Prefácio.
O
estudo e a análise sobre o comunismo, constitui-se de um importante aspecto que
se relaciona a duas importantes áreas do conhecimento, a saber, a filosofia e a
sociologia; pois, o comunismo, é um movimento sócio-político, e, por isso, é
tanto uma doutrina filosófica, quanto um movimento social; portanto, a análise
de tal movimento, constitui-se de tarefa imprescindível para o conhecimento de
aspectos sociais, filosóficos, culturais, etc., que permeiam a vida humana, os
quais, estão sempre suscetíveis a influência sempre nefasta do comunismo.
E tal
análise é importante não somente para políticos ou para questões envolvendo a
política; pois, a natureza destruidora do comunismo é tão hórrida, que se faz
necessário compreender e analisar os fatos concernentes ao comunismo, para
sempre se alertar dos males inomináveis provenientes do comunismo, bem como
para que todas as gentes sejam conscientizadas da indesculpabilidade moral e
intelectual de se apoiar o comunismo; e em se tratando da ciência sagrada não é
diferente, pois, compete também a teologia o elucubrar sobre a nefasta e a
infausta doutrina comunista.
E,
desde o séc. XIX, vários teólogos elucubram sobre o comunismo; vale lembrar do
exemplo do pastor Richard Wurmbrand, que ficou preso vários anos na prisão
comunista e que escreveu “Marx e Satã”, ou das reflexões dos padres
ortodoxos presos pelo comunismo na Europa Oriental, ou ainda, das reflexões dos
cristãos russos que foram oprimidos e torturados pelo governo soviético; ou
mesmo os relatos de prisioneiros que sobreviveram as condições horripilas das
prisões comunistas; ou os relatos dos campos de concentração na China; entre
tantos outros exemplos.
Além
disso, muito dos grandes teólogos do séc. XX, também se aperceberam do perigo
do comunismo, e procuraram meios de se estabelecer uma resposta cristã ao
comunismo; sem se esquecer, evidentemente, de muitos documentos papais que
condenaram veementemente o comunismo, os quais, diga-se de passagem, do ponto
de vista filosófico e social, são documentos magistrais. Enfim, foram várias as
invectivas teológicas contra o comunismo, as quais, servem-nos de testemunho
ainda em tempos atuais.
Mas,
entre estas análises, uma em especial ficara esquecida, dir-se-ia, fora deixada
de lado com o passar do tempo, a saber, a análise de August C. F. Vilmar sobre
o comunismo; Vilmar, teólogo luterano do séc. XIX, que também foi político, e
erudito historiador da literatura alemã, foi o primeiro teólogo a analisar o
comunismo (salvo o engano); e este fato ficara esquecido, pois, a análise de
Vilmar foi uma análise profética, já que fora feita ao se observar o movimento
comunista em seu nascimento, numa análise que anteviu toda a malignidade que o
comunismo em sua doutrina já havia prefigurado que faria.
A
reflexão de Vilmar é uma cirúrgica análise do que é o comunismo, e de qual deve
ser a resposta cristã frente as invectivas sempre nefastas do comunismo; e
compreender esta análise é tarefa imprescindível, pois, além de ser a primeira
análise sobre o comunismo, também demonstra os perigos indizíveis que o
comunismo trazia em seu bojo; o “encrenqueiro Vilmar”, como Barth o chamava,
ergueu a voz contra a nefasta doutrina comunista, e o erguer de sua voz, em uma
inigualável análise sobre o comunismo, merece ser ouvida mesmo em tempos
atuais, pois, esta análise, feita a mais de 180 anos atrás, é atualíssima, e
por isso, fala ainda em nossos dias.
Soli Deo Gloria!
In Nomine Iesus!
13 de fevereiro de 2024.
I. A
Origem do Comunismo.
1. O
comunismo é um movimento político, que tem sua origem filosófica no marxismo,
que coexiste com a doutrina marxista; mais propriamente, se fala do
marxismo-comunismo, como uma doutrina filosófica, e como um movimento
sócio-político; definir o comunismo de maneira simples não é tão fácil, devido
as inúmeras correntes e sub-sistemas que são acoplados dentro do amplo escopo
do movimento comunista nos últimos duzentos anos; fato esse que torna a
compreensão sobre o comunismo algo de uma ínvia dificuldade, pois, enquanto
existe um comunismo como movimento mundial, existe muitos “comunismos” dentro
deste escopo que agem de diversas maneiras e por diversos meios. Todavia,
existe um parâmetro simples que serve para compreender o comunismo, assim como
qualquer outro movimento filosófico e político, a saber, a base pela qual fora
fundado tal movimento.
2. O
comunismo, como se sabe, inicia com as obras de Marx e Engels; mas a fundação
do comunismo como movimento político, como partido político, pode ser entendida
a partir da publicação do “manual” do comunismo, a partir da publicação do “Manifesto
do Partido Comunista” em 1843 por Karl Marx e Friedrich Engels; embora este
não seja o texto fundatório do comunismo, certamente, é o texto que estabelece
o comunismo para o mundo como movimento político organizado; é o manual dos
comunistas; portanto, para uma compreensão mais bem apurada do comunismo, se
vai tomar a fundação pública e política do comunismo a partir da publicação
deste manifesto; na verdade, a alta cultura alemã da época, também delineou a
fundação do comunismo como movimento político a partir da publicação deste
manifesto, dado as inúmeras reações que ocorreram após esta invectiva de Marx e
Engels.
3.
Assim sendo, consegue se ter um parâmetro para conhecer o comunismo enquanto
doutrina política; pois, este manifesto continua sendo o parâmetro e a base da
ação comunista no mundo; embora, tenha ocorrido diversos desenvolvimentos na
doutrina comunista, a base de toda a práxis comunista continua sendo os axiomas
desenvolvidos por Marx e Engels no “Manifesto do Partido Comunista”;
portanto, é necessário uma breve compreensão sobre este manifesto, para se
entender o que é o comunismo enquanto movimento sócio-político e enquanto
sistema filosófico; não se vai propor uma análise exaustiva, mas alguns
apontamentos, que embora suscintos, são suficientes para se compreender o que é
o comunismo; para isso, dois princípios são elencados, os quais são: (i)
primeiro, o propósito do comunismo; (ii) segundo, os princípios da ação
comunista.
