Prefácio.
Este escrito foi estabelecido tendo
em vista a crescente onda de antissemitismo que se avolumou nos últimos meses
dos anos de 2023, que se iniciou a partir do ataque de um grupo terrorista
contra Israel em outubro de 2023; este antissemitismo se avolumou, e
infelizmente influenciou muitos cristãos; diante desta situação, em novembro de
2023, escrevi esta declaração teológica, para demonstrar a dignidade dos judeus
tendo em vista os ensinamentos bíblicos. E, de quando a escrevi a enviei para
muitos locais, no intuito de procurar uma solução comum para refrear a
influência nefasta do antissemitismo nos arraiais cristãos em vários locais no
mundo.
A necessidade de uma declaração
nestes termos se fez necessária, pois, junto com esta nova onda do
antissemitismo, também se avolumou sobre os cristãos uma série de práticas
anti-racionais; na verdade, sempre que o antissemitismo é evocado, é porque
houve alguma corrupção e/ou destruição da racionalidade; na verdade, o
antissemitismo sempre é algo irracional; assim sendo, se o antissemitismo for
aceito e praticado por cristãos, é sinal que os próprios cristãos se tornaram
anti-racionais; e o cristianismo quando se torna anti-racional, deixa de ser
cristianismo. Pois, antissemitismo e cristianismo não se coadunam, até mesmo
porque o antissemitismo uma vez semeado desemboca em anti-cristianismo.
E, nesta declaração se apresenta
algumas pressuposições que demonstrem biblicamente a dignidade dos judeus; não
somente racionalmente, mas fundamentalmente e principalmente teologicamente,
para que os cristãos, sejam católicos, sejam protestantes, possam compreender a
importância de Israel, bem como entender como devem entender e se posicionar a
respeito de questões sobre o antissemitismo; deste modo, compreender que a
afirmação da dignidade dos judeus por parte dos cristãos é parte do que se
configura como “existência eclesial”; logo, a existência eclesial, entre tantas
coisas, também tem as proposições a respeito de Israel e dos judeus, as quais,
são apresentadas, ainda que de forma simples e sintética, através dos
parágrafos evocados nesta declaração.
Com isso, que esta declaração sirva
para ajuizar o entendimento dos cristãos sobre a dignidade dos judeus bem como
para ajuizar a compreensão dos próprios cristãos sobre como devem compreender e
entender Israel a partir dos princípios genuinamente cristãos.
Soli Deo
Gloria!
In Nomine
Iesus!
19 de maio de 2024.
Preâmbulo.
A atual situação do antissemitismo,
novamente assombrando o solo da história, se tornou um problema urgente que
deve ser combatido; não somente pela questão da liberdade religiosa, mas
principalmente pela própria dignidade humana; devido a esta horrenda situação,
é necessário a igreja evangélica se posicionar contra o antissemitismo e se
pronunciar sobre a dignidade dos judeus. A diferença entre posições teológicas
se torna menos importante diante da dignidade humana ante o terrorismo e
ideologias totalitárias.
Diante desta realidade, reafirmamos
os princípios da fé cristã e os princípios fundamentais dos direitos humanos, a
fim de aclarar que todos os seres humanos, independente de raça, cor ou credo
religioso, possuem a dignidade que lhes fora conferida pelo Criador. Portanto,
ao reafirmarmos a dignidade dos judeus, reafirmamos a dignidade de todos os
seres humanos, livres e iguais em direitos e deveres, como bem atesta a
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Considerando estas e outras
questões, levantadas novamente as pessoas de bem diante do crescente
antissemitismo, é necessário reafirmar os princípios teológicos fundamentais
sobre a dignidade dos judeus. E assim, confessamos em alto e bom tom as
seguintes verdades:
Parágrafo 1.
§ 1. “Eis que não tosquenejará
nem dormirá o guarda de Israel” (Sl 121.4).
O Senhor é o guarda de Israel; é o
próprio Deus Todo-Poderoso quem protege a Israel e que vela pela segurança de
Seu povo; isso confessamos em alto e bom tom, pois, o Deus que cuida de Seu
povo não cochila e nem dorme.
Por isso, rejeitamos as dissuasões
antissemitas que dizem que Deus não vela e não cuida de Israel; pois, tais dissuasões
beiram ao ateísmo por não reconhecerem a Palavra de Deus e no que esta Palavra afirma
sobre o cuidado de Deus para com Israel.
Parágrafo 2.
