14/02/2024

A Análise de Vilmar sobre o Comunismo

Prefácio.

 

O estudo e a análise sobre o comunismo, constitui-se de um importante aspecto que se relaciona a duas importantes áreas do conhecimento, a saber, a filosofia e a sociologia; pois, o comunismo, é um movimento sócio-político, e, por isso, é tanto uma doutrina filosófica, quanto um movimento social; portanto, a análise de tal movimento, constitui-se de tarefa imprescindível para o conhecimento de aspectos sociais, filosóficos, culturais, etc., que permeiam a vida humana, os quais, estão sempre suscetíveis a influência sempre nefasta do comunismo.

E tal análise é importante não somente para políticos ou para questões envolvendo a política; pois, a natureza destruidora do comunismo é tão hórrida, que se faz necessário compreender e analisar os fatos concernentes ao comunismo, para sempre se alertar dos males inomináveis provenientes do comunismo, bem como para que todas as gentes sejam conscientizadas da indesculpabilidade moral e intelectual de se apoiar o comunismo; e em se tratando da ciência sagrada não é diferente, pois, compete também a teologia o elucubrar sobre a nefasta e a infausta doutrina comunista.

E, desde o séc. XIX, vários teólogos elucubram sobre o comunismo; vale lembrar do exemplo do pastor Richard Wurmbrand, que ficou preso vários anos na prisão comunista e que escreveu “Marx e Satã”, ou das reflexões dos padres ortodoxos presos pelo comunismo na Europa Oriental, ou ainda, das reflexões dos cristãos russos que foram oprimidos e torturados pelo governo soviético; ou mesmo os relatos de prisioneiros que sobreviveram as condições horripilas das prisões comunistas; ou os relatos dos campos de concentração na China; entre tantos outros exemplos.

Além disso, muito dos grandes teólogos do séc. XX, também se aperceberam do perigo do comunismo, e procuraram meios de se estabelecer uma resposta cristã ao comunismo; sem se esquecer, evidentemente, de muitos documentos papais que condenaram veementemente o comunismo, os quais, diga-se de passagem, do ponto de vista filosófico e social, são documentos magistrais. Enfim, foram várias as invectivas teológicas contra o comunismo, as quais, servem-nos de testemunho ainda em tempos atuais.

Mas, entre estas análises, uma em especial ficara esquecida, dir-se-ia, fora deixada de lado com o passar do tempo, a saber, a análise de August C. F. Vilmar sobre o comunismo; Vilmar, teólogo luterano do séc. XIX, que também foi político, e erudito historiador da literatura alemã, foi o primeiro teólogo a analisar o comunismo (salvo o engano); e este fato ficara esquecido, pois, a análise de Vilmar foi uma análise profética, já que fora feita ao se observar o movimento comunista em seu nascimento, numa análise que anteviu toda a malignidade que o comunismo em sua doutrina já havia prefigurado que faria.

A reflexão de Vilmar é uma cirúrgica análise do que é o comunismo, e de qual deve ser a resposta cristã frente as invectivas sempre nefastas do comunismo; e compreender esta análise é tarefa imprescindível, pois, além de ser a primeira análise sobre o comunismo, também demonstra os perigos indizíveis que o comunismo trazia em seu bojo; o “encrenqueiro Vilmar”, como Barth o chamava, ergueu a voz contra a nefasta doutrina comunista, e o erguer de sua voz, em uma inigualável análise sobre o comunismo, merece ser ouvida mesmo em tempos atuais, pois, esta análise, feita a mais de 180 anos atrás, é atualíssima, e por isso, fala ainda em nossos dias.

Soli Deo Gloria!

In Nomine Iesus!

13 de fevereiro de 2024.

           

I. A Origem do Comunismo.

 

1. O comunismo é um movimento político, que tem sua origem filosófica no marxismo, que coexiste com a doutrina marxista; mais propriamente, se fala do marxismo-comunismo, como uma doutrina filosófica, e como um movimento sócio-político; definir o comunismo de maneira simples não é tão fácil, devido as inúmeras correntes e sub-sistemas que são acoplados dentro do amplo escopo do movimento comunista nos últimos duzentos anos; fato esse que torna a compreensão sobre o comunismo algo de uma ínvia dificuldade, pois, enquanto existe um comunismo como movimento mundial, existe muitos “comunismos” dentro deste escopo que agem de diversas maneiras e por diversos meios. Todavia, existe um parâmetro simples que serve para compreender o comunismo, assim como qualquer outro movimento filosófico e político, a saber, a base pela qual fora fundado tal movimento.

2. O comunismo, como se sabe, inicia com as obras de Marx e Engels; mas a fundação do comunismo como movimento político, como partido político, pode ser entendida a partir da publicação do “manual” do comunismo, a partir da publicação do “Manifesto do Partido Comunista” em 1843 por Karl Marx e Friedrich Engels; embora este não seja o texto fundatório do comunismo, certamente, é o texto que estabelece o comunismo para o mundo como movimento político organizado; é o manual dos comunistas; portanto, para uma compreensão mais bem apurada do comunismo, se vai tomar a fundação pública e política do comunismo a partir da publicação deste manifesto; na verdade, a alta cultura alemã da época, também delineou a fundação do comunismo como movimento político a partir da publicação deste manifesto, dado as inúmeras reações que ocorreram após esta invectiva de Marx e Engels.

