27/07/2024

Kohlbrügge e a Oração

Prefácio.

Hermann F. Kohlbrügge, fora um pastor-teólogo do séc. XIX, mais conhecido por sua função como pregador; Barth afirma que Kohlbrügge é um dos maiores teólogos do séc. XIX; mas, infelizmente, Kohlbrügge não é conhecido; os livros sobre a história da teologia no séc. XIX, com a exceção do livro de Barth, não mencionam e não se importam com Kohlbrügge; na verdade, Kohlbrügge é um completo desconhecido, inclusive da teologia reformada; mas, Kohlbrügge é tão grande que pode ser equiparado a Calvino; por isso, se faz necessário recuperar Kohlbrügge, pois, seus sermões e escritos são uma fonte límpida que brota da própria Escritura; e, se a Igreja Reformada manteve-se firme no séc. XIX em relação a doutrina das Escrituras, que tanto era atacada pelo liberalismo teológico (principalmente por teólogos hegelianos), se deve em grande parte pela obra e pela influência de Kohlbrügge.

Entretanto, se a partir do séc. XX, Kohlbrügge ficara totalmente esquecido, em sua época não era assim; os grandes mestres da ciência teológica de sua época, reconheceram em Kohlbrügge um grande teólogo; por exemplo, Abraham Kuyper, que era crítico de Kohlbrügge em vários aspectos, prestou uma homenagem póstuma a Kohlbrügge no De Standaart, com as seguintes palavras: “Um teólogo de rara profundidade, um pregador de poder incomum, um estudioso das Escrituras como poucos”; e, esta tríplice descrição de Kuyper, demonstram quem fora Kohlbrügge como pastor-teólogo; por isso, Kohlbrügge, em se tratando da teologia reformada, foi equiparado a Calvino; um estudioso afirmara: “precisamos de Kohlbrügge ao lado de Calvino. Mas para evitar a unilateralidade, precisamos de Calvino ao lado de Kohlbrügge”. E em relação a pregação e a profundidade nas Escrituras, realmente Kohlbrügge está em pé de igualdade com Calvino; Kohlbrügge foi um pregador tão fervoroso e bíblico quanto Calvino.

Estas descrições são um breve panorama da importância e do legado de Kohlbrügge como pregador; por isso, Kohlbrügge cativou tanto a Karl Barth, que procurou segui-lo em vários aspectos, e que também procurou responder aos excessos de sua teologia; mas, uma coisa se pode afirmar com resoluta convicção, a saber: Kohlbrügge foi um grande pregador, e sua teologia emana de sua tarefa como pregador e pastor; os singulares aspectos da teologia de Kohlbrügge são reafirmados em seus labores pastorais, a partir dos quais, tudo o mais se relaciona; em tudo que escreveu e pensou, foi para conduzir o povo de Deus a uma compreensão mais profunda da Palavra e a uma vida piedosa diante de Deus.

E os sermões de Kohlbrügge, são testemunho deste fato; sermões bíblicos e fervorosos, sermões de um poder espiritual tão grande, que permanecem sendo de inestimável valor mesmo mais de um século após terem sido proferidos.

E, entre estes muitos sermões, muitos dos quais, sem edição adequada, existem quatro sermões sequenciais sobre a oração que Kohlbrügge pregou em outubro de 1871; são sermões preciosos, porque versam de uma maneira surpreendente sobre a oração; e os ensinamentos bíblicos-teológicos destes sermões são pérolas de inestimável valor; e, em especial, se faz necessário uma breve análise destes sermões sobre a oração; Kohlbrügge, evidentemente, pregou sobre a oração em outras ocasiões; mas estes quatro sermões, porque produzidos em série sobre o assunto, constituem-se um testemunho precioso e grandiloquente sobre a teologia da oração e sobre o que os cristãos devem compreender sobre a oração; neste quesito, pode-se falar de um Kohlbrügge como um pregador que pode falar tão bem sobre a oração, porque era um homem de oração.

Deste modo, adentrar-se-á a análise destes quatro sermões de Kohlbrügge sobre a oração, e compreender quão preciosos ensinamentos sobre a oração este “pregador de poder incomum” pode fornecer à Igreja que pastoreava, e com isso, legar um tesouro à toda cristandade.

Dito isso, que se possa aprender e compreender o que Kohlbrügge falara sobre a oração, e com isso, também compreender sobre a importância da oração; neste quesito, e em tantos outros, aprender com Kohlbrügge é de tão grande importância quanto aprender sobre Calvino.

Soli Deo Gloria!

In Nomine Iesus!

26 de julho de 2024.

