09/04/2024

Sobre os Imbecis

A burrice é uma força física”, Olavo de Carvalho (1947-2022).

O fruto da imbecilidade é a aniquilamento”, Eça de Queiroz (1845-1900).

A imbecilidade é um problema cultural; e os imbecis, causadores de males sociais; portanto, compreender a imbecilidade, é parte da filosofia da cultura, da psicologia da cultural e da teologia da cultura; estas três áreas de análise da cultura, tem de lidar necessariamente com o problema da imbecilidade, e mais especificamente, sobre o problema dos imbecis; e se analisa não somente a imbecilidade como fenômeno de uma sociedade doente, mas como fruto de uma cultura que se instaurou para adoecer e destruir a ordem social.

E a imbecilidade, não somente é um problema que permeia a vida social, mas um problema que a assola o desenvolvimento do indivíduo; a natureza da imbecilidade é contra o conhecimento e contra o desenvolvimento; logo, onde a imbecilidade se calcificar, não haverá desenvolvimento; e, os imbecis, se tornarão a expressão desta sociedade que foi castificada no estado de não-conhecimento; e uma sociedade assim, se torna em um sistema contra o conhecimento e contra o saber.

Por isso, se evoca a análise sobre os imbecis para se compreender como a imbecilidade se cristaliza num ser humano e como se desenvolve até tornar-se um “vírus” sócio-cultural; na verdade, compreender sobre os imbecis é compreender sobre os modos pelos quais se efetiva a encarnação da imbecilidade e os modos pelos quais a imbecilidade é propagada até impregnar totalmente uma sociedade, formando uma casta de imbecis.

E uma das melhores maneiras de se compreender a imbecilidade, é compreender sobre as características dos imbecis; por isso, se estabelece a pergunta: “como reconhecer imbecis?”; e, para responder esta pergunta, se estabelece este opúsculo, que procura descrever e explicar os imbecis em si mesmos; com isso, ao se responder a pergunta, “como reconhecer imbecis?”, se consegue aclarar o entendimento sobre os imbecis, e com isso, compreender aspectos da concreção do terrível fenômeno sócio-cultural da imbecilidade; pois, como dissera o filósofo Olavo de Carvalho: “a burrice é uma força física”.

Portanto, eis uma breve descrição analítica sobre os imbecis, ou mais propriamente, a como reconhecer os imbecis.

Prólogo.

1. A atual conjuntura da sociedade, formada por uma série de fatores, desde a destruição da educação pela ideologização, até a corrupção moral da sociedade, ao novo xamanismo, etc., gerou uma série interminável de imbecilização programada; gerou-se uma geração e uma sociedade que forma em sua grande maioria imbecis, ou na descrição mais usual, idiotas; os imbecis formaram-se aos montes, e todos aqueles que enquadram-se nesta descrição, tornam-se em instrumento de destruição das virtudes e do desenvolvimento sóbrio para a vida humana. Na verdade, os imbecis, são descritos na Bíblia como aqueles que se entregam a cobiça, os quais aprisionam a própria alma na cobiça (cf. Pv 1.19); ou ainda, os imbecis podem ser descritos como aqueles que por terem deliberadamente rejeitado a natureza e o tender natural ao saber, são açambarcados na descrição bíblica: “Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a minha mão, e não houve quem desse atenção; antes, rejeitastes todo o meu conselho e não quisestes a minha repreensão; também eu me rirei na vossa perdição e zombarei, vindo o vosso temor” (Pv 1.24-26).

2. Deste modo, surge a pergunta: como reconhecer imbecis? Como reconhecer quem é e quem não é imbecil? Pois, todos aqueles que são imbecis tem alguns caracteres inerentes e indiscutíveis; não se vai evocar uma anatomia dos imbecis, que seria uma análise mais aprofundada, mas simplesmente evocar alguns princípios e pressuposições para se compreender as características de quem é imbecil; são princípios básicos, mas são indiscutíveis para se conhecer os imbecis, principalmente através de princípios e proposições bíblicas sobre aqueles que rejeitam o conhecimento natural e que rejeitam o conhecimento de Deus; pois, a imbecilidade é um mal social, e abre as portas para as doenças espirituais; além disso, o crescimento da imbecilidade demonstra uma sociedade adoecida e corrompida em seus valores e princípios fundantes. Portanto, eis uma descrição dos aspectos principais para se conhecer e reconhecer os imbecis.

