29/08/2024

Comentário as Epístolas de Pseudo-Dionísio - Prefácio

As obras e a teologia de Pseudo-Dionísio tem influenciado a cristandade por séculos; poucos autores influenciaram tanto como Pseudo-Dionísio, e, soma-se a isso, o fato de que Pseudo-Dionísio fora amplamente estudado e comentado tanto na teologia latina quanto na teologia grega; o Corpus Dionysiacum, como é formalmente conhecido a obra de Pseudo-Dionísio, exerceu grandíssima influência na história; na teologia apenas Santo Agostinho exercera uma influência maior do que Pseudo-Dionísio.  

E isso é um fato curioso; pois, a verdadeira identidade deste autor fora pelo mesmo ocultada; escolheu um pseudônimo para indicar o caminho de sua obra e seu propósito teológico, a saber, o nome Dionísio; pois, como Bento XVI afirma: “a sua intenção era pôr a sabedoria grega ao serviço do Evangelho, ajudar o encontro entre a cultura e a inteligência gregas e o anúncio de Cristo[1]; e, por isso, ocultou sua verdadeira identidade, em função do programa teológico que iria desenvolver, e que desenvolvera com maestria.

Mas, conquanto a isso, as dificuldades do Corpus Dionysiacum são várias, por muitos motivos: algumas obras estão ou foram completamente perdidas; os ínvios e obscuros caminhos de argumentação; a utilização de termos filosóficos gregos para explicar os mistérios da revelação; etc.; por isso, compreender Pseudo-Dionísio não é tarefa simples; mas, é algo sumamente necessário; pois, a teologia de Pseudo-Dionísio continua refulgindo com luminosidade e limpidez, ao procurar explicar a glória de Deus, manifesta em Seu Ser e em Seus atributos (e nomes), tanto quanto manifesta de maneira plena em Jesus Cristo.

E, para compreender Pseudo-Dionísio, é necessário analisar suas obras; e Corpus Dionysiacum tal como se encontra no estado atual da pesquisa é composto por quatro livros, e por dez epístolas; a dificuldade em relação aos livros é a mesma; Tomás de Aquino descreve muito bem a razão desta dificuldade: “é preciso considerar que o bem-aventurado Dionísio usa um estilo sombrio em todos os seus livros. Na verdade, ele não fez isso por inexperiência, mas por diligência, a fim de esconder os dogmas sagrados e divinos do escárnio dos infiéis[2].

Por isso, é necessário de antemão estabelecer uma forma de analisar as obras de Pseudo-Dionísio; e a melhor maneira de iniciar a análise de suas obras se dá pela compreensão sobre suas cartas, algumas das quais sumariam aspectos das obras de maneira mais simples, já que algumas delas foram explicações sobre dúvidas surgidas a partir de algumas de suas obras. Logo, analisar e compreender as epístolas, constitui-se a melhor forma de se adentrar ao estudo do Corpus Dionysiacum.

Portanto, como as epístolas versam sobre temas teológicos importantes, através da compreensão destas epístolas se tem o melhor modo de apresentar e se conhecer o efusivo programa teológico dionísico. Assim, as epístolas são a melhor maneira de se introduzir ao programa teológico dionísico.

Por isso, ao adentrar a compreensão de Pseudo-Dionísio, que possamos orar para entender o propósito que o guiara, e que também deve ser o propósito a nos guiar, tal como Bento XVI ensinara: “Oremos ao Senhor a fim de que nos ajude inclusivamente hoje a pôr ao serviço do Evangelho a sabedoria dos nossos tempos, descobrindo novamente a beleza da fé, o encontro com Deus em Cristo[3]. Este é o propósito de se analisar as obras de Pseudo-Dionísio, bem como o propósito que deve permear a existência teológica e o testemunho da fé entre os pagãos, acoplando a sabedoria filosófica em tudo aquilo que não impugna os assuntos da fé.

Soli Deo Gloria!

In Nomine Iesus!

28 de agosto de 2024.



[1] Bento XVI, Dionisio Areopagita, Audiência Geral de 14 de maio de 2008.

[2] Tomás de Aquino, In Librum B. Dionysii De Divinis Nominibus Expositio, proem.

[3] Vd. nota 1.


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