 

I. O Legado de Kohlbrügge.

1. “Qualquer estudo de princípios e procedimentos sobre a oração, de suas atividades e empreendimentos, deve, primeiramente, ser orientado pela fé[1]; ora, o estudo sobre a oração, feito da perspectiva bíblica ou da perspectiva da compreensão de algum autor sobre a oração, deve ser feito em consonância com a compreensão sobre a fé e com a compreensão sobre a realidade da oração, pois, a fé viva e operante, é uma fé orante. Por isso, ao se adentrar na compreensão sobre a oração, se tem de compreender este princípio, pois, onde não há a fé verdadeira, não há oração e nem a compreensão sobre o que realmente é oração. A fé é a base para a compreensão sobre a oração, assim para com os dogmas sagrados.

2. E, nos quarteirões da história da Igreja, muitos homens e mulheres falaram sobre a oração de maneira grandiloquente; os padres da Igreja, os místicos, etc., falaram sobre a oração; os reformadores, também falaram sobre a oração; os grandes nomes do período da ortodoxia falaram sobre a oração; o pietismo recuperou o fulgor da oração fervorosa; o moravianismo, da oração alegre e sincera diante de Deus, que se manifesta na confiança inabalável em Deus mesmo diante dos mais terríveis sofrimentos; logo, existem inúmeros testemunhos entre os cristãos fiéis a respeito da oração; mas um em específico chama a atenção, porque provêm de um grande pregador que ficou esquecido com o passar do tempo, mas que em se tratando da teologia reformada, é de uma importância tão grande quanto Calvino.

3. Este pregador é Hermann F. Kohlbrügge (1803-1875), pastor-teólogo do séc. XIX; Kohlbrügge, em tempos atuais é um completo desconhecido; mas, sua vida e obra, deixaram uma marca indelével na teologia do séc. XIX; Kohlbrügge é tão importante, que pode ser equiparado a Calvino; com exceção de Schleiermacher, nenhum outro teólogo do séc. XIX, tem esta honra; pois, Kohlbrügge, sem nenhum exagero, pode ser comparado ou tido como um reformador[2]; na verdade, Kohlbrügge foi um exemplo de teologia bíblica sólida, desenvolvida através do ministério pastoral e da proclamação do Evangelho durante décadas a fio; e, este é o maior legado de Kohlbrügge para a cristandade, sua atividade como pastor e pregador, em seus muitos sermões.

4. E, Kohlbrügge, em seus muitos sermões estabeleceu proposições valiosas sobre a oração; mas, em especial chamam a atenção quatro sermões, entre as centenas e mais centenas de sermões, que foram sermões sequenciais sobre a oração, pregados em outubro de 1871; na verdade, chamam a atenção não somente por terem sido sermões sequenciais, mas por terem sido sermões pregados em 1871; e este ano se reveste de importância vital na vida de Kohlbrügge; pois, Kohlbrügge era uma figura polêmica e várias vezes entrou em conflito com as lideranças denominacionais da Holanda de sua época, devido ao liberalismo teológico que estava tomando conta da Igreja Reformada neste época; e isso, trouxe o desprezo por parte do estamento eclesiástico com relação a Kohlbrügge.

5. Mas, em 1871, depois, de um longo período de discussões e confusões, Kohlbrügge foi convidado por Abraham Kuyper, que nesta época ainda era ministro da Igreja Reformada Holandesa, para pregar numa Igreja em Amsterdã; evidentemente, para Kohlbrügge, ser convidado por Kuyper, na época já um dos grandes teólogos reformados da Holanda, foi um grande benefício, principalmente porque Kuyper era um jovem pastor e Kohlbrügge era um veterano pastor e pregador; além do que, Kuyper enquanto foi pastor se aconselhava com Kohlbrügge; Kuyper e os líderes da Igreja Reformada, esperavam apenas algumas centenas de visitantes, devido a imagem de Kohlbrügge ter sido manchada por invejas e maledicências; mas, além da Igreja local, mais de 3.000 pessoas foram a Zuiderkerk em Amsterdã para ouvi-lo pregar; o próprio Kuyper ouvira Kohlbrügge pregar; e, é um fato curioso que a multidão foi ouvir Kohlbrügge, apesar das mentiras que existiam em relação a seu nome, demonstrando que não o foram ouvir porque era um pregador famoso (embora o fosse), e nem porque era um propagador de novidades ou um jovem eloquente (pois na época já era um idoso), mas porque era um homem cheio de Deus.

