“A burrice é uma força física”, Olavo de Carvalho (1947-2022).
“O fruto da imbecilidade é a aniquilamento”, Eça de Queiroz (1845-1900).
A imbecilidade é um problema cultural; e os imbecis, causadores de males
sociais; portanto, compreender a imbecilidade, é parte da filosofia da cultura,
da psicologia da cultural e da teologia da cultura; estas três áreas de análise
da cultura, tem de lidar necessariamente com o problema da imbecilidade, e mais
especificamente, sobre o problema dos imbecis; e se analisa não somente a
imbecilidade como fenômeno de uma sociedade doente, mas como fruto de uma
cultura que se instaurou para adoecer e destruir a ordem social.
E a imbecilidade, não somente é um problema que permeia a vida social,
mas um problema que a assola o desenvolvimento do indivíduo; a natureza da
imbecilidade é contra o conhecimento e contra o desenvolvimento; logo, onde a
imbecilidade se calcificar, não haverá desenvolvimento; e, os imbecis, se
tornarão a expressão desta sociedade que foi castificada no estado de
não-conhecimento; e uma sociedade assim, se torna em um sistema contra o
conhecimento e contra o saber.
Por isso, se evoca a análise sobre os imbecis para se compreender como a
imbecilidade se cristaliza num ser humano e como se desenvolve até tornar-se um
“vírus” sócio-cultural; na verdade, compreender sobre os imbecis é compreender
sobre os modos pelos quais se efetiva a encarnação da imbecilidade e os modos
pelos quais a imbecilidade é propagada até impregnar totalmente uma sociedade,
formando uma casta de imbecis.
E uma das melhores maneiras de se compreender a imbecilidade, é
compreender sobre as características dos imbecis; por isso, se estabelece a
pergunta: “como reconhecer imbecis?”; e, para responder esta pergunta, se
estabelece este opúsculo, que procura descrever e explicar os imbecis em si
mesmos; com isso, ao se responder a pergunta, “como reconhecer imbecis?”, se
consegue aclarar o entendimento sobre os imbecis, e com isso, compreender
aspectos da concreção do terrível fenômeno sócio-cultural da imbecilidade;
pois, como dissera o filósofo Olavo de Carvalho: “a burrice é uma força
física”.
Portanto, eis uma breve descrição analítica sobre os imbecis, ou mais propriamente, a como reconhecer os imbecis.
Prólogo.
1. A atual conjuntura da sociedade, formada por uma série de fatores,
desde a destruição da educação pela ideologização, até a corrupção moral da
sociedade, ao novo xamanismo, etc., gerou uma série interminável de
imbecilização programada; gerou-se uma geração e uma sociedade que forma em sua
grande maioria imbecis, ou na descrição mais usual, idiotas; os imbecis
formaram-se aos montes, e todos aqueles que enquadram-se nesta descrição,
tornam-se em instrumento de destruição das virtudes e do desenvolvimento sóbrio
para a vida humana. Na verdade, os imbecis, são descritos na Bíblia como
aqueles que se entregam a cobiça, os quais aprisionam a própria alma na cobiça
(cf. Pv 1.19); ou ainda, os imbecis podem ser descritos como aqueles que por
terem deliberadamente rejeitado a natureza e o tender natural ao saber, são
açambarcados na descrição bíblica: “Mas, porque clamei, e vós recusastes;
porque estendi a minha mão, e não houve quem desse atenção; antes, rejeitastes
todo o meu conselho e não quisestes a minha repreensão; também eu me rirei na vossa
perdição e zombarei, vindo o vosso temor” (Pv 1.24-26).
2. Deste modo, surge a pergunta: como reconhecer imbecis? Como reconhecer quem é e quem não é imbecil? Pois, todos aqueles que são imbecis tem alguns caracteres inerentes e indiscutíveis; não se vai evocar uma anatomia dos imbecis, que seria uma análise mais aprofundada, mas simplesmente evocar alguns princípios e pressuposições para se compreender as características de quem é imbecil; são princípios básicos, mas são indiscutíveis para se conhecer os imbecis, principalmente através de princípios e proposições bíblicas sobre aqueles que rejeitam o conhecimento natural e que rejeitam o conhecimento de Deus; pois, a imbecilidade é um mal social, e abre as portas para as doenças espirituais; além disso, o crescimento da imbecilidade demonstra uma sociedade adoecida e corrompida em seus valores e princípios fundantes. Portanto, eis uma descrição dos aspectos principais para se conhecer e reconhecer os imbecis.
