liberdade?

Em nono lugar, a liberdade é proposição humanística inquestionável.

1. A liberdade, por ser apriorisma da vida humana, é proposição humanística inquestionável; pois, tudo o que é humano, se valorado e exercido com responsabilidade, é uma forma de se evidenciar as proposições humanísticas da existência humana; no que tange a liberdade, que dignifica o ser humano demonstrando que o mesmo é “senhor de seus atos”, a mesma é aferida como proposição humanística inquestionável, pois, sem a liberdade não há verdadeiro humanismo; o verdadeiro humanismo, pressupõe a liberdade como algo inalienável e como algo inquestionável para a vida humana.

2. A liberdade é um axioma do verdadeiro humanismo; conquanto o verdadeiro humanismo tenha sua base em Deus, o primeiro princípio do verdadeiro humanismo, em se tratando das coisas humanas, é a liberdade, um dos axiomas do verdadeiro humanismo; portanto, sendo a liberdade proposição humanística inquestionável, onde o ser humano cresce e se desenvolve de maneira sóbria, é porque há liberdade; é por isso também, que a liberdade é a base na qual se fundamenta os direitos humanos, já que a dignidade humana é respeitada e evidenciada onde há liberdade; por isso, a não-liberdade é a porta para a destruição dos direitos humanos.

3. A vida humana, para ser vivida em sua totalidade, requer a liberdade; por isso, em relação a alguns aspectos da vida, fala-se sobre os princípios invioláveis e inalienáveis da vida. Nos códigos de leis, estes princípios são chamados de direitos fundamentais; na declaração dos direitos humanos, são a base pela qual se pode falar de direitos humanos, e pela qual se preserva e mantém os direitos humanos; por isso, em relação a vida humana, nas esferas da vida humana, a liberdade é tida como proposição humanística inquestionável; pois, a liberdade é transcendental da existência humana; portanto, a liberdade além de ser proposição humanística, sem a qual não há verdadeiro humanismo, é proposição inquestionável.

4. A inquestionabilidade da liberdade, é em função do verdadeiro humanismo; o verdadeiro humanismo pressupõe a liberdade como princípio inquestionável; os valores mais caros da vida humana, são abalizados conjuntamente com a liberdade; os mais significativos desenvolvimentos intelectuais da humanidade, foram talhados com a liberdade; o encargo do desenvolvimento humano fora estabelecido para se desenvolver com a liberdade e a partir da liberdade; portanto, em tudo o que diz respeito a vida humana, da esfera biótica a esfera jurídica da vida, é açambarcado pela liberdade; logo, a liberdade, em tudo o que é humano, demasiadamente humano, é proposição inquestionável.

 

Resposta X

 

O que é Liberdade?

Em décimo lugar, a liberdade é fundamento da polis.

1. A liberdade, sendo proposição humanística inquestionável, é o fundamento da polis; pois, sendo o ser humano um “animal político” (Aristóteles), ao viver na cidade, na polis, além de ter a liberdade como dádiva divina para o desenvolvimento pessoal, se tem a liberdade como fundamento da polis; a polis, a cidade, signo para se referir as relações humanas em sociedade, só cresce e se desenvolve racionalmente com a liberdade.

2. A liberdade é fundamento da polis, porque tudo na polis, desde as simples relações sociais, até as relações governamentais, deve ser abalizado pela liberdade; liberdade em tudo, mas liberdade com responsabilidade; a figura da polis, e toda filosofia política que vem imbuída na ideia de polis, pressupõe a liberdade; e uma vez a liberdade pressuposta, a mesma se estabelece como pressuposto inescapável da vida na polis; tudo o que é feito em respeito a dignidade humana e em função da democracia, deve ter imbuído a liberdade; sem liberdade morre a democracia e destrói-se a polis. Por isso, a liberdade é fundamento da polis, já que é princípio inquestionável da vida humana, e as relações humanas ao serem vivenciadas, são construídas com liberdade.

