Prefácio.
A Isagoge de Porfírio é
uma obra clássica da filosofia; usada por muitos como introdução a lógica, como
introdução as Categorias, como aporte a reflexão sobre os universais,
etc.; comentou-se e elucubrou-se sobre os preceitos de Porfírio nesta epístola
que ele escreveu a seu aluno Crisoário; todavia, também não foram poucos os
problemas que emergiram desta obra, principalmente pela falta de compreensão
sobre a distinção entre o que concerne ao lógico e o que concerne ao metafísico
na elucubração sobre os universais.
Por isso, após se ter feito um
breve comentário as Categorias de Aristóteles, se deve, necessariamente,
prosseguir para um comentário menor a Isagoge; pois, a Isagoge
emerge de um problema em relação as coisas predicamentais, isto é, a partir do
cap. II das Categorias; assim, se faz um breve comentário a fim de
apresentar este texto de Porfírio, seguindo o exemplo do Comentador que também
fizera um comentário menor a este livro.
Com isso, ao se apresentar este
comentário menor a Isagoge se procurará aclarar que ainda que as coisas
predicamentais tenham imbuído nas entrelinhas preceitos ontológicos, versa
sobre lógica e não sobre metafísica; Porfírio apresenta a reflexão sobre os
universais neste escrito como um lógico e não como um metafísico; e que isso
fique bem claro a todos os que buscam estudar e compreender a Isagoge;
esta icônica introdução as cinco vozes é uma obra de lógica e não uma obra de
ontologia; nesta obra, sobressai o Porfírio aristotélico e não o Porfírio
neoplatônico; em lógica, Porfírio é aristotélico, no restante é neoplatônico.
Portanto, tendo isto em mente se
pode adentrar ao estudo e a análise desta obra de Porfírio, certos de que a
profundidade e a maestria deste que, no dizer de Santo Agostinho, é o mais
erudito dos filósofos, não deixará de surpreender; pois, o estudo sobre a Isagoge,
mesmo após 17 séculos de ter sido escrita, nunca deixa de ser salutar e
benéfico àqueles que, movidos pela estudiosidade, buscam se colocar na senda da
sabedoria. Pois, o estudo da Isagoge é parte do que concerne ao
preâmbulo do estudo da sabedoria.
Assim, eis este breve comentário
a Isagoge de Porfírio, a fim de apresentar este texto com o propósito de
torná-lo mais acessível e mais bem aproveitável a todos aqueles que buscam
compreender as ínvias possibilidades que emergem da ciência dos predicamentos. Pois,
a Isagoge, especificamente, é um complemento necessário a um problema
predicamental, e, por esta razão, deve ser sempre tomada em conjunto com a
leitura e o estudo do livro das Categorias e seus complementos.
Soli Deo Gloria!
In Nomine Iesus!
Julho de 2025.
Prólogo.
1. A Isagoge de Porfírio,
segundo Alfarábi, tem por propósito enumerar aquelas coisas de que se compõem e
em que se dividem as proposições;
ora, as proposições, isto é, as coisas ditas com significado, ou são coisas
complexas ou são incomplexas; no caso analisado por Porfírio na Isagoge,
refere-se as coisas incomplexas.
Por isso, as coisas
não-combinadas, se compõem e se dividem de acordo com o modo como as
proposições estão, isto é, de acordo com o que as proposições evidenciam do ato
predicatório: se está ou não em um sujeito, ou se foi dito ou não de um
sujeito.
2. Portanto, a partir do ato
predicatório, ao se demonstrar a percepção da predicação, se extraem as cinco
vozes do segundo dos anti-predicamentos; ora, as vozes do primeiro dos
anti-predicamentos, dizem respeito ao ato predicatório; e as vozes do segundo
dos anti-predicamentos, dizem respeito a demonstração da percepção da
predicação.
Assim sendo, ao Porfírio analisar
a diferença entre categorias e categoremas, ou entre os predicamentos e os
predicáveis, evoca as cinco vozes para designar esta diferença, já que a mesma
se estabelece a partir da existencialidade do sujeito (e esta distinção também
se estabelece a partir do sujeito).
Com isso, as cinco vozes são um
aporte não só para o entendimento das coisas predicamentais, mas também para o
entendimento sobre “o que é” do algo que fora predicamentado.