4.
[i] Primeiro, o propósito do comunismo; o comunismo existe, enquanto doutrina
política e enquanto sistema filosófico, para um propósito específico, a saber,
lutar contra a burguesia; embora, não se fale mais nesta distinção entre
burguesia e proletariado, a base do propósito comunista, está na luta de
classes, na luta da burguesia contra o proletariado; e os comunistas, se
tornaram a parte mais organizada da luta do proletariado contra a burguesia;
como o próprio Marx assevera: “Os comunistas diferenciam-se dos outros
partidos proletários apenas em dois pontos: de uma parte, nas diversas lutas
nacionais dos proletários, fazem prevalecer os interesses comuns do conjunto do
proletariado, independe da nacionalidade; de outra parte, nos diversos estágios
de desenvolvimento da luta entre proletariado e burguesia, representam sempre o
interesse do movimento geral”[1]. Assim sendo, os
comunistas, naquilo que Marx chama de a luta comum do proletariado,
estabelecem-se numa organização mais bem formada e num amplo escopo de ação,
com o propósito da queda da burguesia e a vitória do proletariado.
5.
Além disso, o comunismo não somente efetua a luta de classes num patamar mais
veemente, mas procura tornar esta luta o próprio âmago da sociedade; e, com
isso, criar uma sociedade calcificada na luta de classes, ou mais,
propriamente, naquilo que emerge do dilaceramento desta luta, a saber, a
contradição; a contradição que Marx propugna na alma da sociedade, a partir da “deificação”
da luta de classes, se torna o instrumento para o comunismo “enterrar” de vez a
burguesia e os ideais burgueses presentes nas várias esferas da sociedade; por
isso, o propósito do comunismo, ao evocar a luta de classes, não somente é agir
nesta luta, mas principalmente para vencer esta luta e inocular a contradição
na alma da sociedade; com isso, o comunismo enfraquece os meios de resistência
que existem para conter a revolução comunista; e os torna em instrumentos para
esta própria revolução, a partir da contradição, de maneira tão sorrateira, que
os não-comunistas mal conseguem se aperceber.
6.
[ii] Segundo, os princípios da ação comunista; o comunismo, que tem como
propósito a luta de classes para a vitória do proletariado contra a burguesia,
tem como princípio de ação, não somente a inoculação da contradição no seio da
sociedade, mas principalmente a abolição dos princípios fundamentais que
refreiam toda seiva da ação comunista; isto é, a abolição das verdades eternas,
da religião e da moral; Marx assevera: “há verdades eternas, como Liberdade,
Justiça, etc., que são comuns a todos os regimes sociais. Mas o comunismo abole
as verdades eternas, abole a religião e a moral”[2]; portanto, Marx reconhece
algumas verdades eternas, como Liberdade, Justiça, as quais, por sua vez, são
um freio para seiva da ação comunista; por isso, Marx propugna a abolição das
verdades eternas - Liberdade, Justiça, etc. -, da religião e da moral, ao passo
que ao aboli-las, se tem a destruição dos impedimentos naturais a ação
comunista.
7.
Por isso, a ação comunista se concentra justamente na práxis efetivada após a
abolição das verdades eternas; pois, as verdades eternas, tais como Liberdade,
Justiça, etc., impedem a desintegração da ordem essencial da realidade e
impedem que elementos de destruição social sejam inoculados culturalmente no
povo. Além disso, a ação comunista se concentra na abolição da religião; pois,
a religião, no caso, o cristianismo, é a coluna das verdades eternas na
sociedade; se se destrói ou se se corrompe as verdades eternas, seja por qual
motivo for, existe o cristianismo como coluna para preservar e reconstruir
estas verdades; logo, os comunistas para efetivaram de maneira total a
destruição das verdades eternas, procuram abolir a religião; e, para abolir a
religião, também abolir a moral; sem a moral, não há ditames éticos; sem a
moral, tudo se torna permissível; sem a moral o “eu” se torna a medida de todas
as coisas; pois, sem a moral a sociedade retoma o princípio do velho
materialismo, “homo mensura”, o homem como medida de todas as coisas;
com isso, sem a moral, cada um se torna o próprio “deus”, e o que disto surge é
a confusão e a devastação dos valores e das virtudes.
8.
Deste modo, são descritos, em linhas gerais, o propósito e o encargo da ação
comunista; mas, o propósito do comunismo, é um axioma “camaleônico”, se
transmuta de diversas formas e de diversos modos a partir das diversas
ferramentas que o comunismo estabeleceu ao longo dos anos, para assim,
implementar os motes da ação comunista; e a ação comunista é “padronizada” ao
redor do mundo, é a mesma, conquanto, os comunistas, de maneira diversa, evocam
para si todos os instrumentos para esta ação; enquanto a ação comunista numa
parte do mundo é de um modo, em outra parte será de outro modo, e ainda, em
outra parte, será de outro modo, etc.; mas o propósito da ação comunista é o
mesmo, a saber, uma práxis global, a partir de diversos instrumentos, para
instaurar a revolução mundial.
Portanto,
este é, num panorama generalíssimo, o propósito do comunismo, a partir da
descrição da origem do comunismo; e, como fora dito, toma-se como ponto de
partida a origem do comunismo a partir da publicação do “Manifesto do
Partido Comunista” em 1843, que embora não seja a fonte inicial do
comunismo, pode-se considerar a publicação deste livreto ou opúsculo de Marx e
Engels, como o ponto de virada pública do comunismo como movimento
sócio-político; e assim, se demonstra ao mundo o que realmente é o comunismo e
quais os propósitos inerentes do comunismo, os quais, são evocados neste texto,
que sem sombra de dúvida, é o manual da doutrina comunista e da ação comunista.
II. O
Comunismo como Fenômeno Infernal.