3. A existência da polis, com tudo aquilo que é necessário, prefigura a existência da democracia moderna; na verdade, o vocábulo polis é a melhor maneira de entender o que é e qual a natureza da verdadeira democracia; sendo, pois, a liberdade, fundamento da polis, logo, a liberdade é fundamento da democracia; portanto, qualquer forma de não-liberdade, destrói e corrompe a democracia; e, pior, algumas formas de não-liberdade, tais como regulamentação das liberdades, e outros sinônimos, viciam a democracia, e tornam-na a pior caricatura de si mesma; deste modo, a liberdade é fundamento da polis, porque a própria liberdade é pilar constitutivo para as relações da vida em sociedade.

4. O ser humano, como é um ser relacional, necessariamente e fundamentalmente se relaciona com outros seres humanos; nestas relações, além do bom senso reinante, isto é, a reta razão ordenadora, existe como princípio relacional a liberdade; pois, sem a reta razão, os seres humanos irracionalizam-se; e sem liberdade, bestializam-se; sem a razão, os homens tornam-se como “animais irracionais”; sem a liberdade, os homens tornam-se como “animais selvagens”; por isso, a razão dignifica os seres humanos demonstrando que estes são superiores aos animais; e a liberdade, demonstra que o ser humano é “senhor de seus atos”; portanto, do mesmo modo como a razão é fundamental para o ser humano, a liberdade também é; e tanto a razão quanto a liberdade, são pressupostos indiscutíveis das relações humanas, e, por consequência, fundamento da polis e base da democracia.

 

Resposta XI

 

O que é Liberdade?

Em décimo-primeiro lugar, a liberdade é princípio impreterível da Política.

1. A liberdade, por ser fundamento da polis, e por isso, base da democracia, é princípio impreterível da Política; a vida na polis, a organização da vida em sociedade como base na lei e na ordem, passa pela Política; e a Política só é exercida e vivida de maneira plena e racional, a medida que há o respeito pleno pela liberdade; a Política que não respeita a liberdade, é Política tropega e que não respeita o preceito fundante da vida em sociedade; por isso, se observa que os representantes políticos, quando não respeitam a liberdade, são na verdade ou ditadores ou demagogos, ou então, instrumentos de manipulação, etc.; políticos que não respeitam a liberdade, são, na verdade, instrumentos do globalismo e/ou do comunismo para destruir a sociedade.

2. A Política, tem muitos princípios racionais; Platão falou sobre a Política, Aristóteles também; e muitos outros filósofos também o fizeram; e a partir destas análises se estabelece os princípios fundamentais da Política; entre estes princípios, existem os princípios fundamentais, e existem os princípios impreteríveis; os princípios fundamentais são aqueles que são importantes; os princípios impreteríveis são aqueles que são irrevogáveis, isto é, a Política não existe sem eles; e a liberdade é princípio impreterível da Política; onde há Política, e políticos, que valoram e respeitam a liberdade de maneira plena e absoluta, há verdadeiramente pessoas vocacionadas para a vida pública, que procuram servir ao povo que os elegeram; onde há Política, e políticos, que não valoram e não respeitam a liberdade de maneira plena e absoluta, é porque estes não foram vocacionados para a vida pública e são apenas oportunistas e instrumentos de manipulação e da revolução comunista.

3. Se reconhece o valor da Política, e a dignidade dos políticos, a partir da liberdade; a liberdade é a aferidora de medida da Política e dos políticos; a Política que se estabelece sob a liberdade, é uma Política sóbria e que honra a sociedade; os políticos que se estabelecem sob a liberdade e que tem a liberdade por ideal, são políticos que honram a função para a qual foram eleitos; todavia, a Política que não se estabelece sob a liberdade, é uma Política que tende a se tornar em “Política Total”, ou dito em outros termos, em Política que se envereda pelos caminhos do Estado Total; e os políticos que não se estabelecem sob a liberdade e que não tem a liberdade por ideal, são políticos que desonram a função para a qual foram eleitos e que vituperam a alma da sociedade com a podridão da indignidade pública. Quem não respeita a liberdade, arrola para si a indignidade e os malefícios da não-liberdade.

