1. A complexidade da explicação do argumento de autoridade, requer muitas e muitas análises, para exemplificar o que concerne ao mesmo tanto na filosofia quanto na teologia, principalmente quanto a teologia; no entanto, para a compreensão do que concerne a este argumento, se faz necessário pelo menos uma breve explicação para abalizar este assunto, a fim de que este argumento seja entendido em sua natureza, tarefa e propósito; pois, geralmente ou se descuida quanto ao significado ou se deixa de lado este argumento sem realmente compreender o que concerne a sua função em relação ao conhecimento.
2.
Por isso, fundamentalmente se afirma que o argumento de autoridade é o
argumento que concerne a doutrina sagrada; diferentemente de no lume da luz interior, na
qual o argumento de autoridade é o argumento mais fraco (cf. STh Ia, q. 1, a.
8, arg. 2), no lume luz superior, o argumento de autoridade é o argumento mais forte
e o mais preciso já que seus princípios são obtidos por divina revelação (cf.
STh Ia, q. 1, a. 8, ad. 2); assim, o argumento de autoridade é fraco e débil na
filosofia, mas na teologia é o argumento mais forte e o mais importante. Pois,
na filosofia, não se convém apoiar na autoridade (razão) humana, tal como Tomás
de Aquino assevera, pois a filosofia não consiste em saber o que pensaram os
homens, mas no que consiste realmente a verdade (cf. In De Cael. Exp.,
I, lect. 22); e o conhecimento da verdade, racionalmente advém da reflexão
sobre a realidade.
3.
Portanto, na teologia convém o argumento de autoridade, por onde se inicia e
onde termina a reflexão teológica, diferentemente da filosofia e da intenção do
filósofo; pois, Agostinho afirma que o modo de proceder na elucubração
sobre o que consiste a fé, a saber, a Trindade, se dá de dois modos: por
autoridade e pela razão (cf. De Trin., I, cap. 2, n. 4). Ora, sendo
a confissão sobre a Trindade o vértice sobre o qual consiste a fé, como dissera
Tomás (cf. De Rat. Fid., cap. 1), então, convém que em tudo quanto
diz respeito a fé se proceda de modo semelhante; logo, se tem que o argumento
de autoridade é o mais adequado e o único e suficiente em ordem de eminência em
relação a doutrina sagrada; assim, tendo se estabelecido o argumento de
autoridade na teologia, se pode prosseguir e utilizar o argumento pela razão (ad
rationem).
4.
Ora, o argumento de autoridade na teologia se dá de dois modos: primeiro, pela
autoridade da Sagrada Escritura; segundo, pela autoridade dos santos doutores.
Ora, o primeiro é o mais importante e regula o segundo; donde, a Escritura, a
revelação dada de forma permanente, é a autoridade no que concerne as coisas
divinas; além disso, se tem a autoridade dos santos doutores da Igreja que
buscaram interpretar a Escritura de forma correta, e no que estão em fidelidade
a Escritura possuem autoridade consultiva; pois, a Escritura possui a
autoridade normativa. Ou dito entre outros termos, se tem em relação a teologia
duas autoridades: a Escritura e a Tradição; a Escritura, a norma que regula; a
Tradição, a norma que é regulada; a Escritura, a autoridade normativa; a
Tradição, a autoridade consultiva. Além disso, se afirma que a Tradição é
autoridade, pois provém da vida eclesial, da Igreja, que neste quesito é dotada
de autoridade infalível por Deus para a interpretação da Sagrada
Escritura.
5. E
em todos os tempos, a reflexão teológica que realmente é digna deste nome, fora
feita deste modo; aliás, este é o modo como se desenvolve a reflexão teológica:
primeiro, na exposição da Escritura; segundo, pela explicação racional que
emerge dos ensinamentos bíblicos. E, isto se prova, por exemplo, com relação a
doutrina da Trindade. Agostinho burilou o que concerne a doutrina da Santíssima
Trindade, a partir da autoridade da Escritura no De Trinitate;
depois de Agostinho, Boécio tomou os ensinamentos do bispo de Hipona, e os
burilara quanto ao sentido racional em sua obra homônima, o opúsculo De
Trinitate; assim, pois, a reflexão sobre a Trindade se estabeleceu de dois
modos: primeiro, pelos dois modos de autoridade; segundo, pela razão. E isto
foi feito nos mais variados tópicos da ciência sagrada. Pois a autoridade
consultiva sempre é burilada por outra autoridade consultiva, e isto sempre em
ordem a autoridade normativa.
Outrossim,
é que na contextura da teologia sagrada, o que se desenvolve a partir do
argumento pela razão só tem valor derivado, posto que os mistérios sagrados não
são açambarcados totalmente pela reta razão; ou dito em outros termos, não se
resumem a simples reflexão racional; embora esta tenha algum valor e alguma
utilidade, não é o mais importante no que concerne aos mistérios da Sagrada
Escritura.
6. Certamente estas palavras são suficientes para uma breve explicação do que concerne ao argumento de autoridade, principalmente para distingui-lo em sua utilização tanto na teologia quanto na filosofia.
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