Capítulo I: A questão da opinião.
3. A opinião, é basicamente um “direito” que todos os indivíduos têm;
todavia, opinião não é saber; os gregos antigos chamavam a opinião de doxa
e o saber de episteme; e, isso permeou o desenvolvimento das
civilizações durante a história; no entanto, devido a uma série de fatores,
principalmente a corrupção programada e contínua da educação, se transmogrifou
a doxa em episteme, se transmogrifou a opinião em saber; e isso,
evidentemente, ocasiona uma série de confusões psíquicas e sociais; com estas
confusões instauradas, passou-se a considerar a opinião como saber, e a evocar
um direito absoluto sobre a opinião como se a mesma fosse um saber.
4. Na verdade, pelos princípios do direito constitucional, todos tem “direito” a opinião; especificamente, o direito de opinar; todavia, uma opinião é apenas uma opinião, não sendo necessariamente um saber; a opinião, por ser um direito do indivíduo não se torna norma do saber, se não houver base no próprio saber; a divergência de opiniões ocorrerem, mas em relação as coisas da vida, prevalece como correto, aceitável e comprovado o saber testemunhado pelas leis da lógica e por princípios basilares indiscutíveis; por isso, uma opinião que não tenha fundamentação nos princípios basilares do saber, princípios apodíticos e indiscutíveis, tem de ser rejeitada; é aceito o direito a opinião, mas se a opinião contradiz as leis da lógica e os princípios do saber, é tarefa confutar a opinião e demonstrá-la como falsa; inclusive, isso é assegurado pela Declaração dos Direitos Humanos e por todas as Constituições dos países livres ao afirmarem o direito e o acesso ao conhecimento como princípio do Estado Democrático de Direito; o direito a opinião é democrático, mas a refutação a opinião falsa também é um direito. E opinião falsa é aquela que não tem fundamento nas leis da lógica (a lei da não-contradição, a lei da identidade e a lei do terceiro excluído) e não tem base nos princípios imutáveis do saber.
Capítulo II: O saber e o conhecimento.
5. No âmbito de se afirmar e confirmar o direito a opinião, que todos
têm indistintamente, é necessário se pontuar que a o fundamento racional para
se falar de qualquer assunto, mesmo os mais simples e cotidianos, é o saber e o
conhecimento; sem a compreensão sobre o saber e o conhecimento, mesmo os
assuntos mais simples se torna impossível; evidentemente, a opinião se
estabelece antes do saber e do conhecimento, mas a opinião não muda o saber e o
conhecimento, apenas se configurar em relação ao mesmo ou não; por exemplo, ao
se observar uma vaca, se pode afirmar que uma vaca provêm de outra vaca, como
se pode afirmar que uma vaca provêm de um cabrito; logicamente, são duas
opiniões, uma verdadeira, a de que a vaca provêm da vaca, e a falsa, a de que a
cava provêm de um cabrito; são duas opiniões, e o respeito as duas enquanto
direito de opinar é válido, todavia, a afirmação da opinião verdadeira, isto é,
a opinião que se confirma a partir da verdade dos fatos da realidade, é que a
deve ser aceita, enquanto que a outra opinião, a falsa, que contradiz os fatos
da realidade, deve ser rejeitada. O direito a opinião é confirmado e sublimado
pelo saber e pelo conhecimento, que demonstram a veracidade ou a falsidade da
opinião; sem saber e conhecimento, não existe direito a opinião.
