1. Visto que o vasto mundo, o cosmos, possui uma harmonia precisa e perficiente, surge a dúvida sobre o que concerne e o que preserva a harmonia do cosmos.
2. Ora, o fundamento de todas as coisas, visíveis e
invisíveis, está em Deus, tal como diz o Apóstolo: “porque nele vivemos, e
nos movemos, e existimos, como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois
somos também sua geração” (At 17.28); portanto, ao se buscar compreender o
que concerne e o que preserva a harmonia do cosmos, há de se compreender que o
fundamento do mundo está no Criador, tal como o salmista afirmara: “então,
foram vistas as profundezas das águas, e foram descobertos os fundamentos do mundo”
(Sl 18.15a). Por esta razão, que Sirach afirmara que a natureza não falha no
que lhe compete: “Quando Deus criou suas obras, desde o princípio, quando as
formou, distinguiu suas partes, determinou para sempre suas tarefas e o domínio
de cada uma em suas gerações. Não passam fome nem adoecem e não falham no que
lhes compete” (Eclo. 16.26-27).
3. Assim sendo, o fundamento do cosmos está em Deus,
como Sua causa; ora, o Criador criara todas as coisas do nada, completas,
perfeitas e acabadas; no entanto, no que concerne as coisas naturais, Ele mesmo
estabeleceu uma ordem geracional na natureza, tal como o Apóstolo evoca a
partir do dito dos antigos poetas: pois somos sua geração; e esta ordem
geracional, o próprio Criador obra através dela por causas primeiras e por
segundas causas; por causas primeiras, já que estabelece a ordem do movimento
cósmico e preserva a vida natural através das propriedades deste movimento,
tanto em relação a todo o Orbe, quanto em relação aos corpos em si; e por
segundas causas, já que estabelece formas e modos para que tudo quanto concerne
a geração seja efetivado tanto em toda a estrutura do Orbe, na geração dos
corpos celestes, quanto em relação a própria vida natural inerente aos corpos
celestes.
4. Deste modo, se pode compreender o fundamento do
cosmos a partir de três princípios que se inter-relacionam: (i) primeiro, o
fundamento criacional-metafísico; (ii) segundo, o fundamento
natural-geracional; (iii) terceiro, o fundamento natural-corruptivo.
5. [i] Primeiro, o fundamento criacional-metafísico;
ora, o fundamento de todas as coisas está em Deus, o Criador; assim, este é o
fundamento criacional-metafísico do Orbe; e, deste fundamento, se consegue
aclarar as causas primeiras do cosmos, bem como as diversas causas que vão se
estabelecendo em ordem de eminência e em ordem de operação, a saber, as causas
primeiras, as causas segundas, as causas terceiras.
Portanto, da Causa Primeira, a causa incausada, surgem
as causas primeiras, as quais, em ordem de eminência se estabelecem em função
da formação do cosmos pelo Criador e para a auto-preservação natural do mesmo,
sob a Providência de Deus; e, as causas segundas que surgem e são formadas,
atuam para preservar a ordem bem como para preservar as operações naturais em
suas várias espécies e efeitos, a fim de manter a vida natural de acordo com o
movimento natural da vida.
Pois, como o Primeiro Princípio criara e ordenara
todas as coisas, Ele fizera isso de tal modo que na própria vida de Sua
criação, houvessem as causas necessárias que funcionassem para que a vida fosse
mantida e preservada de acordo com a própria natureza (cf. Eclo. 16.27); mas,
mesmo assim, Ele com Sua providência preserva e conserva a criação (cf. Sl
104.30); no entanto, Ele a conserva a partir dos elementos naturais que Ele
mesmo estabeleceu para preservar e manter a vida natural tal como a mesma deve
ser mantida.
Ora, este é o fundamento criacional-metafísico, já que
a existência do Criador é uma necessidade lógica e metafísica inescapável,
principalmente em se tratando da compreensão sobre o cosmos. E, sendo este o
fundamento primeiro do cosmos, se compreende porque o cosmos se mantém e é
preservado em sua vida natural.
6. [ii] Segundo, o fundamento natural-geracional; ora,
o Criador, estabeleceu dois processos básicos em todo o Orbe, a saber, a
geração e a corrupção; quanto a geração, se tem o fundamento
natural-geracional, a partir do qual, nas próprias coisas naturais, o Criador
estabeleceu causas geracionais para formar corpos celestes para o que é
necessário para a preservação e mantenimento da vida natural; assim, este
fundamento estabelece a geração em tudo quanto é necessário no cosmos, desde os
elementos naturais até os corpos celestes maiores que surgem devido a alguma
necessidade em ordem a preservação do movimento do Orbe.