Capítulo I: A questão da opinião.

3. A opinião, é basicamente um “direito” que todos os indivíduos têm; todavia, opinião não é saber; os gregos antigos chamavam a opinião de doxa e o saber de episteme; e, isso permeou o desenvolvimento das civilizações durante a história; no entanto, devido a uma série de fatores, principalmente a corrupção programada e contínua da educação, se transmogrifou a doxa em episteme, se transmogrifou a opinião em saber; e isso, evidentemente, ocasiona uma série de confusões psíquicas e sociais; com estas confusões instauradas, passou-se a considerar a opinião como saber, e a evocar um direito absoluto sobre a opinião como se a mesma fosse um saber.

4. Na verdade, pelos princípios do direito constitucional, todos tem “direito” a opinião; especificamente, o direito de opinar; todavia, uma opinião é apenas uma opinião, não sendo necessariamente um saber; a opinião, por ser um direito do indivíduo não se torna norma do saber, se não houver base no próprio saber; a divergência de opiniões ocorrerem, mas em relação as coisas da vida, prevalece como correto, aceitável e comprovado o saber testemunhado pelas leis da lógica e por princípios basilares indiscutíveis; por isso, uma opinião que não tenha fundamentação nos princípios basilares do saber, princípios apodíticos e indiscutíveis, tem de ser rejeitada; é aceito o direito a opinião, mas se a opinião contradiz as leis da lógica e os princípios do saber, é tarefa confutar a opinião e demonstrá-la como falsa; inclusive, isso é assegurado pela Declaração dos Direitos Humanos e por todas as Constituições dos países livres ao afirmarem o direito e o acesso ao conhecimento como princípio do Estado Democrático de Direito; o direito a opinião é democrático, mas a refutação a opinião falsa também é um direito. E opinião falsa é aquela que não tem fundamento nas leis da lógica (a lei da não-contradição, a lei da identidade e a lei do terceiro excluído) e não tem base nos princípios imutáveis do saber.

Capítulo II: O saber e o conhecimento.

5. No âmbito de se afirmar e confirmar o direito a opinião, que todos têm indistintamente, é necessário se pontuar que a o fundamento racional para se falar de qualquer assunto, mesmo os mais simples e cotidianos, é o saber e o conhecimento; sem a compreensão sobre o saber e o conhecimento, mesmo os assuntos mais simples se torna impossível; evidentemente, a opinião se estabelece antes do saber e do conhecimento, mas a opinião não muda o saber e o conhecimento, apenas se configurar em relação ao mesmo ou não; por exemplo, ao se observar uma vaca, se pode afirmar que uma vaca provêm de outra vaca, como se pode afirmar que uma vaca provêm de um cabrito; logicamente, são duas opiniões, uma verdadeira, a de que a vaca provêm da vaca, e a falsa, a de que a cava provêm de um cabrito; são duas opiniões, e o respeito as duas enquanto direito de opinar é válido, todavia, a afirmação da opinião verdadeira, isto é, a opinião que se confirma a partir da verdade dos fatos da realidade, é que a deve ser aceita, enquanto que a outra opinião, a falsa, que contradiz os fatos da realidade, deve ser rejeitada. O direito a opinião é confirmado e sublimado pelo saber e pelo conhecimento, que demonstram a veracidade ou a falsidade da opinião; sem saber e conhecimento, não existe direito a opinião.

6. Portanto, o saber e o conhecimento são imprescindíveis em relação a confirmação de se uma opinião tem base na realidade ou não; e tanto o saber quanto o conhecimento se desenvolvem a medida que se os busca; não se consegue saber e conhecimento sem esmero na leitura e no estudo; por isso, são o saber e o conhecimento os aferidores de medida para a concreção da realidade das coisas, e a o instrumento de juízo para identificar se uma opinião é verdadeira ou falsa; todavia, existe uma questão problemática, a saber, que os homens, as mais das vezes, tem mais amor pela opinião do que amor pelo saber; os homens são, naturalmente, mais propensos a amar a opinião do que amar o saber; pois, a opinião não se requer muito para ser alcançada, enquanto que o saber requer tempo, cuidado, perseverança e esmero.

