A filosofia de Nietzsche possui singularidade no
templo da filosofia; e embora não seja propriamente um discípulo de Nietzsche, tenho
alta estima por Nietzsche; confesso minha predileção por Nietzsche em relação a
quase todos os filósofos da modernidade; não evoco aqui minha grandíssima
estima e admiração por Platão e Aristóteles, o que por si já está clarividente
em outros escritos, pois esses são superiores a Nietzsche, agora quase todos os
outros não; aliás, se se perguntar se no séc. XX tem algum filósofo maior ou
tão grande como Nietzsche, apenas dois nomes seriam colocados em voga: Husserl
e Lavelle.
Além disso, ao ler a filosofia moderna, desde o
renascimento até as obras mais atuais de filosofia, constatei que Nietzsche é
muito melhor e muito mais adequado do que Descartes, Voltaire, Kant, Hegel,
Heidegger, Sartre, Foucault, e cia.
E, embora a obra de Nietzsche tenha a suma dificuldade
do método utilizado, a ínvia metodologia dialética utilizada de maneira
originalíssima por Nietzsche, se sobrelevar a esta dificuldade é garantia de
compreensão de uma das mais belas filosofias; o fulgor da filosofia de
Nietzsche esconde-se por detrás da carranca dialética da crítica aguda.
E, digo mais, no templo de filosofia, Husserl
admitiria Nietzsche a entrar e a sentar-se logo atrás de Platão e Aristóteles; e
digo isso em honra a Nietzsche, sem nenhum exagero; Nietzsche é digo de estar
no templo da filosofia, enquanto muitos filósofos mais badalados e mais
estudados pela classe universitária não o são; pois, Nietzsche é muito citado,
mas muito pouco compreendido; é muito ideologizado, mas muito pouco eficazmente
utilizado.
Por isso, considero de suma importância a correta
explicação de Nietzsche; aliás, é uma das maiores necessidades da filosofia
contemporânea; e poucos são o que fizeram isso de maneira adequada; tendo isso
em vista, resolvi escrever sobre a filosofia de Nietzsche; e isto de três
maneiras: primeiro, em artigos e ensaios sobre aspectos da filosofia de
Nietzsche; segundo, num livro sobre a filosofia de Nietzsche, seguindo o
exemplo de Eugen Fink; terceiro, explicar as obras de Nietzsche, através de
comentários que possam ser lidos em concórdia com a leitura das obras do
próprio Nietzsche.
E em relação a estes três aspectos, iniciarei pelo
primeiro e pelo último, com escritos sobre a filosofia de Nietzsche e com comentários
as obras de Nietzsche; e ao fazê-lo, aproveito também para fornecer um quadro
geral da filosofia de Nietzsche, a fim de compreender realmente o que Nietzsche
fizera como filósofo; e a medida da explicação de cada obra de Nietzsche, se
tornará mais fácil de se entender no que realmente consiste a filosofia de
Nietzsche, e assim se ter uma introdução adequada para poder escrever de modo
adequado um livro sobre a filosofia de Nietzsche.
Pois, no sentido correto, uma análise da filosofia de Nietzsche não seria fácil de se entender; por isso, ao ter estes escritos antes de uma análise mais aprofundada, é de fundamental importância, não só para abalizar o que será apresentado nesta análise, mas também para se ter outros instrumentos, disponíveis a todos quantos tiverem algum interesse, sobre o todo da filosofia de Nietzsche.
§ 1. A Estrutura da Obra de Nietzsche.
Ora, em primeiro lugar se apresenta um quadro
incompleto da obra de Nietzsche, no qual se tem se tem a filosofia de Nietzsche
de acordo com o seu desenvolvimento linear; não são evocadas todas as obras,
mas as principais; pois, os outros escritos de Nietzsche estão de uma forma ou
de outra ligados a estes; e para compreender isso, é só acoplar os escritos de
mesmo assunto ou de data próxima, aos escritos que estão dispostos neste quadro.
Assim, eis a estrutura formal da filosofia de Nietzsche:
α. A PERSPECTIVA FILOSÓFICA.
I. A Filosofia na Época Trágica dos Gregos (1873).
II. Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral
(1873).
