Prólogo.
1. “o sopro e o ar abarcam o cosmos
inteiro”; esta sentença de Anaxímenes, demonstra um princípio fundamental
da vida, o ar; para este filósofo antigo, o ar era o princípio (arché) de todas
as coisas; conquanto se saiba que isso não procede, pelo menos Anaxímenes
identificou a importância de se tomar um dos elementos naturais como princípio
da vida, assim como fizeram os outros filósofos jônicos; e, elucubrar sobre o
ar, não somente se reveste de importância científica, mas também de importância
filosófica, pois, diz respeito a um tema fundamental da vida humana.
2. Por isso, se deve elucubrar sobre ar;
mas não somente sobre o ar em si, mas também sobre os aspectos amalgamados a
reflexão sobre ar; e, entre estes aspectos, um se sobressai em importância,
devido a urgência e pungência do assunto, a saber, sobre a contaminação do ar;
ora, elucubrar sobre a contaminação do ar é algo sempre urgente, pois, de vez
em quando, se tem elementos e situações que tem contaminado o ar de maneira
alarmante e de maneira perigosíssima para a saúde humana; por isso, em muitos
códigos de leis, se afirma categoricamente a necessidade de um meio ambiente
sóbrio e equilibrado, pelo qual passa a qualidade do ar.
Portanto, compreender sobre a contaminação do ar, envolve aspectos científicos, filosóficos, jurídicos e teológicos. Por isso, se vai brevemente analisar o que concerne a compreensão sobre a contaminação do ar.
Capítulo I: A importância do ar para a
vida humana.
3. Ora, como Anaxímenes afirma que tudo é
ar, isso em si, já demonstra a importância vital do ar para a vida humana;
pois, cada um dos elementos da natureza são de suma importância para a vida;
mas, em se tratando do ar (e da água), se pode afirmar, que o mesmo é
imprescindível, pois, sem ar há morte; na verdade, a própria constituição do
ser humano, pressupõem o ar, já que precisa deste para respirar e ficar vivo; o
próprio Deus ao criar o ser humano soprou neste o ar (fôlego) da vida (cf. Gn
2.7); e a morte, entre outros aspectos, é confirmada pela ausência de
respiração, isto é, de ausência de ar.
4. Portanto, o ar é de suma importância
para a vida, porque diz respeito a própria sobrevivência da vida humana; do
mesmo modo como o ser humano não vive em água, também não vive sem ar; pois, o
ar faz parte da constituição natural do ser humano e do meio ambiente onde
vive; a atmosfera terrestre, constitui-se de um ambiente com a medida de ar
adequada para a vida; logo, a terra é feita para a vida e transmite vida, a
medida que se vive de acordo com os preceitos da natureza, inerentemente
presentes no ser humano. E, entre estes preceitos, está o ar, a atmosfera, o
conjunto do ar que faz parte da vida, tanto do fôlego de vida inerente a cada
ser vivo, quanto do ar atmosférico no qual habitam os seres vivos.
5. Ora, a importância de algo em relação a
vida se dá de dois modos: primeiro, em sua utilidade para a vida humana;
segundo, em sua natureza em relação a vida.
Quanto ao primeiro, se compreende que o ar
é útil para a vida humana em tudo; pois, o ar permeia todos os aspectos da vida
humana e da biosfera terrestre.
Quanto ao segundo, se compreende que o ar
é imprescindível para a vida; na verdade, ar é vida; logo, se compreende que o
ar é elemento necessário para a vida biótica, na natureza como um todo, e para
a vida do ser humano, em sua respiração; como diz o Filósofo, vida e morte
dependem de aspirar e expirar (cf. Resp. 472a12), como se demonstra em todos os
seres humanos, embora nas diversas espécies o modo e a forma da respiração
sejam diversos, mas todos incluídos sobre a atmosfera terrestre, isto é, em toda
a terra e mar; ou dito em termos prosaicos, na grande “redoma” que é o planeta
terra, no qual existe perfeitamente a condição para a vida, na amalgama
inter-relacional entre água e ar.