9. A
análise e a compreensão sobre o comunismo não somente é função da filosofia e
da ciência política; mas também da ciência sagrada, embora não ocupe um lugar
preponderante na ciência sagrada, esta, por lidar com assuntos filosóficos,
também há de analisar e procurar conhecer a nefasta doutrina comunista; alguns
teólogos do passado fizeram isso, como Herman Bavinck, que em 1903 escreveu “Het
Marxisme” (O Marxismo), uma análise sobre o marxismo; ou ainda, nas
invectivas de Pio IX, que viu o desenvolvimento do comunismo e o condenou em
seus muitos documentos; ou a sapiência de Leão XIII, que enxergou no socialismo
e no comunismo, elementos de manipulação e de destruição da sociedade; entre
tantos outros exemplos, provenientes tanto de teólogos católicos quanto de
teólogos protestantes.
10.
E, uma coisa em comum figura em todas estas análises, a saber, a análise justa
e racional sobre o comunismo, e a condenação do comunismo como elemento
contrário a fé cristã e ao cristianismo; tal como o próprio Bavinck afirma,
comunismo e cristianismo são auto-excludentes; os documentos papais, com agudas
e precisas análises, também testemunham disso; mas, muito antes do comunismo
como movimento mundial eclodir, antes mesmo das invectivas de Pio IX contra o
comunismo, houvera uma análise feita sobre o comunismo ainda como movimento
nascente; pois, de quando da publicação do manifesto comunista em 1843,
houveram aqueles que analisaram e se aperceberam dos grimórios terríveis e
cruentos do comunismo.
11.
Certamente, a análise mais pungente desta época, feita logo após a publicação
do manifesto, foi a análise de August C. F. Vilmar, teólogo luterano; Vilmar,
que também fora político e era parte da alta-cultura alemã de sua época, também
por sua função como historiador da literatura alemã, ao perceber os perigos do
comunismo, logo após a publicação do manifesto comunista, empreendeu um ensaio
intitulado “Ueber den Communismus”[3], escrito em 1843, no qual,
faz uma cirúrgica análise do comunismo; a análise de Vilmar sobre o comunismo
não é a mais completa e nem a mais exaustiva análise que um teólogo ou um
acadêmico fizera sobre o comunismo; até o livro do pastor Wurmbrand, “Marx e
Satã”, é mais extenso do que a análise de Vilmar; mas a análise de Vilmar é
de capitular importância pois é a primeira análise que um teólogo fizera sobre
o comunismo, bem como por ser uma análise do mesmo ano da publicação do
manifesto comunista, é a análise teológica mais antiga, bem como é a análise
mais cirúrgica sobre o comunismo; certamente, a análise de Vilmar se mostrou “profética”,
porque anteviu a verdadeira essência da doutrina comunista.
12.
Mas, infelizmente, a análise de Vilmar ficou esquecida e não foi devidamente
valorizada. E, se elenca um fato terrível e curioso, talvez, um mistério das
épocas; pois, sempre, com meios diversos, Deus usa seus servos ou quem bem
quiser para alertar sobre os perigos inomináveis destas doutrinas nefastas, mas
os homens não escutam; na época do fascismo foi a mesma coisa; com o nazismo,
Churchill ficou dez anos alertando e avisando, e ninguém escutou; com Vilmar do
mesmo modo, analisou e descreveu o comunismo a partir de sua base filosófica, e
ninguém escutou; mas, pela graça de Deus, a análise de Vilmar foi preservada, e
em tempos atuais pode-se lê-la e compreender a aguda, cirúrgica e profética
análise que Vilmar fizera sobre o comunismo.
13.
Deste modo, se faz necessário, a partir da descrição do tópico anterior sobre o
comunismo, investigar a análise de Vilmar sobre o comunismo, para compreender o
que este esquecido pastor, teólogo, político e historiador da literatura,
falara a respeito do comunismo; e mesmo que sua análise seja antiga, de mais de
180 anos atrás, sua atualidade nunca perderá a pungência e o vigor, pois, o que
Vilmar dissera do comunismo, no decorrer das épocas se mostra cada vez mais
evidente e cada vez mais se avoluma de maneira alarmante. Vilmar foi o “profeta”
que viu, a partir do manifesto comunista, no que o comunismo se tornaria e o
que o comunismo iria fazer com a sociedade, com o povo e com o mundo; em
relação a isso, Vilmar foi mais preciso do que um cirurgião numa cirurgia de
alto risco.
14. A
análise de Vilmar sobre o comunismo concentra-se em algumas proposições
singulares, as quais, serão elencadas de maneira gradual; não se vai analisar
todo o ensaio de Vilmar, que apesar de ser um pequeno ensaio, não constitui-se
o propósito de se fazer um comentário a este ensaio; mas sim elencar os
principais aspectos do que Vilmar dissera e elucubrara sobre comunismo; para
isso, seis aspectos são elencados: (i) primeiro, o comunismo como movimento
revolucionário; (ii) segundo, o comunismo é pior e mais perturbadora de todas
as revoluções; (iii) terceiro, o comunismo como fenômeno infernal; (iv) quarto,
o comunismo é anti-humanidade; (v) quinto, o comunismo como guerra contra tudo
o que existe; (vi) sexto, o comunismo e a destruição das virtudes.
15.
[i] Primeiro, o comunismo como movimento revolucionário; Vilmar assevera que
sob Luís XIV, houvera uma corrupção da língua, da literatura e dos costumes, a
qual, foi seguida por uma profunda ruptura da fé e das virtudes políticas, os
quais, somados a revolução francesa e o ímpeto de Napoleão, atacaram os valores
principais da sociedade europeia; para Vilmar, este ataque, foi seguido por
ataque ainda mais feroz e ignominioso; um ataque ainda mais pernicioso e ainda
mais perigoso que a soma de todos os ataques provenientes da revolução
francesa; um espírito ainda mais pernicioso que está assolando o interior da
vida social; para Vilmar, “esse espírito se chama insatisfação,
possessividade e ganância, se chama inveja, roubo e pilhagem, ou em uma
palavra: comunismo”[4].
