01/08/2025

Breve Comentário a Isagoge de Porfírio

Prefácio.

A Isagoge de Porfírio é uma obra clássica da filosofia; usada por muitos como introdução a lógica, como introdução as Categorias, como aporte a reflexão sobre os universais, etc.; comentou-se e elucubrou-se sobre os preceitos de Porfírio nesta epístola que ele escreveu a seu aluno Crisoário; todavia, também não foram poucos os problemas que emergiram desta obra, principalmente pela falta de compreensão sobre a distinção entre o que concerne ao lógico e o que concerne ao metafísico na elucubração sobre os universais.

Por isso, após se ter feito um breve comentário as Categorias de Aristóteles, se deve, necessariamente, prosseguir para um comentário menor a Isagoge; pois, a Isagoge emerge de um problema em relação as coisas predicamentais, isto é, a partir do cap. II das Categorias; assim, se faz um breve comentário a fim de apresentar este texto de Porfírio, seguindo o exemplo do Comentador que também fizera um comentário menor a este livro.

Com isso, ao se apresentar este comentário menor a Isagoge se procurará aclarar que ainda que as coisas predicamentais tenham imbuído nas entrelinhas preceitos ontológicos, versa sobre lógica e não sobre metafísica; Porfírio apresenta a reflexão sobre os universais neste escrito como um lógico e não como um metafísico; e que isso fique bem claro a todos os que buscam estudar e compreender a Isagoge; esta icônica introdução as cinco vozes é uma obra de lógica e não uma obra de ontologia; nesta obra, sobressai o Porfírio aristotélico e não o Porfírio neoplatônico; em lógica, Porfírio é aristotélico, no restante é neoplatônico.

Portanto, tendo isto em mente se pode adentrar ao estudo e a análise desta obra de Porfírio, certos de que a profundidade e a maestria deste que, no dizer de Santo Agostinho, é o mais erudito dos filósofos, não deixará de surpreender; pois, o estudo sobre a Isagoge, mesmo após 17 séculos de ter sido escrita, nunca deixa de ser salutar e benéfico àqueles que, movidos pela estudiosidade, buscam se colocar na senda da sabedoria. Pois, o estudo da Isagoge é parte do que concerne ao preâmbulo do estudo da sabedoria.

Assim, eis este breve comentário a Isagoge de Porfírio, a fim de apresentar este texto com o propósito de torná-lo mais acessível e mais bem aproveitável a todos aqueles que buscam compreender as ínvias possibilidades que emergem da ciência dos predicamentos. Pois, a Isagoge, especificamente, é um complemento necessário a um problema predicamental, e, por esta razão, deve ser sempre tomada em conjunto com a leitura e o estudo do livro das Categorias e seus complementos.

Soli Deo Gloria!

In Nomine Iesus!

Julho de 2025.

 

Prólogo.

1. A Isagoge de Porfírio, segundo Alfarábi, tem por propósito enumerar aquelas coisas de que se compõem e em que se dividem as proposições[1]; ora, as proposições, isto é, as coisas ditas com significado, ou são coisas complexas ou são incomplexas; no caso analisado por Porfírio na Isagoge, refere-se as coisas incomplexas.

Por isso, as coisas não-combinadas, se compõem e se dividem de acordo com o modo como as proposições estão, isto é, de acordo com o que as proposições evidenciam do ato predicatório: se está ou não em um sujeito, ou se foi dito ou não de um sujeito.

2. Portanto, a partir do ato predicatório, ao se demonstrar a percepção da predicação, se extraem as cinco vozes do segundo dos anti-predicamentos; ora, as vozes do primeiro dos anti-predicamentos, dizem respeito ao ato predicatório; e as vozes do segundo dos anti-predicamentos, dizem respeito a demonstração da percepção da predicação.

Assim sendo, ao Porfírio analisar a diferença entre categorias e categoremas, ou entre os predicamentos e os predicáveis, evoca as cinco vozes para designar esta diferença, já que a mesma se estabelece a partir da existencialidade do sujeito (e esta distinção também se estabelece a partir do sujeito).

Com isso, as cinco vozes são um aporte não só para o entendimento das coisas predicamentais, mas também para o entendimento sobre “o que é” do algo que fora predicamentado.

