06/05/2024

Sobre Esperar em Deus

A crença de que eu gosto mais, diz Deus, é a esperança”, Charles Péguy (1873-1914).


Prólogo.

1. “A nossa alma espera no Senhor; ele é o nosso auxílio e o nosso escudo. Pois nele se alegra o nosso coração, porquanto temos confiado no seu santo nome” (Sl 33.20-21); estas palavras do salmista, demonstram o verdadeiro significado do esperar em Deus; a esperança daquele que crê, está fincada sob bases sólidas, sob fundamentos imutáveis e imovíveis; portanto, aquele que crê, ao depositar sua confiança em Deus, também se fia a Ele em confiança naquilo que espera; como diz o Apóstolo, três coisas permanecem: a fé, a esperança e o amor (cf. 1Co 13.13); e, a esperança é o que ensina como colocar a intenção no devido fim; e esta esperança, também diz o Apóstolo, é uma esperança que não decepciona (cf. Rm 5.5).

2. Assim sendo, muitos empecilhos se colocam para aqueles que creem em relação a compreensão sobre a esperança; pois, uma falsa esperança, acaba por decepcionar e desfibrar; por isso, os demônio tentam enganar os homens com uma falsa esperança ou pervertendo o sentido da esperança bíblica; e com isso, muitos são enganados, e esperam o que não deveria esperar, e não esperam o que deveriam esperar; além disso, muitos invejosos, evocam a suposta necessidade de “esperar em Deus” para outrem, para confundi-los, e para desfibrá-los; sempre que há ênfase desmedida em “esperar em Deus”, ocorre o enfraquecimento espiritual, que os apóstatas e os falsos pastores se utilizam como instrumento para corromper o ímpeto e as diversas vocações que Deus outorga a Seu povo.

3. Portanto, se faz necessário entender o que significa esperar em Deus, tanto para um melhor proveito da vida cristã, quanto para se evitar enganos e engodos malignos; pois, na esperança fomos salvos (cf. Rm 8.26), e em esperança vivemos; pois, como dissera o salmista, ele é o nosso auxílio e o nosso escudo. Pois nele se alegra o nosso coração, porquanto temos confiado no seu santo nome; a esperança que não decepciona, alegra o coração na confiança no bendito nome do Senhor; é uma esperança que conforta o coração e dá vigor espiritual mesmo em meio as mais terríveis provações.

Capítulo I: As Escrituras e a esperança.

4. As Escrituras Sagradas fala em esperança; a Bíblia é o livro da esperança; a leitura da Palavra de Deus, germina esperança no coração; o Apóstolo afirma: “Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4); pela Escritura, aqueles que creem são enchidos de paciência e consolação, e assim, com o transbordar destas bênçãos, a esperança é acalentada no coração. E esta esperança, é que ensina a guiar a intenção ao devido fim; na verdade, esta esperança é infundida pelo Espírito Santo, e burilada pelo próprio Espírito, a fim de que pela consolação das Escrituras, onde o Espírito se apresenta como o Consolador (cf. Jo 14.16), e onde se é mostrado todo o resplendor da glória de Deus.

5. Assim sendo, a esperança é um tema bíblico fundamental; a esperança, a verdadeira esperança é tema revelacional, é assunto revelado; os homens naturais, conseguiram elucubrar sobre a esperança natural, nas coisas naturais, esperança essa que murcha e acaba; mas Deus, em Sua infinita bondade, outorgou aos homens o conhecimento da verdadeira esperança, a esperança que não decepciona (cf. Rm 5.5), a viva esperança (cf. 1Pe 1.3), a qual, ao ensinar aquele que crê a colocar sua intenção no devido fim, ensina o que é confiar em Deus, o que é esperar em Deus, bem como ensina a diferença entre a esperança que Deus revela, e infunde no coração como virtude teologal, e a esperança natural, nas coisas desta vida; a verdadeira esperança, a esperança da revelação, ensina a medida correta entre a esperança em relação as coisas de Deus e a esperança em relação as coisas naturais.

Capítulo II: O que significa esperar em Deus?

6. Deste modo, como a verdadeira esperança, a esperança infundida pelo Espírito como virtude teologal, ensina o equilíbrio entre o esperar as coisas naturais e o esperas das coisas espirituais, então, esta mesma esperança abaliza a compreensão sobre o que significa esperar em Deus; e esta é uma dúvida muito frequente, e, aliás, por ser efetivada como uma dúvida comum, se torna em elemento de manipulação, por homens vis e influenciados pela obra maligna; logo, ao se estabelecer a pergunta: “o que significa esperar em Deus?”, se pode evocar alguns princípios que respondem a esta proposição de maneira bíblica, sóbria e racional.

