23/11/2024

Breve Explicação sobre o Argumento de Autoridade

1. A complexidade da explicação do argumento de autoridade, requer muitas e muitas análises, para exemplificar o que concerne ao mesmo tanto na filosofia quanto na teologia, principalmente quanto a teologia; no entanto, para a compreensão do que concerne a este argumento, se faz necessário pelo menos uma breve explicação para abalizar este assunto, a fim de que este argumento seja entendido em sua natureza, tarefa e propósito; pois, geralmente ou se descuida quanto ao significado ou se deixa de lado este argumento sem realmente compreender o que concerne a sua função em relação ao conhecimento. 

2. Por isso, fundamentalmente se afirma que o argumento de autoridade é o argumento que concerne a doutrina sagrada; diferentemente de no lume da luz interior, na qual o argumento de autoridade é o argumento mais fraco (cf. STh Ia, q. 1, a. 8, arg. 2), no lume luz superior, o argumento de autoridade é o argumento mais forte e o mais preciso já que seus princípios são obtidos por divina revelação (cf. STh Ia, q. 1, a. 8, ad. 2); assim, o argumento de autoridade é fraco e débil na filosofia, mas na teologia é o argumento mais forte e o mais importante. Pois, na filosofia, não se convém apoiar na autoridade (razão) humana, tal como Tomás de Aquino assevera, pois a filosofia não consiste em saber o que pensaram os homens, mas no que consiste realmente a verdade (cf. In De Cael. Exp., I, lect. 22); e o conhecimento da verdade, racionalmente advém da reflexão sobre a realidade. 

3. Portanto, na teologia convém o argumento de autoridade, por onde se inicia e onde termina a reflexão teológica, diferentemente da filosofia e da intenção do filósofo; pois, Agostinho afirma que o modo de proceder na elucubração sobre o que consiste a fé, a saber, a Trindade, se dá de dois modos: por autoridade e pela razão (cf. De Trin., I, cap. 2, n. 4). Ora, sendo a confissão sobre a Trindade o vértice sobre o qual consiste a fé, como dissera Tomás (cf. De Rat. Fid., cap. 1), então, convém que em tudo quanto diz respeito a fé se proceda de modo semelhante; logo, se tem que o argumento de autoridade é o mais adequado e o único e suficiente em ordem de eminência em relação a doutrina sagrada; assim, tendo se estabelecido o argumento de autoridade na teologia, se pode prosseguir e utilizar o argumento pela razão (ad rationem). 

4. Ora, o argumento de autoridade na teologia se dá de dois modos: primeiro, pela autoridade da Sagrada Escritura; segundo, pela autoridade dos santos doutores. Ora, o primeiro é o mais importante e regula o segundo; donde, a Escritura, a revelação dada de forma permanente, é a autoridade no que concerne as coisas divinas; além disso, se tem a autoridade dos santos doutores da Igreja que buscaram interpretar a Escritura de forma correta, e no que estão em fidelidade a Escritura possuem autoridade consultiva; pois, a Escritura possui a autoridade normativa. Ou dito entre outros termos, se tem em relação a teologia duas autoridades: a Escritura e a Tradição; a Escritura, a norma que regula; a Tradição, a norma que é regulada; a Escritura, a autoridade normativa; a Tradição, a autoridade consultiva. Além disso, se afirma que a Tradição é autoridade, pois provém da vida eclesial, da Igreja, que neste quesito é dotada de autoridade infalível por Deus para a interpretação da Sagrada Escritura. 

5. E em todos os tempos, a reflexão teológica que realmente é digna deste nome, fora feita deste modo; aliás, este é o modo como se desenvolve a reflexão teológica: primeiro, na exposição da Escritura; segundo, pela explicação racional que emerge dos ensinamentos bíblicos. E, isto se prova, por exemplo, com relação a doutrina da Trindade. Agostinho burilou o que concerne a doutrina da Santíssima Trindade, a partir da autoridade da Escritura no De Trinitate; depois de Agostinho, Boécio tomou os ensinamentos do bispo de Hipona, e os burilara quanto ao sentido racional em sua obra homônima, o opúsculo De Trinitate; assim, pois, a reflexão sobre a Trindade se estabeleceu de dois modos: primeiro, pelos dois modos de autoridade; segundo, pela razão. E isto foi feito nos mais variados tópicos da ciência sagrada. Pois a autoridade consultiva sempre é burilada por outra autoridade consultiva, e isto sempre em ordem a autoridade normativa. 

Outrossim, é que na contextura da teologia sagrada, o que se desenvolve a partir do argumento pela razão só tem valor derivado, posto que os mistérios sagrados não são açambarcados totalmente pela reta razão; ou dito em outros termos, não se resumem a simples reflexão racional; embora esta tenha algum valor e alguma utilidade, não é o mais importante no que concerne aos mistérios da Sagrada Escritura. 

6. Certamente estas palavras são suficientes para uma breve explicação do que concerne ao argumento de autoridade, principalmente para distingui-lo em sua utilização tanto na teologia quanto na filosofia. 

θεῷ χάρις


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