§ 1. A Natureza da Isagoge.

3. Deste modo, na Isagoge se tem a análise dos categoremas ou predicáveis; por isso, são cinco vozes, dado que as categorias ou predicamentos são dez; ora, os categoremas, são tomados a partir dos conceitos tidos como supremos; no entanto, Porfírio os evoca de modo distinto do que o Filósofo; pois, o Filósofo, no livro I dos Tópicos, evoca quatro predicáveis: definição, próprio, gênero e acidente (cf. Top. 101b11-36); mas, por sua vez, Porfírio evoca os predicáveis quanto a ciência dos predicamentos e não quanto a ciência do silogismo, e assim evoca cinco predicáveis: gênero, espécie, diferença, próprio e acidente.

Ora, esta simples distinção demonstra que os predicáveis da Isagoge estão em ordem quanto aos aspectos da primeira operação do intelecto, enquanto que os predicáveis dos Tópicos estão em ordem quanto aos aspectos da terceira operação do intelecto. E esta distinção é fundamental, dado que nos Tópicos os predicáveis são tomados como “sistemas” de predicação[2], enquanto que na Isagoge são puramente tidos como predicáveis dado as coisas predicamentais.

4. Por isso, ao evocar as cinco vozes de acordo com a linha de raciocínio das Categorias, Porfírio proporciona uma excelente introdução a um problema lógico-filosófico fundamental, a saber, sobre os universais enquanto elucubrados pelo lógico; não como preceitos ontológicos, mas como realidades lógicas; ora, neste sentido, as cinco vozes formam uma ordenação fundamental para a ordem dos predicamentos, posto que, em sua inerência, as cinco vozes se concatenam e evidenciam aspectos sobre a essência dos entes, bem como demonstram o modo como os entes estão na ordem da realidade.

5. Assim, a compreensão sobre a Isagoge inere estes e outros aspectos; ora, a correta elucubração sobre os predicáveis é fundamental para as definições quanto a divisão e a demonstração, tal como o próprio Porfírio afirma: “e visto que tal conhecimento é igualmente necessário para fornecer definições em relação a tudo que diz respeito à divisão e à demonstração[3]; logo, tanto a divisão quanto a demonstração, dizem respeito aos predicamentos.

6. Por isso, o Expositor diz que a definição se refere a simples intelecção e a demonstração ao compor e ao dividir (cf. In De An., I, 8, n. 13); portanto, o conhecimento dos predicáveis abaliza o que concerne as definições, a simples intelecção, bem como abaliza o que advêm após, a saber, a demonstração, o compor e o dividir.

Logo, o conhecimento dos predicáveis abaliza o que concerne a primeira operação do intelecto, e pontifica o entendimento para o que concerne a segunda operação do intelecto; pois, pela divisão predicamental se chega ao conhecimento dos predicáveis e dos predicamentos, os quais, ao serem predicamentados são demonstrados num enunciado.

Portanto, a Isagoge se estabelece em conformidade com as definições, ao mesmo tempo em que abaliza vários aspectos do que concerne a demonstração.

§ 2. A Razão dos Universais.

7. Ora, o primeiro e mais fundamental aspecto que a Isagoge evoca é sobre a razão dos universais na lógica; e posto que os chamados cinco predicáveis se dão nas coisas predicamentais, então, os universais só são compreendidos de quando da demonstração da percepção da predicação; por isso, para Alfarábi, na Isagoge, universal é aquilo cuja natureza é tal que por ele dois ou mais se assemelham[4]; portanto, os universais estão presentes nos entes de quando estes são predicamentados, demonstrando algo sobre o modo como os entes estão na ordem da realidade, já que não se conhece um ente apenas por si mesmo, mas sempre em alguma relação.

E, com isso, os universais estão em ordem as definições, posto que, quando um ente é predicado, é predicado de um modo, e ao ser demonstrado, é demonstrado através do sujeito, donde se infere em qual dos predicáveis se encontra. Por isso, a predicação primeiro se orienta ao modo de predicar; depois ao modo de definir; depois ao modo de se dividir; e, por fim, ao modo de se distinguir.