III. Considerações Extemporâneas (1873/74).
β. A FILOSOFIA, EXERCÍCIO DOS ESPÍRITOS LIVRES.
IV. Humano, Demasiadamente Humano (1878-80).
V. Aurora (1880/81).
VI. A Gaia Ciência (1881/82).
γ. AS CAUSAS E AS CONSEQUÊNCIAS DA CRISE DA HUMANIDADE.
VII. Assim Falou Zaratustra (1883/85).
VIII. Para Além do Bem e do Mal (1885/86).
IX. A Genealogia da Moral (1887).
δ. A SOLUÇÃO
PARA CRISE, A FILOSOFIA CRÍTICA.
X. Crepúsculo dos Ídolos (1888).
XI. O Anticristo (1888).
XII. Ecce Homo (1888).
XIII. A Vontade de Poder (póstumo).
Esta é a estrutura formal da obra de Nietzsche, de
acordo com a ordem que ele desenvolvimento sua filosofia, num período de cerca
de 15 anos (1873-1888); embora o pensamento de Nietzsche não reduza apenas a
este período, é neste período que sua maturidade filosófica se cristaliza e toma
forma final; e conquanto tenha sofrido vários revezes com a saúde e problemas
outros, a filosofia de Nietzsche atingiu uma completude nestas obras; não uma
completude total, mas uma completude concernente a um verdadeiro filósofo.
Por isso, de suas análises sobre o espírito na música,
dos primeiros filósofos, até sua autobiografia filosófica (Ecce Homo),
Nietzsche conseguiu dispor tudo aquilo que entendeu como seu propósito como
filósofo; e, ao fim da vida preparou sua magnus opum, que ficou
incompleta, a “Vontade de Poder”, sua melhor obra, a mais enigmática, a
mais genial e a mais profunda; esta é a summae de Nietzsche; do mesmo
como na teologia se afirma que as summae ficam incompletas, na filosofia
também: as maiores obras geralmente ficam incompletas e inconclusas.
E nesta obra Nietzsche desvendou e desvelou os
mistérios que dominam a cultura moderna, e os explicou; embora seja uma obra
dificílima, e tenha ficado incompleta e em grande parte fragmentária, com esta
obra Nietzsche atingiu seu verdadeiro propósito como filósofo; e a estrutura
formal da obra de Nietzsche termina justamente neste livro, que deve ser a
última obra de Nietzsche a ser lida, posto ser a mais dificultosa de suas
obras.
Assim, se constata que Nietzsche concluiu sua obra como filósofo; e devemos dar a graças a Deus por isso; pois, ele conseguiu tornar clarividente o que ninguém conseguiu ver e compreender, a “vontade” que move o inconsciente cultural, e que passou a dominar todos os homens inconscientemente; por isso, a compreensão sobre a estrutura formal da obra de Nietzsche fornece um panorama da crise que assola os homens na modernidade, que se tornou mais aguda e abrupta na contemporaneidade, isto é, depois das guerras mundiais.
§ 2. A Ordem do Comentário a Nietzsche.
Embora, a estrutura da obra de Nietzsche, inclusive
para a análise da mesma, esteja disposta na estrutura evocada acima, para uma
melhor compreensão da obra de Nietzsche se deve seguir em outra ordem; pois, como
para compreensão se deve ir do mais fácil ao mais difícil, então, se procurará
fazer o mesmo com relação a obra de Nietzsche; e conquanto a dificuldade das
obras de Nietzsche, num geral, tenha o mesmo grau de dificuldade, ao propor uma
ordem para análise e compreensão, se compreenderá melhor o que Nietzsche fizera
como filósofo.
Pois, Nietzsche não desenvolvera uma filosofia
sistêmica; como se sabe ele tinha grande aversão por filosofia sistêmica; então
ele foi escrevendo, e a medida que aparecia um problema ele escrevia e procurava
apresentar uma solução a este problema; por isso, a ordem que ele publicou os
escritos não está exatamente numa ordem sistemática; a ordem de análise
proposta aqui tem justamente este propósito identificar a linha orgânica de
pensamento de Nietzsche e explicá-la.
