19/05/2024

Declaração Teológica sobre a Dignidade dos Judeus

Prefácio.

Este escrito foi estabelecido tendo em vista a crescente onda de antissemitismo que se avolumou nos últimos meses dos anos de 2023, que se iniciou a partir do ataque de um grupo terrorista contra Israel em outubro de 2023; este antissemitismo se avolumou, e infelizmente influenciou muitos cristãos; diante desta situação, em novembro de 2023, escrevi esta declaração teológica, para demonstrar a dignidade dos judeus tendo em vista os ensinamentos bíblicos. E, de quando a escrevi a enviei para muitos locais, no intuito de procurar uma solução comum para refrear a influência nefasta do antissemitismo nos arraiais cristãos em vários locais no mundo.

A necessidade de uma declaração nestes termos se fez necessária, pois, junto com esta nova onda do antissemitismo, também se avolumou sobre os cristãos uma série de práticas anti-racionais; na verdade, sempre que o antissemitismo é evocado, é porque houve alguma corrupção e/ou destruição da racionalidade; na verdade, o antissemitismo sempre é algo irracional; assim sendo, se o antissemitismo for aceito e praticado por cristãos, é sinal que os próprios cristãos se tornaram anti-racionais; e o cristianismo quando se torna anti-racional, deixa de ser cristianismo. Pois, antissemitismo e cristianismo não se coadunam, até mesmo porque o antissemitismo uma vez semeado desemboca em anti-cristianismo.

E, nesta declaração se apresenta algumas pressuposições que demonstrem biblicamente a dignidade dos judeus; não somente racionalmente, mas fundamentalmente e principalmente teologicamente, para que os cristãos, sejam católicos, sejam protestantes, possam compreender a importância de Israel, bem como entender como devem entender e se posicionar a respeito de questões sobre o antissemitismo; deste modo, compreender que a afirmação da dignidade dos judeus por parte dos cristãos é parte do que se configura como “existência eclesial”; logo, a existência eclesial, entre tantas coisas, também tem as proposições a respeito de Israel e dos judeus, as quais, são apresentadas, ainda que de forma simples e sintética, através dos parágrafos evocados nesta declaração.

Com isso, que esta declaração sirva para ajuizar o entendimento dos cristãos sobre a dignidade dos judeus bem como para ajuizar a compreensão dos próprios cristãos sobre como devem compreender e entender Israel a partir dos princípios genuinamente cristãos.

Soli Deo Gloria!

In Nomine Iesus!

19 de maio de 2024.

 

Preâmbulo.

A atual situação do antissemitismo, novamente assombrando o solo da história, se tornou um problema urgente que deve ser combatido; não somente pela questão da liberdade religiosa, mas principalmente pela própria dignidade humana; devido a esta horrenda situação, é necessário a igreja evangélica se posicionar contra o antissemitismo e se pronunciar sobre a dignidade dos judeus. A diferença entre posições teológicas se torna menos importante diante da dignidade humana ante o terrorismo e ideologias totalitárias.

Diante desta realidade, reafirmamos os princípios da fé cristã e os princípios fundamentais dos direitos humanos, a fim de aclarar que todos os seres humanos, independente de raça, cor ou credo religioso, possuem a dignidade que lhes fora conferida pelo Criador. Portanto, ao reafirmarmos a dignidade dos judeus, reafirmamos a dignidade de todos os seres humanos, livres e iguais em direitos e deveres, como bem atesta a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Considerando estas e outras questões, levantadas novamente as pessoas de bem diante do crescente antissemitismo, é necessário reafirmar os princípios teológicos fundamentais sobre a dignidade dos judeus. E assim, confessamos em alto e bom tom as seguintes verdades:

 

Parágrafo 1.

§ 1. “Eis que não tosquenejará nem dormirá o guarda de Israel” (Sl 121.4).

O Senhor é o guarda de Israel; é o próprio Deus Todo-Poderoso quem protege a Israel e que vela pela segurança de Seu povo; isso confessamos em alto e bom tom, pois, o Deus que cuida de Seu povo não cochila e nem dorme.

Por isso, rejeitamos as dissuasões antissemitas que dizem que Deus não vela e não cuida de Israel; pois, tais dissuasões beiram ao ateísmo por não reconhecerem a Palavra de Deus e no que esta Palavra afirma sobre o cuidado de Deus para com Israel.

