1. Tendo em vista a crescente e numerosa onda de críticas
e exortações por parte de sacerdotes, tanto padres quanto pastores, quanto a
cristãos “intragáveis”, “chatos”, e similares, tem acendido um alerta, tanto em
relação a própria crítica quanto em relação as razões destas exortações.
2. Pois, em se tratando das coisas da fé, se pode
falar em cristãos chatos ou intragáveis, quando estes permitem o que a
Escritura proíbe e/ou quando proíbem o que a Escritura permite; além disso, não
há chatice ou intragabilidade nas coisas da fé; portanto, se compreende que a
maior parte das criticas e/ou exortações feitas em relação a cristãos intragáveis
se deve, em grande parte, não a que estes realmente assim o sejam, mas pelo
fato de que se tem arrolado tantos falsos epítetos sobre o que significa ser
cristão, e se tem aceitados tantas práticas infames como algo normal, e se tem
cometido tantos abusos litúrgicos, etc., que ao ocorrer alguma firmeza na fé,
mesmo a mais simples, sob a sobriedade que as Escrituras ensinam, logo, os
fiéis firmes na fé passam a ser rotulados de chatos, intragáveis, etc.
3. Além disso, para se evitar tanto a libertinagem
quanto o farisaísmo em relação a fé, se deve ter em mente pelo menos dois
princípios gerais: primeiro, não esquizofrenizar a compreensão sobre as coisas
da fé, isto é, não perverter a consciência de santidade, pois, como diz a
Escritura: “não chameis de impuro o que Deus tornou puro” (At 10.15);
ora, não se pode chamar o que é santo de pecaminoso, e nem chamar de pecaminoso
o que é santo; e isto em tudo o que diz respeito as coisas da fé. A firmeza da
fé está em não enveredar por vias além das que Deus revelou em Sua Santa
Palavra.
Segundo, não deixar de guardar e cumprir a Palavra de
Deus, pois, quem ama a Deus guarda e cumpre os seus mandamentos (cf. Jo 14.21),
isto é, vive de acordo com a Sua Palavra; até mesmo, porque aqueles que
dizendo-se cristãos, mas negam os preceitos bíblicos, em palavras e ações, na
verdade, são aqueles que na teologia veterotestamentária são tidos como os que
se esquecem de Deus; e os que se esquecem de Deus, ou seja, os que não cumprem
seus mandamentos, são lançados no inferno (cf. Sl 9.17).
4. Portanto, há de se distinguir entre a firmeza da fé
e o farisaísmo; o farisaísmo busca engendrar princípios e preceitos aos outros,
além daqueles que estão na Escritura, ao mesmo tempo em que buscam estes
preceitos nos outros enquanto os próprios não os praticam; são aqueles que o
Senhor Jesus chama de sepulcros caiados (cf. Mt 23.27); no entanto, se tem
também o perigo de criticar de farisaísmo, os que buscam viver na firmeza da
fé, e, até pior, geralmente se critica de farisaísmo aqueles que exortam os que
já estão calcinados nas labaredas da libertinagem.
Pois, os libertinos, isto é, aqueles que permitem o
que as Escrituras proíbem, na verdade, não suportam ver e ouvir as críticas
daqueles que tem a firmeza na fé, e, as mais das vezes, os libertinos se
vociferam contra os que buscam a firmeza na fé com as seguintes expressões: “só
você está certo”, “somente você é dono da verdade”, “você é o
santão”, e coisas similares, que pelo tom do escárnio, se dá para perceber
que provém de um libertino.
5. Assim, não se deve cair nem no farisaísmo, proibir
o que a Escritura permite, nem na libertinagem, permitir o que a Escritura
proíbe; sem se incorrer nestes dois erros, não se tem cristãos chatos e/ou intragáveis.
Por isso, a firmeza na fé depende de estar em concórdia com a Sagrada
Escritura; pois, o fiel deve ter fé em tudo quanto está escrito na Sagrada
Escritura; Santo Tomás de Aquino diz que devemos ter fé quanto a tudo o que é
transmitido na Sagrada Escritura (cf. STh IIaIIae, q. 1, a. 1, ad. 2).
Portanto, se está em conformidade com a Escritura,
seja uma proibição, seja uma permissão, o que cumpre ao fiel é obedecer e
seguir o que está escrito, e ponto; não é a incapacidade hermenêutica de
sacerdotes (padres ou pastores), ou a falta de conhecimento bíblico de leigos,
que muda os parâmetros bíblicos, principalmente em questões morais; tendo isto
em mente, se consegue compreender que os aferidores da chatice alheia, as mais
das vezes, são ou libertinos vorazes, ou então fariseus disfarçados com uma
falsa misericórdia; estes são os verdadeiros intragáveis, porque causam “náuseas”
em Deus (cf. Ap 3.15-16).
E parece isto ser suficiente para o presente momento, como uma breve, suscinta e adequada resposta aos aferidores de chatice nas coisas referentes a fé.
θεῷ χάρις!
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