6. Por isso, se compreende que o ar é um elemento fundamental da natureza (physis), e, embora não se possa afirmar que o ar é o princípio de todas as coisas, como dissera Anaxímenes, contudo, o ar é um dos princípios fundamentais da natureza e da vida; pois, toda a esfera biótica da realidade, isto é, toda a esfera da realidade que se refere a vida e ao viver, tem o ar como elemento imprescindível. Por isso, compreender sobre o ar, e cuidar e velar pela qualidade do ar, são elementos fundamentais da vida humana, pois, ambos dizem respeito a vida e a sobrevivência do ser humano.
Capítulo II: A natureza da atmosfera.
7. A terra é envolta numa atmosfera, numa
esfera de ar; e o ar necessário para a vida humana é preservada no âmbito da
vida impedindo que este ar "saia" para o espaço sideral, e impedindo
que o ar (os gases) dos corpos celestes permeiem a atmosfera terrestre; isto é
feito pela camada de ozônio, que atua com vários gases, os quais, impedem, a
partir de uma certa altura, a propagação do ar comum a atmosfera terrestre
adentre na atmosfera sideral, e vice-versa.
8. Por isso, a natureza da atmosfera
terrestre, existe em função da vida humana e para proteger os elementos
fundamentais da vida humana, através da amalgama de ar, vapor e umidade, tal
como o próprio Deus criara, o que é chamado nas Escrituras de expansão (cf. Gn
1.6-8).
9. No entanto, nesta atmosfera se podem
propagar elementos nocivos a vida humana, causados principalmente pela poluição
e pela contaminação do ar. Logo, a pureza do ar, e o equilíbrio natural da
atmosfera, é surrupiado pela contaminação do ar; por isso, se estabelece que a
natureza da atmosfera é tanto permeada por elementos naturais, quanto por
elementos artificiais, isto é, por poluição deliberada (tolerável ou não).
10. Deste modo, se compreende que a natureza da atmosfera possui uma estrutura funcional, principalmente no âmbito mais específico da vida humana; o ar respirado pelo ser humano deve ser um ar puro do ambiente saudável e equilibrado, pois, o ar expirado pelo ser humano como gás carbônico é purificado pelas árvores e algas no efeito fotossíntese, e assim o ar mantém sua umidade e sua pureza; e isto forma um ciclo natural que faz parte do funcionamento da natureza, em relação as coisas naturais. O problema é quando a poluição é tão grande que nem mesmo o ciclo natural de mantenimento da umidade do ar, consegue purificar esta impureza e contaminação; por isso, a contaminação do ar se torna um problema, pois, quanto mais contaminação menos umidade do ar, e quanto menos umidade do ar mais desequilíbrios naturais se desenvolverão, prejudicando e causando males à vida humana, os quais, são consequências das próprias atitudes dos seres humanos em contaminar o ar.
Capítulo III: A contaminação do ar.
11. Assim sendo, compete analisar o que é
a contaminação do ar; basicamente, como a própria expressão diz, é tudo aquilo
que contamina a pureza e as propriedades naturais do ar; e a contaminação do ar
se dá de dois modos: primeiro, de maneira natural; segundo, de maneira
espiritual.
12. Em relação ao primeiro, se fazem duas
coisas: primeiro, a contaminação natural no cotidiano; isto é, a contaminação
que provêm da emissão de gás carbônico pelo ser humano; este tipo de
contaminação não é nocivo, pois, a própria natureza reverte esta contaminação,
no processo da fotossíntese; logo, no próprio desenvolvimento da vida humana há
este tipo de contaminação.
Segundo, a contaminação provocada; e esta
se subdivide em dois aspectos: um em relação a contaminação provocada
tolerável, em aspectos sumamente necessários a vida e a manutenção da vida,
como em casos de fábricas que produzem produtos de saúde e coisas similares; é
contaminação, mas é tolerável, desde que dentro dos limites da lei e da
normalidade ambiental. O outro aspecto, em relação a contaminação provocada de
maneira nefasta, isto é, todo tipo de contaminação do ar que é feito para
prejudicar e/ou causar dano a saúde humana: como queimadas provocadas,
incineração de produtos nocivos a saúde, o aumento desenfreado de gases
poluentes e danosos a saúde, etc.; e, a instrumentalização da contaminação do
ar como arma de guerra e/ou como arma para destruir alguém ou todo um povo, o
que, pasme-se também tem ocorrido.