§ 2. “O SENHOR jurou a Davi com
verdade e não se desviará dela: Do fruto do teu ventre porei sobre o teu trono”
(Sl 132.11).
O Senhor estabeleceu como decreto
eterno, colocar um descendente de Davi no trono para reinar perpetuamente; se o
Senhor fez esta promessa, e jurou a Davi, logo, ele cumprirá; pois, Deus não é
homem para que minta e nem filho do homem para que se arrependa (cf. Nm 23.19);
portanto, as promessas de Deus são também para Israel, e tais promessa são
verdadeiras e certas.
Por isso, rejeitamos as doutrinações
antissemitas que dizem que tais promessas são invenções humanas e mentiras; as
promessas de Deus não falham, e as promessas de Deus para com Israel se
cumpriram cabalmente e se cumprirão cabalmente; a própria história é testemunha
deste fato; logo, as doutrinações antissemitas são fruto da inveja e da
maledicência comuns aos povos presos pela intolerância e pelo extremismo
irracional.
Parágrafo 3.
§ 3. “Porque o SENHOR elegeu a
Sião; desejou-a para sua habitação, dizendo: Este é o meu repouso para sempre;
aqui habitarei, pois o desejei. Abençoarei abundantemente o seu mantimento;
fartarei de pão os seus necessitados” (Sl 132.13-15).
O Senhor elegeu a Israel; fora Deus
quem escolhera Israel para ser Sua propriedade exclusiva dentre os povos (cf.
Êx 19.1-6); deste modo, o próprio Deus desejou Sião para sua habitação, para
nela habitar perpetuamente; e por isso, o próprio Senhor abençoa abundantemente
a Israel e abençoa aqueles que são necessitados; embora se tenha certa
distinção entre o Israel da antiga aliança e o Israel da nova aliança, a
promessa de Deus de cuidado se estende tanto ao Israel antigo quanto a Igreja;
portanto, o Deus que cumpriu suas promessas em Cristo, ainda cuida de Israel
mesmo que estes não creiam em Cristo como Senhor e Deus.
Por isso, rejeitamos a filosofia
antissemita que diz que Israel não é mais objeto dos cuidados e da atenção de
Deus; Israel continua sendo objeto da atenção e dos cuidados de Deus; todavia,
se os judeus não crerem em Cristo não serão salvos (cf. Rm 3.9-26); assim
sendo, o cuidado de Deus para com Israel se refere a existência de Israel e a
preservação de Israel, já que o próprio Deus prometeu que abençoaria e fartaria
o povo que desejou para Sua habitação. Pois, o Deus dos judeus também é o Deus
dos gentios (cf. Rm 3.29): Deus cuida de Israel como dissera que cuidaria, e
outorga a salvação a todos quantos confessam a Jesus Cristo como Senhor e
Salvador (cf. Jo 1.12; Rm 10.9), seja judeu seja gentio.
Parágrafo 4.
§ 4. “que são israelitas, dos
quais é a adoção de filhos, e a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, e
as promessas; os quais são os pais, e dos quais é Cristo, segundo a carne, o
qual é sobre todos, Deus bendito eternamente” (Rm 9.4-5).
O Senhor outorgou a Israel o encargo
revelacional; por isso, o Apóstolo afirma que dos israelitas é a adoção, a
glória, os concertos, a lei, o culto e as promessas, isto é, tudo quanto diz
respeito as instituições revelacionais do povo de Deus; os patriarcas são de
Israel; e de Israel provêm o Senhor Jesus; portanto, de Israel vem todos os
princípios das dádivas revelacionais que são consumadas e completadas em Jesus
Cristo, e que se tornam dádivas outorgadas a todos quantos nEle creem (cf. Ef
1.3). Logo, Israel é o primeiro instrumento de Deus para ser deposito fidei,
depositário da fé a fim de preservar o encargo revelacional para a posteridade,
o qual após a morte e ressurreição de Cristo fora dispensado à Igreja.
Por isso, rejeitamos a falsa
doutrina que afirma que Israel não tem nenhuma importância na esfera religiosa;
a importância religiosa de Israel é indiscutível; e para os cristãos, a
existência de Israel é de suma importância, pois sem Israel não haveria a
adoção, não haveria a lei, não haveria os concertos, não haveria as promessas e
não haveria Cristo; deste modo, a importância de Israel é pressuposta pela
glória de Deus; se Israel existe, e se Israel tem sua importância de maneira
indiscutível, isso é sinal clarividente da glória de Deus; a existência de
Israel é prova da existência de Deus, e prova de que Deus vela e cuida de
Israel; portanto se voltar contra Israel é lutar contra o próprio Deus.