 

Resposta XII

 

O que é Liberdade?

Em décimo-segundo lugar, a liberdade é princípio irrevogável para o desenvolvimento do saber.

1. A liberdade, sendo fundamento para o desenvolvimento da vida em sociedade, é princípio irrevogável para o desenvolvimento do saber; na verdade, o saber só se desenvolve a partir da vida vivida em liberdade; pois, a liberdade, é o instrumento que proporciona a razão alçar voo rumo a contemplação da verdade; sem liberdade a razão fica engaiolada para não voar a fim de contemplar a verdade.

2. Aristóteles dissera que os homens tendem naturalmente ao saber; logo, também tendem para desenvolverem o saber; e como se desenvolve o saber sob a liberdade, o próprio saber demonstra a liberdade como princípio irrevogável; deste modo, a liberdade se coaduna com o saber, pois proporciona os meios adequados para que o saber se desenvolva, sob o respeito pleno para com esta dádiva divina; com isso, compreende-se que a liberdade, por ser uma dádiva divina, e por ser “exclusivo apanágio dos seres dotados de razão” (Leão XIII), constitui-se de um indiscutível instrumento que proporciona o desenvolvimento do saber.

3. E, como a vida humana só se desenvolve a medida que há o desenvolvimento do saber, então, este desenvolvimento é imprescindível para que a vida humana se desenvolva; deste modo, é clarividente o porquê a liberdade é princípio irrevogável para o desenvolvimento do saber; logo, somente sob a liberdade, a vida se desenvolve, e somente sob a liberdade, o saber se desenvolve; portanto, a liberdade é princípio irrevogável para o desenvolvimento do saber.

 

Resposta XIII

 

O que é Liberdade?

Em décimo-terceiro lugar, a liberdade é princípio imutável da sobriedade racional.

1. A liberdade, por ser princípio irrevogável e imutável para o desenvolvimento do saber, se cristaliza como princípio imutável da sobriedade racional; somente sob a liberdade a racionalidade humana permanece sóbria; onde impera a não-liberdade, logo, se tem a esquizofrenização sócio-cultura, que por fim, se torna em esquizofrenização psíquica; por isso, a liberdade existe para proteger a sobriedade da razão humana, a qual as mais das vezes se torna fragilizada pelos ataques das ideologias; a sobriedade, caractere imprescindível da imago Dei, é protegida e mantida no respeito pleno pela liberdade.

2. Deste modo, a liberdade, se estabelece como princípio imutável da sobriedade racional, porque sem a liberdade, a razão se torna desfigurada; e a razão desfigurada, desconfigura o pensamento e obnubila a inteligência; com a razão desfigurada, o ser humano em sua dignidade intrínseca, se torna bestializado em si mesmo e pelos inimigos da liberdade; com a razão desfigurada, o ser humano se torna menos do que um animal irracional, ou seja, se torna embrutecido; com isso, somente sob a liberdade a razão permanece sob sua sobriedade, para que o ser humano não seja nem bestializado nem tornado em animal irracional.

3. A dignidade humana, amparada pela racionalidade intrínseca ao ser humano, é protegida pela liberdade, pois, onde há liberdade há sobriedade racional; e onde há sobriedade racional o ser humano consegue crescer e se desenvolver tal como fora instituído na Criação; a própria natureza é dignificada e sublimada pela liberdade; portanto, a sobriedade racional é imprescindível para o desenvolvimento da vida e para o mantenimento e a preservação da dignidade da pessoa humana; sem liberdade, a sobriedade racional é desfigurada, e assim, a dignidade da pessoa humana se torna corrompível, e, logo, é corrompida pelos inimigos da liberdade; somente sob a liberdade é que a sobriedade racional permanece com os gérmens do desenvolvimento, e assim, com as sementes da racionalidade salutífera - o propósito singular do ser humano enquanto ser racional, tal como diz o Teólogo: “O bem do homem, enquanto é homem, consiste que a razão seja perfeita no conhecimento da verdade” (De Virt. q. 1, a. 9, co.). E a razão só é perfeita no conhecimento da verdade, enquanto bem do homem enquanto é homem, sob a liberdade.