§ 1. A Natureza da Isagoge.
3. Deste modo, na Isagoge
se tem a análise dos categoremas ou predicáveis; por isso, são cinco vozes,
dado que as categorias ou predicamentos são dez; ora, os categoremas, são
tomados a partir dos conceitos tidos como supremos; no entanto, Porfírio os
evoca de modo distinto do que o Filósofo; pois, o Filósofo, no livro I dos Tópicos,
evoca quatro predicáveis: definição, próprio, gênero e acidente (cf. Top.
101b11-36); mas, por sua vez, Porfírio evoca os predicáveis quanto a ciência
dos predicamentos e não quanto a ciência do silogismo, e assim evoca cinco
predicáveis: gênero, espécie, diferença, próprio e acidente.
Ora, esta simples distinção
demonstra que os predicáveis da Isagoge estão em ordem quanto aos
aspectos da primeira operação do intelecto, enquanto que os predicáveis dos Tópicos
estão em ordem quanto aos aspectos da terceira operação do intelecto. E esta
distinção é fundamental, dado que nos Tópicos os predicáveis são tomados
como “sistemas” de predicação,
enquanto que na Isagoge são puramente tidos como predicáveis dado as
coisas predicamentais.
4. Por isso, ao evocar as cinco
vozes de acordo com a linha de raciocínio das Categorias, Porfírio
proporciona uma excelente introdução a um problema lógico-filosófico
fundamental, a saber, sobre os universais enquanto elucubrados pelo lógico; não
como preceitos ontológicos, mas como realidades lógicas; ora, neste sentido, as
cinco vozes formam uma ordenação fundamental para a ordem dos predicamentos,
posto que, em sua inerência, as cinco vozes se concatenam e evidenciam aspectos
sobre a essência dos entes, bem como demonstram o modo como os entes estão na
ordem da realidade.
5. Assim, a compreensão sobre a Isagoge
inere estes e outros aspectos; ora, a correta elucubração sobre os predicáveis
é fundamental para as definições quanto a divisão e a demonstração, tal como o
próprio Porfírio afirma: “e visto que tal conhecimento é igualmente
necessário para fornecer definições em relação a tudo que diz respeito à
divisão e à demonstração”;
logo, tanto a divisão quanto a demonstração, dizem respeito aos predicamentos.
6. Por isso, o Expositor diz que
a definição se refere a simples intelecção e a demonstração ao compor e ao
dividir (cf. In De An., I, 8, n. 13); portanto, o conhecimento dos
predicáveis abaliza o que concerne as definições, a simples intelecção, bem
como abaliza o que advêm após, a saber, a demonstração, o compor e o dividir.
Logo, o conhecimento dos
predicáveis abaliza o que concerne a primeira operação do intelecto, e
pontifica o entendimento para o que concerne a segunda operação do intelecto;
pois, pela divisão predicamental se chega ao conhecimento dos predicáveis e dos
predicamentos, os quais, ao serem predicamentados são demonstrados num
enunciado.
Portanto, a Isagoge se
estabelece em conformidade com as definições, ao mesmo tempo em que abaliza
vários aspectos do que concerne a demonstração.
§ 2. A Razão dos Universais.
7. Ora, o primeiro e mais
fundamental aspecto que a Isagoge evoca é sobre a razão dos universais
na lógica; e posto que os chamados cinco predicáveis se dão nas coisas
predicamentais, então, os universais só são compreendidos de quando da
demonstração da percepção da predicação; por isso, para Alfarábi, na Isagoge,
universal é aquilo cuja natureza é tal que por ele dois ou mais se assemelham;
portanto, os universais estão presentes nos entes de quando estes são
predicamentados, demonstrando algo sobre o modo como os entes estão na ordem da
realidade, já que não se conhece um ente apenas por si mesmo, mas sempre em
alguma relação.
E, com isso, os universais estão
em ordem as definições, posto que, quando um ente é predicado, é predicado de
um modo, e ao ser demonstrado, é demonstrado através do sujeito, donde se
infere em qual dos predicáveis se encontra. Por isso, a predicação primeiro se
orienta ao modo de predicar; depois ao modo de definir; depois ao modo de se
dividir; e, por fim, ao modo de se distinguir.