13. Portanto, em relação a contaminação do ar, se deve evitar o que se tem de evitar, pois, a contaminação desmedida do ar, traz consequências catastróficas e quase que irreversíveis para a vida humana; pois, a contaminação da atmosfera, aos poucos vai tornando a mesma um lugar sem condições para a vida, e isso, por culpa do próprio ser humano; logo, quanto mais contaminação do ar, menor a qualidade do ar e mais difícil se tornam a manutenção e a subsistência da vida em questões naturais. Isto, é o que concerne a proposição da contaminação natural do ar.
Capítulo IV: A contaminação espiritual do
ar.
14. Em relação ao segundo - a contaminação
espiritual do ar -, se evidencia que, a contaminação desmedida e nefasta do ar,
sempre tem por detrás algum mover maligno; pois, a Escritura fala do Diabo como
príncipe da potestade do ar (cf. Ef 2.2), e o termo ar (ἀέρος, aeros),
diz respeito tanto as regiões espirituais, quanto ao ar como elemento natural;
notadamente, diz respeito a um modo de ação maligna nos ares, bem como a
atuação na contaminação dos ares, ou mais propriamente, da contaminação e
desfiguração dos elementos naturais, para a destruição do ser humano.
15. E, sobre isso, três considerações são
feitas: primeiro, a contaminação nefasta do ar, sempre tem alguma obra maligna;
e isto se prova pelo seguinte argumento: onde se tem muita contaminação do ar,
sempre se tem a destruição da natureza e a desfiguração dos valores essenciais
da vida humana; logo, onde se tem contaminação nefasta do ar, se tem obra
maligna.
Segundo, a contaminação espiritual do ar,
torna os homens viciados naquilo que lhes traz prejuízo em sua saúde, e, por
consequência, em suas dignidades; pois, a contaminação nefasta do ar, sempre é
feita de maneira usurpante com relação a dignidade humana; logo, sempre tem por
caractere indiscutível a destruição da dignidade pela vituperação da saúde que
ocorre pela contaminação do ar.
Terceiro, a contaminação espiritual do ar,
sempre provoca a castificação de obras malignas; ora, se um elemento natural,
imprescindível para a vida humana, é contaminado de maneira nefasta
continuamente, então, necessariamente, se ocasiona um movimento no coração para
questões anti-naturais, no que concerne a ação humana; logo, onde há este tipo
de contaminação, certamente há ou haverá uma castificação de obras malignas e
perversas, pois, o ar contaminado move os corações corrompidos sujeitos a ação
maligna, do mesmo modo como esta contaminação causa prejuízos ao corpo humano.
16. Além disso, o texto do livro de Jó,
apresenta que os demônios, podem se utilizar do ar (sob a permissão de Deus)
para causar morte, ou qualquer outro prejuízo à saúde humana; no caso do livro
de Jó, se apresenta que o Diabo causou um “vento impetuoso” ao ponto de
derribar a casa e matar os filhos de Jó (cf. Jó 1.19); ora, o vento é uma das
manifestações do ar; e os demônios agiram para ocasionar um vento impetuoso que
causasse morte; logo, os demônios tanto podem agir de maneira direta,
ocasionando morte através de manipulação do ar, quanto podem agir de maneira
indireta, utilizando-se da poluição do ar para ocasionar prejuízos à saúde
humana, tal como ocorre na contaminação do ar, pois os componentes químicos da
poluição, são extremamente nocivos à saúde humana, e ao matando os seres
humanos aos poucos.