6. Portanto, o saber e o conhecimento são imprescindíveis em relação a
confirmação de se uma opinião tem base na realidade ou não; e tanto o saber
quanto o conhecimento se desenvolvem a medida que se os busca; não se consegue
saber e conhecimento sem esmero na leitura e no estudo; por isso, são o saber e
o conhecimento os aferidores de medida para a concreção da realidade das
coisas, e a o instrumento de juízo para identificar se uma opinião é verdadeira
ou falsa; todavia, existe uma questão problemática, a saber, que os homens, as
mais das vezes, tem mais amor pela opinião do que amor pelo saber; os homens
são, naturalmente, mais propensos a amar a opinião do que amar o saber; pois, a
opinião não se requer muito para ser alcançada, enquanto que o saber requer
tempo, cuidado, perseverança e esmero.
7. Na verdade, os homens, por amarem mais a opinião do que o saber, sempre procurarão ridicularizar quem possui o saber, pelo simples fato do saber contradizer e confutar as opiniões hipócritas e/ou que expressam o não-conhecimento - e na pior para os amantes da opinião do que o saber que evidência em ecos cósmicos a imbecilidade na mente e no coração daqueles que são possuídos pelos “demônios” do não-conhecimento. Portanto, o saber e o conhecimento são meios excelentes de se demonstrar o compromisso fundamental do coração com relação a axiomas e princípios; pois, aqueles que são dominados por opiniões coletivas, ou então aqueles que rejeitam o saber, os imbecis, sempre serão contrários ao saber e o conhecimento, os quais, confutam e contradizem os compromissos fundamentais dos corações dos imbecis, que sempre são dominados pela inveja, pela mediocridade e pelos sentimentos medonhos que fluem como esgoto do coração dos medíocres.
Capítulo III: As evidências da imbecilidade.
8. Deste modo, pode-se afirmar que os homens que rejeitam o saber e o
conhecimento, são dominados pelos ditames do não-conhecimento, e assim, são
açambarcados na descrição da idiotice ou imbecilidade; aqueles que são
dominados pelo não-conhecimento são, por definição racional, chamados de
imbecis, e por definição revelacional, chamados de escarnecedores (cf. Sl 1.1).
Os imbecis são aqueles que por amarem mais a opinião do que o saber, preterem o
saber e o conhecimento, e tomam uma opinião que contraria as leis da lógica e
os princípios imutáveis do saber e do conhecimento como se fosse um saber; na
verdade, a maior evidência de imbecilidade é tomar uma opinião, sem
fundamentação racional, como se fosse um saber; mas na verdade, não somente
isso se demonstra como imbecilidade, mas também se tem outras evidências de
imbecilidade que são clarividentes e cristalinas, os quais, elenca-se cinco
evidências:
(i). A primeira evidência de imbecilidade é a rejeição a razão; isto é,
a rejeição aos princípios e axiomas fundantes da razão humana. Ou seja, aqueles
que rejeitam os ditames básicos do saber e que contradizem as leis da lógica
são imbecis.
(ii). A segunda evidência de imbecilidade é a destruição da percepção
lógica; os imbecis procuram transmutar a lógica nos ditames dos “gostos”
pessoais; na verdade, os imbecis arrolam para os “gostos” pessoais, as mais das
vezes, expressão continental de rejeição a razão, como se fossem pressupostos
lógicos. Os imbecis são avessos as leis da lógica.
(iii). A terceira evidência de imbecilidade é a rejeição ao
conhecimento; os imbecis rejeitam o conhecimento porque não o buscam; os
imbecis preferem as comodidades da irracionalidade as dificuldades da busca
pelo conhecimento; logo, os imbecis sempre serão calcinados em tudo aquilo que
a burrice traz imbuída em si.
(iv). A quarta evidência de imbecilidade é a ridicularização do saber;
os imbecis tentarão, por inveja e outros motivos, ridicularizar o saber e
aqueles que buscam o saber; e, sempre é qualificativo dos imbecis, escarnecer e
tentar ridicularizar aqueles que buscam o saber e o próprio saber; os imbecis
vituperam os que buscam o saber e blasfemam contra o próprio saber.
(v). A quinta evidência de imbecilidade é conformidade consciente com o
estado de não-conhecimento; e a mais terrível consequência da imbecilidade é
que os imbecis se tornam calcinados no estado de não-conhecimento; é como o
estado vegetativo, só que em relação as potências racionais; nos imbecis as
potências racionais vegetam e não se desenvolvem. Os imbecis são vegetais
intelectivos ambulantes, pois, estão calcinados e calcificados no estado de
não-conhecimento, a aversão total e absoluta para com tudo que diz respeito ao
saber e ao conhecimento.