Deste modo, é próprio dos universais o estarem em ordem aos dois últimos aspectos, dado que um universal, na lógica, só é aferido como universal a partir de quando é predicamentado.

8. E, na verdade, a razão de Porfírio ao escrever a Isagoge é justamente demonstrar isso; por isso, Porfírio, em suma, faz três coisas na Isagoge: primeiro, esclarece sua intenção no proêmio; segundo, dá uma definição geral de cada uma das cinco vozes (I-V); terceiro, evoca as características comuns e as diferenças entre cada uma das cinco vozes (VI-XXVI).

Ora, esta tríplice divisão da Isagoge é fundamental para se compreender a razão dos universais na lógica, posto que a divisão geral deste escrito de Porfírio é a divisão adequada à compreensão e para o estudo das cinco vozes.

Por isso, se deve primeiro analisar o que concerne a cada uma das cinco vozes, e depois, prosseguir para analisar aquilo que os comentaristas antigos intitularam sobre o que convém e o que desconvém as cinco vozes.

9. Ora, a razão dos universais na lógica está descrita por Porfírio no proêmio (n. 2), a qual, evidentemente, se demonstra de três modos: primeiro, na correta acepção da relação entre as realidades subsistentes em si mesmas e os conceitos mentais que as representam; pois, as realidades, aqui com significação de entes, se subdivide em dois grupos: aqueles que são subsistentes por si mesmos e aqueles que não são; ora, os que são subsistentes por si mesmos, geralmente são tidos como entes substanciais; e os que não são subsistentes por si mesmos, geralmente são tidos como entes acidentais.

Mas, em se tratando dos universais, a significação dos mesmos está nos entes que são subsistentes por si mesmos, bem como nos conceitos que representam estes entes, e ainda mesmo em gérmens nos entes acidentais a partir do no que estes participam nos entes substanciais; assim, os universais se demonstram tanto a partir do referente quanto a partir do significado dos entes, e são representados, em muitas das vezes, através do signo dos entes.

No entanto, em relação a isso, se afirma estas pressuposições quanto ao ato predicatório, posto que os entes subsistentes por si ao serem predicados evidenciam o modo como são subsistentes, isto é, em como participam no Ser, bem como evidenciam o modo como são entendidos, a saber, através das definições.

Ora, as definições competem a simples intelecção; deste modo, estão em ordem a elucubração que está imbuída nas coisas predicamentais, e, por esta razão, são uma forma de se compreender os universais; logo, os universais também são entendidos a partir das definições, embora não se resumam apenas as simples definições.

10. Segundo, na correta compreensão se estas realidades são corpóreas ou incorpóreas; ora, se se compreende adequadamente que os universais não apenas são entendidos a partir das realidades subsistentes, mas também a partir das definições destas realidades, então, a partir das mesmas, se pode adequar uma correta compreensão se estas realidades são corpóreas ou incorpóreas; e, com isso, se compreende a ordem de eminência dos entes na realidade; entretanto, ao se averiguar se estas realidades são corpóreas ou incorpóreas, se aclara o entendimento sobre a natureza dos universais; no caso aqui, tem mais a ver com o modo de se exprimir os universais do que com a própria natureza dos entes.

Por isso, a corporeidade ou a incorporeidade dos universais não diz respeito propriamente a matéria, embora em segunda instância se refira a matéria, mas diz respeito ao modo como se exprime os universais, ou naquilo que os estóicos chamavam de “conteúdo do pensamento”. Portanto, o “conteúdo do pensamento” deve ser entendido de acordo com as operações do intelecto, e não de acordo com ideia platônica; e, embora esta expressão também não esteja de acordo com o conceito mental aristotélico, se pode dissolver esta aporia estóica ao se compreender que verdadeiramente o “conteúdo do pensamento” deve ser tomado como conceito mental, dado que os entes predicados são expressos primeiro em conceitos mentais, depois em conceitos verbais.

Logo, é clarividente a razão da distinção a respeito dos entes subsistentes por si mesmos se são corpóreos ou incorpóreos, não somente em relação do modo da existência dos entes, mas também pelo modo como são exprimidos. Os universais, evidentemente, são abstraídos a partir dos entes, mas são conhecidos a partir do como os entes são exprimidos, embora nem sempre, pelas limitações do intelecto, seja possível entender um universal pela forma como o ente é exprimido.