 

Resposta XIV

 

O que é Liberdade?

Em décimo quarto-lugar, a liberdade é sublimada pela compreensão do que é a não-liberdade.

1. A liberdade, princípio imutável para o desenvolvimento do saber e o desenvolvimento da própria vida, é sublimada em sua importância inconcussa, e em sua realidade impreterível, pela compreensão da não-liberdade; enquanto a liberdade é um excelente bem da natureza, a não-liberdade é a destruição de todo bem e da própria natureza; portanto, a não-liberdade não somente é o oposto da liberdade, mas principalmente qualquer forma de não-liberdade, é um atentado contra a liberdade, e, por consequência, contra aquilo que a liberdade sustenta, a saber, os direitos humanos; a não-liberdade, em suas mais variadas formas, é um atentado contra os direitos humanos.

2. A não-liberdade existe onde a liberdade é deixada de lado e/ou preterida por qualquer conceito; por isso, onde há a não-liberdade todos os bens e todas as bênçãos provenientes da liberdade são destruídas e/ou engessadas; a não-liberdade é a castificação (castificação é um neologismo para designar a formação de uma barreira, tal como um sistema de castas que impede o desenvolvimento) do desenvolvimento, e a castificação de toda e qualquer forma de crescimento que a vida humana pode experienciar; onde há não-liberdade não existe o voo do desenvolvimento; onde há não-liberdade os gérmens do crescimento são asfixiados pela jaula da imbecilidade; por isso, a não-liberdade, é o antônimo moral, intelectual e produtivo de tudo aquilo que a liberdade é em relação a moral, o intelecto e a produtividade humana.

3. Deste modo, a liberdade, sendo compreendida e contraposta a não-liberdade, é sublimada de maneira inestimável; pois, quem compreende pelo menos de raspão o que é a não-liberdade e os malefícios inomináveis provenientes da mesma, se apercebe da importância de velar pela liberdade e de respeitar plenamente a liberdade; com isso, a liberdade, sendo excelente bem da natureza, ao ser sublimada pela compreensão do que é a não-liberdade, é tida não somente como excelente bem da natureza, mas como dádiva máxima para a vida em sociedade, e como princípio e axioma imutável para o desenvolvimento da vida em todas as suas esferas.

 

Resposta XV

 

O que é Liberdade?

Em décimo-quinto lugar, a liberdade é princípio para o desenvolvimento da ciência.

1. A liberdade, por ser princípio imutável do saber, se torna um instrumento para o desenvolvimento da ciência; a ciência, como responsabilidade humana, só cresce e se desenvolve sob a liberdade; na verdade, a ciência tem por caractere intrínseco a liberdade como base para a busca pelas leis que Deus outorgou na natureza; a natureza pressupõe a liberdade e a liberdade dignifica a natureza; logo, a ciência, como busca pelas leis da natureza e como estudo sobre a natureza, tem imbuída em seu encargo o ser conduzida e desenvolvida sob a liberdade.

2. O Dr. Abraham Kuyper diz que o temor do Senhor é a flor da ciência; e a liberdade, por sua vez, é parte desta flor; pois, quem teme ao Senhor respeita a liberdade; quem não teme ao Senhor não respeita a liberdade; com isso, a ciência, se desenvolve de maneira mais flórea a partir do temor do Senhor; pois, no temor do Senhor está imbuído o respeito pela liberdade; portanto, a ciência, se desenvolve sob a liberdade, porque onde há liberdade há o temor do Senhor nas coisas humanas.

3. Assim sendo, a ciência possui em sua própria natureza, os gérmens para ser desenvolvida; a ciência não nega a Deus, pois busca as leis que Ele deu na natureza; e por isso, para compreender estas leis precisa ser edificada sob o temor do Senhor, em relação ao autor da criação e imbuída pela liberdade, em relação ao propósito do autor da criação; pois, com o temor do Senhor e a liberdade, se condiciona as duas asas pelas quais a ciência alça voos altaneiros na compreensão das leis da natureza em benefício da vida humana.