9. Com isso, se estabelecem estas evidências; e existem muitas outras; mas, estas cinco evidências elencadas, por si só já são suficientes para se identificar os imbecis. E, ainda, uma outra questão, é que os imbecis sempre quererão tornar opiniões sem fundamentação em forma de saber; todavia, mesmo no direito a opinião existe um princípio que confuta e refuta qualquer possibilidade de aceitação de opinião sem fundamentação; pois, conquanto o direito a opinião seja para todos, a aceitação de uma opinião só existe e se confirma pelo saber e pelo conhecimento; e alguém para se arrolar uma opinião digna de aceitação, tem de pelo menos conhecer um pouco do assunto opinado; e é de consenso geral estabelecido e confirmado que para alguém conhecer alguma coisa de maneira geral tem de ter lido no mínimo cinco livros básicos e fundamentais sobre este determinado assunto; se alguém quer opinar, e evocar algum conhecimento sobre qualquer que seja o assunto, no mínimo tem de ter lido e entendido cinco obras fundamentais sobre determinado assunto; por exemplo, se alguém quer opinar sobre ética, tem de no mínimo ter lido, entre a ampla gama de obras sobre éticas, cinco das principais obras para se ter pelo menos algum parâmetro opinativo sobre o assunto; e isto vale para qualquer assunto; portanto, quem quiser arrolar uma opinião digna de ser ouvida, tem de pelo menos ter lido o que é necessário sobre o assunto opinado; logo, se alguém não cumpre estes princípios, e quer arrolar a aceitação de uma opinião sem fundamentação, é descrito de maneira apodítica como imbecil. Os imbecis são aqueles que querem que uma opinião sem fundamentação seja aceita como saber e conhecimento.
Capítulo IV: As provas incontestáveis de imbecilidade.
10. E, em continuidade ao se ter elencado algumas evidências de
imbecilidade, se faz necessário demonstrar um caractere inerente a
imbecilidade; um qualificativo da imbecilidade; este qualificativo advêm dos
vícios opostos as virtudes intelectivas; se as virtudes intelectivas ajudam na
busca e no desenvolvimento do saber, os vícios "intelectivos" são um
impedimento à busca e ao desenvolvimento do saber; o estado de
não-conhecimento, gera os vícios opostos as virtudes intelectuais; além disso, estes
vícios são as provas incontestáveis de imbecilidade.
11. Aristóteles, afirma que as virtudes intelectuais e morais são a
sabedoria filosófica, a compreensão, a sabedoria prática, bem como a
liberalidade e a temperança (cf. Et. Nic. 1103a5-7); então, os vícios opostos,
respectivamente, são: a necedade, a incompreensão, a inaptidão, a avareza e a
intemperança; logo, estes vícios são expressão de imbecilidade, aliás, são a
prova incontestável de imbecilidade.
A necedade, dito e/ou ação que está contra as leis da lógica, o
contrassenso, a contrariedade a realidade; a incompreensão, é a incapacidade
por negligência ou por emburrecimento de compreender as coisas tal como são; a
inaptidão é a falta de sabedoria prática, a falta de aptidão para evidenciar
por meio de ações virtuosas a própria virtude; a avareza é o amor ao dinheiro,
o dinheirismo, que também é idolatria (cf. Cl 3.5); e a intemperança, a falta
de temperança quando se é necessário a temperança.
Logo, estes vícios, contrários as virtudes morais e intelectuais, são expressão e a evidência incontestável de imbecilidade; pois, os imbecis amam a necedade, são calcificados na incompreensão, são inaptos para viverem a sabedoria prática, são avarentos e são intemperantes (no que exige temperança). Portanto, além das evidências de imbecilidade, estes vícios complementam a compreensão sobre os imbecis, demonstrando as provas incontestáveis de imbecilidade.
Capítulo V: A natureza espiritual da imbecilidade.