Com isso, como alguns entes são corpóreos e outros são incorpóreos, se deve compreender a ordem de eminência dos entes na realidade, e se aperceber, de acordo ou com a corporeidade ou com a incorporeidade, se os universais estão nos entes substancialmente ou se apenas acidentalmente; pois, os entes existentes tem sempre algo dos universais, embora não na mesma ordem de participação.

Por isso, se estão substancialmente, então, necessariamente se pode afirmar sobre os universais; se estão acidentalmente, então, necessariamente se pode afirmar sobre os segundos princípios; etc.

11. Terceiro, na correta compreensão se estas realidades são separadas ou se existem nas coisas sensíveis e se destas dependem; ora, ao se compreender se estas realidades são corpóreas ou incorpóreas, então, obviamente, se deve prosseguir e compreender se estas realidades são separadas ou se existem nas coisas; se forem realidades separadas, se deve compreender se são substâncias separadas ou acidentes separados; e se existem na coisas sensíveis, então, se deve compreender se dependem destas coisas ou se não dependem destas coisas; pois, se são realidades separadas, então, obviamente, se deve distinguir se são realidades materiais ou imateriais, como por exemplo, a luz (realidade material, embora não materiada) e os anjos (realidades imateriais).

E ainda, se deve distinguir se essas realidades existem nas coisas sensíveis; pois, as coisas sensíveis, são as que estão mais próximas de serem captadas na simples intelecção, já que o conhecimento tem o ponto de partida através da experiência sensível; logo, se estão nas coisas sensíveis, destas dependem apenas em função da intelecção, e não na ordem de eminência; certamente, em algum grau da ordem de dependência; mas, em suma, se dependem das coisas sensíveis, como fora dito, é em função da intelecção, pois, na verdade, as coisas sensíveis existem para serem abstraídas, e só o são efetivamente aferidas na predicação primeira com os universais.

Pois, os universais só são expressos como universais posto que os entes participam nos transcendentais; na verdade, os universais estão em ordem aos transcendentais; enquanto os transcendentais atestam a natureza ontológica dos entes, os universais atestam esta natureza de acordo com a realidade natural; os transcendentais dado que as coisas participam no Sumo Bem, e os universais dado que as coisas existentes são algum bem já que participam no Primeiro Bem.

Por isso, a investigação inicial sobre os transcendentais está em ordem a metafísica, enquanto que a investigação inicial sobre os universais está em ordem a lógica; no entanto, a partir da investigação sobre os universais na lógica se abaliza a investigação sobre os transcendentais, e a elucubração sobre os transcendentais reclama a elucubração sobre os universais; etc.

12. Deste modo, a razão dos universais na lógica está em ordem a este tríplice preceito, o qual, por sua vez, é inerido a partir da própria proposição de Porfírio no proêmio da Isagoge; e estas, em suma, são as possibilidades evocadas neste proêmio, a qual não somente abaliza a explicação sobre as cinco vozes, e, por consequência, sobre o que convém e o que desconvém as cinco vozes, mas à própria elucubração sobre os universais.

Por isso, no que concerne aos universais se deve seguir estas diretivas, abalizadas a partir dos preceitos do proêmio da Isagoge, tanto no que concerne a elucubração sobre os universais na lógica, quanto no que concerne a própria significação das cinco vozes em relação aos predicamentos.

Portanto, o proêmio da Isagoge não somente abaliza o que concerne a própria significação das cinco vozes, mas prescreve a própria estrutura da investigação a respeito dos universais, seja propriamente na lógica, ou posteriormente na ontologia geral.

§ 3. As Propriedades dos Universais.

13. Ora, o que convém e o que desconvém as cinco vozes está em ordem as propriedades das operações do intelecto; pois, os universais são dispostos logicamente a partir das operações do intelecto, já que estas se coadunam com a própria ordem ontológica da realidade; por isso, ao intelecto abstrair algo da realidade, tal abstração encontra similitude com a ordem da realidade, não somente pelas definições conceituais (significado em nome de algo na realidade), mas por causa de que as definições conceituais são uma forma, parcial ou não, de se demonstrar as definições reais (a essência da coisa), embora, dado a limitação do intelecto, isso seja feito de modo fragmentário e parcial.