6. E, apenas quatro anos depois Kohlbrügge viera a falecer, em 1875; e o próprio Kuyper, prestou-lhe uma homenagem no De Standaart, afirmando: “Um teólogo de rara profundidade, um pregador de poder incomum, um estudioso das Escrituras como poucos”; e, o ano em que Kohlbrügge foi convidado por Kuyper para pregar, foi o mesmo ano - um ano formidável para Kohlbrügge em se tratando de pregação -, em que Kohlbrügge pregara os quatro sermões sequenciais sobre a oração, do dia 01 ao dia 15 de outubro de 1871; em três domingos, Kohlbrügge pregara sobre o tema da oração, e estes sermões, intitulados “Über das Gebet” (Sobre a Oração), são pérolas de inestimável valor; portanto, se faz necessário analisar as pressuposições de Kohlbrügge sobre a oração, de modo a se compreender os ensinamentos preciosos e valiosos sobre este efusivo tema teológico, trabalhado por tantos homens de Deus de maneira singular, entre os quais, a contribuição de Kohlbrügge sobre o assunto permanece altaneira e sobre-excelente.

 

II. A Natureza da Oração.

7. Em primeiro lugar, se faz necessário compreender o que Kohlbrügge falara sobre a natureza da oração; e a teologia da oração de Kohlbrügge, pressupõe a regeneração; pois, é um dos caracteres da teologia da oração de Kohlbrügge como um todo que a nova vida que o Espírito Santo cria é expressa principalmente na oração[3]; assim, Kohlbrügge recupera a noção bíblica de que a oração é fruto da regeneração, já que em sua época existiam aqueles que diziam-se “cristãos” e “teólogos”, como David Strauss e outros teólogos hegelianos (veja bem, “teólogos hegelianos”?), mas que não oravam; Kohlbrügge se colocou contra esta tendência de maneira contundente, e, neste quesito, de maneira mais viva e bíblica do que Ritschl (embora o resgate de Ritschl tenha tido um impacto maior na alta-cultura teológica); e, lembre-se, que fora Ritschl que, no âmbito da alta-cultura teológica, que trouxera de volta a noção de que a teologia é teologia dos regenerados, isto é, é feita por aqueles que nasceram de novo pelo Espírito (cf. Tt 2.4-5) e que vivem de acordo com as Escrituras.

8. Mas, voltemos a questão da natureza da oração; e, sobre a natureza da oração, a partir da teologia de Kohlbrügge, se evocam sete aspectos: (i) primeiro, a oração é evidência de um coração grato pela salvação; (ii) segundo, um coração grato guarda a palavra do Senhor; (iii) terceiro, a oração é a confissão do cristão da necessidade da graça e da presença do Espírito Santo; (iv) quarto, a oração é a arma espiritual do cristão; (v) quinto, a oração significa confiança em Deus; (vi) sexto, a oração é uma questão do coração; (vii) sétimo, a oração que agrada a Deus.

9. [i] Primeiro, a oração é evidência de um coração grato pela salvação; só ora quem reconhece, com profunda gratidão, a dádiva imerecida da salvação; a oração é um privilégio que só os eleitos podem desfrutar; é bênção sem igual, que coloca o fiel diante do trono de Deus; por isso, Kohlbrügge afirma: “A oração é na verdade uma conversa com Deus em segredo, um falar com o Senhor, seja em palavras audíveis ou em suspiros profundos do coração[4].

A oração é falar com Deus, seja de forma audível, com palavras e louvores, seja pelos suspiros mais profundos do coração, isto é, quando as palavras audíveis não se encontram mais sentido ou então o fiel se encontra sem forças para falá-las. Mas, fundamentalmente, a oração é sempre um sinal de gratidão, pois, quem ora recorda-se das bênçãos do Senhor; como afirma Kohlbrügge: “O fato de o recordarmos com carinho é um sinal de gratidão[5]; e, este também é o preceito sapencial: “Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de nenhum de teus benefícios” (Sl 103.2).

Logo, a oração é evidência de um coração que rompe em efusiva e profunda alegria diante de Deus por ter recebido tão grande salvação.

10. [ii] Segundo, um coração grato guarda a Palavra do Senhor; ora, a gratidão é sinal de memória consciente, isto é, de uma memória que busca guardar no coração o objeto amado; por isso, aqueles que oram, também buscam guardar a Palavra do Senhor no coração, e vice-versa; pois, a Palavra é instrumento para que o fiel evite pecar gravemente contra o Senhor (cf. Sl 119.11).

Pois, a gratidão encontra mais vigor e preciosidade, a medida que se guarda não somente o objeto amado na lembrança, mas em função de se meditar e estudar o que concerne a este objeto amado; por isso, Kohlbrügge aconselha: “Não se afaste da palavra, guarde o Senhor na boa memória – essa é a parte mais nobre da gratidão[6]. Ora, guardar a Palavra no coração, é a evidência da gratidão do fiel pela salvação.

Portanto, aquele que guarda a Palavra do Senhor no coração mostra uma gratidão verdadeira, pois, tal como afirma Kohlbrügge, esta é a parte mais nobre da gratidão que se torna evidente na oração e pela oração, amalgamada com o amor e o deleite pela Palavra de Deus.