 

Resposta XVI

 

O que é Liberdade?

Em décimo-sexto lugar, a liberdade é fundamento da vida na Natureza.

1. A liberdade, não somente é princípio para o desenvolvimento da ciência, mas por sê-lo, o é, porque é fundamento da vida na natureza; a liberdade está imbuída de maneira indissolúvel na natureza; a vida em natureza, em todas suas esferas, do reino animal ao reino vegetal, do leão ao rato, do elefante a uma formiga, absolutamente tudo na natureza, segue a lei da liberdade; embora, de modos e de formas diferentes de que na vida humana; mas, independentemente disso, a liberdade é fundamento da vida na natureza, onde o transcurso das coisas ocorre de maneira livre e sem impedimentos.

2. A vida na natureza, é imbuída pela liberdade e é vivenciada na liberdade; pois, os animais, as plantas, existem e vivem na natureza sob a liberdade; a natureza não impede a planta de ser planta, ou os animais de serem animais; eles vivem em liberdade, a liberdade a qual lhes é intrínseca enquanto parte da criação; a própria lei natural pressupõem a liberdade na vida na natureza; a natureza, em suas esferas particulares, e em suas nuances peculiares, existe e é aperfeiçoada pela liberdade; pois, a cadeia alimentar, ou dito de modo mais específico, a seleção natural, só existe e é parte da experiência da vida em natureza pelo fato de existir sob a liberdade. Sem liberdade, a vida na natureza é asfixiada e a própria natureza adoece e morre. 

3. Deste modo, a liberdade é fundamento da vida na natureza, e fundamento para o desenvolvimento das coisas necessárias da própria natureza; pois, a natureza produz as coisas necessárias para a vida, ou proporciona meios e ou matérias-primas para que as coisas necessárias à vida sejam buscadas e obtidas; pois, a vida na natureza, em consonância com seu desenvolvimento e realidades intrínsecas, possui um encargo, de desenvolvimento cíclico, tanto pela cadeia alimentar quanto pelo ciclo da vida natural; logo, em tudo isso, existe a liberdade que serve de proteção para que este desenvolvimento cíclico seja efetivado e permaneça incólume enquanto processo natural da própria natureza.

 

Resposta XVII

 

O que é Liberdade?

Em décimo-sétimo lugar, a liberdade é atestada pela estrutura biológica da Natureza.

1. A liberdade, ao ser fundamento da vida na natureza, é confirmada e atestada pela estrutura biológica da natureza; e a estrutura biológica da natureza é como que uma máquina, que funciona e se mantém nas coisas necessárias; a estrutura biótica da natureza funciona a medida que a mesma se desenvolve e exerce as coisas necessárias; esta estrutura, prescrita por Deus na Criação, permanece inalterada, mesmo após a corrupção do Pecado, e se mantém através daquilo que teologicamente se chama de Providência de Deus, e através daquilo que filosoficamente se pode evocar a partir da proposição de “geração e corrupção”. 

2. E, a estrutura biológica da natureza, ao subsistir na esfera biótica da vida, é uma prova incontestável da liberdade; pois, se a estrutura biológica da natureza existe, existe em liberdade; ninguém pode alterar esta estrutura, já que a natureza existe e se mantém sob a liberdade; a vida se desenvolve e tem seu fim, em liberdade, e isto, deste o mais pequeno animal até o ser humano; a vida das árvores e das plantas, dos animais terrestres e dos aquáticos, se desenvolvem sob a liberdade; a natureza existe para um determinado fim, e ninguém altera este fim, senão incorre em práticas anti-natureza, em práticas anti-naturais; e, mesmo que os homens tentem alterar ou mudar a natureza, a natureza sempre ganha esta batalha, pois fora criada para existir em liberdade. O poder humano, que as mais das vezes procura destruir a liberdade, não pode contra o poder da natureza em relação as coisas naturais.

