12/10/2025

Sobre o Comentário a Nietzsche

A filosofia de Nietzsche possui singularidade no templo da filosofia; e embora não seja propriamente um discípulo de Nietzsche, tenho alta estima por Nietzsche; confesso minha predileção por Nietzsche em relação a quase todos os filósofos da modernidade; não evoco aqui minha grandíssima estima e admiração por Platão e Aristóteles, o que por si já está clarividente em outros escritos, pois esses são superiores a Nietzsche, agora quase todos os outros não; aliás, se se perguntar se no séc. XX tem algum filósofo maior ou tão grande como Nietzsche, apenas dois nomes seriam colocados em voga: Husserl e Lavelle.

Além disso, ao ler a filosofia moderna, desde o renascimento até as obras mais atuais de filosofia, constatei que Nietzsche é muito melhor e muito mais adequado do que Descartes, Voltaire, Kant, Hegel, Heidegger, Sartre, Foucault, e cia.

E, embora a obra de Nietzsche tenha a suma dificuldade do método utilizado, a ínvia metodologia dialética utilizada de maneira originalíssima por Nietzsche, se sobrelevar a esta dificuldade é garantia de compreensão de uma das mais belas filosofias; o fulgor da filosofia de Nietzsche esconde-se por detrás da carranca dialética da crítica aguda.

E, digo mais, no templo de filosofia, Husserl admitiria Nietzsche a entrar e a sentar-se logo atrás de Platão e Aristóteles; e digo isso em honra a Nietzsche, sem nenhum exagero; Nietzsche é digo de estar no templo da filosofia, enquanto muitos filósofos mais badalados e mais estudados pela classe universitária não o são; pois, Nietzsche é muito citado, mas muito pouco compreendido; é muito ideologizado, mas muito pouco eficazmente utilizado.

Por isso, considero de suma importância a correta explicação de Nietzsche; aliás, é uma das maiores necessidades da filosofia contemporânea; e poucos são o que fizeram isso de maneira adequada; tendo isso em vista, resolvi escrever sobre a filosofia de Nietzsche; e isto de três maneiras: primeiro, em artigos e ensaios sobre aspectos da filosofia de Nietzsche; segundo, num livro sobre a filosofia de Nietzsche, seguindo o exemplo de Eugen Fink; terceiro, explicar as obras de Nietzsche, através de comentários que possam ser lidos em concórdia com a leitura das obras do próprio Nietzsche.

E em relação a estes três aspectos, iniciarei pelo primeiro e pelo último, com escritos sobre a filosofia de Nietzsche e com comentários as obras de Nietzsche; e ao fazê-lo, aproveito também para fornecer um quadro geral da filosofia de Nietzsche, a fim de compreender realmente o que Nietzsche fizera como filósofo; e a medida da explicação de cada obra de Nietzsche, se tornará mais fácil de se entender no que realmente consiste a filosofia de Nietzsche, e assim se ter uma introdução adequada para poder escrever de modo adequado um livro sobre a filosofia de Nietzsche.

Pois, no sentido correto, uma análise da filosofia de Nietzsche não seria fácil de se entender; por isso, ao ter estes escritos antes de uma análise mais aprofundada, é de fundamental importância, não só para abalizar o que será apresentado nesta análise, mas também para se ter outros instrumentos, disponíveis a todos quantos tiverem algum interesse, sobre o todo da filosofia de Nietzsche.

§ 1. A Estrutura da Obra de Nietzsche.

Ora, em primeiro lugar se apresenta um quadro incompleto da obra de Nietzsche, no qual se tem se tem a filosofia de Nietzsche de acordo com o seu desenvolvimento linear; não são evocadas todas as obras, mas as principais; pois, os outros escritos de Nietzsche estão de uma forma ou de outra ligados a estes; e para compreender isso, é só acoplar os escritos de mesmo assunto ou de data próxima, aos escritos que estão dispostos neste quadro.

Assim, eis a estrutura formal da filosofia de Nietzsche:

α. A PERSPECTIVA FILOSÓFICA.