12. A imbecilidade não somente é fruto do desprezo pelo conhecimento e
da aceitação do não-conhecimento; mas a imbecilidade possui uma natureza
espiritual; os imbecis estão presos pelas correntes diabólicas que prendem os
homens através do não-conhecimento; pois, o Criador estabeleceu o conhecimento
para dignificar e sublimar a vida humana, para que a mesma possa se
desenvolver; portanto, quando a imbecilidade se torna expressão da alma de uma
sociedade, então, se tem o que é chamado nas Escrituras do engano do Diabo para
cegar o entendimento dos incrédulos (cf. 2Co 4.4). Pois, o Diabo trabalha para
cegar o entendimento dos homens a respeito das coisas naturais, e,
consequentemente, para cegar o entendimento dos homens a respeito das coisas
espirituais.
13. Deste modo, quando se tem imbecilidade calcificada e há uma aceitação geral do estado de não-conhecimento, então, se tem obra maligna em entenebrecer e emburrecer os homens na intelecção das coisas naturais; e, uma vez que os homens estão no estado de não-conhecimento, se torna ainda mais difícil preservar a verdade das coisas naturais, para que estes, a partir destas, possam conhecer a verdade revelada; quanto mais imbecilidade para o conhecimento das coisas naturais, mais difícil se torna o entendimento das coisas espirituais; logo, o Diabo trabalha para destruir o conhecimento e a busca pelo conhecimento, para aprisionar os homens no estado de não-conhecimento, e assim, entenebrecer o entendimento dos homens para que não lhes resplandeça a luz do evangelho de Cristo (cf. 2Co 4.4). Logo, sempre que há imbecilidade calcificada e um estado generalizado de não-conhecimento, é como se um câncer estivesse infiltrado na alma da sociedade, e isso, sempre é evidência de obra maligna.
Capítulo VI: As consequências sociais da imbecilidade.
14. Assim sendo, uma sociedade calcificada no estudo de
não-conhecimento, com a generalização da imbecilidade, onde a própria
imbecilidade passa a ser o qualificativo primordial dos homens e das mulheres
nesta sociedade, então, se terá o que se pode chamar de consequências sociais
da imbecilidade; portanto, onde se tem o estado de não-conhecimento, se tem
estas terríveis consequências na sociedade; a ordem social, e o próprio múnus
do desenvolvimento social, são desfigurados em consequência da imbecilidade generalizada.
15. Deste modo, pode-se falar, de maneira geral, sobre três
consequências sociais da imbecilidade, as quais são:
Primeiro, um estado de alma da sociedade que aborrece o conhecimento, e
que se estabelece pelos ditames do não-conhecimento; uma sociedade que aborrece
o conhecimento será uma sociedade presa as correntes malignas da imbecilidade e
da falta de desenvolvimento moral-intelectual; será uma sociedade onde a
coletividade impõem-se sobre a individualidade, ou dito em outros termos, onde
uma personalização coletiva substitui a própria posse da personalidade pelo
indivíduo e o desenvolvimento pessoal da própria personalidade; uma sociedade
que aborrece o conhecimento e que se torna subserviente aos ditames do
não-conhecimento, torna os homens e as mulheres expressão não da vontade
pessoal, mas do emburrecimento programado.
16. Segundo, uma sociedade que fica calcinada nos vícios e doenças da
alma; uma sociedade que rejeita o conhecimento se torna uma sociedade que é
expressão visível e clarividente das morbidades da alma; estas morbidades da
alma, viciam as consciências e o desenvolvimento dos indivíduos num ciclo
vicioso, que os torna não em expressão do desenvolvimento pessoal, mas de um
estado de alma que por estar viciado, é manifesto de diversos modos e de
diversas maneiras em todos aqueles que são açambarcados pelas consequências do
estado de não-conhecimento e do sempre crescente e orgulhoso aborrecimento ao
conhecimento; logo, esta sociedade se torna em expressão de vícios e se torna
presa a estes próprios vícios, gerando um ciclo vicioso e viciante. Esta é uma
terrível consequência social da imbecilidade.