3. Deste modo, a estrutura biológica da natureza, existe para este propósito, viver em liberdade; portanto, se a natureza existe para viver em liberdade, quanto mais o ser humano, que como mordomo da criação, deve ainda mais valorizar e valorar este excelente bem da natureza; se a natureza vive em liberdade, ainda mais o ser humano deve viver em liberdade; se a natureza respeita a liberdade de maneira plena, o ser humano deve respeitar a liberdade ainda mais; se a natureza em sua estrutura confirma e atesta a liberdade, o ser humano em tudo o que faz também deve atestar e testemunhar da liberdade, pois, sem liberdade não há vida; e a própria vida, a esfera biótica da vida, pressupõe a liberdade como excelente bem da natureza para que a vida, nas coisas necessárias, seja vivida com sobriedade e respeito para consigo mesmo, para com o próximo e no cuidado para com a natureza.

 

Resposta XVIII

 

O que é Liberdade?

Em décimo-oitavo lugar, a liberdade é comprovada pelas relações entre os seres humanos e a natureza.

1. A liberdade, bem da natureza, é comprovada, atestada e roborada pelas relações entre os seres humanos e a natureza; pois, sendo o ser humano parte da natureza se relaciona com toda a natureza; e, como a natureza está disposta em liberdade, tanto no reino vegetal quanto no reino animal, então, o ser humano é abarcado nesta relação, e só se inter-relaciona de modo sóbrio e adequado com a natureza, em seu benefício e no cuidado com a natureza, quando exerce corretamente a liberdade; sem liberdade sem relação adequada com a natureza; portanto, a liberdade estabelece o parâmetro fundamental das relações do ser humano com a natureza.

2. Ora, neste sentido, se sabe que para que o ser humano exerça corretamente o mandato cultural, há de o fazê-lo em liberdade; pois, a liberdade abaliza o que concerne a sobriedade do cuidado com a criação, do velar pela criação; a instituição do mandato cultural pelo Criador está em ordem a liberdade como bem da natureza; por isso, para que o homem cuide da terra (cf. Gn 2.15), há de o fazer em liberdade e para a liberdade; assim sendo, tudo quanto concerne a tarefa do ser humano para com a criação, tal como estabelecido por Deus, dispõe-se de o ser humano estar em liberdade e seu laborar ser feito em liberdade. A via da liberdade é a única que convém no relacionamento do ser humano com a natureza.

3. Por isso, como fora dito, a liberdade é a base para que os axiomas da ciência sejam cultivados; pois, a ciência, como responsabilidade humana só é corretamente cultivada em liberdade; e também a liberdade é coluna que preserva o caminho da ciência; e estes dois aspectos estão em sintonia com o propósito do ser humano de cuidar e velar pela criação; com isso, fora designado pelo Criador também para desenvolver a ciência; e a ciência só se desenvolve a medida do modo como a mesma é cultivada; e, como a ciência deve ser cultivada na liberdade, então, os axiomas da ciência só são cultivados em liberdade, e isto, por sua vez, é a coluna que preserva o caminho da ciência.

 

Resposta XIX

 

O que é Liberdade?

Em décimo-nono lugar, a liberdade é um fundamento da sobriedade psíquica.

1. A liberdade é um fundamento da sobriedade psíquica; o aparelho psíquico do ser humano funciona de um modo que requer a liberdade para seu funcionamento pleno e adequado; liberdade tem a ver com a alma; pois, a liberdade diz respeito a um bem da natureza, mas um bem que não somente abarca a vida corpórea, mas também a vida psíquica e a vida espiritual; portanto, a liberdade é preceito físico-psíquico-espiritual; por isso, se afirma que a psique funciona de modo adequado somente em liberdade e na liberdade já que a glória da vida interior está na conformidade com a liberdade na vida exterior.

2. Por isso, neste mesmo sentido, se pode afirmar que a liberdade é preceito irrenunciável para o desenvolvimento da personalidade; não há desenvolvimento da personalidade sem liberdade; e como a dignidade do indivíduo é burilada e evidenciada em seu fulgor a medida do desenvolvimento da personalidade, então, quando não há desenvolvimento da personalidade, o que ocorre é a vituperação da dignidade do indivíduo; pois, como Goethe dizia, a maior força humana é a personalidade; logo, desenvolver a personalidade é o mesmo que burilar a força humana, e isto em ordem ao proveito e ao crescimento da própria vida humana; e isso só feito na liberdade e através da liberdade.

