1. Vossa dileção, ao ler meu escrito “Breve
Apologia Contra o Ato de Tatuar o Corpo”, dissera que não foi
suficientemente explicado o aforismo de Goethe que fora utilizado; na verdade,
para o propósito do escrito em si, a utilização do aforismo por si se explica,
o que mostra a não-necessidade de tê-lo explicado de maneira mais detalhada.
Aliás, nem se precisa explicá-lo demasiado, posto ser
uma sentença plenamente aforística, a qual explica-se a si mesma; além do que,
explicar este aforismo em detalhes, demonstra de maneira ainda mais abrupta a
irracionalidade do ato de tatuar o corpo.
Todavia, como vossa dileção me pedira para explicar em
mais detalhes, atenderei o vosso pedido, fornecendo uma explicação ou nótula mais
detalhada do aforismo de Goethe sobre o ato de tatuar o corpo.
2. Ora, quando Goethe afirma que “tatuar o corpo é
um retorno ao animalismo”, ele o faz naqueles aforismos que dizem respeito
a vida e ao caráter; ora, se tal aforismo, sendo uma exortação, está inserido
neste contexto, então, pressupõe-se que aqueles que praticam o ato de tatuar o
corpo, estão errados na vida e não possuem caráter; e isso é algo fortíssimo,
vindo da pena de um homem que não era um moralista, o que faz tal asseveração
se revestir de maior gravidade.
Por isso, aqueles que tatuam o corpo, não somente
retornam ao animalismo, mas possuem defeitos no caráter, ou mais propriamente,
se se tomar a linguagem prosaica, não possuem caráter; portanto, ao Goethe
evocar ensinamentos e pressuposições racionais sobre a vida e o caráter, em
função de explicar o que concerne sobre a vida e o que concerne sobre o
caráter, com maestria pode evocar o que concerne ao caráter e o que concerne a
falta de caráter.
Com isso, a gravidade do aforismo de Goethe, embasado
na reta razão e um preceito de sabedoria extraído da luz interior, se mostra
mais evidente, e as pressuposições evocadas no referido escrito se tornam ainda
mais evidentes a partir desta explicação; o contexto onde Goethe expressa este
aforismo, e tendo o feito a partir da experiência real, torna ainda mais
preocupante e alarmante que se tenha instaurado a moda de tatuar o corpo.
E isso é ainda mais terrível, quando se observa que
muitos que se dizem “cristãos” também estejam adentrando nesta prática, que sob
a perspectiva da fé, se for feita por um “cristão” é evidência de apostasia, já
que é rejeição deliberada e obstinada da própria fé.
3. Além disso, ao ter sido demonstrado (e provado) que
o ato de tatuar o corpo é totalmente irracional, se comprova que tal ato está
ligado ao caráter; pois, a formação do caráter se dá em ordem ao que é
racional, ao passo que o que é irracional é evidência de falta de caráter.
Portanto, o entendimento de Goethe está corretíssimo a
esse respeito, pois, sendo o ato de tatuar o corpo algo irracional, então não
provém de um caráter bem formado, o que em si implica que o ato de tatuar o
corpo é evidência de falta de caráter.
E isso, por sua vez, está em plena concórdia com o
entendimento de como o caráter é formado, o que conduz ao entendimento do que
concerne ao que é ter caráter e do que não é ter caráter.
Por isso, se constata que tudo o que é irracional
perverte o caráter; ou mais propriamente, tudo o que é irracional, seja em
doutrinas seja em ações, demonstra falta de caráter. Logo, como o ato de tatuar
o corpo é algo irracional, então é demonstração de falta de caráter.
4. Deste modo, se estabelecem algumas sentenças
básicas já que a irracionalidade calcifica a imoralidade no coração; pois, se
se pratica algo irracional, e isto por si atesta falta de caráter, então, o
coração não está formado para a moral, ou seja, está subserviente a
imoralidade, e pior, será dominado pela imoralidade; por isso, todo ato
irracional, além de demonstrar falta de caráter, demonstra a imoralidade que
domina o coração, pois o intelecto só tende ao que é irracional porque o
coração está dominado pelos tentáculos da imoralidade.
Aliás, coração dominado por imoralidade (imoralidade
real, não imoralidade imaginária), na verdade é coração dominado pela luxúria;
por isso, todo ato de imoralidade é um ato luxurioso. Ora, se um ato irracional
é imoralidade, então, obviamente, um ato irracional é um ato luxurioso, isto é,
é um ato que evidencia luxuria.
Portanto, tendo sido provado que o ato de tatuar o
corpo é irracional, e por isso, é falta de caráter e imoralidade, também se
constata que em primeira instância o ato de tatuar o corpo é luxuria; etc.
5. Assim sendo, e tendo feito esta breve explicação,
se consegue entender o contexto do aforismo de Goethe, bem como se fornece uma
nótula a mais ao que fora explicado na parte 1 desta breve apologia. Espero que
esta nótula responda satisfatoriamente ao questionamento que vossa dileção
houvera feito a respeito de uma explicação mais “específica” do aforismo de
Goethe.
θεῷ χάρις!
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