 

Parágrafo 2.

§ 2. “O SENHOR jurou a Davi com verdade e não se desviará dela: Do fruto do teu ventre porei sobre o teu trono” (Sl 132.11).

O Senhor estabeleceu como decreto eterno, colocar um descendente de Davi no trono para reinar perpetuamente; se o Senhor fez esta promessa, e jurou a Davi, logo, ele cumprirá; pois, Deus não é homem para que minta e nem filho do homem para que se arrependa (cf. Nm 23.19); portanto, as promessas de Deus são também para Israel, e tais promessa são verdadeiras e certas.

Por isso, rejeitamos as doutrinações antissemitas que dizem que tais promessas são invenções humanas e mentiras; as promessas de Deus não falham, e as promessas de Deus para com Israel se cumpriram cabalmente e se cumprirão cabalmente; a própria história é testemunha deste fato; logo, as doutrinações antissemitas são fruto da inveja e da maledicência comuns aos povos presos pela intolerância e pelo extremismo irracional.

 

Parágrafo 3.

§ 3. “Porque o SENHOR elegeu a Sião; desejou-a para sua habitação, dizendo: Este é o meu repouso para sempre; aqui habitarei, pois o desejei. Abençoarei abundantemente o seu mantimento; fartarei de pão os seus necessitados” (Sl 132.13-15).

O Senhor elegeu a Israel; fora Deus quem escolhera Israel para ser Sua propriedade exclusiva dentre os povos (cf. Êx 19.1-6); deste modo, o próprio Deus desejou Sião para sua habitação, para nela habitar perpetuamente; e por isso, o próprio Senhor abençoa abundantemente a Israel e abençoa aqueles que são necessitados; embora se tenha certa distinção entre o Israel da antiga aliança e o Israel da nova aliança, a promessa de Deus de cuidado se estende tanto ao Israel antigo quanto a Igreja; portanto, o Deus que cumpriu suas promessas em Cristo, ainda cuida de Israel mesmo que estes não creiam em Cristo como Senhor e Deus.

Por isso, rejeitamos a filosofia antissemita que diz que Israel não é mais objeto dos cuidados e da atenção de Deus; Israel continua sendo objeto da atenção e dos cuidados de Deus; todavia, se os judeus não crerem em Cristo não serão salvos (cf. Rm 3.9-26); assim sendo, o cuidado de Deus para com Israel se refere a existência de Israel e a preservação de Israel, já que o próprio Deus prometeu que abençoaria e fartaria o povo que desejou para Sua habitação. Pois, o Deus dos judeus também é o Deus dos gentios (cf. Rm 3.29): Deus cuida de Israel como dissera que cuidaria, e outorga a salvação a todos quantos confessam a Jesus Cristo como Senhor e Salvador (cf. Jo 1.12; Rm 10.9), seja judeu seja gentio.

 

Parágrafo 4.

§ 4. “que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, e as promessas; os quais são os pais, e dos quais é Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente” (Rm 9.4-5).

O Senhor outorgou a Israel o encargo revelacional; por isso, o Apóstolo afirma que dos israelitas é a adoção, a glória, os concertos, a lei, o culto e as promessas, isto é, tudo quanto diz respeito as instituições revelacionais do povo de Deus; os patriarcas são de Israel; e de Israel provêm o Senhor Jesus; portanto, de Israel vem todos os princípios das dádivas revelacionais que são consumadas e completadas em Jesus Cristo, e que se tornam dádivas outorgadas a todos quantos nEle creem (cf. Ef 1.3). Logo, Israel é o primeiro instrumento de Deus para ser deposito fidei, depositário da fé a fim de preservar o encargo revelacional para a posteridade, o qual após a morte e ressurreição de Cristo fora dispensado à Igreja.

Por isso, rejeitamos a falsa doutrina que afirma que Israel não tem nenhuma importância na esfera religiosa; a importância religiosa de Israel é indiscutível; e para os cristãos, a existência de Israel é de suma importância, pois sem Israel não haveria a adoção, não haveria a lei, não haveria os concertos, não haveria as promessas e não haveria Cristo; deste modo, a importância de Israel é pressuposta pela glória de Deus; se Israel existe, e se Israel tem sua importância de maneira indiscutível, isso é sinal clarividente da glória de Deus; a existência de Israel é prova da existência de Deus, e prova de que Deus vela e cuida de Israel; portanto se voltar contra Israel é lutar contra o próprio Deus.