I. A Filosofia na Época Trágica dos Gregos (1873).

II. Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral (1873).

III. Considerações Extemporâneas (1873/74).

β. A FILOSOFIA, EXERCÍCIO DOS ESPÍRITOS LIVRES.

IV. Humano, Demasiadamente Humano (1878-80).

V. Aurora (1880/81).

VI. A Gaia Ciência (1881/82).

γ. AS CAUSAS E AS CONSEQUÊNCIAS DA CRISE DA HUMANIDADE.

VII. Assim Falou Zaratustra (1883/85).

VIII. Para Além do Bem e do Mal (1885/86).

IX. A Genealogia da Moral (1887).

δ. A SOLUÇÃO PARA CRISE, A FILOSOFIA CRÍTICA.

X. Crepúsculo dos Ídolos (1888).

XI. O Anticristo (1888).

XII. Ecce Homo (1888).

XIII. A Vontade de Poder (póstumo).

Esta é a estrutura formal da obra de Nietzsche, de acordo com a ordem que ele desenvolvimento sua filosofia, num período de cerca de 15 anos (1873-1888); embora o pensamento de Nietzsche não reduza apenas a este período, é neste período que sua maturidade filosófica se cristaliza e toma forma final; e conquanto tenha sofrido vários revezes com a saúde e problemas outros, a filosofia de Nietzsche atingiu uma completude nestas obras; não uma completude total, mas uma completude concernente a um verdadeiro filósofo.

Por isso, de suas análises sobre o espírito na música, dos primeiros filósofos, até sua autobiografia filosófica (Ecce Homo), Nietzsche conseguiu dispor tudo aquilo que entendeu como seu propósito como filósofo; e, ao fim da vida preparou sua magnus opum, que ficou incompleta, a “Vontade de Poder”, sua melhor obra, a mais enigmática, a mais genial e a mais profunda; esta é a summae de Nietzsche; do mesmo como na teologia se afirma que as summae ficam incompletas, na filosofia também: as maiores obras geralmente ficam incompletas e inconclusas.

E nesta obra Nietzsche desvendou e desvelou os mistérios que dominam a cultura moderna, e os explicou; embora seja uma obra dificílima, e tenha ficado incompleta e em grande parte fragmentária, com esta obra Nietzsche atingiu seu verdadeiro propósito como filósofo; e a estrutura formal da obra de Nietzsche termina justamente neste livro, que deve ser a última obra de Nietzsche a ser lida, posto ser a mais dificultosa de suas obras.

Assim, se constata que Nietzsche concluiu sua obra como filósofo; e devemos dar a graças a Deus por isso; pois, ele conseguiu tornar clarividente o que ninguém conseguiu ver e compreender, a “vontade” que move o inconsciente cultural, e que passou a dominar todos os homens inconscientemente; por isso, a compreensão sobre a estrutura formal da obra de Nietzsche fornece um panorama da crise que assola os homens na modernidade, que se tornou mais aguda e abrupta na contemporaneidade, isto é, depois das guerras mundiais. 

§ 2. A Ordem do Comentário a Nietzsche.

Embora, a estrutura da obra de Nietzsche, inclusive para a análise da mesma, esteja disposta na estrutura evocada acima, para uma melhor compreensão da obra de Nietzsche se deve seguir em outra ordem; pois, como para compreensão se deve ir do mais fácil ao mais difícil, então, se procurará fazer o mesmo com relação a obra de Nietzsche; e conquanto a dificuldade das obras de Nietzsche, num geral, tenha o mesmo grau de dificuldade, ao propor uma ordem para análise e compreensão, se compreenderá melhor o que Nietzsche fizera como filósofo.

Pois, Nietzsche não desenvolvera uma filosofia sistêmica; como se sabe ele tinha grande aversão por filosofia sistêmica; então ele foi escrevendo, e a medida que aparecia um problema ele escrevia e procurava apresentar uma solução a este problema; por isso, a ordem que ele publicou os escritos não está exatamente numa ordem sistemática; a ordem de análise proposta aqui tem justamente este propósito identificar a linha orgânica de pensamento de Nietzsche e explicá-la.