16. A
descrição de Vilmar é caustica, mas precisa; este “espírito” ainda pior e ainda
mais vil do que o espírito pernicioso da revolução francesa, chama-se
comunismo; e numa síntese peculiar, Vilmar conseguiu descrever o comunismo como
poucos; em seis vocábulos, Vilmar “desvelou” o enigma do que realmente é o
comunismo; portanto, se coloca a seguinte pergunta: o que é o comunismo? Vilmar
toma a palavra e responde: o comunismo é insatisfação, é possessividade, é
ganância, é inveja, é roubo, é pilhagem.
17. O
comunismo é insatisfação; o comunismo é insatisfação contra tudo; não
insatisfação que busca melhorar, mas insatisfação que busca destruir; uma
insatisfação desfiguradora, na verdade, o tédio deificado em grau máximo; este
tédio, que o comunismo tem em si, infiltra-se nas mais diversas camadas
sociais, e assim, se torna em elemento de inoculação do veneno da insatisfação
destruidora no seio da sociedade.
O
comunismo é possessividade; o comunismo é a doutrina da possessividade, onde os
homens procuram ser donos de outrem; onde a liberdade é assassinada e onde
aquilo que é inerente de outrem como parte de sua dignidade intrínseca se torna
possessão do Estado comunista; a possessividade comunista quer se assenhorar de
tudo e de todos.
O
comunismo é ganância; e ganância desmedida, ganância deificada; o comunismo é a
doutrina da ganância suprema, da avareza tornada “deus”; e onde os comunistas
se infiltram a ganância se torna ainda maior e ainda mais terrível.
O
comunismo é inveja; a doutrina comunista é a doutrina da inveja; inveja contra
tudo de bom que existe e inveja contra tudo de bom que os homens possam fazer;
e onde há inveja há todo tipo de vício e de malignidade, pois, a inveja é a
porta de entrada dos vícios e dos demônios.
O
comunismo é roubo; a doutrina comunista é a doutrina do roubo, da roubalheira,
do “esbanjar” o dinheiro público e de torná-lo em “caixa financeiro” do partido
comunista.
O
comunismo é pilhagem; o comunismo, por ser roubo, ocasiona a pilhagem, ocasiona
o surgimento de uma quadrilha de ladrões, de um bando de salteadores, que de
maneira deslavada e de maneira vil, surrupiam o dinheiro público, e tornam este
dinheiro em “troféu” da pilhagem que o comunismo reúne ao redor de si.
Isto,
em linhas gerais, é a essência do comunismo.
18.
[ii] Segundo, o comunismo é a pior e mais perturbadora de todas as revoluções;
entre todas as revoluções mais cruentas que já houveram, o comunismo é a pior
de todas; mesmo a sanguinária revolução francesa é ainda menos pior do que o
comunismo; o comunismo consegue ao mesmo tempo ser a pior e a mais perturbadora
de todas as revoluções; a pior, pois, nenhuma das revoluções anteriores são tão
ruins e infernais como o comunismo; a mais perturbadora, porque nenhuma das
revoluções anteriores trouxe tantas tribulações e tantas destruições e mortes
para a humanidade quanto o comunismo.
Certamente,
Vilmar anteviu, devido a própria doutrina comunista, e pelo avanço do comunismo
na Alemanha da época, aquilo que o comunismo é em sua essência, e por isso,
pode descrever alguns dos epítetos que definem o comunismo de maneira
contundente. Talvez, Vilmar seja aquele que melhor definira o comunismo; pois,
todas as grandes análises sobre o comunismo, são feitas ou com o
desenvolvimento do movimento comunista ou então após as grandes revoluções
comunistas, enquanto que a análise de Vilmar é feita de quando do nascimento do
comunismo; por esta razão, é a mais precisa e cirúrgica análise do que é o
comunismo.
19. A
descrição de Vilmar se baseia naquilo que ele vira do comunismo; pois, se o
comunismo é insatisfação, então a insatisfação permeará todas as camadas e
esferas da sociedade; e uma sociedade com insatisfação se tornará em sementeira
da revolução, fato esse que os comunistas se aproveitam para lançar as sementes
da destruição, sementes essas que ao brotarem geram devastação.
Se o
comunismo é possessividade, então essa possessividade tomará conta, e a medida
que se tornar cada vez mais volumosa, acabará por descambar no desrespeito pela
propriedade privada, na destruição das liberdades e na calcificação da
injustiça.
Se o
comunismo é ganância, então tudo o que a sociedade produz de riqueza, será
instrumento de domínio de uma pequena elite dominante, a qual, surrupiará toda
a riqueza de uma nação.
Se o
comunismo é inveja, então onde o comunismo influenciar, haverá todo tipo de
obra maligna, pois, onde a inveja há todo tipo de obra maligna (cf. Tg 3.16); o
próprio Vilmar afirma que a inveja é um monstro que corrompe os sentimentos[5]; logo, o comunismo se
aproveita da inveja para corroer todos os bens inerentes a vida humana;
pois, onde há inveja passa a não haver nada de bom e nem resquícios de honra,
de bondade e de sensatez.
Se o
comunismo é roubo, então os comunistas roubarão e se apossarão do dinheiro do
Estado, que por sua vez, é o dinheiro do povo; o comunismo rouba o dinheiro do
povo, usurpa para fins nefastos o dinheiro dos contribuintes, para financiar as
práticas vis do comunismo em determinado país e para financiar o comunismo ao
redor do mundo.
Se o
comunismo é pilhagem, então o comunismo passará a formar uma grande quadrilha
que saqueará os bens financeiros e os bens morais da sociedade, e assim, a
tornará sujeita a uma quadrilha de ladrões; e assim, o comunismo conquistará
uma sociedade através desta grande quadrilha de ladrões, que embora nem todos
sejam ladrões de dinheiro, são ladrões que procuram surrupiar as virtudes e os
bens naturais da vida humana.
20.
Por isso, Vilmar descreve o comunismo como a pior e mais perturbadora de todas
as revoluções; pior em sentido qualitativo, e, que, posteriormente, se tornaria
na pior em sentido quantitativo; em sentido qualitativo porque é a que destrói
completamente todas as virtudes e qualificativos humanos; em sentido
quantitativo porque é a que mais destruição e matança operara no seio da
sociedade, e, realmente, em se tratando de crueldade e quantidade de mortes, o
comunismo é a pior de todas as revoluções.