7. E são evocadas algumas pressuposições bíblicas sobre o que significa esperar em Deus:

i. Primeiro, esperar em Deus é esperar nEle e somente nEle, nas coisas que só Ele pode realizar (cf. Sl 42.11).

ii. Segundo, esperar em Deus e se animar neste esperar traz fortalecimento ao coração (cf. Sl 27.14).

iii. Terceiro, a esperança verdadeira é firmada em Deus e somente nEle, porque dEle vem a esperança (cf. Sl 62.5). A esperança que vem de Deus permanece viva e fundamentada nEle. Logo, esperar em Deus, é o esperar que firma-se em Deus e somente nEle.

iv. Quarto, a esperança demorada enfraquece o coração (cf. Pv 13.12); e a verdadeira esperança não é demorada, pois, a esperança demorada enfraquece o coração, enquanto que a esperança verdadeira fortalece o coração (cf. Sl 27.14). Logo, esperar em Deus, é o esperar que fortalece o coração e que não enfraquece o coração.

v. Quinto, a esperança verdadeira é viva e alegre (cf. 1Pe 1.3), e traz amor ao coração (cf. Rm 5.5). Logo, esperar em Deus, é o esperar que traz vida e alegria ao coração.

8. Com isso, se tem uma compreensão mais adequada e apurada sobre o que significa esperar em Deus; e estas pressuposições já se estabelecem contra várias invectivas malignas que são utilizadas para manipular e desesperançar as pessoas nas coisas concernentes a fé; logo, a partir da evocação destas pressuposições se compreende o que é esperar em Deus, e se compreende no que se deve esperar em Deus e no que não se deve esperar em Deus, uma simples distinção, mas que já soluciona muitos problemas existenciais que tem rondado a vida cristã nos últimos decênios, muitos dos quais, calcinados na manipulação diabólica engendrada nos enganos ensinados sobre o esperar em Deus.

Capítulo III: As mentiras inventadas sobre o esperar em Deus.

9. Deste modo, se observa que o Diabo, se utiliza da distorção da verdadeira esperança para enganar e para manipular; e, as mais das vezes, se utiliza dos falsos pastores para através destes, enganar e surrupiar os frutos da verdadeira esperança e para desfigurar as novas vocações que surgem com o ímpeto e a vivacidade da verdadeira esperança; portanto, os falsos pastores, falsos cristãos, falsos líderes religiosos, falsos influenciadores que se dizem cristãos, se utilizam da manipulação diabólica para desesperançar e enfraquecer o ímpeto verdadeiro e a vivacidade das vocações que Deus outorga para edificar Seu povo.

10. Com isso, se pode observar algumas classes de mentiras inventadas sobre o esperar em Deus; e estas mentiras inventadas sobre o esperar em Deus, que surgem tanto pela obra maligna quanto pela calcificação da inveja, se estabelecem em três aspectos: primeiro, em relação ao que se deve esperar; segundo, em relação a instituição da espera para manipular; terceiro, pela instituição da espera além do necessário como mote de “reeducação” diabólica.

Primeiro, em relação ao que se deve esperar; a primeira classe de mentiras inventadas sobre o esperar em Deus, é sobre o que se deve esperar, ou mais propriamente, em relação ao que não se deve esperar em Deus; pois, as Escrituras prescrevem algumas coisas que se deve esperar em Deus, e outras que não tem necessariamente a necessidade do se esperar em Deus, pois, Deus outorgou ao ser humano a liberdade necessária para escolher no que concerne as coisas da vida humana. Logo, se deve esperar em Deus naquilo que ele determina, e não se deve esperar naquilo que Ele não determina. A ordem das coisas naturais, que há um tempo determinado para todo propósito debaixo do céu (cf. Ec 3.1ss), não diz respeito a ordem das coisas espirituais.

11. Segundo, em relação a instituição da espera para manipular; a segunda classe de mentiras inventadas sobre o esperar em Deus, é em relação a instituição da espera para manipular; geralmente, se institui a “necessidade” de se esperar, para algum propósito nefasto ou diabólico, pois, se se faz esperar o que não se é para esperar, então, necessariamente, tanto aqueles que instituem este tipo de espera se tornam manipuladores, quanto aqueles que são açambarcados por este tipo de espera se tornam manipuláveis, até se tornarem nos “padrões” de comportamento de alguma seita; sempre, absolutamente sempre, que em relação aos assuntos eclesiásticos, se faz esperar no que não se é para esperar, é a demonstração de um qualificativo primordial de uma seita; são as seitas que se utilizam da instituição da espera para manipular; e são homens usados pelo Diabo que se utilizam da instituição da espera para manipular.

12. Terceiro, pela instituição da espera além do necessário como mote de “reeducação” diabólica; a terceira classe de mentiras inventadas sobre o esperar em Deus, é em relação a instituição da espera além do necessário como mote de “reeducação” diabólica; neste quesito se observa a influência do comunismo nos círculos eclesiásticos, pois, toda forma de “reeducação” forçada, ainda que de maneira inconsciente, é evidência da dominação comunista; mas, propriamente, a instituição da espera além do necessário, é para enfraquecer a força e o ímpeto, bem como para através deste enfraquecimento, se conseguir minar e controlar aquilo que se estabelece contra um sistema de ações pré-estabelecidos. A instituição da espera além do necessário, é fruto da implementação de um sistema anti-bíblico e diabólico, que se engendra nas Igrejas, tornando estas, expressão de tudo de ruim que provêm do enfraquecimento da esperança e da consequência destas ações, a saber, a calcificação da inveja - e onde há inveja há todo tipo de obra maligna (cf. Tg 3.16).