Por isso, para quem quer compreender a Nietzsche, se aconselha a seguir esta ordem e não a estrutura evocada acima; embora, após concluir o comentário a estas obras eles devam ser dispostos na estrutura que evoquei acima, a da estrutura formal, mas para o entendimento inicial se aconselha a seguir esta ordem abaixo.

Assim, eis a estrutura orgânica da filosofia de Nietzsche:

α. A CRÍTICA COMO FORMA DE ANATOMIA DAS CAUSAS DA CRISE.

I. Ecce Homo (1888).

II. Crepúsculo dos Ídolos (1888).

III. O Anticristo (1888).

β. A FILOSOFIA DA CRISE.

IV. Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral (1873).

V. Considerações Extemporâneas (1873/74).

VI. A Filosofia na Época Trágica dos Gregos (1873).

γ. O FILÓSOFO DIANTE DA CRISE.

VII. Humano, Demasiadamente Humano (1878-80).

VIII. Aurora (1880/81).

IX. A Gaia Ciência (1881/82).

δ. A FILOSOFIA DO PORVIR.

X. Assim Falou Zaratustra (1883/85).

XI. Para Além do Bem e do Mal (1885/86).

XII. A Genealogia da Moral (1887).

ε. O DESVELAR DO MOTIVO-BASE DA CULTURA.

XIII. A Vontade de Poder (póstumo).

Agora, se observe algo, a saber, que a ordem de análise está em concórdia com a disposição das obras, apenas com a perspectiva da estrutura orgânica diante do todo da filosofia de Nietzsche; embora as obras estejam dispostas em forma diversa, é nesta ordem que o núcleo da filosofia de Nietzsche se desenvolve. No § acima, se tem a estrutura formal da obra de Nietzsche, neste § se tem a estrutura orgânica da obra de Nietzsche; e ambos estão em inter-relação, e que se saiba corretamente integrá-las.

Na verdade, se deve entender a obra de Nietzsche de acordo com esta estrutura orgânica, e depois acoplar tal entendimento na estrutura formal; assim sendo, se seguirá esta ordem na publicação dos comentários a obra de Nietzsche, ao mesmo tempo em vista esta dialógica entre a estrutura formal e a estrutura orgânica; se se conseguir compreender adequadamente o que Nietzsche escrevera, então, se entenderá corretamente o que concerne a esta dialógica, imprescindível para se entender Nietzsche.

***

Deste modo, ao se colocar em pauta a explicação das obras de Nietzsche, suas principais obras, diga-se de passagem, que não serão comentários muito profundos, senão seriam necessárias milhares de páginas para explicar cada um destes livros de maneira aprofundada; especificamente, meu objetivo não é esse, até porque seria algo inalcançável.

Todavia, meu objetivo é fornecer as chaves de leitura e as explicações basilares para se entender o que Nietzsche fizera e porque fizera, a fim de que num futuro, talvez não muito distante, se possa ter os instrumentos necessários para se extrair os ensinamentos de Nietzsche e entendê-los corretamente.

E quando isso ocorrer de maneira correta, certamente se retirará os epítetos de ateu, anti-cristão, anti-cristianismo de Nietzsche; e, se poderá constatar, em consonância com outros escritos, que Kant e Hegel são muito mais ateus do que Nietzsche; Kant e Hegel são satanazes, enquanto Nietzsche é um homem, um simples ser humano que não temeu refletir criticamente sobre todos os assuntos, ao mesmo tempo em que submeteu conscientemente Àquele que lhe era Superior, a saber, Cristo. Isto certamente causará espanto em todos, mas essa é a verdade sobre Nietzsche.

E que este projeto que aqui é evocado seja concluído, a fim de que o Senhor Jesus Cristo seja glorificado através de doutrinas, e aqui na explicação da filosofia de um homem que lhe estimou profundamente mesmo estando longe da religião; com fé em Seu auxílio, e confiante de Sua graça para levar a cabo tal projeto, concluo esta nótula informativa sobre o comentário a Nietzsche.

θεῷ χάρις


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