Deste modo, é próprio dos
universais o estarem em ordem aos dois últimos aspectos, dado que um universal,
na lógica, só é aferido como universal a partir de quando é predicamentado.
8. E, na verdade, a razão de
Porfírio ao escrever a Isagoge é justamente demonstrar isso; por isso,
Porfírio, em suma, faz três coisas na Isagoge: primeiro, esclarece sua
intenção no proêmio; segundo, dá uma definição geral de cada uma das cinco
vozes (I-V); terceiro, evoca as características comuns e as diferenças entre
cada uma das cinco vozes (VI-XXVI).
Ora, esta tríplice divisão da Isagoge
é fundamental para se compreender a razão dos universais na lógica, posto que a
divisão geral deste escrito de Porfírio é a divisão adequada à compreensão e para
o estudo das cinco vozes.
Por isso, se deve primeiro
analisar o que concerne a cada uma das cinco vozes, e depois, prosseguir para
analisar aquilo que os comentaristas antigos intitularam sobre o que convém e o
que desconvém as cinco vozes.
9. Ora, a razão dos universais na
lógica está descrita por Porfírio no proêmio (n. 2), a qual, evidentemente, se
demonstra de três modos: primeiro, na correta acepção da relação entre as
realidades subsistentes em si mesmas e os conceitos mentais que as representam;
pois, as realidades, aqui com significação de entes, se subdivide em dois
grupos: aqueles que são subsistentes por si mesmos e aqueles que não são; ora,
os que são subsistentes por si mesmos, geralmente são tidos como entes
substanciais; e os que não são subsistentes por si mesmos, geralmente são tidos
como entes acidentais.
Mas, em se tratando dos
universais, a significação dos mesmos está nos entes que são subsistentes por
si mesmos, bem como nos conceitos que representam estes entes, e ainda mesmo em
gérmens nos entes acidentais a partir do no que estes participam nos entes
substanciais; assim, os universais se demonstram tanto a partir do referente
quanto a partir do significado dos entes, e são representados, em muitas das
vezes, através do signo dos entes.
No entanto, em relação a isso, se
afirma estas pressuposições quanto ao ato predicatório, posto que os entes
subsistentes por si ao serem predicados evidenciam o modo como são
subsistentes, isto é, em como participam no Ser, bem como evidenciam o modo como
são entendidos, a saber, através das definições.
Ora, as definições competem a
simples intelecção; deste modo, estão em ordem a elucubração que está imbuída
nas coisas predicamentais, e, por esta razão, são uma forma de se compreender
os universais; logo, os universais também são entendidos a partir das
definições, embora não se resumam apenas as simples definições.
10. Segundo, na correta
compreensão se estas realidades são corpóreas ou incorpóreas; ora, se se
compreende adequadamente que os universais não apenas são entendidos a partir
das realidades subsistentes, mas também a partir das definições destas
realidades, então, a partir das mesmas, se pode adequar uma correta compreensão
se estas realidades são corpóreas ou incorpóreas; e, com isso, se compreende a
ordem de eminência dos entes na realidade; entretanto, ao se averiguar se estas
realidades são corpóreas ou incorpóreas, se aclara o entendimento sobre a
natureza dos universais; no caso aqui, tem mais a ver com o modo de se exprimir
os universais do que com a própria natureza dos entes.
Por isso, a corporeidade ou a
incorporeidade dos universais não diz respeito propriamente a matéria, embora
em segunda instância se refira a matéria, mas diz respeito ao modo como se
exprime os universais, ou naquilo que os estóicos chamavam de “conteúdo do
pensamento”. Portanto, o “conteúdo do pensamento” deve ser entendido
de acordo com as operações do intelecto, e não de acordo com ideia platônica;
e, embora esta expressão também não esteja de acordo com o conceito mental
aristotélico, se pode dissolver esta aporia estóica ao se compreender que
verdadeiramente o “conteúdo do pensamento” deve ser tomado como conceito
mental, dado que os entes predicados são expressos primeiro em conceitos
mentais, depois em conceitos verbais.
