11/02/2025

Sobre o Fundamento do Mundo

1. Visto que o vasto mundo, o cosmos, possui uma harmonia precisa e perficiente, surge a dúvida sobre o que concerne e o que preserva a harmonia do cosmos.

2. Ora, o fundamento de todas as coisas, visíveis e invisíveis, está em Deus, tal como diz o Apóstolo: “porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração” (At 17.28); portanto, ao se buscar compreender o que concerne e o que preserva a harmonia do cosmos, há de se compreender que o fundamento do mundo está no Criador, tal como o salmista afirmara: “então, foram vistas as profundezas das águas, e foram descobertos os fundamentos do mundo” (Sl 18.15a). Por esta razão, que Sirach afirmara que a natureza não falha no que lhe compete: “Quando Deus criou suas obras, desde o princípio, quando as formou, distinguiu suas partes, determinou para sempre suas tarefas e o domínio de cada uma em suas gerações. Não passam fome nem adoecem e não falham no que lhes compete” (Eclo. 16.26-27).

3. Assim sendo, o fundamento do cosmos está em Deus, como Sua causa; ora, o Criador criara todas as coisas do nada, completas, perfeitas e acabadas; no entanto, no que concerne as coisas naturais, Ele mesmo estabeleceu uma ordem geracional na natureza, tal como o Apóstolo evoca a partir do dito dos antigos poetas: pois somos sua geração; e esta ordem geracional, o próprio Criador obra através dela por causas primeiras e por segundas causas; por causas primeiras, já que estabelece a ordem do movimento cósmico e preserva a vida natural através das propriedades deste movimento, tanto em relação a todo o Orbe, quanto em relação aos corpos em si; e por segundas causas, já que estabelece formas e modos para que tudo quanto concerne a geração seja efetivado tanto em toda a estrutura do Orbe, na geração dos corpos celestes, quanto em relação a própria vida natural inerente aos corpos celestes.

4. Deste modo, se pode compreender o fundamento do cosmos a partir de três princípios que se inter-relacionam: (i) primeiro, o fundamento criacional-metafísico; (ii) segundo, o fundamento natural-geracional; (iii) terceiro, o fundamento natural-corruptivo.

5. [i] Primeiro, o fundamento criacional-metafísico; ora, o fundamento de todas as coisas está em Deus, o Criador; assim, este é o fundamento criacional-metafísico do Orbe; e, deste fundamento, se consegue aclarar as causas primeiras do cosmos, bem como as diversas causas que vão se estabelecendo em ordem de eminência e em ordem de operação, a saber, as causas primeiras, as causas segundas, as causas terceiras.

Portanto, da Causa Primeira, a causa incausada, surgem as causas primeiras, as quais, em ordem de eminência se estabelecem em função da formação do cosmos pelo Criador e para a auto-preservação natural do mesmo, sob a Providência de Deus; e, as causas segundas que surgem e são formadas, atuam para preservar a ordem bem como para preservar as operações naturais em suas várias espécies e efeitos, a fim de manter a vida natural de acordo com o movimento natural da vida.

Pois, como o Primeiro Princípio criara e ordenara todas as coisas, Ele fizera isso de tal modo que na própria vida de Sua criação, houvessem as causas necessárias que funcionassem para que a vida fosse mantida e preservada de acordo com a própria natureza (cf. Eclo. 16.27); mas, mesmo assim, Ele com Sua providência preserva e conserva a criação (cf. Sl 104.30); no entanto, Ele a conserva a partir dos elementos naturais que Ele mesmo estabeleceu para preservar e manter a vida natural tal como a mesma deve ser mantida.

Ora, este é o fundamento criacional-metafísico, já que a existência do Criador é uma necessidade lógica e metafísica inescapável, principalmente em se tratando da compreensão sobre o cosmos. E, sendo este o fundamento primeiro do cosmos, se compreende porque o cosmos se mantém e é preservado em sua vida natural.

6. [ii] Segundo, o fundamento natural-geracional; ora, o Criador, estabeleceu dois processos básicos em todo o Orbe, a saber, a geração e a corrupção; quanto a geração, se tem o fundamento natural-geracional, a partir do qual, nas próprias coisas naturais, o Criador estabeleceu causas geracionais para formar corpos celestes para o que é necessário para a preservação e mantenimento da vida natural; assim, este fundamento estabelece a geração em tudo quanto é necessário no cosmos, desde os elementos naturais até os corpos celestes maiores que surgem devido a alguma necessidade em ordem a preservação do movimento do Orbe.

