22/04/2025

Elogio Fúnebre ao Papa Francisco

Hoje acordamos com a triste notícia da morte do Papa Francisco; um dia lúgubre; um dia após a Páscoa; o Papa da esperança faleceu; o Papa dos marginalizados faleceu; o primeiro pontífice latino-americano da história termina seu pontificado; silencia no trono de São Pedro a mais contundente voz, nas últimas três gerações, em defesa dos mais pobres.

E o que dizer deste momento? Como homenagear Francisco?

Certamente, as palavras de Bartolomeu, Patriarca de Constantinopla, são assaz oportunas: “Nós sempre nos lembraremos dele”. 

Sim, quem pode viver durante seu pontificado, certamente, sempre se lembrará do Papa Francisco.

Um homem simples, de gestos simples, mas de uma memória eterna; e isto não só para católicos, mas para todas as pessoas de bem.

Mas, quem é Francisco? Com certeza, a melhor forma de homenagear o falecido papa é ponderar sobre sua vida e obra, isto é, sobre seu legado.

E, quanto a isso, são feitas algumas considerações:

1. Primeiro, um sacerdote dedicado a sua missão de cuidar das almas e ajudar a todos os homens; e o fizera com maestria, no espírito evangélico e sob o zelo e o ardor dos exercícios espirituais de Inácio de Loyola.

Como sacerdote, seja como padre, seja como bispo, ou por fim como papa, sempre foi exemplar; uma verdadeira glória da companhia de Jesus. Um homem que mostrou ao mundo o evangelho de Cristo no cumprimento de sua vocação sacerdotal.

2. Segundo, o sábio Papa da literatura; um aspecto pouco conhecido do legado de Francisco; um mestre da literatura; um erudito conhecedor das letras; e que soube acoplar o conhecimento e a importância da literatura a sua vocação sacerdotal, com simplicidade e destreza.

O papa da poesia, do tango, que gostava de deixar claro sua admiração pelo futebol; e não só por meras palavras, mas em verdade; o papa que amava o futebol.

Assim, soube concatenar o que de melhor a cultura argentina produziu em sua vida e em sua vocação; o papa cervantiano.

O papa que pregou: “Deus é Jovem!”. O papa que mesmo octogenário manteve-se jovem.

O papa que exclamou: “Viva a Poesia!”. 

E, querido irmão Francisco, sua vida e dedicação também foram uma poesia, um verdadeiro canto de pescador.

E que poesia! Uma poesia de sabedoria; sua sabedoria, querido irmão Francisco, em vários aspectos lembrou a de Leão XIII; embora, também dele divirja no estilo; enquanto Leão XIII fora o homem das letras clássicas, Francisco é o homem das letras da simplicidade.

Mas, de grande legado no tocante a doutrina social. Por assim dizer, e com toda a honra, querido irmão Francisco, tu honraste e enobreceste o legado de Leão XIII no tocante a doutrina social.  

3. Terceiro, o Papa do bom humor; era diária sua oração: “Senhor, dá-me um bom humor”; e quem não se lembrará da brincadeira com um político brasileiro: “onde está minha cachaça?”; e o bom humor durante uma reunião com os jovens, com uma jovem brasileira, ao perguntar para a mesma: “quem é melhor, Maradona ou Pelé?”; entre tantas outras histórias.

Com efeito, o bom humor é expressão de uma inteligência aguçada somada a uma compreensão realista da vida; com efeito, Francisco não é tido como um papa da inteligência; certamente, é tido como um papa realista e de “pés no chão”.

No entanto, por ser um papa realista, é por isso também um papa da inteligência; não da inteligência que se expressa pela erudição, mas da inteligência que se expressa na simplicidade das ações. 

Aliás, como os sábios já afirmaram, a forma mais sofisticada de inteligência e erudição é a simplicidade.

Quem não se lembrará que iniciaste seu pontificado com a “Lumen Fidei”; e foi a luz da fé que o guiara em todo o seu pontificado; a preocupação com a casa comum, com a ecologia, com a fraternidade, com o respeito pela dignidade humana, com os mais pobres, com a vida santa, entre outras coisas, tudo foi iluminado pela luz da fé que o guiara em toda a sua vida.

Deste modo, querido irmão Francisco, seu legado será sempre lembrado e rememorado mesmo diante de algumas ambiguidades que rondaram seu pontificado; sua memória, como dissera o irmão Bartolomeu, será eterna; alguém já disse que a mais importante qualidade humana não é o que se fala, mas o como se toca a alma humana; e isto tu fizera de maneira incomparável. 

E quantas pessoas foram tocadas pelo seu exemplo e proximidade; no passado dizia-se que os fiéis e as pessoas de bem iam a praça São Pedro para ver João Paulo II, e que iam para ouvir Bento XVI; e isso é verdade; entretanto, querido irmão Francisco, os fiéis e as pessoas de bem foram a praça São Pedro para estarem próximas a ti; a proximidade foi uma marca distintiva de seu pontificado, a qual sempre será lembrada.

Por isso, ao elogiá-lo de forma simples e rápida, como certamente tu gostaria, também encomendamos a misericórdia e a graça de Deus a todos quantos estão tristes, enlutados e macambúzios por seu falecimento. 

Ah! Querido irmão, se tu pudesses ver a tristeza que tomou conta do mundo, certamente, isso o emocionaria; até os animais estão tristes; mas, diante desta tristeza, se nos renova a esperança da fé e da caridade, a fim de que sua memória seja honrada com dignidade e respeito por aqueles que irão sucedê-lo; sua vida marcou para sempre a cátedra de São Pedro. 

Querido irmão, tu que sempre disseste “obrigado!” as mais distintas pessoas; mas, neste momento lúgubre, são os fiéis e todas as pessoas de bem, na verdade, “todos, todos, todos”, que lhe dizem em uníssono: “Muito Obrigado Papa Francisco!”. 

 Requiem aeternam dona eis, 

Domine, et luz perpetua luceat eis


Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Modo Dialético de Pensar

A maneira dialética de pensar, ou o modo dialético de pensar, é o pior dos males que atinge os homens modernos, os homens crepusculares, os ...