Logo, é clarividente a razão da
distinção a respeito dos entes subsistentes por si mesmos se são corpóreos ou
incorpóreos, não somente em relação do modo da existência dos entes, mas também
pelo modo como são exprimidos. Os universais, evidentemente, são abstraídos a
partir dos entes, mas são conhecidos a partir do como os entes são exprimidos,
embora nem sempre, pelas limitações do intelecto, seja possível entender um
universal pela forma como o ente é exprimido.
Com isso, como alguns entes são
corpóreos e outros são incorpóreos, se deve compreender a ordem de eminência
dos entes na realidade, e se aperceber, de acordo ou com a corporeidade ou com
a incorporeidade, se os universais estão nos entes substancialmente ou se
apenas acidentalmente; pois, os entes existentes tem sempre algo dos
universais, embora não na mesma ordem de participação.
Por isso, se estão
substancialmente, então, necessariamente se pode afirmar sobre os universais;
se estão acidentalmente, então, necessariamente se pode afirmar sobre os
segundos princípios; etc.
11. Terceiro, na correta
compreensão se estas realidades são separadas ou se existem nas coisas
sensíveis e se destas dependem; ora, ao se compreender se estas realidades são
corpóreas ou incorpóreas, então, obviamente, se deve prosseguir e compreender se
estas realidades são separadas ou se existem nas coisas; se forem realidades
separadas, se deve compreender se são substâncias separadas ou acidentes
separados; e se existem na coisas sensíveis, então, se deve compreender se
dependem destas coisas ou se não dependem destas coisas; pois, se são
realidades separadas, então, obviamente, se deve distinguir se são realidades
materiais ou imateriais, como por exemplo, a luz (realidade material, embora
não materiada) e os anjos (realidades imateriais).
E ainda, se deve distinguir se
essas realidades existem nas coisas sensíveis; pois, as coisas sensíveis, são
as que estão mais próximas de serem captadas na simples intelecção, já que o
conhecimento tem o ponto de partida através da experiência sensível; logo, se
estão nas coisas sensíveis, destas dependem apenas em função da intelecção, e
não na ordem de eminência; certamente, em algum grau da ordem de dependência;
mas, em suma, se dependem das coisas sensíveis, como fora dito, é em função da
intelecção, pois, na verdade, as coisas sensíveis existem para serem
abstraídas, e só o são efetivamente aferidas na predicação primeira com os
universais.
Pois, os universais só são
expressos como universais posto que os entes participam nos transcendentais; na
verdade, os universais estão em ordem aos transcendentais; enquanto os
transcendentais atestam a natureza ontológica dos entes, os universais atestam
esta natureza de acordo com a realidade natural; os transcendentais dado que as
coisas participam no Sumo Bem, e os universais dado que as coisas existentes
são algum bem já que participam no Primeiro Bem.
Por isso, a investigação inicial
sobre os transcendentais está em ordem a metafísica, enquanto que a
investigação inicial sobre os universais está em ordem a lógica; no entanto, a
partir da investigação sobre os universais na lógica se abaliza a investigação
sobre os transcendentais, e a elucubração sobre os transcendentais reclama a
elucubração sobre os universais; etc.
12. Deste modo, a razão dos
universais na lógica está em ordem a este tríplice preceito, o qual, por sua
vez, é inerido a partir da própria proposição de Porfírio no proêmio da Isagoge;
e estas, em suma, são as possibilidades evocadas neste proêmio, a qual não
somente abaliza a explicação sobre as cinco vozes, e, por consequência, sobre o
que convém e o que desconvém as cinco vozes, mas à própria elucubração sobre os
universais.
Por isso, no que concerne aos
universais se deve seguir estas diretivas, abalizadas a partir dos preceitos do
proêmio da Isagoge, tanto no que concerne a elucubração sobre os
universais na lógica, quanto no que concerne a própria significação das cinco
vozes em relação aos predicamentos.
Portanto, o proêmio da Isagoge
não somente abaliza o que concerne a própria significação das cinco vozes, mas
prescreve a própria estrutura da investigação a respeito dos universais, seja
propriamente na lógica, ou posteriormente na ontologia geral.
§ 3. As Propriedades dos
Universais.