Parágrafo 5.
§ 5. “Sejam confundidos e tornem
atrás todos os que aborrecem a Sião!” (Sl 129.5).
O Senhor traz juízo a todos quantos
se voltam contra Israel, contra todos aqueles que aborrecem a Sião; tal como
dizia um antigo provérbio: “O Senhor trata as nações como as nações trataram
os judeus” (frase atribuída a Benjamin Disraeli). Desde modo, é parte da
compreensão do cuidado de Deus para com Israel o entendimento de que Deus pune
aqueles que querem destruir a Israel; todas as nações que aborreceram a Israel
foram despedaçadas e não existem mais; conquanto Israel tenha sofrido muito ao
longo da história, o próprio Deus abençoara e preservara a existência de
Israel; tal como diz a Escritura: “Se o Senhor dos Exércitos nos não deixara
descendência, teríamos sido feitos como Sodoma e seríamos semelhantes a Gomorra”
(Rm 9.29).
Por isso, rejeitamos a falsa concepção antissemita de que Israel é um povo cruel e bárbaro; na verdade, são os inimigos de Israel que são cruéis e bárbaros; pois, se não fora o Senhor, Israel não existiria mais; a poderosa mão de Deus que preservou a descendência de Israel ao longo da história diante de tantos ataques e das vilezas oriundas dos povos antissemitas: dos romanos aos árabes, dos comunistas aos nazistas, Deus tem preservado a descendência de Israel; tal como diz o salmista: “Se não fora o Senhor, que esteve ao nosso lado, ora, diga Israel: Se não fora o Senhor, que esteve ao nosso lado, quando os homens se levantaram contra nós, eles, então, nos teriam engolido vivos, quando a sua ira se acendeu contra nós” (Sl 124.1-3). Portanto, o Senhor guarda e protege a Israel e vela para que Israel continue a existir mesmo diante de tantos inimigos; deste modo, é vívido e preciso o axioma: todos aqueles que aborrecem a Israel são confundidos.
Parágrafo 6.
§ 6. “Eis que porei Jerusalém
como um copo de tremor para todos os povos” (Zc 12.2). “E acontecerá...,
que farei de Jerusalém uma pedra pesada para todos os povos” (Zc 12.3).
O Senhor colocou Israel como cálice
de tontear para todos os povos; é Israel o instrumento de Deus para colocar as
nações em seu devido lugar, já que Jerusalém é uma pedra pesada para todos os
povos; aqueles que apoiam e ajudam a Israel são abençoados por Deus (cf. Sl
122.6); já aqueles que aborrecem a Israel o Senhor faz de Israel uma pedra
pesada para estes povos.
Por isso, rejeitamos a política
totalitária que diz que Israel não tem importância política; a desvalorização
de Israel do cenário político, através de doutrinas e práticas antissemitas, na
verdade, advêm da inveja e da maledicência dos povos violentos; portanto,
rejeitamos o antissemitismo envolto e velado na rejeição ou desvalorização de
Israel do cenário político.
Parágrafo 7.
§ 7. “Jesus Cristo, Filho de
Davi, Filho de Abraão” (Mt 1.1).
O Senhor, em sua infinita sabedoria
e em seu eterno conselho, dignou-se estabelecer Israel como a nação do Messias;
Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, nasceu judeu e viveu em Israel; além
disso, a Escritura atribui a Ele dois dignos da profecia veterotestamentária, a
saber, Filho de Davi, e Filho de Abraão; Filho de Davi simbolizando a linhagem
real e o ofício real; Filho de Abraão, simbolizando a linhagem sanguínea e o
cumprimento da promessa de Deus a Abraão (cf. Gn 12.1-3; Gl 3.13-14).
Por isso, rejeitamos a filosofia antissemita que diz que Israel não importância para a Igreja; a existência de Israel e a existência da Igreja tem uma linha de raciocínio básico que estabelece numa conexão intima e especial; conquanto se tenha as diferenças doutrinárias, o respeito e o amor para com Israel é parte da existência eclesial e da vida cristã, cumprindo assim a máxima do salmista: “Orai pela paz de Jerusalém! Prosperarão todos aqueles que te amam” (Sl 122.6).
Nenhum comentário:
Postar um comentário