7. Na verdade, os homens, por amarem mais a opinião do que o saber, sempre procurarão ridicularizar quem possui o saber, pelo simples fato do saber contradizer e confutar as opiniões hipócritas e/ou que expressam o não-conhecimento - e na pior para os amantes da opinião do que o saber que evidência em ecos cósmicos a imbecilidade na mente e no coração daqueles que são possuídos pelos “demônios” do não-conhecimento. Portanto, o saber e o conhecimento são meios excelentes de se demonstrar o compromisso fundamental do coração com relação a axiomas e princípios; pois, aqueles que são dominados por opiniões coletivas, ou então aqueles que rejeitam o saber, os imbecis, sempre serão contrários ao saber e o conhecimento, os quais, confutam e contradizem os compromissos fundamentais dos corações dos imbecis, que sempre são dominados pela inveja, pela mediocridade e pelos sentimentos medonhos que fluem como esgoto do coração dos medíocres.

Capítulo III: As evidências da imbecilidade.

8. Deste modo, pode-se afirmar que os homens que rejeitam o saber e o conhecimento, são dominados pelos ditames do não-conhecimento, e assim, são açambarcados na descrição da idiotice ou imbecilidade; aqueles que são dominados pelo não-conhecimento são, por definição racional, chamados de imbecis, e por definição revelacional, chamados de escarnecedores (cf. Sl 1.1). Os imbecis são aqueles que por amarem mais a opinião do que o saber, preterem o saber e o conhecimento, e tomam uma opinião que contraria as leis da lógica e os princípios imutáveis do saber e do conhecimento como se fosse um saber; na verdade, a maior evidência de imbecilidade é tomar uma opinião, sem fundamentação racional, como se fosse um saber; mas na verdade, não somente isso se demonstra como imbecilidade, mas também se tem outras evidências de imbecilidade que são clarividentes e cristalinas, os quais, elenca-se cinco evidências:

(i). A primeira evidência de imbecilidade é a rejeição a razão; isto é, a rejeição aos princípios e axiomas fundantes da razão humana. Ou seja, aqueles que rejeitam os ditames básicos do saber e que contradizem as leis da lógica são imbecis.

(ii). A segunda evidência de imbecilidade é a destruição da percepção lógica; os imbecis procuram transmutar a lógica nos ditames dos “gostos” pessoais; na verdade, os imbecis arrolam para os “gostos” pessoais, as mais das vezes, expressão continental de rejeição a razão, como se fossem pressupostos lógicos. Os imbecis são avessos as leis da lógica.

(iii). A terceira evidência de imbecilidade é a rejeição ao conhecimento; os imbecis rejeitam o conhecimento porque não o buscam; os imbecis preferem as comodidades da irracionalidade as dificuldades da busca pelo conhecimento; logo, os imbecis sempre serão calcinados em tudo aquilo que a burrice traz imbuída em si.

(iv). A quarta evidência de imbecilidade é a ridicularização do saber; os imbecis tentarão, por inveja e outros motivos, ridicularizar o saber e aqueles que buscam o saber; e, sempre é qualificativo dos imbecis, escarnecer e tentar ridicularizar aqueles que buscam o saber e o próprio saber; os imbecis vituperam os que buscam o saber e blasfemam contra o próprio saber.

(v). A quinta evidência de imbecilidade é conformidade consciente com o estado de não-conhecimento; e a mais terrível consequência da imbecilidade é que os imbecis se tornam calcinados no estado de não-conhecimento; é como o estado vegetativo, só que em relação as potências racionais; nos imbecis as potências racionais vegetam e não se desenvolvem. Os imbecis são vegetais intelectivos ambulantes, pois, estão calcinados e calcificados no estado de não-conhecimento, a aversão total e absoluta para com tudo que diz respeito ao saber e ao conhecimento.