11. [iii] Terceiro, a oração é a confissão do cristão da necessidade da graça e da presença do Espírito Santo; a oração, é a forma do cristão confessar diante de Deus, de sua necessidade constante da graça e da presença do Espírito; da graça, pois, é necessário para que seja sustentado em sua vida e caminhada; do Espírito, pois, é Ele quem ensina a verdade e que conduz o fiel aos pastos verdejantes do Bom Pastor; Kohlbrügge assevera: “Mas Deus só quer dar a sua graça e o seu Espírito Santo àqueles que continuamente lhe pedem com suspiros sinceros e lhe agradecem por isso[7]; portanto, o próprio Deus quer outorgar mais de Sua graça e da presença do Espírito àqueles que buscam, com sinceridade e perseverança, em rogos e clamores, pelas dádivas infindas da graça.

Esta é a atitude constante daquele que ora; é o hábito que permeia as orações daqueles que se achegam a Deus em contrição e gratidão; assim, a oração é evidência de um coração agradecido a Deus pela salvação, mas também é evidência de um coração sincero que reconhece que precisa da graça e da presença do Espírito todos os dias; a oração testemunha desta verdade grandiloqüente que permeia toda a vida cristã.

12. [iv] Quarto, a oração é a arma espiritual do cristão; ora, tendo compreendido a natureza da oração no fiel, se pode avançar para compreender outro aspecto desta natureza, a saber, a oração como arma espiritual; pois, o cristão tem três inimigos ferrenhos: o mundo, o sistema maligno dominado por Satanás (cf. 1Jo 5.19); a carne, que é fraca e tende ao pecado e que luta diariamente contra o espírito (cf. Mt 26.41); e o Diabo, que segundo a Glosa tem por ofício a acusação, e que luta contra os servos de Deus de dia e de noite (cf. Ap 12.10). E diante dos inimigos do cristão - o mundo, a carne e o Diabo -, o cristão “não têm outra arma contra estes, senão a oração[8].

A oração é a arma espiritual do cristão; é a arma espiritual que o permite lugar contra as hostes malignas que buscam dominar este mundo; é a arma espiritual que outorga forças para os cristãos para lutarem diariamente contra o pecado; é a arma espiritual que permite ao cristão resistir as artimanhas do Diabo (cf. Ef 6.10), e resistir a estas com perseverança ao ponto de o Diabo fugir (cf. Tg 4.7). A oração, conjuntamente com a Palavra de Deus (cf. Ef 6.17s), são as únicas armas espirituais que o cristão tem contra estes inimigos.

13. [v] Quinto, a oração significa confiança em Deus; orar significa confiar em Deus, se fiar a Ele; e, aquele que ora, o faz, com a plena confiança em quem Deus é; Kohlbrügge assevera: “somente nós invocamos o único Deus verdadeiro, ou seja, o Deus que fez o céu e a terra, que permanece fiel para sempre e nunca abandona as obras das suas mãos, o único que conhece as nossas necessidades, o único que pode ajudar e o único que quer ajudar, que inclina o seu ouvido aos nossos gemidos mais profundos[9]; por isso, aqueles que invocam a Deus, o fazem com a confiança de que Deus verdadeiramente os ouve, e os ouvirá segundo Suas misericórdias; pois, aquele que se chega a Deus deve ter fé de que Ele é galardoador dos que o buscam (cf. Hb 11.6). Portanto, orar significa confiar em Deus; e só se confia em quem se conhece de maneira adequada; por isso, quem ora, ora e confia nAquele a quem ora. Logo, oração é confiança, expressa na atitude do fiel diante de Deus.

14. [vi] Sexto, a oração é uma questão do coração; a oração não diz respeito a somente a razão, ou a somente a emoção; mas a oração diz respeito ao coração; e o coração é chamado na filosofia cosmonômica de centro supra-temporal do ser humano; assim, a oração diz respeito ao aspecto mais profundo do ser humano, as suas entranhas mais profundas; e o ser humano não tem sua raiz na razão ou na emoção; o ser humano tem sua raiz no coração; portanto, a oração toca a raiz mais profunda do ser humano; por isso, Kohlbrügge afirma: “Pois não é o que a razão e o sentimento nos inspiram, mas sim o que Deus ligou aos nossos corações, isto é, o que é uma questão do coração[10]; logo, a oração é o que coloca as saídas da vida (cf. Pv 4.23) em contato direito com Deus, para dEle receber as fontes da vida e da graça. Pois, a oração traz um manancial sempre abundante e inesgotável para o coração a partir da fonte eterna do Espírito Santo.