O
comunismo não somente é a pior de todas as revoluções, mas também a mais
perturbadora de todas as revoluções; mais perturbadora, porque, se o comunismo
é o que fora descrito, então, as consequências do comunismo serão perturbações
tão infernais, que ocasionarão uma perturbação a ordem social que jamais fora
ocasionada. Portanto, o comunismo, sem sombra de dúvida, é a pior e a mais
perturbadora de todas as revoluções; o comunismo é a maior e mais terrível das
calamidades da história da humanidade. Vilmar percebera isso em 1843, quando da
publicação do “Manifesto do Partido Comunista”.
21.
[iii] Terceiro, o comunismo como fenômeno infernal; o comunismo é um “fenômeno”
social; evidentemente, o próprio princípio do Partido Comunista, evoca o
pressuposto do comunismo como um “fenômeno” social; e todo fenômeno, deve ser
analisado em sua essência; pois, ao se compreender o fenômeno em sua essência,
se pode compreender o propósito e o escopo de tal fenômeno; por isso, Vilmar,
ao analisar a origem do comunismo, a partir da publicação do “Manifesto do
Partido Comunista”, descreve o comunismo como fenômeno infernal; isto é, se
o comunismo é um fenômeno, é um fenômeno infernal; logo, o comunismo, em sua
essência, propósito e escopo, é um fenômeno infernal; em dado momento de sua
análise, Vilmar assevera: “não quero examinar mais de perto a origem social
deste fenômeno infernal. Pelo contrário, a minha preocupação é demonstrar e
julgar a atitude em que se baseia”[6]; Vilmar se propõe a não
somente examinar a origem deste fenômeno infernal, isto é, os fatos que
contribuíram para formar o comunismo; mas, pelo fato do comunismo ser um
fenômeno infernal, Vilmar se propõem a demonstrar a atitude, a ação, na qual os
comunistas se baseiam; ou dito em outros termos, em analisar a práxis
comunista.
22.
Então, como fenômeno infernal, tudo o que o comunismo é (doutrina comunista) e
tudo o faz (práxis comunista), refletirá este caractere intrínseco; a doutrina
comunista será infernal em tudo o que prescreve e estabelece como base
teorética; mas também a doutrina comunista será infernal em tudo o que
prescreve e estabelece como base para práxis; a teoria e a prática comunista é
intrinsecamente infernal; e por isso, onde a teoria comunista impera e subjuga
o pensamento teorético, haverá um domínio infernal e sofístico sobre a
intelectualidade; e onde a práxis comunista impera e subjuga a ação humana,
haverá meios e modos de tornar esta práxis um ordenativo absoluto e obrigatório
para toda a sociedade, o que ocasiona a destruição da fraternidade e das virtudes
inerentes a vida em sociedade; logo, infernal na teoria e infernal na prática,
eis o que é o comunismo.
23.
[iv] Quarto, o comunismo é anti-humanidade; o comunismo, como a pior e mais
terrível de todas as perturbações, como fenômeno infernal, é por isso, o mais
inigualável movimento anti-humanidade que a história já conheceu; o comunismo,
em sua essência, existe contra a humanidade, existe para destruir o múnus do
verdadeiro humanismo e da humanidade; por isso, Vilmar assevera: “dificilmente
é possível pensar num pensamento que se desvie mais fundamentalmente de tudo o
que antes se chamava humanidade”[7]; portanto, o comunismo, em
sua natureza e propósito, é anti-humanidade; pois, o qualificativo inerente do
comunismo como fenômeno infernal, é o que conduz o comunismo contra tudo o que
diz respeito a pessoalidade do ser humano e contra tudo o que incentiva e que
propaga o verdadeiro humanismo.
24. O
comunismo, em sua essência, é desumanizante e desumanizador; a realidade
fenomênica do comunismo, demonstra que tudo o que provêm do comunismo, é contra
a dignidade humana; tudo o que provêm do comunismo procura desfigurar a
dignidade humana; tudo o que provêm do comunismo procura destruir a dignidade
humana. Com isso, se consegue perceber que o comunismo é, em si mesmo e em
relação ao todo da vida humana, uma doutrina social e um sistema filosófico que
existe para destruir e corromper os valores fundamentais do ser humano e
vituperar a dignidade inerente a cada ser humano; em termos mais atuais, o
comunismo é contra os direitos humanos; pois, o comunismo apoia práticas que
atentam contra a vida, contra a liberdade e contra a segurança; logo, o
comunismo é inerentemente contra os direitos humanos.
25.
[v] Quinto, o comunismo é guerra contra tudo o que existe; o comunismo, não
somente é anti-humanidade, mas o comunismo é guerra contra tudo o que existe; o
próprio Marx assevera: “O sufrágio universal parece ter sobrevivido apenas
por um momento, para que com sua própria mão possa fazer sua última vontade e
testamento diante dos olhos de todo o mundo e declarar em nome do próprio povo:
tudo o que existe deve ser destruído”[8]. Numa de suas palavras,
Marx retoma as palavras de Mefistófeles, demônio do Fausto de Goethe, “tudo o
que existe deve ser destruído”; este é o axioma do comunismo, o “brado”
de guerra dos comunistas contra a humanidade e contra tudo o que existe; o
comunismo existe para guerrear contra tudo o que existe; Vilmar, compreendendo
este aspecto sobre o comunismo, faz uma descrição de como o comunismo, em sua
práxis, perfaz este axioma de Marx; Vilmar assevera que os comunistas, estão “a
espreita como uma fera em uma emboscada, espiando avidamente como um abutre
ávido por comer, ansiando pelos bens do vizinho como um tigre pronto para
atacar, todos estão agora em constante batalha com todos os outros; uma guerra
constante de todos contra todos é o estado regular que os comunistas lutam, ou
melhor, no qual já se encontram de acordo com a sua mentalidade”[9]. Esta é a mentalidade
comunista, guerra contra tudo o que existe. E, se for feita uma análise
psíquica com todos os líderes do comunismo[10], se constatará este mesmo
fato, o comunismo é guerra contra tudo e contra todos; este é o “ar” que os
comunistas respiram e o verdadeiro motivo pelo qual lutam e vivem.