3. Portanto, a liberdade é fundamental para a sobriedade psíquica, tanto para a própria psique funcionar em ordem e de modo saudável, quanto para o desenvolvimento da personalidade, e, em consequência, o fortalecimento da vida o indivíduo em seu todo, em seu corpo, alma e espírito; pois, a consciência do indivíduo de si e do mundo que o rodeia, só é alcançada efetivamente na liberdade e pela liberdade; assim sendo, tudo quanto convém a sobriedade psíquica tem a ver com a liberdade; pois, a não-liberdade adoece e fragmenta a psique, gerando várias morbidades psíquicas e mesmo tornando a alma sujeita aos efeitos da morbus animi. Deste modo, a liberdade protege a psique dos nefastos efeitos que a não-liberdade causa na alma; por isso, a liberdade é corretamente definida como um fundamento da sobriedade psíquica.

 

Resposta XX

 

O que é Liberdade?

Em vigésimo lugar, a liberdade é fio indivisível pelo qual se constrói a civilização.

1. A liberdade é fio indivisível pelo qual se constrói a civilização; sem liberdade não há civilização; sem liberdade não há civilidade, propriedade irrevogável de uma civilização sóbria; pois, pela liberdade se constrói efetivamente e dignamente uma civilização; logo, se pode afirmar que a liberdade é um fio que perpassa a existência das grandes nações, que as permeias, as dignifica humanamente e as enche de suas benesses; assim, a liberdade é fio pelo qual se constrói e se mantém a civilização em ordem a dignidade humana e a civilidade.

2. Por isso, a liberdade é pilar das grandes democracias; as grandes democracias são estabelecidas em liberdade e na liberdade; é por esta razão que as grandes democracias descrevem a liberdade, embasadas na lei natural, como um direito inviolável; logo, para a existência de um Estado Democrático de Direito, a liberdade é imprescindível, já que a liberdade é um dos transcendentais dos direitos humanos, nos quais fundam-se as grandes democracias; com isso, a liberdade é um pilar estrutural das grandes democracias, sem o qual as mesmas acabam por ruir e definhar. Portanto, a liberdade é um pilar imovível e inalterável das grandes democracias.

3. Deste modo, se pode afirmar de maneira resoluta que a liberdade é atavio das grandes nações; ora, as grandes nações são grandes porque honram este “excelente bem da natureza” outorgado pelo Criador; e ao honrarem-no, honram Aquele que o concedeu; por isso, as grandes nações possuem como atavio exuberante a liberdade, a vida em liberdade; este atavio é o que melhor apresenta a dignidade e o valor de uma nação diante de todo o mundo.

Assim sendo, a liberdade é o atavio das grandes nações, pois fora o pilar pelo qual estas nações se ergueram e se construíram; pois, a glória de uma pátria é o modo como seus cidadãos honram a liberdade em suas crenças e ações; do mesmo modo, a desonra e a infâmia de uma pátria é talhada sob tábuas de bronze quando seus cidadãos desonram e inferem a liberdade.

 

Epílogo

 

Assim, respondeu-se de forma simples e sintética, a questão posta, “O que é Liberdade?”; e foram respostas que açambarcaram vários aspectos e esferas do que concerne a liberdade, tanto em relação a religião, quanto em relação a vida humana, principalmente em relação a vida humana; pois, o ser humano necessita da liberdade para poder viver, se desenvolver e construir um mundo fraterno e economicamente forte; pois, a liberdade, como bem afirmara Leão XIII é um “excelente bem da natureza”; na verdade, entre os bens da natureza é um dos mais importantes, já que está em ordem a basicamente tudo quanto diz respeito a vida humana; e nunca é demais relembrar que este “excelente bem da natureza” fora nos outorgado pelo Deus Altíssimo, “que é bendito eternamente. Amém!”. 

Laudate Deo


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