15. [vii] Sétimo, a oração que agrada a Deus; sendo que a oração diz respeito ao coração, então, a oração que agrada a Deus provêm de um coração sincero (cf. 1Cr 29.17); de um coração que vive em integridade diante de Deus e que guarda Sua palavra; além disso, a oração que agrada a Deus é do pecador que reconhece sua miséria diante de Deus, e que a Ele confessa sua necessidade da graça, pois, tal como o salmista afirmou, Deus não rejeita um coração contrito e quebrantado (cf. Sl 51.17); sobre isso, Kohlbrügge assevera: “Veja, isso também faz parte de uma oração que agrada a Deus e é ouvida por ele: que reconheçamos plenamente a nossa necessidade e a nossa miséria[11]; logo, a oração que agrada a Deus, é a oração daquele que reconhece sua necessidade e sua própria miséria diante de Deus; aliás, este o tipo de oração que traz deleite para Deus, pois, a estes Deus justifica (cf. Lc 18.13-14).

16. Deste modo, se compreende a partir destes aspectos dos dois primeiros sermões de Kohlbrügge sobre a oração, alguns princípios sobre a natureza da oração; evidentemente, Kohlbrügge os evocou de maneira pastoral, em sermões, tendo em vista a aplicabilidade para a vida cristã; mas, conquanto sejam sermões simples, apresentam insights efusivos e preciosos sobre alguns dos mais portentosos aspectos sobre a natureza da oração.

Neste quesito, Kohlbrügge pode ser colocado lado a lado com Calvino: pela limpidez de argumento, pela vivacidade bíblica, pelo fervor espiritual e pela aguçada compreensão pastoral sobre uma das maiores necessidades da vida cristã, a saber, a correta compreensão sobre a oração.

 

III. A Oração e as Necessidades Físicas.

17. Em segundo lugar, se faz necessário compreender o que Kohlbrügge falara sobre a oração e sua relação com as necessidades físicas e espirituais; pois, se um dos caracteres fundamentais da natureza da oração é aquele que crê se humilhar diante da majestade de Deus (cf. Tg 4.10); e, neste humilhar, pedir e rogar a Deus em relação as necessidades físicas e espirituais; a teologia da oração de Kohlbrügge também ensina que no orar, a oração em si mesma, deve ser para pedir a Deus, com um coração agradecido, que Ele supra as necessidades físicas e espirituais. E, neste aspecto, se fazem-se duas distinções: a primeiro, a oração com relação as necessidades físicas; a segunda, a oração com relação as necessidades espirituais.

18. Em relação a primeira, a da oração com relação as necessidades físicas, se faz cinco considerações: (i) primeiro, o Senhor Jesus ensina-nos a pedir a Ele; (ii) segundo, a oração também é para invocar a Deus para que Ele auxilie e supra o que nos falta em relação as necessidades físicas; (iii) terceiro, a oração de petição a Deus deve ser permeada por uma fé sóbria; (iv) quarto, a oração e as provações em relação as necessidades físicas; (v) quinto, a oração de petição pelas necessidades físicas é o reconhecimento de Deus e de Sua presença mesmo em relação as coisas mais simples do cotidiano.

19. [i] Primeiro, o Senhor Jesus ensina-nos a pedir a Ele para que supra as necessidades; a oração também é petição; orar também é pedir a Deus para que Ele supra as nossas necessidades; o próprio Senhor Jesus ensina isto na Oração Dominical; por isso, Kohlbrügge afirma: “No que diz respeito às necessidades físicas, o Senhor Jesus Cristo ensina-nos a pedir: 'o pão nosso de cada dia dá-nos hoje', e nisto resume tudo o que nós, humanos, necessitamos para o nosso sustento físico[12]; logo, orar também é pedir a Deus que Ele nos dê o “pão nosso de cada dia”; assim, aquele que ora, o faz confiando em Deus na petição para suprir as necessidades físicas; a confiança em Deus que se manifesta através da oração, também é a confiança de que Ele suprirá todas as nossas necessidades.

20. [ii] Segundo, a oração também é para invocar a Deus para que Ele auxilie e supra o que nos falta; orar é se fiar a Deus confiando em Seu auxílio, confiando em Sua proteção; aquele que ora, desfruta da presença de Deus e de Seu auxílio poderoso; pois, a oração faz a alma se aquietar na confiança de que o Deus Todo-Poderoso auxilia os que a Ele se achegam em contrição e fé; Kohlbrügge assevera: “Quando ele escreve sobre ‘oração’, ele quer dizer que invocamos a Deus por tudo o que nos falta, pelo que precisamos e onde queremos ajuda[13]; logo, em três aspectos deve se concentrar o entendimento sobre a oração: primeiro, pedir a Ele tudo o que nos falta; segundo, pedir a Ele o que precisamos; terceiro, confessar a Ele onde queremos auxílio e ajuda. Portanto, a oração é invocar a Deus por salvação e livramento, confiantes de que Ele virá em auxílio ao fiel que a Ele clama.

