Proêmio
Ao ter refletido sobre a distinção entre riso e
sorriso noutro escrito, a fim de tornar mais fácil a compreensão de uma
distinção revelacional e racional a este respeito, surgiram uma série de
imbecilidades para tentar contestar as afirmações feitas neste e em outros
escritos; tendo em vista isso, resolvi, de maneira breve, evocar algumas
nótulas a mais a respeito da risada, para comprovar alguns princípios que foram
de antemão afirmados, e outros que ficaram imbuídos nas entrelinhas.
§ 1
A distinção entre riso e sorriso provém da Sagrada
Escritura, embora nem sempre as traduções captaram isso corretamente; todavia,
na língua de Camões fica mais fácil observar tal distinção; por exemplo, em Ec
7.6 se fala sobre o riso do tolo, para designar que é propriedade da tolice o
dar risada; além disso, em Lc 6.25 se fala um “ai” para os que dão risadas, o
que significa que o dar risada é estar sob o justo juízo de Deus; etc.; por
isso, seja em relação a reta razão, seja em relação a revelação, existe a
distinção entre riso e sorriso; o sorriso como expressão de alegria verdadeira
e virtude, o riso como expressão de soberba e de vícios na alma.
§ 2
A propriedade do riso é a irracionalidade; por isso,
onde há riso se teve alguma forma de impedimento da razão; e o impedimento da
razão é obra de Satanás, como afirma Tomás de Aquino; então, onde há riso se
tem evidência de obra demoníaca, bem como se tem a demonstração de como o
demônio vela as consciências dos indivíduos para que estes não se apercebam da
própria miséria; o riso, no sentido pascalino, é manifestação de um divertissement.
§ 3
A risada expressa zombaria, escárnio e arrogância;
zombaria contra o objeto da risada; escárnio contra o “eu” que é escarnecido; e
arrogância posto ser a risada a soberba pessoal se instaurando sobre outrem, o
assenhoramento a partir da soberba, também chamado de libido dominandi.
Portanto, a risada é uma tríplice manifestação infernal.
§ 4
Além disso, no antigo oriente, era comum se expressar
sentimentos e/ou emoções na alma através de sons vocálicos, bem como através de
ironias elogiosas (deboche ou escárnio); por exemplo, o salmista afirma que os
ímpios, aqueles que tem a alma dominada por vícios, dão ganidos como cães (cf.
Sl 59.6); e outro exemplo, o salmista evoca o escárnio de seus inimigos que era
expresso de dois modos (cf. Sl 70.3): primeiro, com uma ironia elogiosa (no
caso aqui, escárnio), tal como “muito bem”, “bom”, etc., mas no sentido de
escárnio, não de elogio sincero; segundo, através da risada. Ora, se tem várias
formas de risada; e qualquer forma de risada, seja por som vocálico, por
escárnio, por escrito, etc., de maneira formal ou informal, é manifestação
infernosa.
§ 5
Ademais, se fala da risada como expressão de luxuria,
manifesto nos desejos insanos pelo que é de outrem; na verdade, a Escritura
fala dos homens (e mulheres) que adulteravam em bandos, e manifestavam a
luxuria rinchando cada um à mulher de seu próximo (cf. Jr 5.7-8), ou seja, o
riso é expressão de desejo desordenado e de desejo movido pelo demônio; ora,
isto demonstra que a risada é demonstração de luxuria, bem como também pode ser
manifestação de desejo pelo que pertence a outrem.
***
Ora, estas são algumas nótulas evocadas a mais a
respeito da risada; espero que, em concórdia com outros escritos sobre este
assunto, sirva para aclarar ainda mais este tema importantíssimo, e que confute
as imbecilidades que foram afirmadas a este respeito.
θεῷ χάρις!
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