 

Parágrafo 5.

§ 5. “Sejam confundidos e tornem atrás todos os que aborrecem a Sião!” (Sl 129.5).

O Senhor traz juízo a todos quantos se voltam contra Israel, contra todos aqueles que aborrecem a Sião; tal como dizia um antigo provérbio: “O Senhor trata as nações como as nações trataram os judeus” (frase atribuída a Benjamin Disraeli). Desde modo, é parte da compreensão do cuidado de Deus para com Israel o entendimento de que Deus pune aqueles que querem destruir a Israel; todas as nações que aborreceram a Israel foram despedaçadas e não existem mais; conquanto Israel tenha sofrido muito ao longo da história, o próprio Deus abençoara e preservara a existência de Israel; tal como diz a Escritura: “Se o Senhor dos Exércitos nos não deixara descendência, teríamos sido feitos como Sodoma e seríamos semelhantes a Gomorra” (Rm 9.29).

Por isso, rejeitamos a falsa concepção antissemita de que Israel é um povo cruel e bárbaro; na verdade, são os inimigos de Israel que são cruéis e bárbaros; pois, se não fora o Senhor, Israel não existiria mais; a poderosa mão de Deus que preservou a descendência de Israel ao longo da história diante de tantos ataques e das vilezas oriundas dos povos antissemitas: dos romanos aos árabes, dos comunistas aos nazistas, Deus tem preservado a descendência de Israel; tal como diz o salmista: “Se não fora o Senhor, que esteve ao nosso lado, ora, diga Israel: Se não fora o Senhor, que esteve ao nosso lado, quando os homens se levantaram contra nós, eles, então, nos teriam engolido vivos, quando a sua ira se acendeu contra nós” (Sl 124.1-3). Portanto, o Senhor guarda e protege a Israel e vela para que Israel continue a existir mesmo diante de tantos inimigos; deste modo, é vívido e preciso o axioma: todos aqueles que aborrecem a Israel são confundidos.


Parágrafo 6. 

§ 6. “Eis que porei Jerusalém como um copo de tremor para todos os povos” (Zc 12.2). “E acontecerá..., que farei de Jerusalém uma pedra pesada para todos os povos” (Zc 12.3).

O Senhor colocou Israel como cálice de tontear para todos os povos; é Israel o instrumento de Deus para colocar as nações em seu devido lugar, já que Jerusalém é uma pedra pesada para todos os povos; aqueles que apoiam e ajudam a Israel são abençoados por Deus (cf. Sl 122.6); já aqueles que aborrecem a Israel o Senhor faz de Israel uma pedra pesada para estes povos.

Por isso, rejeitamos a política totalitária que diz que Israel não tem importância política; a desvalorização de Israel do cenário político, através de doutrinas e práticas antissemitas, na verdade, advêm da inveja e da maledicência dos povos violentos; portanto, rejeitamos o antissemitismo envolto e velado na rejeição ou desvalorização de Israel do cenário político.

 

Parágrafo 7.

§ 7. “Jesus Cristo, Filho de Davi, Filho de Abraão” (Mt 1.1).

O Senhor, em sua infinita sabedoria e em seu eterno conselho, dignou-se estabelecer Israel como a nação do Messias; Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, nasceu judeu e viveu em Israel; além disso, a Escritura atribui a Ele dois dignos da profecia veterotestamentária, a saber, Filho de Davi, e Filho de Abraão; Filho de Davi simbolizando a linhagem real e o ofício real; Filho de Abraão, simbolizando a linhagem sanguínea e o cumprimento da promessa de Deus a Abraão (cf. Gn 12.1-3; Gl 3.13-14).

Por isso, rejeitamos a filosofia antissemita que diz que Israel não importância para a Igreja; a existência de Israel e a existência da Igreja tem uma linha de raciocínio básico que estabelece numa conexão intima e especial; conquanto se tenha as diferenças doutrinárias, o respeito e o amor para com Israel é parte da existência eclesial e da vida cristã, cumprindo assim a máxima do salmista: “Orai pela paz de Jerusalém! Prosperarão todos aqueles que te amam” (Sl 122.6).


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