21. [iii] Terceiro, a oração de petição a Deus deve ser permeada por uma fé sóbria; além de se compreender que a oração deve ser também para pedir a Deus, se deve entender que esta petição deve ser feita com uma fé sóbria; isto é, uma fé que baseia-se na Palavra para rogar a Deus; por isso, Kohlbrügge afirma: “Para compreender e acreditar que é verdade que podemos pedir a Deus todas as necessidades físicas de acordo com o seu comando, o que precisamos é de uma fé sóbria[14]; pois, muitos pedem sem sobriedade; para se utilizar do linguajar do Senhor Jesus, muitos pedem uma pedra pensando que é um pão (cf. Mt 7.9-11), etc.; portanto, a petição a Deus deve ser feita com uma fé sóbria, uma fé operante a partir da Palavra de Deus; e, ao se pedir com uma fé sóbria, Deus concede o pedido daquele que ora com fé e sinceridade ao rogar pelas necessidades físicas de acordo com o comando de Deus, tal como o Senhor Jesus dissera: “Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito” (Jo 15.7).

22. [ív] Quarto, a oração e as provações em relação as necessidades físicas; ora, a oração em relação as necessidades físicas, as mais das vezes, defronta-se diretamente com as provações; pois, são as provações que fazem com que o fiel vá orar a Deus pedindo ajuda e auxílio; pois, as provações, além de fazer com que o fiel vá orar, estas apontam para as necessidades espirituais; e na oração se compreende isso de maneira límpida; Kohlbrügge afirma: “Eu disse que as necessidades físicas são muitas vezes um guia para reconhecer as necessidades espirituais, ou seja, é precisamente por isso que Deus lança sobre nós o cuidado, a necessidade, a dor, a doença e a pobreza, para que sejamos levados à oração, para que enquanto lhe pedimos o que necessitamos, não recebamos dele apenas algo que sirva para o corpo, mas ainda por cima e muito mais o que é necessário para a alma[15]; ora, Deus permite que seus servos passem por cuidados, necessidades, dores, doenças, pobrezas, etc., para que o fiel seja levado a oração, para que busquem-no não somente em relação as necessidades físicas e diante das provações, mas para que encontrem o verdadeiro conforto e consolo para a alma.

23. [v] Quinto, a oração de petição pelas necessidades físicas é o reconhecimento de Deus e de Sua presença mesmo em relação as coisas mais simples do cotidiano; ora, orar a Deus rogando-lhe auxilio e ajuda, mesmo em relação as necessidades físicas, além de ser evidência de uma fé sóbria, também demonstra o reconhecimento de Deus e de Sua presença mesmo nas coisas mais simples do cotidiano; e a Escritura ensina: “Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas” (Pv 3.6); por isso, Kohlbrügge afirmara: “Tudo que começa sem Deus segue em frente sem a bênção de Deus e o fim disso é a maldição[16]; ora, orar a Deus em relação as necessidades físicas, significa reconhecê-lo e honrá-lo mesmo nas coisas mais simples do cotidiano, pois, tudo o que começa com Deus segue em firmeza e com a bênção de Deus; mas, como diz Kohlbrügge: “o que não começa com Deus termina com a morte[17]; portanto, a oração de petição ensina à alma do fiel a reconhecer a bondade de Deus e Sua providência, a fonte de todas as bênçãos e de tudo o que acontece de bom; pois, o que não começa com Deus termina sem a bênção de Deus.

24. Assim sendo, a oração de petição faz parte da compreensão sobre a natureza da oração; o que, tanto ensina ao fiel sobre como deve viver diante de Deus, quanto ensina ao fiel a reconhecer Deus em todos os afazeres do dia a dia, e em todas as bênçãos que Deus lhe outorga; a oração, principalmente a oração de petição em relação as necessidades físicas, educa a alma do fiel a reconhecer Deus em tudo aquilo que recebe, mesmo as dádivas tidas como mais simples; pois, ter o pão de cada dia, é sinal da bênção de Deus.


IV. A Oração e as Necessidades Espirituais.

25. Em relação a segunda distinção, a da oração com relação as necessidades espirituais, se constata que muitas vezes, Deus permite seus servos passarem por lutas e provações com relação as coisas físicas, para que possam se aperceber das necessidades espirituais; por isso, ao se analisar o verdadeiro propósito da oração com relação as necessidades físicas, se constata que sempre é em relação as necessidades espirituais.

26. E, sobre isso, quatro ponderações são feitas: (i) primeiro, a oração pelas necessidades espirituais, de início, defronta-se com a possibilidade de o Senhor não responder da maneira como desejaríamos; (ii) segundo, o fundamento da oração pelas necessidades espirituais; (iii) terceiro, a nossa necessidade espiritual é que tenhamos diante de nós o próprio Deus; (iv) quarto, a oração em relação as necessidades espirituais é a oração que busca misericórdia e graça.