9. Com isso, se estabelecem estas evidências; e existem muitas outras; mas, estas cinco evidências elencadas, por si só já são suficientes para se identificar os imbecis. E, ainda, uma outra questão, é que os imbecis sempre quererão tornar opiniões sem fundamentação em forma de saber; todavia, mesmo no direito a opinião existe um princípio que confuta e refuta qualquer possibilidade de aceitação de opinião sem fundamentação; pois, conquanto o direito a opinião seja para todos, a aceitação de uma opinião só existe e se confirma pelo saber e pelo conhecimento; e alguém para se arrolar uma opinião digna de aceitação, tem de pelo menos conhecer um pouco do assunto opinado; e é de consenso geral estabelecido e confirmado que para alguém conhecer alguma coisa de maneira geral tem de ter lido no mínimo cinco livros básicos e fundamentais sobre este determinado assunto; se alguém quer opinar, e evocar algum conhecimento sobre qualquer que seja o assunto, no mínimo tem de ter lido e entendido cinco obras fundamentais sobre determinado assunto; por exemplo, se alguém quer opinar sobre ética, tem de no mínimo ter lido, entre a ampla gama de obras sobre éticas, cinco das principais obras para se ter pelo menos algum parâmetro opinativo sobre o assunto; e isto vale para qualquer assunto; portanto, quem quiser arrolar uma opinião digna de ser ouvida, tem de pelo menos ter lido o que é necessário sobre o assunto opinado; logo, se alguém não cumpre estes princípios, e quer arrolar a aceitação de uma opinião sem fundamentação, é descrito de maneira apodítica como imbecil. Os imbecis são aqueles que querem que uma opinião sem fundamentação seja aceita como saber e conhecimento.

Capítulo IV: As provas incontestáveis de imbecilidade.

10. E, em continuidade ao se ter elencado algumas evidências de imbecilidade, se faz necessário demonstrar um caractere inerente a imbecilidade; um qualificativo da imbecilidade; este qualificativo advêm dos vícios opostos as virtudes intelectivas; se as virtudes intelectivas ajudam na busca e no desenvolvimento do saber, os vícios "intelectivos" são um impedimento à busca e ao desenvolvimento do saber; o estado de não-conhecimento, gera os vícios opostos as virtudes intelectuais; além disso, estes vícios são as provas incontestáveis de imbecilidade.

11. Aristóteles, afirma que as virtudes intelectuais e morais são a sabedoria filosófica, a compreensão, a sabedoria prática, bem como a liberalidade e a temperança (cf. Et. Nic. 1103a5-7); então, os vícios opostos, respectivamente, são: a necedade, a incompreensão, a inaptidão, a avareza e a intemperança; logo, estes vícios são expressão de imbecilidade, aliás, são a prova incontestável de imbecilidade.

A necedade, dito e/ou ação que está contra as leis da lógica, o contrassenso, a contrariedade a realidade; a incompreensão, é a incapacidade por negligência ou por emburrecimento de compreender as coisas tal como são; a inaptidão é a falta de sabedoria prática, a falta de aptidão para evidenciar por meio de ações virtuosas a própria virtude; a avareza é o amor ao dinheiro, o dinheirismo, que também é idolatria (cf. Cl 3.5); e a intemperança, a falta de temperança quando se é necessário a temperança.

Logo, estes vícios, contrários as virtudes morais e intelectuais, são expressão e a evidência incontestável de imbecilidade; pois, os imbecis amam a necedade, são calcificados na incompreensão, são inaptos para viverem a sabedoria prática, são avarentos e são intemperantes (no que exige temperança). Portanto, além das evidências de imbecilidade, estes vícios complementam a compreensão sobre os imbecis, demonstrando as provas incontestáveis de imbecilidade.

Capítulo V: A natureza espiritual da imbecilidade.