14. Portanto, as cinco vozes são entendidas nesta perspectiva, e assim o que convém e o que desconvém as mesmas também é delineado nesta perspectiva; todavia, ao se analisar as propriedades das cinco vozes, se deve distinguir entre as propriedades essenciais e as propriedades acidentais; as propriedades essenciais são aquelas que são delineadas na própria coisa independente se se a abstrai ou não, isto é, são intrínsecas a coisa; e as propriedades acidentais são aquelas que são delineadas na coisa não somente a partir de si, mas a partir dos acidentes que permeiam a própria coisa, isto é, não é intrínseca a coisa, mas por alguma razão passam a fazer parte da coisa a partir de seu modo de existência.

Por isso, a universalidade das cinco vozes é entendida a partir do fato de que as cinco vozes se predicam de muitas coisas (cf. Isag., VI, 1); portanto, a multiplicidade das coisas e dos seres atesta a universalidade das cinco vozes, tanto em relação a própria significação, quanto em relação a própria ordem de eminência e de dependência da estrutura ontológica da realidade; por esta razão, as cinco vozes são chamadas de universais; com isso, se entende que os universais são definidos assim, posto que constituem-se de algo que açambarca a compreensão de como os seres e as coisas são e estão na ordem da realidade, seja na ordem de eminência seja na ordem de dependência; etc.

15. Deste modo, há de se aclarar em ordem o que convém e o que desconvém as cinco vozes: primeiro, o que convém e o que desconvém ao gênero; segundo, o que convém e o que desconvém a espécie; terceiro, o que convém e o que desconvém a diferença; quarto, o que convém e o que desconvém ao próprio; quinto, o que convém e o que desconvém ao acidente.

Ora, no que convém tem algo de univocidade, e no que desconvém tem algo de equivocidade, seja dialeticamente em relação a univocidade, seja dialogicamente em relação a univocidade, podendo com isso dar origem a algo cognominado - e este, por sua vez, pode ser disposto no que convém e desconvém ao mesmo tempo a uma ou mais vozes.

16. Assim, se consegue ter um panorama geral das propriedades das cinco vozes, tanto no que convém quanto no que desconvém as cinco vozes; pois, as propriedades dos universais, em relação a lógica, estão dialogicamente ligadas ao próprio modo de abstração, não no que este tem de subjetivo, mas em sua objetividade inerente; portanto, as propriedades dos universais são lógicas por si mesmas, isto é, tem uma natureza universal e tem uma estrutura que atina ao próprio modo do intelecto funcionar, pois do contrário o intelecto não as conseguiria abstrair.

Por isso, as cinco vozes, universalmente, são dispostas deste modo e com estes princípios; e toda elucubração sobre os universais, em se tratando da lógica, deve ter por parâmetro as perspectivas que foram evocadas; e isso não livra a lógica do problema dos universais, mas abaliza esta elucubração dentro de princípios adequados para tal finalidade, adequalizando a elucubração sobre os universais na lógica, o que antecede a elucubração sobre os universais na ontologia geral.

Com isso, se for seguida esta adequalização, certamente se livrará a maior parte dos problemas que tem tomado conta desta elucubração desde a baixa escolástica. Este breve comentário não soluciona estes problemas, mas dispõe o que concerne para que este tema seja elucubrado com sobriedade e ordem no âmbito do instrumento das disciplinas filosóficas; em suma, este é o propósito deste breve comentário.

17. E termina aqui este breve comentário a Isagoge de Porfírio. Bendito seja Deus por todas as coisas. Amém. 



[1] cf. Alfarábi, Exposición de la Isagogé de Porfirio, prol.

[2] Sistemas no sentido de formas predicatórias abalizadas e abalizadoras em relação a um entendimento mais completo da ciência do raciocínio.

[3] Porfírio, Isagoge - Introdução às Categorias de Aristóteles [São Paulo: Attar, 2002], proem., n. 1, pág. 35.

[4] cf. Alfarábi, Op. Cit., prol. 


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