27. [i] Primeiro, a oração pelas necessidades espirituais, de início, defronta-se com a possibilidade de o Senhor não responder da maneira como desejaríamos; ora, aquele que ora, e faz petições a Deus, em sinceridade e verdade, pode ter suas orações não respondidas; pois, muitas vezes o fiel roga a Deus, e Deus no momento ou não responde, ou então, lhe responde de outro modo; por isso, Kohlbrügge afirma: “Mesmo que Deus não responda à oração do homem sincero como ele esperava, ele ainda assim o deixará satisfeito com todos os seus caminhos[18]; portanto, mesmo que Deus não responda as orações do modo como o fiel gostaria, aquele que ora, coloca toda sua confiança em Deus, tendo a plena certeza que os caminhos de Deus sempre são melhores, por mais difíceis que pareçam.

A oração que busca em Deus fundamentalmente pelas necessidades espirituais, de graça, de poder de Deus, de livramento, etc., defronta-se com a possibilidade de o Senhor não responder da maneira como se deseja; logo, quando isso ocorre, é que se demonstra a verdadeira fé, que descansa na soberania de Deus, mesmo quando Ele não responde ou não parece ouvir as orações de seus servos. Pois, aquele que roga pelas necessidades físicas, clama ainda mais pelas necessidades espirituais, já que o bondoso Deus sempre concede sua graça de maneira abundante para aqueles que o buscam com perseverança e afinco.

28. [ii] Segundo, o fundamento da oração pelas necessidades espirituais; a oração pelas necessidades espirituais tem um fundamento bem estabelecido; pois, se em relação as necessidades físicas se tem o conselho bíblico para clamar e pedir a Deus, em relação as necessidades espirituais se tem a assertiva do próprio Deus: “Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi e a vossa alma viverá; porque convosco farei um concerto perpétuo, dando-vos as firmes beneficências de Davi” (Is 55.3); portanto, o fundamento da oração pelas necessidades espirituais se estabelece a partir da graça de Deus; pois, como pecadores, necessitamos sempre da graça; pois, pela graça é que somos salvos (cf. Ef 2.8-9). Por isso, Kohlbrügge afirma: “a nossa necessidade espiritual consiste sobretudo no facto de termos, recebido e posteriormente recebermos o perdão dos pecados[19]; logo, o fundamento da oração pelas necessidades espirituais, é a graça salvadora, o perdão dos pecados.

E, neste aspecto se deve limitar a razão do fundamento de nossas necessidades espirituais, como o próprio Kohlbrügge assevera: “Na verdade, não entendemos bem o que são as necessidades espirituais. Portanto, limitemo-nos a uma coisa; eu digo: perdão dos pecados[20]; este é o tópico central da oração pelas necessidades espirituais, a confissão diante de Deus e o perdão dos pecados recebido através da fé em Cristo; pois, como diz Kohlbrügge, “onde há perdão dos pecados, há vida, há bem-aventurança, há verdadeira paz interior, há consolação[21]; e justamente estes são os frutos benditos da oração pelas necessidades espirituais, que Deus outorga aos seus servos, quando estes buscam nEle o perdão dos pecados, a saber: vida, bem-aventurança, verdadeira paz interior, consolação, conforto, ânimo, renovação, poder espiritual, e todas as bênçãos espirituais (cf. Ef 1.3). 

29. [iii] Terceiro, a nossa necessidade espiritual é que tenhamos diante de nós o próprio Deus; e, o fundamento da oração pelas necessidades espirituais é o perdão dos pecados, pois, os pecados fazem separação entre o fiel e Deus (cf. Is 59.2). Assim, a verdadeira necessidade espiritual do fiel, é o próprio Deus; donde, Kohlbrügge afirmar: “Ó querida alma, você deve ter o maná do céu, você deve ter água da rocha, você deve ter vestes, a veste nupcial, as vestes da salvação e a veste da justiça, para que você não seja encontrado nu; você deve ter uma morada, um abrigo na Jerusalém de cima![22]; pois, quem encontrou Deus, encontrou o manancial da vida, pois, encontrou as vestes da salvação; logo, a maior necessidade do fiel é ter diante de si o próprio Deus, estar em comunhão com Ele, para que a alma usufrua a delícia das bênçãos espirituais.