12. A imbecilidade não somente é fruto do desprezo pelo conhecimento e da aceitação do não-conhecimento; mas a imbecilidade possui uma natureza espiritual; os imbecis estão presos pelas correntes diabólicas que prendem os homens através do não-conhecimento; pois, o Criador estabeleceu o conhecimento para dignificar e sublimar a vida humana, para que a mesma possa se desenvolver; portanto, quando a imbecilidade se torna expressão da alma de uma sociedade, então, se tem o que é chamado nas Escrituras do engano do Diabo para cegar o entendimento dos incrédulos (cf. 2Co 4.4). Pois, o Diabo trabalha para cegar o entendimento dos homens a respeito das coisas naturais, e, consequentemente, para cegar o entendimento dos homens a respeito das coisas espirituais.

13. Deste modo, quando se tem imbecilidade calcificada e há uma aceitação geral do estado de não-conhecimento, então, se tem obra maligna em entenebrecer e emburrecer os homens na intelecção das coisas naturais; e, uma vez que os homens estão no estado de não-conhecimento, se torna ainda mais difícil preservar a verdade das coisas naturais, para que estes, a partir destas, possam conhecer a verdade revelada; quanto mais imbecilidade para o conhecimento das coisas naturais, mais difícil se torna o entendimento das coisas espirituais; logo, o Diabo trabalha para destruir o conhecimento e a busca pelo conhecimento, para aprisionar os homens no estado de não-conhecimento, e assim, entenebrecer o entendimento dos homens para que não lhes resplandeça a luz do evangelho de Cristo (cf. 2Co 4.4). Logo, sempre que há imbecilidade calcificada e um estado generalizado de não-conhecimento, é como se um câncer estivesse infiltrado na alma da sociedade, e isso, sempre é evidência de obra maligna.

Capítulo VI: As consequências sociais da imbecilidade.

14. Assim sendo, uma sociedade calcificada no estudo de não-conhecimento, com a generalização da imbecilidade, onde a própria imbecilidade passa a ser o qualificativo primordial dos homens e das mulheres nesta sociedade, então, se terá o que se pode chamar de consequências sociais da imbecilidade; portanto, onde se tem o estado de não-conhecimento, se tem estas terríveis consequências na sociedade; a ordem social, e o próprio múnus do desenvolvimento social, são desfigurados em consequência da imbecilidade generalizada.

15. Deste modo, pode-se falar, de maneira geral, sobre três consequências sociais da imbecilidade, as quais são:

Primeiro, um estado de alma da sociedade que aborrece o conhecimento, e que se estabelece pelos ditames do não-conhecimento; uma sociedade que aborrece o conhecimento será uma sociedade presa as correntes malignas da imbecilidade e da falta de desenvolvimento moral-intelectual; será uma sociedade onde a coletividade impõem-se sobre a individualidade, ou dito em outros termos, onde uma personalização coletiva substitui a própria posse da personalidade pelo indivíduo e o desenvolvimento pessoal da própria personalidade; uma sociedade que aborrece o conhecimento e que se torna subserviente aos ditames do não-conhecimento, torna os homens e as mulheres expressão não da vontade pessoal, mas do emburrecimento programado.

16. Segundo, uma sociedade que fica calcinada nos vícios e doenças da alma; uma sociedade que rejeita o conhecimento se torna uma sociedade que é expressão visível e clarividente das morbidades da alma; estas morbidades da alma, viciam as consciências e o desenvolvimento dos indivíduos num ciclo vicioso, que os torna não em expressão do desenvolvimento pessoal, mas de um estado de alma que por estar viciado, é manifesto de diversos modos e de diversas maneiras em todos aqueles que são açambarcados pelas consequências do estado de não-conhecimento e do sempre crescente e orgulhoso aborrecimento ao conhecimento; logo, esta sociedade se torna em expressão de vícios e se torna presa a estes próprios vícios, gerando um ciclo vicioso e viciante. Esta é uma terrível consequência social da imbecilidade.