26. A
luta comunista, é a luta sem trégua contra a realidade; é a luta contra tudo
aquilo que possui algo de bom, de belo e de verdadeiro; o comunismo procura
destruir toda bondade; o comunismo procura destruir toda beleza; o comunismo
procura destruir tudo aquilo que é verdadeiro; por isso, os comunistas ficam a
espreita, procurando tragar e desfigurar tudo aquilo que possui algo de bom,
algo de belo e algo de verdadeiro; o comunismo, ao “sentir” o cheiro de
bondade, ou de beleza, ou de algo verdadeiro, age igual a um animal selvagem, e
procura tragar e devorar aquilo de bom, de belo e de verdadeiro que surge no
meio da sociedade; a “cadeia alimentar” social e moral para o comunismo, é
predatória; e o comunismo no topo desta “cadeia alimentar”, procura devorar e
tragar tudo aquilo que faz bem para a sociedade e tudo aquilo que valora e
incentiva a verdadeira moral. O comunismo, portanto, é a evocação de um grande
grimório, tal como no antigo xamanismo, para subjugar a sociedade e o povo aos
ditames nefastos e incautos que o próprio comunismo propaga.
27.
[vi] Sexto, o comunismo ocasiona a destruição das virtudes; o comunismo, por
ser guerra contra tudo, é uma guerra contra as virtudes inerentes ao ser
humano; o comunismo é contrário a toda virtude e contra todo ímpeto de
virtuosidade; por isso, Vilmar afirma que no comunismo, “haverá um fim para
toda devoção, todo sacrifício, um fim para o amor; e quando o apóstolo
profetiza: o amor nunca cessará, ainda que cessem as profecias, e as línguas
cessem, e o conhecimento cesse, hoje um coro de mil vozes responde com uma voz
infernal: o amor cessou. Os três que foram prometidos que permaneceriam: a fé,
a esperança e o amor, faleceram um após o outro: a fé há muito se tornou uma
zombaria, a esperança um ridículo, e agora o amor também se tornou um crime”[11]. Portanto, com o
comunismo, as virtudes cardeais deixam de existir, e as virtudes teologais, são
solapadas e transmogrifadas a partir daquilo que os comunistas entendem como as
“verdadeiras” virtudes; isto é, onde antes houvera a fé, passa a haver zombaria
em relação a quem tem fé e/ou em relação ao que a fé representa; onde antes
houvera a esperança nas coisas que viriam, passa a haver a ridicularização do
esperar as coisas que virão; onde antes houvera o amor e os atos de amor, passa
a haver a criminalização dos atos de amor, e então, a prática da caridade passa
a se tornar como um crime.
28.
Portanto, o comunismo, como fenômeno infernal e como guerra contra tudo o que
existe, procurará, em sua doutrina e em sua práxis, destruir as virtudes; e
para isso, se utilizará dos meios da zombaria, da ridicularização e da
criminalização. O comunismo se utilizará da zombaria, pois, pela zombaria se
enfraquece e se mina o ânimo; logo, onde há zombaria da fé, se tem de maneira
gradual e continua uma infinidade de setas malignas que procuram desfibrar o
vigor e a vitalidade do ânimo, e por consequência, do vigor e da virtude da fé.
O comunismo se utilizará da ridicularização, pois, pela ridicularização se
consegue impedir que alguém busque a virtude, pois, o ridicularizar é uma seta
tão profunda, que se atingir a alma da pessoa, esta passa a ser movida pelos
desejos infernais da ridicularização de outrem, passando assim a rir da honra e
a desgostar-se da honestidade e da virtuosidade. E o comunismo se utilizará da
criminalização, pois, pela criminalização da virtude e dos verdadeiros atos de
amor, se oprime e se “reeduca” para o que o comunismo quer implementar como
verdadeiros atos de amor, que no comunismo é a mudança do certo no errado e do
errado no certo; pois, os comunistas consideram atos de amor o que é injustiça
e o que o perdão é a falta de justiça para com quem comete crimes hediondos.
29.
Estas são apenas algumas descrições que Vilmar estabelece em sua análise sobre
o comunismo no referido ensaio; embora se tenham outras descrições de Vilmar,
no próprio ensaio referido, e em outros ensaios, estas descrições acima
elencadas são suficientes para se entender a cirúrgica e completa análise do
comunismo como fenômeno infernal; e a análise de Vilmar fora uma análise “profética”,
pois, cumpriu-se realmente, no desenrolar dos anos, o fato de que o comunismo é
um fenômeno infernal; portanto, a análise de Vilmar sobre o comunismo, por ser
a primeira análise de um teólogo sobre o comunismo, continua a ser importante;
e mesmo para todos aqueles que procuram compreender e entender o que é o
comunismo, o lendário teólogo e historiador da literatura alemã não pode ser
negligenciado e esquecido. Vilmar, bradou contra o comunismo, e seu brado, deve
ser ouvido ainda em tempos atuais.
30.
Além disso, em meio a estas elucubrações e descrições que Vilmar faz sobre o
comunismo, se tem uma sentença que ele evoca de fundamental importância; pois,
Vilmar fala sobre a maneira como o comunismo iria avançar na política, ou pelo
menos, o elemento que fortaleceria o comunismo para que este pudesse se
desenvolver; Vilmar afirma: “Quanto mais arrogância você tiver, mais certo
será que a tempestade do comunismo irromperá contra você”[12]; a descrição de Vilmar
novamente é cirúrgica; pois, alertara tanto as futuras gerações de políticos
quanto aos jovens; o comunismo prospera e se desenvolve aonde há arrogância; e
a medida da arrogância de uma pessoa é a medida da influência do comunismo sob
esta pessoa; evidentemente, onde o comunismo passa a imperar, qualquer ato de
arrogância é sinal clarividente de influência, consciente e/ou inconsciente, do
comunismo; e onde há o domínio cultural do comunismo, quanto mais arrogância,
mais preso se fica aos tentáculos do comunismo.