17. Deste modo, se compreende que quando a contaminação do ar sai da esfera do natural, isto é, daquilo que é inerente a natureza, se deve causar alguns alardes; agora, quando este contaminação chega a níveis de periculosidade, isto é, quando é nefasta, então, se tem evidência da obra maligna; logo, a contaminação do ar, também pode ocorrer por obra maligna, ou em si mesma, ou através de alguma forma de poluição, o que, ocasiona terríveis problemas para a vida humana, desde a questões referentes aos prejuízos a saúde, quanto em questões aos homens serem movidos pela obra maligna; os elementos presentes na contaminação do ar, produzem efeitos terríveis à saúde, enquanto que a raiz desta contaminação produz efeitos espirituais.
Capítulo V: A necessidade de qualidade no
ar.
18. Portanto, tendo compreendido a
descrição dos problemas concernentes a contaminação do ar, se deve pontuar a
necessidade sempre urgente de se compreender a necessidade de qualidade no ar;
pois, isto diz respeito diretamente a vida humana, tanto em relação ao
desenvolvimento da vida quanto em relação a sobrevivência humana; o ar,
enquanto de reflexão, diz respeito a preservação da vida.
19. Por isso, ao se analisar a necessidade
de qualidade no ar, se evocam quatro pressupostos: primeiro, a qualidade do ar
é pressuposto inviolável da vida humana; pois, a vida é um dos transcendentais
dos direitos humanos; logo, tudo quanto diz respeito a vida e a qualidade da
vida, é tido como inviolável para o indivíduo; portanto, o que concerne a vida
e qualidade da vida também; assim sendo, como a qualidade do ar é algo
imprescindível para a vida e a qualidade de vida, logo, diz respeito a algo que
deve ser tido, tanto pelos seres humanos, como pelos códigos de leis como algo
inviolável, o que é feito por estes através da evocação da necessidade de
preservação do meio ambiente e do equilíbrio ambiental, no qual está inserido a
qualidade do ar.
Segundo, a qualidade do ar é necessária
para o desenvolvimento da vida; sem a qualidade do ar a vida não se desenvolve
de maneira sóbria; pois, com o ar contaminado, os seres humanos não conseguirão
se desenvolver e nem exercer suas faculdades naturais; e, se não se respira um
ar com qualidade, não se raciocina de maneira correta; na verdade, se não se
respira um ar com qualidade, a natureza humana não cumprirá de maneira natural
suas funções naturais, o que, gera inúmeros problemas de saúde, e, em alguns casos,
até problemas na alma; pois, a falta de qualidade no ar, é uma forma de “zumbizar”
os indivíduos através da má respiração, viciando-nos ao ar contaminado, e, com
isso, tornando-os sujeitos a outros tipos de vícios. Portanto, a qualidade do
ar é necessária para o desenvolvimento da vida.
Terceiro, a qualidade do ar é necessária
para o mantenimento da própria humanidade inerente ao indivíduo; pois, sem a
qualidade do ar, ou a qualidade dos outros elementos naturais imprescindíveis à
vida humana, não se conserva a dignidade inerente ao indivíduo; pois, a
dignidade humana, é demonstrada pela qualidade e usufruto sóbrio e correto dos
elementos naturais e destes com qualidade natural que lhes é inerente;
portanto, se há contaminação nefasta do ar, logo, se terá consequências
terríveis para a dignidade dos indivíduos, e as vezes, até para uma sociedade
inteira. Logo, a qualidade do ar é necessária para o mantenimento da própria
humanidade inerente ao indivíduo.
20. Deste modo, se compreende a
imprescindível e irrevogável necessidade de qualidade no ar, já que o ser
humano, e todos os seres vivos terrestres, naturalmente precisam do ar puro
para respirar e assim continuar vivos e viverem; o ar é parte da própria vida e
do que concerne as coisas naturais do ser humano. Logo, a qualidade do ar, além
de ser pressuposto inerente a partir da própria natureza, também é evidente de
acordo com a própria natureza do ser humano, para o que, o ar tem uma
contribuição inerente.
21. Termina aqui esta simples explicação sobre a
contaminação do ar. Bendito seja Deus por todas as coisas. Amém.
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