Por isso, tudo quanto concerne ao fundamento
natural-geracional, se tem tanto elementos geracionais quanto elementos que
proporcionam, a modo posterior, alguma forma de geração; na verdade, é um
processo cíclico perficiente, que em alguns processos gera e forma, e quando
estes que foram formados e gerados chegam ao fim da vida natural, então,
proporcionam a matéria necessária para a formação e a geração de outros corpos,
e assim por diante; no cíclo da vida cósmica nada é desperdiçado, e tudo está
em ordem ao movimento do Orbe e aos dois preceitos básicos da vida em toda a
extensão do Orbe. Na verdade, a própria extensão do Orbe é que proporciona
estes dois processos básicos, pois é a própria máquina nonde ocorrem estes
processos.
7. [iii] Terceiro, o fundamento natural-corruptivo;
ora, o segundo processo geral básico, é a corrupção; e, quanto a corrupção, se
tem o fundamento natural-corruptivo, pois, em alguns processos naturais, o
Criador estabeleceu a corrupção da matéria, para que desta surgissem algumas
concausas para a geração; portanto, o fundamento natural-corruptivo se coaduna
com o fundamento natural-geracional; deste modo, naquilo que em a geração não
encontra mais desenvolvimento, ocorre a corrupção, e assim, através da corrupção
se gera elementos que as causas naturais se utilizam para um novo processo de
formação, como, por exemplo, na explosão de supernovas que geram estrelas de
nêutrons, ou na formação de buracos negros super-massivos; etc.
Além disso, se pode constar que as “explosões” no
Orbe, se dão em função tanto da geração quanto da corrupção; por isso, as “explosões”
cósmicas estão em ordem ao funcionamento do Orbe; assim, quando ocorre a “explosão”
de algum corpo celeste, seja os maiores seja os menores, os efeitos e as
consequências desta “explosão” ajudam em algo ao processo corrupção-geração,
donde da corrupção de algum corpo celeste, surge os elementos para a geração de
outro corpo celestes, e assim por diante.
Portanto, em toda a extensão do Orbe, ocorre os
processos corruptivos, os quais, por sua vez, sob a matéria escura, que abaliza
e fundamenta naturalmente todos estes processos, proporcionam maravilhas para
que o fundamento natural-geracional possa ser efetivado de acordo com suas leis
básicas e de acordo com as leis gerais do cosmos.
8. E este é, em suma, o fundamento do cosmos, tanto no
sentido metafísico, quanto no sentido físico, pelo menos na compreensão generalíssima
sobre as operações naturais; logo, o cosmos permanece estável porque o Criador
o preserva e conserva tanto em Seu glorioso poder, quanto através das segundas
causas pelas quais obra no mundo, as quais, por sua vez, dão o prisma do modo
como Deus mantém em ordem o Orbe através de processos naturais que Ele mesmo
criara e formara.
Pois, não somente as inteligências espirituais
trabalham na preservação do Orbe, mas o próprio Deus também criara
inteligências naturais incorpóreas para atuarem como fundamento do Orbe, e
isto, por si, é algo maravilhoso.
9. Com isso, se constata que o cosmos também tem
fundamentos naturais, os quais foram estabelecidos pelo próprio Criador; ora,
estes fundamentos também são talhados pelas inteligências naturais incorpóreas
que cumprem sua função a risca, principalmente na esfera das operações ocultas
da natureza; assim, o cosmos é preservado, em seu movimento, por estas
operações, que são operadas de maneira precisa por estas inteligências, entre
as quais, se pode mencionar, a luz, o tempo, a energia, etc.
Além disso, alguns corpos celestes maiores, como os
buracos negros super-massivos, operam sob uma inteligência similar, mas em
ordem a preservação e a continuação da vida cósmica, tal como purificadores da
massa cósmica para colocá-la novamente tal como a “massa original”, por assim
dizer; isto demonstra uma inteligência operacional na função e propósito dos
buracos negros, assim como em todos os corpos celestes, e principalmente nas
inteligências naturais incorpóreas.
Portanto, o fundamento do mundo, em primeiro lugar, está no Criador, que sustenta todas as coisas por Sua palavra (cf. Hb 1.3); em segundo lugar, está nas operações naturais que o Criador estabeleceu, nas quais, as inteligências naturais incorpóreas atuam, para fazer com que os movimentos da esfera das operações visíveis da natureza tenham seus efeitos açambarcados em todo o Orbe de maneira correta e produtiva.
Assim, em suma, isto é o que concerne a designação sobre o fundamento do mundo; e, para o momento, e de acordo com a dúvida de vossa dileção, é suficiente o que fora dito sobre o fundamento do mundo.
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