1. O método escolástico é um modo sobre-excelente de
desenvolver reflexões racionais; todavia, não é dos mais fáceis a serem
utilizados, pois conquanto seja um método simples requer daqueles que do mesmo
se utilizam uma completa aquiescência para com a verdade somado a sinceridade
na busca pela própria verdade; todas as críticas infundadas contra este método,
geralmente são feitas por aqueles que dizendo buscar a verdade são movidos pela
insolência e pela luxúria; e Boécio já houvera afirmado que os insolentes e
luxuriosos não compreendem os mistérios da brevidade (cf. De Hebd., prol.),
algo inerente ao método escolástico.
2. Por isso, o método escolástico tem uma grande
utilidade, embora também tenha seus limites; grande utilidade, dado a ser um
método racional excelente para solucionar problemas teoréticos ao mesmo tempo
em que mantém nas reflexões a perspectiva dialogal; limites, porque dado a
busca por precisão inerente a este método, isso pode gerar jactância e
petulância, pois a vanglória que permanece suscita a jactância, como bem
afirmara São Máximo o Confessor; além disso, tal tipo de jactância tende a
desconsiderar os limites da capacidade humana, levando a uma confiança
demasiada nas potências humanas, numa espécie de idealismo.
3. Portanto, dado sua utilidade e tendo em vista seus
limites, a elucubração sobre o método escolástico tem sua validade e
importância; pois, como Hans Urs von Balthasar dissera, a teologia da escola é
dialógica, isto é, procede por meio do diálogo; a questão (quaestione),
tem uma estrutura dialética que é fundamentalmente diálogo; por isso, o método
escolástico, por meio da questão, procede de modo similar àquilo que o Filósofo
estabelecera em muitos de seus escritos, o procedimento de analisar as principais
opiniões sobre determinado assunto a fim de abalizá-lo e melhor estruturá-lo; o
método escolástico é apenas uma forma mais precisa e mais adequada de chegar a
tais avanços racionais, necessários para a vida humana.
4. Mas, é justamente os contornos dialogais que fazem
do método escolástico algo excelente para a resolução de problemas teoréticos,
não por vanglória mas em função da própria verdade; neste sentido, seja em qual
âmbito for, a utilização do método escolar sempre é benéfica e salutar; e mesmo
na teologia, tal procedimento tem muito a contribuir, desde que se saiba seus
limites, pois mesmo o mais preciso e excelente entre os métodos de raciocínio
já utilizados pelos homens ainda sim é totalmente insuficiente ao lidar com os
mistérios da divina revelação; e não saber estes limites e não entendê-los leva
a petulância, tal como se mostra evidente em muitos dos escolásticos latinos;
assim, em se tratando da filosofia, e da soluções de problemas aporéticos seja
em qual área do saber for, o método escolástico tem muito a ajudar e a
pontilhar caminhos mais excelentes no lume da luz interior.
5. Deste modo, ao se utilizar deste método na solução
de problemas teoréticos, o faço com o único objetivo de abalizar estes
problemas e dissolvê-los em ordem a uma melhor compreensão de acordo com a reta
razão, e isto, evidentemente, para glorificar ao Senhor em doutrinas; e, quanto
a utilização deste método em assuntos teológicos, é devido a que, em certos
aspectos se faz necessário um entendimento mais abalizado racionalmente, dado a
confusões e heresias que algumas ambiguidades podem gerar, o que, a utilização
do método da questão é muito salutar para abalizar.
Com isso, seja na filosofia seja na teologia o método
escolástico tem muito a oferecer, seja na lição, seja na questão, ou ainda na
quodlibet; aliás, o espírito escolástico sempre é eficaz, desde que não decaia
em petulância ou jactância; quando isso ocorre já não é mais espírito
escolástico, mas petulância escolástica. E, neste sentido, se tem o grande
exemplo de São Gregório Palamas, o qual tivera um espírito escolástico, mas não
decaiu no pedantismo, pois manteve-se em honra a verdade na segurança da
própria verdade e não de sua sapiência.
6. Assim sendo, em meio aos turbilhões de doutrinas
estranhas a reta razão que é propagada em tempos hodiernos, o espírito
escolástico é de muita valia; pois, em meio as confusões terríveis que assolam
a racionalidade do mundo hodierno, nada melhor do que contrapô-la, com
humildade, mas com segurança e resolução, a antiga sabedoria dos verdadeiros
filósofos e aos esplendores da sapiência dos Padres da Igreja; e o melhor modo,
certamente, seria retomar com sinceridade e devoção a verdade, o espírito
escolástico; sem pedantismo e soberba nas coisas espirituais, mas com firmeza e
resolução nas coisas racionais.
Ora, certamente, a utilidade do método escolástico
está em o mesmo servir de guia na busca pela verdade, com temor e humildade; na
verdade, diante da luxuria e da insolência da quase totalidade dos filósofos modernos,
a humildade do método escolástico certamente gera um grande desconcerto; mas,
com certeza, diante das confusões de princípios, da crescente destruição da
inteligência por ideologias nefastas, e de tantas outros aspectos que obnubilam
a inteligência, a utilização do método escolástico é um fanal para dissolver as
negruras que advém da obra maligna de impedir a razão humana de funcionar.
7. Neste sentido, e para este propósito, certamente o
espírito escolástico é muito útil e eficaz; contra isso, não há o que falar,
apenas o cuidado e a vigilância com o pedantismo e a jactância em relação as
coisas da fé; e, escrevo estas breves palavras, como uma espécie de prestação
de contas do porque me utilizo do método escolástico em escritos filosóficos, e
mesmo em alguns escritos teológicos.
E que isso não cause estranheza, mas imitando o
exemplo de São Gregório Palamas, no espírito escolástico, e imitando o exemplo
de São Genádio Scholarius, com o aristotelismo, me utilizarei sempre que
necessário do método escolástico.
No entanto, ao me utilizar do método escolástico jamais tem por intuito o sobressair-se aos demais, mas pura e simplesmente, através da solução de problemas teoréticos, glorificar ao Senhor em doutrinas.
θεῷ χάρις!
Nenhum comentário:
Postar um comentário