17. Terceiro, uma sociedade que é expressão da imbecilidade generalizada, se torna uma sociedade que não se desenvolve de maneira sóbria; o ímpeto para o desenvolvimento faz parte da natureza; e quando este ímpeto é interrompido ou então desfigurado, logo, outro algo tomará este ímpeto, e prenderá a sociedade num jugo subversivo ou então sob a forma de alguma ideologia totalitária; por isso, as sociedades que ficam calcinadas no estado de não-conhecimento são as sociedades mais sujeitas ao domínio das ideologias totalitárias e as sociedades que, as mais das vezes, não conseguem se reerguer facilmente deste domínio.

18. A imbecilidade generalizada, torna uma sociedade sujeita a algum modo de aprisionamento geral – não da prisão física, a cadeia, mas da prisão ideológica, moral e intelectual. Logo, sempre que se tem esta imbecilidade generalizada, a sociedade não se desenvolve de maneira sóbria e adequada e todo o ímpeto natural ao desenvolvimento se torna engaiolado por alguma ideologia nefasta, como por exemplo, pelo comunismo, que gera a imbecilização generalizada para poder dominar sem que haja resistência adequada ou percepção sobre o que realmente está acontecendo.

Capítulo VII: Os imbecis e a aversão ao conhecimento.

19. Por isso, uma vez que a sociedade se torna expressão da imbecilidade generalizada, então, aqueles que são açambarcados por este estado de não-conhecimento, isto é, todos aqueles que ficam sujeitos as normativas das doenças sociais que são provenientes do não-conhecimento, então, os imbecis, se tornarão numa enorme casta que terá aversão ao conhecimento e a tudo quanto diz respeito ao conhecimento; os imbecis, acabam por tornar, os inquisidores do conhecimento, que perseguem e procuram acabar com toda e qualquer tentativa de se evocar a importância do conhecimento.

20. Assim sendo, os imbecis possuem uma aversão total ao conhecimento; e esta aversão se demonstra de dois modos: primeiro, através da rejeição parcial ao que deliberadamente se desconhece; segundo, através da rejeição total ao conhecimento e aos seus símbolos.

Primeiro, através da rejeição parcial ao que deliberadamente se desconhece; os imbecis rejeitam deliberadamente aquilo que desconhecem e aquilo que não conhecem; isto é, os imbecis rejeitam todo conhecimento que não conhecem, a saber, qualquer tipo de conhecimento, mesmo os mais simples aspectos do saber; logo, os imbecis terão aversão contra aquilo que desconhecem, e qualquer informação simples que os imbecis não conseguem imaginar serão contra e dirão que tal informação ou é mentira ou não tem procedência; os imbecis ao rejeitarem o conhecimento, se tornam avessos a qualquer informação que eles não podem conhecer ou que condena ou se coloca contra os atos inerentes a imbecilidade.

21. Segundo, através da rejeição total ao conhecimento e aos seus símbolos; os imbecis acabam por calcinar uma rejeição total ao conhecimento e aos símbolos básicos do conhecimento; esta rejeição, é mais propriamente descrita, como a destruição do múnus básico do conhecimento e a desfiguração dos símbolos do conhecimento; portanto, a rejeição total ao conhecimento, é a rejeição a todo e qualquer forma de conhecimento verdadeiro e que se estabelece segundo as operações do intelecto e sob as leis da lógica; e a rejeição total aos símbolos do conhecimento, é a rejeição as formas e aos modos verdadeiros pelos quais o conhecimento é adquirido, como os livros dos grandes pensadores e as obras máximas e mais importantes de cada esfera do saber; os imbecis rejeitam totalmente o conhecimento e rejeitam totalmente os símbolos básicos do conhecimento (os livros e autores mais importantes em cada esfera do conhecimento).

22. E aqui se faz uma breve observação; pois, uma sociedade calcificada no estado de não-conhecimento, logo, se tornará avessa ao conhecimento; mas, mesmo nesta sociedade, existem aqueles que “estudam” e que conquistam títulos acadêmicos, os quais, as mais das vezes, são imbecis diplomados, ou na expressão de um filósofo, analfabetos funcionais; os títulos acadêmicos numa sociedade avessa ao conhecimento, é apenas uma expressão mais ataviada da imbecilidade; pois, os imbecis diplomados, nas disciplinas acadêmicas a que supostamente se dedicam, não dominam sequer as obras básicas, os clássicos constituintes de suas esferas de saber; logo, é mais do que evidente do que mesmo os diplomados, em grande medida, também são avessos ao conhecimento; portanto, também são imbecis. 