17. Terceiro, uma sociedade que é expressão da imbecilidade
generalizada, se torna uma sociedade que não se desenvolve de maneira sóbria; o
ímpeto para o desenvolvimento faz parte da natureza; e quando este ímpeto é
interrompido ou então desfigurado, logo, outro algo tomará este ímpeto, e
prenderá a sociedade num jugo subversivo ou então sob a forma de alguma
ideologia totalitária; por isso, as sociedades que ficam calcinadas no estado
de não-conhecimento são as sociedades mais sujeitas ao domínio das ideologias
totalitárias e as sociedades que, as mais das vezes, não conseguem se reerguer
facilmente deste domínio.
18. A imbecilidade generalizada, torna uma sociedade sujeita a algum modo de aprisionamento geral – não da prisão física, a cadeia, mas da prisão ideológica, moral e intelectual. Logo, sempre que se tem esta imbecilidade generalizada, a sociedade não se desenvolve de maneira sóbria e adequada e todo o ímpeto natural ao desenvolvimento se torna engaiolado por alguma ideologia nefasta, como por exemplo, pelo comunismo, que gera a imbecilização generalizada para poder dominar sem que haja resistência adequada ou percepção sobre o que realmente está acontecendo.
Capítulo VII: Os imbecis e a aversão ao conhecimento.
19. Por isso, uma vez que a sociedade se torna expressão da imbecilidade
generalizada, então, aqueles que são açambarcados por este estado de
não-conhecimento, isto é, todos aqueles que ficam sujeitos as normativas das
doenças sociais que são provenientes do não-conhecimento, então, os imbecis, se
tornarão numa enorme casta que terá aversão ao conhecimento e a tudo quanto diz
respeito ao conhecimento; os imbecis, acabam por tornar, os inquisidores do
conhecimento, que perseguem e procuram acabar com toda e qualquer tentativa de
se evocar a importância do conhecimento.
20. Assim sendo, os imbecis possuem uma aversão total ao conhecimento; e
esta aversão se demonstra de dois modos: primeiro, através da rejeição parcial
ao que deliberadamente se desconhece; segundo, através da rejeição total ao
conhecimento e aos seus símbolos.
Primeiro, através da rejeição parcial ao que deliberadamente se
desconhece; os imbecis rejeitam deliberadamente aquilo que desconhecem e aquilo
que não conhecem; isto é, os imbecis rejeitam todo conhecimento que não
conhecem, a saber, qualquer tipo de conhecimento, mesmo os mais simples
aspectos do saber; logo, os imbecis terão aversão contra aquilo que
desconhecem, e qualquer informação simples que os imbecis não conseguem
imaginar serão contra e dirão que tal informação ou é mentira ou não tem
procedência; os imbecis ao rejeitarem o conhecimento, se tornam avessos a
qualquer informação que eles não podem conhecer ou que condena ou se coloca
contra os atos inerentes a imbecilidade.
21. Segundo, através da rejeição total ao conhecimento e aos seus
símbolos; os imbecis acabam por calcinar uma rejeição total ao conhecimento e
aos símbolos básicos do conhecimento; esta rejeição, é mais propriamente
descrita, como a destruição do múnus básico do conhecimento e a desfiguração
dos símbolos do conhecimento; portanto, a rejeição total ao conhecimento, é a
rejeição a todo e qualquer forma de conhecimento verdadeiro e que se estabelece
segundo as operações do intelecto e sob as leis da lógica; e a rejeição total
aos símbolos do conhecimento, é a rejeição as formas e aos modos verdadeiros
pelos quais o conhecimento é adquirido, como os livros dos grandes pensadores e
as obras máximas e mais importantes de cada esfera do saber; os imbecis rejeitam
totalmente o conhecimento e rejeitam totalmente os símbolos básicos do
conhecimento (os livros e autores mais importantes em cada esfera do
conhecimento).
22. E aqui se faz uma breve observação; pois, uma sociedade calcificada no estado de não-conhecimento, logo, se tornará avessa ao conhecimento; mas, mesmo nesta sociedade, existem aqueles que “estudam” e que conquistam títulos acadêmicos, os quais, as mais das vezes, são imbecis diplomados, ou na expressão de um filósofo, analfabetos funcionais; os títulos acadêmicos numa sociedade avessa ao conhecimento, é apenas uma expressão mais ataviada da imbecilidade; pois, os imbecis diplomados, nas disciplinas acadêmicas a que supostamente se dedicam, não dominam sequer as obras básicas, os clássicos constituintes de suas esferas de saber; logo, é mais do que evidente do que mesmo os diplomados, em grande medida, também são avessos ao conhecimento; portanto, também são imbecis.