13. Ora, o que convém e o que
desconvém as cinco vozes está em ordem as propriedades das operações do
intelecto; pois, os universais são dispostos logicamente a partir das operações
do intelecto, já que estas se coadunam com a própria ordem ontológica da
realidade; por isso, ao intelecto abstrair algo da realidade, tal abstração
encontra similitude com a ordem da realidade, não somente pelas definições
conceituais (significado em nome de algo na realidade), mas por causa de que as
definições conceituais são uma forma, parcial ou não, de se demonstrar as
definições reais (a essência da coisa), embora, dado a limitação do intelecto,
isso seja feito de modo fragmentário e parcial.
14. Portanto, as cinco vozes são
entendidas nesta perspectiva, e assim o que convém e o que desconvém as mesmas
também é delineado nesta perspectiva; todavia, ao se analisar as propriedades
das cinco vozes, se deve distinguir entre as propriedades essenciais e as
propriedades acidentais; as propriedades essenciais são aquelas que são delineadas
na própria coisa independente se se a abstrai ou não, isto é, são intrínsecas a
coisa; e as propriedades acidentais são aquelas que são delineadas na coisa não
somente a partir de si, mas a partir dos acidentes que permeiam a própria
coisa, isto é, não é intrínseca a coisa, mas por alguma razão passam a fazer
parte da coisa a partir de seu modo de existência.
Por isso, a universalidade das
cinco vozes é entendida a partir do fato de que as cinco vozes se predicam de
muitas coisas (cf. Isag., VI, 1); portanto, a multiplicidade das coisas
e dos seres atesta a universalidade das cinco vozes, tanto em relação a própria
significação, quanto em relação a própria ordem de eminência e de dependência
da estrutura ontológica da realidade; por esta razão, as cinco vozes são
chamadas de universais; com isso, se entende que os universais são definidos
assim, posto que constituem-se de algo que açambarca a compreensão de como os
seres e as coisas são e estão na ordem da realidade, seja na ordem de eminência
seja na ordem de dependência; etc.
15. Deste modo, há de se aclarar
em ordem o que convém e o que desconvém as cinco vozes: primeiro, o que convém
e o que desconvém ao gênero; segundo, o que convém e o que desconvém a espécie;
terceiro, o que convém e o que desconvém a diferença; quarto, o que convém e o
que desconvém ao próprio; quinto, o que convém e o que desconvém ao acidente.
Ora, no que convém tem algo de
univocidade, e no que desconvém tem algo de equivocidade, seja dialeticamente
em relação a univocidade, seja dialogicamente em relação a univocidade, podendo
com isso dar origem a algo cognominado - e este, por sua vez, pode ser disposto
no que convém e desconvém ao mesmo tempo a uma ou mais vozes.
16. Assim, se consegue ter um
panorama geral das propriedades das cinco vozes, tanto no que convém quanto no
que desconvém as cinco vozes; pois, as propriedades dos universais, em relação
a lógica, estão dialogicamente ligadas ao próprio modo de abstração, não no que
este tem de subjetivo, mas em sua objetividade inerente; portanto, as
propriedades dos universais são lógicas por si mesmas, isto é, tem uma natureza
universal e tem uma estrutura que atina ao próprio modo do intelecto funcionar,
pois do contrário o intelecto não as conseguiria abstrair.
Por isso, as cinco vozes,
universalmente, são dispostas deste modo e com estes princípios; e toda
elucubração sobre os universais, em se tratando da lógica, deve ter por
parâmetro as perspectivas que foram evocadas; e isso não livra a lógica do
problema dos universais, mas abaliza esta elucubração dentro de princípios
adequados para tal finalidade, adequalizando a elucubração sobre os universais
na lógica, o que antecede a elucubração sobre os universais na ontologia geral.
Com isso, se for seguida esta
adequalização, certamente se livrará a maior parte dos problemas que tem tomado
conta desta elucubração desde a baixa escolástica. Este breve comentário não
soluciona estes problemas, mas dispõe o que concerne para que este tema seja
elucubrado com sobriedade e ordem no âmbito do instrumento das disciplinas
filosóficas; em suma, este é o propósito deste breve comentário.
17. E termina aqui este breve
comentário a Isagoge de Porfírio. Bendito seja Deus por todas as coisas.
Amém.