Capítulo VIII: Os imbecis e a rejeição a sabedoria.

23. Além disso, os imbecis, que são avessos ao conhecimento, acabam por rejeitar a sabedoria; a rejeição ao conhecimento, se torna em rejeição a sabedoria; e a sabedoria, é uma das coisas mais importantes que se pode ter na vida; a Escritura diz: “mas a excelência da sabedoria é que ela dá vida a seu possuidor” (Ec 7.12b); logo, os imbecis sendo avessos ao conhecimento, e rejeitando a sabedoria, passam a viver de maneira inadequada; a vida é feita para ser vivida de acordo com princípios naturais, imbuídos na própria natureza; os imbecis rejeitam estes princípios ao serem avessos ao conhecimento e ao rejeitarem a sabedoria; na verdade, os imbecis, por rejeitarem a sabedoria, vivem de maneira anti-natural e acabam por destruir e desfigurar as coisas naturalmente naturais. A imbecilidade acaba por destruir o ímpeto natural do cuidado com a natureza, pela rejeição a sabedoria; os imbecis são, em grande parte, destruidores da natureza, seja da natureza física, seja da própria natureza humana.

24. Na verdade, os imbecis são avessos a sabedoria; pois, o mais simples aspecto da sabedoria, sempre confronta todas as ações e maquinações dos imbecis; a sabedoria é um testemunho eloquente contra a imbecilidade; e, nada mais ultrajante para a imbecilidade do que as repreensões da sabedoria, pois, as repreensões da sabedoria em relação a imbecilidade, vão ao âmago, adentram as entranhas dos imbecis e tornam conhecidas o estado do coração (alma) dos imbecis; por isso, os imbecis, ao rejeitarem o conhecimento, e enveredarem nos caminhos do não-conhecimento, acabam por rejeitar a sabedoria, que repreende e confronta de maneira direta e veemente todas as ações os imbecis e todos os frutos provenientes da imbecilidade. A rejeição a sabedoria por parte dos imbecis é, na verdade, a rejeição aos elementos de repreensão e de correção que são apregoados contra as consequências morais e intelectuais da imbecilidade. 

Capítulo IX: Os imbecis como escarnecedores.

25. E, além destas características dos imbecis, os mesmos se tornam tão calcinados nos frutos do estado de não-conhecimento, que acabam por se tornar escarnecedores; os imbecis, por estarem contra a natureza, por não buscam o conhecimento, um tender natural do ser humano, terminam avessos ao conhecimento, e rejeitam a sabedoria, e com isso, acabam por escarnecer de Deus e das coisas de Deus; os imbecis, são no fundo, escarnecedores; pois, todos os imbecis, escarnecem de Deus e das coisas de Deus. Logo, os imbecis, estão, fundamentalmente, em luta contra Deus. A imbecilidade, acaba por se enveredar por caminhos que trazem o juízo de Deus (cf. Rm 1.18-32).

26. Portanto, os imbecis, não somente são avessos ao conhecimento, e rejeitam a sabedoria; os imbecis, são açambarcados na descrição bíblica do escárnio, dos escarnecedores, que por estarem no estado de não-conhecimento, se colocam contra o ímpeto natural do desenvolvimento, através da busca do saber; e, por isso, os imbecis, ao serem escarnecedores, germinarão uma série de vícios, entre os quais, o mais terrível, é a inveja; os imbecis, por serem escarnecedores, se tornam invejosos; pois, todo escarnecedor, desenvolve a inveja; e a inveja é um mal terrível, pois, além de estagnar o desenvolvimento, acaba por corroer aqueles que buscam se livrar da imbecilidade; a inveja dos imbecis desfigura e corrompe todos as iniciativas sóbrias e contumazes daqueles que tendo se apercebido do estado de não-conhecimento, buscam se livrar das consequências sociais da imbecilidade. Os imbecis são escarnecedores e invejosos, e isso, per se, já é sinal da degradação moral e espiritual dos imbecis.