Por isso, para quem quer compreender a Nietzsche, se
aconselha a seguir esta ordem e não a estrutura evocada acima; embora, após
concluir o comentário a estas obras eles devam ser dispostos na estrutura que
evoquei acima, a da estrutura formal, mas para o entendimento inicial se
aconselha a seguir esta ordem abaixo.
Assim, eis a estrutura orgânica da filosofia de Nietzsche:
α. A CRÍTICA COMO FORMA DE ANATOMIA DAS CAUSAS DA CRISE.
I. Ecce Homo (1888).
II. Crepúsculo dos Ídolos (1888).
III. O Anticristo (1888).
β. A FILOSOFIA DA CRISE.
IV. Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral
(1873).
V. Considerações Extemporâneas (1873/74).
VI. A Filosofia na Época Trágica dos Gregos
(1873).
γ. O FILÓSOFO DIANTE DA CRISE.
VII. Humano, Demasiadamente Humano (1878-80).
VIII. Aurora (1880/81).
IX. A Gaia Ciência (1881/82).
δ. A FILOSOFIA DO PORVIR.
X. Assim Falou Zaratustra (1883/85).
XI. Para Além do Bem e do Mal (1885/86).
XII. A Genealogia da Moral (1887).
ε. O DESVELAR DO MOTIVO-BASE DA CULTURA.
XIII. A Vontade de Poder (póstumo).
Agora, se observe algo, a saber, que a ordem de
análise está em concórdia com a disposição das obras, apenas com a perspectiva
da estrutura orgânica diante do todo da filosofia de Nietzsche; embora as obras
estejam dispostas em forma diversa, é nesta ordem que o núcleo da filosofia de
Nietzsche se desenvolve. No § acima, se tem a estrutura formal da obra de
Nietzsche, neste § se tem a estrutura orgânica da obra de Nietzsche; e ambos
estão em inter-relação, e que se saiba corretamente integrá-las.
Na verdade, se deve entender a obra de Nietzsche de acordo com esta estrutura orgânica, e depois acoplar tal entendimento na estrutura formal; assim sendo, se seguirá esta ordem na publicação dos comentários a obra de Nietzsche, ao mesmo tempo em vista esta dialógica entre a estrutura formal e a estrutura orgânica; se se conseguir compreender adequadamente o que Nietzsche escrevera, então, se entenderá corretamente o que concerne a esta dialógica, imprescindível para se entender Nietzsche.
***
Deste modo, ao se colocar em pauta a explicação das
obras de Nietzsche, suas principais obras, diga-se de passagem, que não serão
comentários muito profundos, senão seriam necessárias milhares de páginas para
explicar cada um destes livros de maneira aprofundada; especificamente, meu
objetivo não é esse, até porque seria algo inalcançável.
Todavia, meu objetivo é fornecer as chaves de leitura
e as explicações basilares para se entender o que Nietzsche fizera e porque
fizera, a fim de que num futuro, talvez não muito distante, se possa ter os
instrumentos necessários para se extrair os ensinamentos de Nietzsche e
entendê-los corretamente.
E quando isso ocorrer de maneira correta, certamente se
retirará os epítetos de ateu, anti-cristão, anti-cristianismo de Nietzsche; e,
se poderá constatar, em consonância com outros escritos, que Kant e Hegel são
muito mais ateus do que Nietzsche; Kant e Hegel são satanazes, enquanto
Nietzsche é um homem, um simples ser humano que não temeu refletir criticamente
sobre todos os assuntos, ao mesmo tempo em que submeteu conscientemente Àquele
que lhe era Superior, a saber, Cristo. Isto certamente causará espanto em
todos, mas essa é a verdade sobre Nietzsche.
E que este projeto que aqui é evocado seja concluído, a
fim de que o Senhor Jesus Cristo seja glorificado através de doutrinas, e aqui
na explicação da filosofia de um homem que lhe estimou profundamente mesmo
estando longe da religião; com fé em Seu auxílio, e confiante de Sua graça para
levar a cabo tal projeto, concluo esta nótula informativa sobre o comentário a
Nietzsche.
θεῷ χάρις!
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