Capítulo VIII: Os imbecis e a rejeição a sabedoria.
23. Além disso, os imbecis, que são avessos ao conhecimento, acabam por
rejeitar a sabedoria; a rejeição ao conhecimento, se torna em rejeição a
sabedoria; e a sabedoria, é uma das coisas mais importantes que se pode ter na
vida; a Escritura diz: “mas a excelência da sabedoria é que ela dá vida a
seu possuidor” (Ec 7.12b); logo, os imbecis sendo avessos ao conhecimento,
e rejeitando a sabedoria, passam a viver de maneira inadequada; a vida é feita
para ser vivida de acordo com princípios naturais, imbuídos na própria
natureza; os imbecis rejeitam estes princípios ao serem avessos ao conhecimento
e ao rejeitarem a sabedoria; na verdade, os imbecis, por rejeitarem a
sabedoria, vivem de maneira anti-natural e acabam por destruir e desfigurar as
coisas naturalmente naturais. A imbecilidade acaba por destruir o ímpeto
natural do cuidado com a natureza, pela rejeição a sabedoria; os imbecis são,
em grande parte, destruidores da natureza, seja da natureza física, seja da
própria natureza humana.
24. Na verdade, os imbecis são avessos a sabedoria; pois, o mais simples aspecto da sabedoria, sempre confronta todas as ações e maquinações dos imbecis; a sabedoria é um testemunho eloquente contra a imbecilidade; e, nada mais ultrajante para a imbecilidade do que as repreensões da sabedoria, pois, as repreensões da sabedoria em relação a imbecilidade, vão ao âmago, adentram as entranhas dos imbecis e tornam conhecidas o estado do coração (alma) dos imbecis; por isso, os imbecis, ao rejeitarem o conhecimento, e enveredarem nos caminhos do não-conhecimento, acabam por rejeitar a sabedoria, que repreende e confronta de maneira direta e veemente todas as ações os imbecis e todos os frutos provenientes da imbecilidade. A rejeição a sabedoria por parte dos imbecis é, na verdade, a rejeição aos elementos de repreensão e de correção que são apregoados contra as consequências morais e intelectuais da imbecilidade.
Capítulo IX: Os imbecis como escarnecedores.
25. E, além destas características dos imbecis, os mesmos se tornam tão
calcinados nos frutos do estado de não-conhecimento, que acabam por se tornar
escarnecedores; os imbecis, por estarem contra a natureza, por não buscam o
conhecimento, um tender natural do ser humano, terminam avessos ao
conhecimento, e rejeitam a sabedoria, e com isso, acabam por escarnecer de Deus
e das coisas de Deus; os imbecis, são no fundo, escarnecedores; pois, todos os
imbecis, escarnecem de Deus e das coisas de Deus. Logo, os imbecis, estão,
fundamentalmente, em luta contra Deus. A imbecilidade, acaba por se enveredar
por caminhos que trazem o juízo de Deus (cf. Rm 1.18-32).
26. Portanto, os imbecis, não somente são avessos ao conhecimento, e rejeitam a sabedoria; os imbecis, são açambarcados na descrição bíblica do escárnio, dos escarnecedores, que por estarem no estado de não-conhecimento, se colocam contra o ímpeto natural do desenvolvimento, através da busca do saber; e, por isso, os imbecis, ao serem escarnecedores, germinarão uma série de vícios, entre os quais, o mais terrível, é a inveja; os imbecis, por serem escarnecedores, se tornam invejosos; pois, todo escarnecedor, desenvolve a inveja; e a inveja é um mal terrível, pois, além de estagnar o desenvolvimento, acaba por corroer aqueles que buscam se livrar da imbecilidade; a inveja dos imbecis desfigura e corrompe todos as iniciativas sóbrias e contumazes daqueles que tendo se apercebido do estado de não-conhecimento, buscam se livrar das consequências sociais da imbecilidade. Os imbecis são escarnecedores e invejosos, e isso, per se, já é sinal da degradação moral e espiritual dos imbecis.