Por isso, sempre, como diz Kohlbrügge, “a nossa necessidade espiritual é que tenhamos Deus, o Deus vivo, diante dos nossos olhos[23]; contemplar a Deus, a partir da comunhão com Ele, eis a maior necessidade do fiel, sua maior alegria, sua maior dádiva; e esta é a maior necessidade que o cristão tem, e, as mais das vezes, as necessidades físicas se o acometem, conjuntamente com as provações, para lhe lembrar desta verdade inaudita que muitas vezes o fiel esquece; mas, que o fiel, tenha sempre Deus diante de si e esteja sempre diante de Deus, nunca se esquecendo desta necessidade primordial, pois, este é o conselho do salmista: “Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios” (Sl 103.2).

30. [iv] Quarto, a oração em relação as necessidades espirituais é a oração que busca misericórdia e graça; com isso, se chega a compreensão sobre um aspecto fundamental da oração em relação as necessidades espirituais; pois, como a maior necessidade do fiel é ter Deus diante de si, já que o fiel busca em Deus misericórdia, tal como Kohlbrügge exorta: “Somos chamados e concitados a ir a Deus em busca de misericórdia[24]; e é um chamado diário, pois, as misericórdias do Senhor se renovam a cada manhã (cf. Lm 3.22-23); e o fiel é chamado a buscá-las de maneira renovada todos os dias, através da oração, donde recebe estas misericórdias, e através da Palavra, onde conhece quais são estas misericórdias.

Além disso, a oração em relação as necessidades espirituais é a oração que busca graça; pois, a graça opera de várias maneiras e de diversos modos no fiel (cf. 1Pe 4.10); donde, a graça é necessária para que o fiel seja cheio de toda plenitude de Deus, tal como Kohlbrügge assevera: “mas a graça existe para que você seja preenchido com toda a plenitude de Deus[25]; logo, buscar a Deus por sua graça, por mais graça, pois graça é uma fonte inesgotável, é uma maneira que o fiel tem de clamar a Deus para ser cheio de Seu Espírito, da plenitude de todo o Seu poder, tal como o Apóstolo aconselha: “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18).

Com isso, o fiel que compreende sua real necessidade de sempre estar diante de Deus e ter Deus diante de si, sempre busca a graça para crescer e fortificar a fé. Pois, a graça, “é a raiz de todos os nossos bens[26]; então, ao buscar em Deus mais de sua graça, se busca fortificar e fortalecer no coração e na mente esta graça, a raiz e a fonte de todos os nossos bens espirituais.

***

31. Deste modo, foram delineados os principais conselhos de Kohlbrügge a respeito da oração, a partir de seus quatro sermões sequenciais pregados sobre a oração em outubro de 1871; e, com isso, se foram evocadas estas simples análises, que tanto contribuem um pouco mais sobre o tema sempre efusivo da teologia da oração, quanto apresentam pela primeira vez aspectos sobre a teologia de Kohlbrügge na língua de Camões; na verdade, Kohlbrügge é um grande teólogo que ficara esquecido, e seu legado em centenas e mais centenas de sermões, e em seus escritos, constituem uma maiores preciosidades da teologia reformada, pois, Kohlbrügge, como bem dissera Barth, pode ser equiparado a Calvino; na verdade, Kohlbrügge, como dissera Kuyper, é “um teólogo de rara profundidade, um pregador de poder incomum, um estudioso das Escrituras como poucos”.

32. Termina aqui esta explicação sobre alguns insights de Kohlbrügge sobre a teologia da oração. Bendito seja Deus por todas as coisas. Amém. 



[1] Edward M. Bounds, A Necessidade da Oração [São Paulo: Editora Vida, 2016], pág. 9.

[2] cf. Karl Barth, Die Protestantische Theologie im 19. Jahrhundert: Ihre Geschichte und ihre Vorgeschichte [Zollikon-Zürich: Evangelischer Verlag, 1947], pág. 587.

[3] cf. P. Lic. Th. Stiasny, Die Theologie Kohlbrügges [1935], pág. 97.

[4] Hermann F. Kohlbrügge, Über das Gebet – Erste Predigt [01/10/1871].

[5] Ibidem.

[6] Ibidem.

[7] Ibidem.

[8] Hermann F. Kohlbrügge, Über das Gebet – Zweite Predigt [08/10/1871].

[9] Ibidem.

[10] Ibidem.

[11] Ibidem.

[12] Hermann F. Kohlbrügge, Über das Gebet – Dritte Predigt [15/10/1871].

[13] Ibidem.

[14] Ibidem.

[15] Ibidem.

[16] Ibidem.

[17] Ibidem.

[18] Hermann F. Kohlbrügge, Über das Gebet – Vierte Predigt [15/10/1871].

[19] Ibidem.

[20] Ibidem.

[21] Ibidem.

[22] Ibidem.

[23] Ibidem.

[24] Ibidem.

[25] Ibidem.

[26] Tomás de Aquino, Comentário a Tessalonicenses [Porto Alegre, RS: Concreta, 2015], 2ª Epis., cap. I, lect. 2, n. 26, pág. 129. 


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