Por isso, tudo quanto concerne ao fundamento natural-geracional, se tem tanto elementos geracionais quanto elementos que proporcionam, a modo posterior, alguma forma de geração; na verdade, é um processo cíclico perficiente, que em alguns processos gera e forma, e quando estes que foram formados e gerados chegam ao fim da vida natural, então, proporcionam a matéria necessária para a formação e a geração de outros corpos, e assim por diante; no cíclo da vida cósmica nada é desperdiçado, e tudo está em ordem ao movimento do Orbe e aos dois preceitos básicos da vida em toda a extensão do Orbe. Na verdade, a própria extensão do Orbe é que proporciona estes dois processos básicos, pois é a própria máquina nonde ocorrem estes processos.

7. [iii] Terceiro, o fundamento natural-corruptivo; ora, o segundo processo geral básico, é a corrupção; e, quanto a corrupção, se tem o fundamento natural-corruptivo, pois, em alguns processos naturais, o Criador estabeleceu a corrupção da matéria, para que desta surgissem algumas concausas para a geração; portanto, o fundamento natural-corruptivo se coaduna com o fundamento natural-geracional; deste modo, naquilo que em a geração não encontra mais desenvolvimento, ocorre a corrupção, e assim, através da corrupção se gera elementos que as causas naturais se utilizam para um novo processo de formação, como, por exemplo, na explosão de supernovas que geram estrelas de nêutrons, ou na formação de buracos negros super-massivos; etc.

Além disso, se pode constar que as “explosões” no Orbe, se dão em função tanto da geração quanto da corrupção; por isso, as “explosões” cósmicas estão em ordem ao funcionamento do Orbe; assim, quando ocorre a “explosão” de algum corpo celeste, seja os maiores seja os menores, os efeitos e as consequências desta “explosão” ajudam em algo ao processo corrupção-geração, donde da corrupção de algum corpo celeste, surge os elementos para a geração de outro corpo celestes, e assim por diante.

Portanto, em toda a extensão do Orbe, ocorre os processos corruptivos, os quais, por sua vez, sob a matéria escura, que abaliza e fundamenta naturalmente todos estes processos, proporcionam maravilhas para que o fundamento natural-geracional possa ser efetivado de acordo com suas leis básicas e de acordo com as leis gerais do cosmos.

8. E este é, em suma, o fundamento do cosmos, tanto no sentido metafísico, quanto no sentido físico, pelo menos na compreensão generalíssima sobre as operações naturais; logo, o cosmos permanece estável porque o Criador o preserva e conserva tanto em Seu glorioso poder, quanto através das segundas causas pelas quais obra no mundo, as quais, por sua vez, dão o prisma do modo como Deus mantém em ordem o Orbe através de processos naturais que Ele mesmo criara e formara.

Pois, não somente as inteligências espirituais trabalham na preservação do Orbe, mas o próprio Deus também criara inteligências naturais incorpóreas para atuarem como fundamento do Orbe, e isto, por si, é algo maravilhoso.

9. Com isso, se constata que o cosmos também tem fundamentos naturais, os quais foram estabelecidos pelo próprio Criador; ora, estes fundamentos também são talhados pelas inteligências naturais incorpóreas que cumprem sua função a risca, principalmente na esfera das operações ocultas da natureza; assim, o cosmos é preservado, em seu movimento, por estas operações, que são operadas de maneira precisa por estas inteligências, entre as quais, se pode mencionar, a luz, o tempo, a energia, etc.

Além disso, alguns corpos celestes maiores, como os buracos negros super-massivos, operam sob uma inteligência similar, mas em ordem a preservação e a continuação da vida cósmica, tal como purificadores da massa cósmica para colocá-la novamente tal como a “massa original”, por assim dizer; isto demonstra uma inteligência operacional na função e propósito dos buracos negros, assim como em todos os corpos celestes, e principalmente nas inteligências naturais incorpóreas.

Portanto, o fundamento do mundo, em primeiro lugar, está no Criador, que sustenta todas as coisas por Sua palavra (cf. Hb 1.3); em segundo lugar, está nas operações naturais que o Criador estabeleceu, nas quais, as inteligências naturais incorpóreas atuam, para fazer com que os movimentos da esfera das operações visíveis da natureza tenham seus efeitos açambarcados em todo o Orbe de maneira correta e produtiva.

Assim, em suma, isto é o que concerne a designação sobre o fundamento do mundo; e, para o momento, e de acordo com a dúvida de vossa dileção, é suficiente o que fora dito sobre o fundamento do mundo. 


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