O
comunismo é um fenômeno tão infernal, que a medida que domina sobre toda a
cultura, coloca sob seu jugo todos aqueles que mesmo não sendo comunistas são
açambarcados pelos modos da ação comunista, entre as quais, aqueles que não
sendo comunistas, agindo com arrogância, passam a agir em prol do comunismo; a
arrogância coloca toda ação “anti-comunista” sob o bojo da contradição
comunista, que, de maneira desconcertante, acaba por ajudar e servir aos
propósitos do próprio comunismo.
III.
Conduzir os Pobres sob a Cruz.
31.
Por isso, pode-se afirmar que a análise de Vilmar sobre o comunismo, é precisa,
direta, dir-se-ia cirúrgica; e mais, é profética, pois descreve de maneira
assombrosa tudo aquilo que o comunismo iria fazer no solo da sociedade; e mais,
Vilmar acertou em cheio quando falou que por volta de 70 anos, os comunistas,
se não fossem contidos da maneira correta, começariam a dominar toda a
sociedade europeia; e Vilmar estava certo, pois, ele escreveu este ensaio em
1843, e por volta de 60 a 70 anos depois, as revoluções comunistas começaram a
estourar na sociedade europeia, dando início a uma série de revoluções que
desembocou na implementação do comunismo em vários países, e que estabeleceu a
força do comunismo enquanto movimento de dominação mundial.
32.
No entanto, Vilmar não somente se apercebeu do caractere revolucionário do
comunismo, ao descrever o comunismo como fenômeno infernal; mas também
compreendeu que algumas das reinvindicações dos comunistas, o tornaram “atraentes”
para a sociedade de seu tempo; pois, ao inocular o ideal da revolução com o
espírito da insatisfação, o comunismo, passa a evocar o questionamento a tudo o
que existe (a forma primária e inicial da dialética negativa); e ao se
questionar tudo, evidentemente, alguns questionamentos realmente farão algum
sentido, já que sempre se tem algo a melhorar no seio da sociedade; portanto,
ao comunismo questionar estas questões, se propugna como o único capaz de
solucionar estas questões urgentes na vida social. Por isso, Vilmar assevera: “quanto
mais tudo é questionado, mais o comunismo assume o controle de finalmente
responder a estas questões”[13].
33.
A proposição de se questionar tudo o que existe, é um modo do comunismo assumir
a solução destes questionamentos e se propugnar como a verdadeira “libertação”
da vida em sociedade das amarras da burguesia e dos tiranos; na verdade, o
comunismo, pelo questionamento de tudo, procura retomar uma série de questões
que foram deixadas de lado e que foram negligenciadas por uma série de motivos,
os quais, Marx se aproveita para questionar o real estado da sociedade e
inocular a insatisfação na sociedade; cem anos depois da análise de Vilmar,
após a Segunda Guerra, Karl Barth também identificou este fato, ao afirmar: “comunismo
significa, independentemente da forma como se encara a questão, uma solução
radical para a questão social que nós, na Europa, adiámos”[14].
O
comunismo procurou encontrar uma resposta para as questões fundamentais que a
própria Europa, que a própria sociedade europeia havia adiado e havia deixado
de lado. Por isso, Marx afirma que “a burguesia produz, acima de tudo, seus
próprios coveiros”[15]. A sentença de Marx se
mostra evidente, pois ele constatara o fato de que a própria burguesia estava
produzindo aquilo que a destruiria; na verdade, a própria burguesia, por adiar
questões sociais e econômicas fundamentais, deixara estas questões em aberto, e
permitira que o comunismo se tornasse ávido nestas questões, donde o comunismo
lutar contra a burguesia pelos erros e negligências da própria burguesia.
34.
Portanto, os problemas sociais mais importantes, ao serem negligenciados, se
tornaram, para Marx, os princípios pelo qual ele desenvolveu a ação comunista e
o modo pelo qual a ação comunista se mantém e se efetiva na luta de classes; e
uma destas questões urgentes, sem sombra de dúvida, é o problema da pobreza. A
pobreza, se tornara um problema sem igual na sociedade europeia; e ao invés das
grandes nações terem enfrentado este problema em suas bases, muitos preferiram
deixá-lo de lado; por isso, o comunismo se aproveitou deste fato e se levantou
em “nome” dos pobres; evidentemente, o comunismo não se preocupa com os pobres
e a pobreza, já que os comunistas são os maiores causadores de pobreza; na
verdade, os comunistas utilizam-se do mote da pobreza e dos pobres, para poder
arrolar para si a solução de um problema que desde o início do séc. XIX, tem
agitado a burguesia, e que é um grave problema social; aliás, é pelo mote da “defesa
dos pobres” que os comunistas enganam e engodam muitos cristãos; pois, ao se
demonstrarem favoráveis aos pobres, os comunistas se passam por “bonzinhos” e
enganam as pessoas símplices.
35.
E é justamente a questão sobre a pobreza e sobre os pobres, o elemento mais
utilizado pelos comunistas para enganar a sociedade e os cristãos, onde se tem
uma grande diferença entre o comunismo e o cristianismo, bem como onde se
demonstra a razão do porque comunismo e cristianismo são auto-excludentes; o
modo como os comunistas dizem erradicar a pobreza, e o modo como dizem que
ajudam os pobres, são totalmente anti-bíblicos e anti-cristãos; portanto, no
cuidado com os pobres, o comunismo e o cristianismo são auto-excludentes; por
isso, diferentemente do comunismo que procura conduzir os pobres como elementos
de manipulação (stalinismo) e/ou como instrumento ativo da revolução (maoísmo),
o cristianismo procura conduzir os pobres sob a cruz; na verdade, o
cristianismo é contrário a todos os meios mundanos que se possa utilizar contra
as perturbações sociais ocasionadas pelas ideologias; tal como Vilmar assevera:
“Todos os meios mundanos que alguém possa utilizar contra a crescente
perturbação das nossas condições sociais serão, sem dúvida, não apenas em vão,
mas também se transformarão em venenos destrutivos contra os próprios
curandeiros inúteis”[16].
36.