Capítulo X: As compensações existenciais da imbecilidade.

27. A imbecilidade, enquanto um mal, e os imbecis, enquanto escarnecedores e invejosos, também produz uma série de gérmens de “compensação”; pois, como a imbecilidade é evidência de miséria, o ser humano, ao estar no estado de miséria, produz para si mesmo “compensações” que velem a compreensão desta miséria; e com a imbecilidade não é diferente, pois, os imbecis evocam em si e para si compensações existenciais da imbecilidade.

28. A imbecilidade ao se estabelece possui compensações sobre o próprio indivíduo; pois, para que o indivíduo não se aperceba do estado deplorável da imbecilidade, a própria imbecilidade lhe fornece sementes para germinar e velar a consciência para a compreensão da baixeza do estado de miséria; e as compensações da imbecilidade com relação a si mesmo são: calúnia, maledicência, desprezo pelo conhecimento, desprezo pelos que têm conhecimento, escárnio com relação ao conhecimento, escárnio pelos que têm conhecimento, manipulação, burrice, zombaria em relação aos atos e ações de conhecimento (escrita, estudo, produção de livros e conteúdo de valor intelectual), tentar ridicularizar os que produzem e valoram o conhecimento (geralmente com os chamando de “ridículos”), e coisas similares; os imbecis utilizam destas e de outras ações -  as mais das vezes, mesmo inconscientes -, para compensarem a própria imbecilidade; mas, certamente, a evidência mais visível de imbecilidade é o escárnio e a zombaria em relação aos atos e ações de conhecimento; e esta é uma regra infalível para conhecer e reconhecer os imbecis.

29. Além disso, os imbecis, ao serem escarnecedores, e escarnecerem do conhecimento e daqueles que possuem o conhecimento, possuem uma característica inconfundível – e que também é outra regra infalível para conhecer e reconhecer os imbecis -, a saber: os imbecis não conseguem provar racionalmente e com argumentos aquilo de que escarnecem; na verdade, os imbecis, as mais das vezes, nem sequer conseguem ler o conhecimento de que desprezam e nem sequer conseguem entender os argumentos daqueles que possuem algum conhecimento; os imbecis ao chamarem os que possuem conhecimento de “ridículos” demonstram que eles próprios são mais do que “ridículos”. A verdadeira face dos ridículos é tentarem escarnecer daquilo que lhes é superior em relação ao saber e em relação ao conhecimento, ou da vida virtuosa. 

Capítulo XI: Considerações finais.

30. Deste modo, consegue-se pontilhar os principais aspectos para se ter um entendimento sobre os imbecis; a pergunta, “como reconhecer imbecis?”, fora respondida em seus principais aspectos; os imbecis são basicamente aqueles que rejeitam o conhecimento, que aborrecem o conhecimento, que são avessos ao conhecimento; os imbecis na aversão ao conhecimento, acabam por se tornar escarnecedores, e com isso, também se tornam invejosos; o escárnio semeia no coração os gérmens da inveja, que frutifica de maneira aterradora; portanto, deve se procurar vencer a imbecilidade, através do reconhecimento do estado de não-conhecimento e da busca pelo conhecimento no desenvolvimento da própria personalidade.

31. Com isso, a imbecilidade não é somente um mal que assola o indivíduo, mas um mal que assola a sociedade; pois, a multiplicação da imbecilidade, ocasiona um aumento dos imbecis, e com isso, a sociedade se torna castificada no estado de não-conhecimento, um estado que gera mais imbecis, desde simples imbecis a imbecis diplomados. Logo, a imbecilidade é um mal individual que se torna mal existencial, e que por fim, se torna um mal social, que ocasiona inúmeros outros males sociais. Por isso, para se vencer a imbecilidade e não se deixar contaminar pelos imbecis, é necessário se compreender como reconhecer os imbecis, bem como compreender a natureza da própria imbecilidade.

32. Termina aqui esta explicação sobre os imbecis. Bendito seja Deus por todas as coisas. Amém. 

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