Capítulo X: As compensações existenciais da imbecilidade.
27. A imbecilidade, enquanto um mal, e os imbecis, enquanto
escarnecedores e invejosos, também produz uma série de gérmens de
“compensação”; pois, como a imbecilidade é evidência de miséria, o ser humano,
ao estar no estado de miséria, produz para si mesmo “compensações” que velem a
compreensão desta miséria; e com a imbecilidade não é diferente, pois, os
imbecis evocam em si e para si compensações existenciais da imbecilidade.
28. A imbecilidade ao se estabelece possui compensações sobre o próprio
indivíduo; pois, para que o indivíduo não se aperceba do estado deplorável da
imbecilidade, a própria imbecilidade lhe fornece sementes para germinar e velar
a consciência para a compreensão da baixeza do estado de miséria; e as
compensações da imbecilidade com relação a si mesmo são: calúnia, maledicência,
desprezo pelo conhecimento, desprezo pelos que têm conhecimento, escárnio com
relação ao conhecimento, escárnio pelos que têm conhecimento, manipulação, burrice,
zombaria em relação aos atos e ações de conhecimento (escrita, estudo, produção
de livros e conteúdo de valor intelectual), tentar ridicularizar os que
produzem e valoram o conhecimento (geralmente com os chamando de “ridículos”), e
coisas similares; os imbecis utilizam destas e de outras ações - as mais das vezes, mesmo inconscientes -, para
compensarem a própria imbecilidade; mas, certamente, a evidência mais visível de
imbecilidade é o escárnio e a zombaria em relação aos atos e ações de
conhecimento; e esta é uma regra infalível para conhecer e reconhecer os
imbecis.
29. Além disso, os imbecis, ao serem escarnecedores, e escarnecerem do conhecimento e daqueles que possuem o conhecimento, possuem uma característica inconfundível – e que também é outra regra infalível para conhecer e reconhecer os imbecis -, a saber: os imbecis não conseguem provar racionalmente e com argumentos aquilo de que escarnecem; na verdade, os imbecis, as mais das vezes, nem sequer conseguem ler o conhecimento de que desprezam e nem sequer conseguem entender os argumentos daqueles que possuem algum conhecimento; os imbecis ao chamarem os que possuem conhecimento de “ridículos” demonstram que eles próprios são mais do que “ridículos”. A verdadeira face dos ridículos é tentarem escarnecer daquilo que lhes é superior em relação ao saber e em relação ao conhecimento, ou da vida virtuosa.
Capítulo XI: Considerações finais.
30. Deste modo, consegue-se pontilhar os principais aspectos para se ter
um entendimento sobre os imbecis; a pergunta, “como reconhecer imbecis?”, fora
respondida em seus principais aspectos; os imbecis são basicamente aqueles que
rejeitam o conhecimento, que aborrecem o conhecimento, que são avessos ao
conhecimento; os imbecis na aversão ao conhecimento, acabam por se tornar
escarnecedores, e com isso, também se tornam invejosos; o escárnio semeia no
coração os gérmens da inveja, que frutifica de maneira aterradora; portanto,
deve se procurar vencer a imbecilidade, através do reconhecimento do estado de
não-conhecimento e da busca pelo conhecimento no desenvolvimento da própria
personalidade.
31. Com isso, a imbecilidade não é somente um mal que assola o indivíduo, mas um mal que assola a sociedade; pois, a multiplicação da imbecilidade, ocasiona um aumento dos imbecis, e com isso, a sociedade se torna castificada no estado de não-conhecimento, um estado que gera mais imbecis, desde simples imbecis a imbecis diplomados. Logo, a imbecilidade é um mal individual que se torna mal existencial, e que por fim, se torna um mal social, que ocasiona inúmeros outros males sociais. Por isso, para se vencer a imbecilidade e não se deixar contaminar pelos imbecis, é necessário se compreender como reconhecer os imbecis, bem como compreender a natureza da própria imbecilidade.
32. Termina aqui esta explicação sobre os imbecis. Bendito seja Deus por todas as coisas. Amém.
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