Capítulo IV: A esperança que não decepciona.

13. Deste modo, ao se verificar as mentiras inventadas sobre o esperar em Deus, se faz necessário se reafirmar o caractere sempre significativo da verdadeira esperança, que segundo Apóstolo, é a esperança que não decepciona (cf. Rm 5.5); portanto, em contrapartida as mentiras inventadas sobre o esperar em Deus, se evoca a bendita proposição da verdadeira esperança, a qual, ao ser efetivada, se demonstra como um verdadeiro fanal que ensina onde e como se deve ordenar a intenção para o devido fim, o qual, não decepciona, como ocorre de quando das mentiras inventadas sobre o esperar em Deus.

14. Com isso, a verdadeira esperança traz imbuída três coisas: primeiro, a compreensão sobre em quem se deve esperar; segundo, o entendimento sobre como se deve ordenar a intenção ao devido fim; terceiro, a compreensão sobre como se deve viver em esperança.

Primeiro, a compreensão sobre em quem se deve esperar; o objeto primordial da esperança é o próprio Deus, a fonte da esperança (cf. Sl 62.5); nEle, e somente nEle, é que se deve esperar; não em homens, não em coisas, mas em Deus; pois, a esperança que se firma em coisas corruptíveis, tende a ruir e a se corromper; logo, a esperança que se firma em Deus, se firma no Eterno, e em quem não há mudança e nem sombra de variação (cf. Tg 1.17); logo, a esperança que se firma em Deus, é uma esperança firme, tal qual âncora, que o autor aos Hebreus justamente se utiliza como figura de comparação para explicar e evidenciar esta verdadeira esperança, a esperança firmada em Deus e no que Ele diz em Sua Palavra; esta esperança, é a âncora da alma, segura e firme, que penetra até ao interior do céu (cf. Hb 6.18-19); a verdadeira esperança traz firmeza e segurança à alma.

15. Segundo, o entendimento sobre como se deve ordenar ao devido fim; a verdadeira esperança ensina como se deve ordenar ao devido fim; pois, como a verdadeira esperança é a âncora da alma, segura e firme, que traz firmeza e segurança à alma, então, esta esperança, também traz o entendimento sobre como e de que modo se deve ordenar ao devido fim, isto é, a maneira correta pela qual se deve ordenar em relação ao devido fim, a saber, pela vida virtuosa; e, saber se ordenar ao devido fim, é o fortalece o coração e fortifica a alma, nas coisas que são necessárias para o fortalecimento e a fortificação; pois, mesmo uma âncora, símbolo de firmeza e ancoradouro, tem de ser utilizada corretamente, já que uma âncora utilizada de maneira errada não cumpre seu propósito; logo, a verdadeira esperança, tal qual âncora, tem de ser ordenada ao devido fim, da maneira correta e de acordo com a firmeza da fé em Deus e na comunhão com Ele.

16. Terceiro, a compreensão sobre como se deve viver em esperança; o entendimento sobre como se deve ordenar ao devido fim, ensina a como se deve viver em esperança; a ordenação ao devido fim, ensina a como viver de acordo com este fim; a verdadeira esperança, ensina a viver em esperança, mesmo quando necessário se ter esperança contra a esperança natural, como ocorreu como Abraão (cf. Rm 4.18); portanto, a compreensão sobre como se deve viver em esperança, se deve ao fato de que, a esperança ensina sobre o devido fim e a como viver de acordo com a própria natureza da esperança; e a vida só é vivida em esperança; a esperança é viva (cf. 1Pe 1.3), e por isso, só é experienciada a medida que se a vive, com ânimo e alegria; a vida em esperança, mesmo em meio as provações e vicissitudes, é uma vida em alegria e confiança (cf. 1Pe 1.6).

17. E a verdadeira esperança é uma esperança paciente, e uma paciência esperançosa; todavia, a paciência verdadeira, é a paciência que se confirma e se estabelece como a paz e a confiança no Senhor mesmo em momentos difíceis; isto, é o que significa esperar em Deus, e não as manipulações vis que se ensinam sobre a paciência, para desesperançar; logo, a verdadeira esperança ensina sobre e como se espera em Deus, bem como ensina sobre a verdadeira paciência, que de igual modo, é uma paciência que não decepciona, pois, é uma paciência que se firma em Deus e confia nEle diante das vicissitudes, e é isso que todas as vezes ensina as Escrituras sobre o esperar em Deus e sobre a verdadeira paciência. Certamente, por isso, Péguy afirmara: “A crença de que eu gosto mais, diz Deus, é a esperança”.

18. Termina aqui esta breve explicação sobre o que significa esperar em Deus. Bendito seja Deus por todas as coisas. Amém. 


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