29/06/2025

Breve Explicação sobre a Utilidade e os Limites do Método Escolástico

1. O método escolástico é um modo sobre-excelente de desenvolver reflexões racionais; todavia, não é dos mais fáceis a serem utilizados, pois conquanto seja um método simples requer daqueles que do mesmo se utilizam uma completa aquiescência para com a verdade somado a sinceridade na busca pela própria verdade; todas as críticas infundadas contra este método, geralmente são feitas por aqueles que dizendo buscar a verdade são movidos pela insolência e pela luxúria; e Boécio já houvera afirmado que os insolentes e luxuriosos não compreendem os mistérios da brevidade (cf. De Hebd., prol.), algo inerente ao método escolástico. 

2. Por isso, o método escolástico tem uma grande utilidade, embora também tenha seus limites; grande utilidade, dado a ser um método racional excelente para solucionar problemas teoréticos ao mesmo tempo em que mantém nas reflexões a perspectiva dialogal; limites, porque dado a busca por precisão inerente a este método, isso pode gerar jactância e petulância, pois a vanglória que permanece suscita a jactância, como bem afirmara São Máximo o Confessor; além disso, tal tipo de jactância tende a desconsiderar os limites da capacidade humana, levando a uma confiança demasiada nas potências humanas, numa espécie de idealismo.

3. Portanto, dado sua utilidade e tendo em vista seus limites, a elucubração sobre o método escolástico tem sua validade e importância; pois, como Hans Urs von Balthasar dissera, a teologia da escola é dialógica, isto é, procede por meio do diálogo; a questão (quaestione), tem uma estrutura dialética que é fundamentalmente diálogo; por isso, o método escolástico, por meio da questão, procede de modo similar àquilo que o Filósofo estabelecera em muitos de seus escritos, o procedimento de analisar as principais opiniões sobre determinado assunto a fim de abalizá-lo e melhor estruturá-lo; o método escolástico é apenas uma forma mais precisa e mais adequada de chegar a tais avanços racionais, necessários para a vida humana.

4. Mas, é justamente os contornos dialogais que fazem do método escolástico algo excelente para a resolução de problemas teoréticos, não por vanglória mas em função da própria verdade; neste sentido, seja em qual âmbito for, a utilização do método escolar sempre é benéfica e salutar; e mesmo na teologia, tal procedimento tem muito a contribuir, desde que se saiba seus limites, pois mesmo o mais preciso e excelente entre os métodos de raciocínio já utilizados pelos homens ainda sim é totalmente insuficiente ao lidar com os mistérios da divina revelação; e não saber estes limites e não entendê-los leva a petulância, tal como se mostra evidente em muitos dos escolásticos latinos; assim, em se tratando da filosofia, e da soluções de problemas aporéticos seja em qual área do saber for, o método escolástico tem muito a ajudar e a pontilhar caminhos mais excelentes no lume da luz interior.

5. Deste modo, ao se utilizar deste método na solução de problemas teoréticos, o faço com o único objetivo de abalizar estes problemas e dissolvê-los em ordem a uma melhor compreensão de acordo com a reta razão, e isto, evidentemente, para glorificar ao Senhor em doutrinas; e, quanto a utilização deste método em assuntos teológicos, é devido a que, em certos aspectos se faz necessário um entendimento mais abalizado racionalmente, dado a confusões e heresias que algumas ambiguidades podem gerar, o que, a utilização do método da questão é muito salutar para abalizar.

Com isso, seja na filosofia seja na teologia o método escolástico tem muito a oferecer, seja na lição, seja na questão, ou ainda na quodlibet; aliás, o espírito escolástico sempre é eficaz, desde que não decaia em petulância ou jactância; quando isso ocorre já não é mais espírito escolástico, mas petulância escolástica. E, neste sentido, se tem o grande exemplo de São Gregório Palamas, o qual tivera um espírito escolástico, mas não decaiu no pedantismo, pois manteve-se em honra a verdade na segurança da própria verdade e não de sua sapiência.

6. Assim sendo, em meio aos turbilhões de doutrinas estranhas a reta razão que é propagada em tempos hodiernos, o espírito escolástico é de muita valia; pois, em meio as confusões terríveis que assolam a racionalidade do mundo hodierno, nada melhor do que contrapô-la, com humildade, mas com segurança e resolução, a antiga sabedoria dos verdadeiros filósofos e aos esplendores da sapiência dos Padres da Igreja; e o melhor modo, certamente, seria retomar com sinceridade e devoção a verdade, o espírito escolástico; sem pedantismo e soberba nas coisas espirituais, mas com firmeza e resolução nas coisas racionais.

Ora, certamente, a utilidade do método escolástico está em o mesmo servir de guia na busca pela verdade, com temor e humildade; na verdade, diante da luxuria e da insolência da quase totalidade dos filósofos modernos, a humildade do método escolástico certamente gera um grande desconcerto; mas, com certeza, diante das confusões de princípios, da crescente destruição da inteligência por ideologias nefastas, e de tantas outros aspectos que obnubilam a inteligência, a utilização do método escolástico é um fanal para dissolver as negruras que advém da obra maligna de impedir a razão humana de funcionar.

7. Neste sentido, e para este propósito, certamente o espírito escolástico é muito útil e eficaz; contra isso, não há o que falar, apenas o cuidado e a vigilância com o pedantismo e a jactância em relação as coisas da fé; e, escrevo estas breves palavras, como uma espécie de prestação de contas do porque me utilizo do método escolástico em escritos filosóficos, e mesmo em alguns escritos teológicos.

E que isso não cause estranheza, mas imitando o exemplo de São Gregório Palamas, no espírito escolástico, e imitando o exemplo de São Genádio Scholarius, com o aristotelismo, me utilizarei sempre que necessário do método escolástico.

No entanto, ao me utilizar do método escolástico jamais tem por intuito o sobressair-se aos demais, mas pura e simplesmente, através da solução de problemas teoréticos, glorificar ao Senhor em doutrinas. 

θεῷ χάρις


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