Os meios mundanos perturbadores, muitos dos quais, o comunismo açambarca em sua
práxis, não são a solução para os problemas sociais; antes, acentuam este
problema; na verdade, tornam os problemas sociais ainda mais terríveis; pois,
os comunistas proclamam a solução destes problemas os tornando ainda mais
terríveis e cruentos; pois, os comunistas não ensinam a se suportar os
sofrimentos sociais, nem o poderiam; de maneira acertada se afirma que o
comunismo jamais pode ensinar a se suportar os sofrimentos, pois, os
sofrimentos sociais são inerentemente causados pelo próprio comunismo; o
comunismo ensina a insatisfação e o tédio contra todos estes males, que ao
invés de solucioná-los, os torna ainda mais incisivos; portanto, ao invés de
serem o remédio, na verdade, são, como Vilmar asseverara, os venenos
destrutivos que destroem a sociedade, e que acabam por despejar mais venenos
sobre a sociedade.
Os
comunistas são “curandeiros” sociais; que ao invés de curar os males da
sociedade, velam sob supostos “remédios” e dopam a sociedade para que a mesma
não seja verdadeiramente curada dos males que a assolam. O curandeirismo social
do comunismo é pior e mais terrível do que o curandeirismo do xamanismo, que
pelo psiquismo efetua “curas” e outros similares de maneira falsa e doentia; o
curandeirismo social, na verdade, dopa e maquia, sob o psiquismo da destruição
das virtudes, para que realmente não haja cura para os males da sociedade.
37.
Assim sendo, só se enfrenta de maneira legítima e correta os sofrimentos
sociais, a partir da cruz de Cristo, e não dos ditames da práxis comunista; o
sofrimento só é entendido e suportado a partir do exemplo de Cristo, “homem
de dores e que sabe o que é sofrer” (Is 53.3); e somente quem toma o
exemplo de Cristo como testemunho, é que consegue enfrentar os terríveis males
sociais e epocais ocasionados por diversos fatores, principalmente pelos
comunistas; o próprio Vilmar afirmara: “quem está debaixo da cruz no Gólgota
suporta as agruras desta vida, suporta a pobreza, suporta a pobreza mais amarga
com leveza e confiança. Conduzir os pobres sob a cruz do Senhor Cristo, essa,
meus jovens amigos, é a vossa vocação; Ele ainda hoje é o Salvador que tomou as
nossas feridas e as curou através das suas feridas, o único que é capaz de
curar esta ferida profunda do nosso tempo”[17]. O que Vilmar estabelece
é um dos mais preciosos axiomas do cristianismo em relação aos pobres, a saber,
conduzi-los sob a cruz; essa é a vocação do cristianismo em relação aos pobres;
pois, Cristo, somente Cristo, tal como diz Vilmar, é o “único que é capaz de
curar esta ferida profunda de nosso tempo”.
38.
A solução proposta por Vilmar é simples, profunda e contumaz; pois, apresenta a
solução para o questionamento que o comunismo se utiliza para semear a
insatisfação no solo da sociedade; portanto, conduzir os pobres sob a cruz é o
modo que a cristandade tem para enfrentar o problema da pobreza e exercer o
cuidado com aqueles que precisam, tal como ensina o Evangelho, a saber: cuidar
dos pobres, e não somente cuidar dos mesmos, mas conduzi-los sob a cruz;
conduzi-los sob os ditames e o exemplo de Cristo; é Cristo, e não Marx e o
comunismo, o exemplo e a verdadeira fonte do humanismo e do cuidado com os
pobres; a solução da pobreza, se inicia com o respeito pleno e a reverência
para com Aquele que sendo rico se fez pobre (cf. 2Co 8.9), a fim de redimir o gênero
humano.
Diante
da resolução e do conselho de se conduzir os pobres sob a cruz, é importante
lembrar de que para os conduzir sob a cruz, é preciso estar sob a cruz; Vilmar
assevera: “quem quiser conduzir os pobres sob a cruz do Salvador deve ter
estado ele mesmo sob esta cruz e saber o caminho para chegar lá”[18]; estar sob a cruz e ser
conduzido a partir da cruz de Cristo, em seus ideais e valores sociais, é o
princípio de todo cristão e da cristandade na luta contra a pobreza e no
cuidado amoroso e misericordioso para com os pobres. Este é o verdadeiro
cuidado com os pobres, que contradiz completamente as mentiras e os engodos do
comunismo, e que demonstra que o cristianismo tem uma responsabilidade do
cuidado com os mais pobres, principalmente, de cuidar dos mesmos e os conduzir
sob a cruz do Senhor Jesus Cristo.
39. E termina aqui a exposição da análise de Vilmar sobre o comunismo. Bendito seja Deus por todas as coisas. Amém.
[1] Karl Marx e Friedrich Engels, O
Manifesto do Partido Comunista [Porto Alegre, RS: L&PM, 2001], pág. 46.
[2] Ibidem. Pág. 58.
[3] In: August C. F. Vilmar, Schulreden über Fragen der Zeit
[Marburg: Elw. Univers.
Buchhandlung, 1846], pág. 133-145.
[4] Ibidem. Pág. 135.
[5] Ibidem. Pág. 137.
[6] Ibidem. Pág. 135.
[7] Ibidem. Pág. 136.
[8] Karl Marx e Friedrich Engels, Marx-Engels Collected Works Vol. 11:
Marx and
Engels, 1851-53 [Lawrence & Wishart: 1979], pág. 108.
[9] Vilmar, Op. Cit., pág. 137.
[10] cf. Andrew Lobaczewski, Ponerologia:
Psicopatas no Poder [Campinas, SP: Vide Editorial, 2014].
[11] Vilmar, Op. Cit., pág. 138.
[12] Ibidem. Pág. 144.
[13] Ibidem. Pág. 142.
[14] Karl Barth, Die christliche
Verkündigung im heutigen Europa - Ein Vortrag [München: Chr. Kaiser Verlag,
1946], pág. 10.
[15] Marx e Engels, Op. Cit.,
2001, pág. 45.
[16] Vilmar, Op. Cit., pág. 144.
[17] Ibidem. Pág. 144-145.
[18] Ibidem. Pág. 145.
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