3. Assim sendo, consegue se ter um parâmetro para conhecer o comunismo enquanto doutrina política; pois, este manifesto continua sendo o parâmetro e a base da ação comunista no mundo; embora, tenha ocorrido diversos desenvolvimentos na doutrina comunista, a base de toda a práxis comunista continua sendo os axiomas desenvolvidos por Marx e Engels no “Manifesto do Partido Comunista”; portanto, é necessário uma breve compreensão sobre este manifesto, para se entender o que é o comunismo enquanto movimento sócio-político e enquanto sistema filosófico; não se vai propor uma análise exaustiva, mas alguns apontamentos, que embora suscintos, são suficientes para se compreender o que é o comunismo; para isso, dois princípios são elencados, os quais são: (i) primeiro, o propósito do comunismo; (ii) segundo, os princípios da ação comunista.

4. [i] Primeiro, o propósito do comunismo; o comunismo existe, enquanto doutrina política e enquanto sistema filosófico, para um propósito específico, a saber, lutar contra a burguesia; embora, não se fale mais nesta distinção entre burguesia e proletariado, a base do propósito comunista, está na luta de classes, na luta da burguesia contra o proletariado; e os comunistas, se tornaram a parte mais organizada da luta do proletariado contra a burguesia; como o próprio Marx assevera: “Os comunistas diferenciam-se dos outros partidos proletários apenas em dois pontos: de uma parte, nas diversas lutas nacionais dos proletários, fazem prevalecer os interesses comuns do conjunto do proletariado, independe da nacionalidade; de outra parte, nos diversos estágios de desenvolvimento da luta entre proletariado e burguesia, representam sempre o interesse do movimento geral[1]. Assim sendo, os comunistas, naquilo que Marx chama de a luta comum do proletariado, estabelecem-se numa organização mais bem formada e num amplo escopo de ação, com o propósito da queda da burguesia e a vitória do proletariado.

5. Além disso, o comunismo não somente efetua a luta de classes num patamar mais veemente, mas procura tornar esta luta o próprio âmago da sociedade; e, com isso, criar uma sociedade calcificada na luta de classes, ou mais, propriamente, naquilo que emerge do dilaceramento desta luta, a saber, a contradição; a contradição que Marx propugna na alma da sociedade, a partir da “deificação” da luta de classes, se torna o instrumento para o comunismo “enterrar” de vez a burguesia e os ideais burgueses presentes nas várias esferas da sociedade; por isso, o propósito do comunismo, ao evocar a luta de classes, não somente é agir nesta luta, mas principalmente para vencer esta luta e inocular a contradição na alma da sociedade; com isso, o comunismo enfraquece os meios de resistência que existem para conter a revolução comunista; e os torna em instrumentos para esta própria revolução, a partir da contradição, de maneira tão sorrateira, que os não-comunistas mal conseguem se aperceber.

6. [ii] Segundo, os princípios da ação comunista; o comunismo, que tem como propósito a luta de classes para a vitória do proletariado contra a burguesia, tem como princípio de ação, não somente a inoculação da contradição no seio da sociedade, mas principalmente a abolição dos princípios fundamentais que refreiam toda seiva da ação comunista; isto é, a abolição das verdades eternas, da religião e da moral; Marx assevera: “há verdades eternas, como Liberdade, Justiça, etc., que são comuns a todos os regimes sociais. Mas o comunismo abole as verdades eternas, abole a religião e a moral[2]; portanto, Marx reconhece algumas verdades eternas, como Liberdade, Justiça, as quais, por sua vez, são um freio para seiva da ação comunista; por isso, Marx propugna a abolição das verdades eternas - Liberdade, Justiça, etc. -, da religião e da moral, ao passo que ao aboli-las, se tem a destruição dos impedimentos naturais a ação comunista.

7. Por isso, a ação comunista se concentra justamente na práxis efetivada após a abolição das verdades eternas; pois, as verdades eternas, tais como Liberdade, Justiça, etc., impedem a desintegração da ordem essencial da realidade e impedem que elementos de destruição social sejam inoculados culturalmente no povo. Além disso, a ação comunista se concentra na abolição da religião; pois, a religião, no caso, o cristianismo, é a coluna das verdades eternas na sociedade; se se destrói ou se se corrompe as verdades eternas, seja por qual motivo for, existe o cristianismo como coluna para preservar e reconstruir estas verdades; logo, os comunistas para efetivaram de maneira total a destruição das verdades eternas, procuram abolir a religião; e, para abolir a religião, também abolir a moral; sem a moral, não há ditames éticos; sem a moral, tudo se torna permissível; sem a moral o “eu” se torna a medida de todas as coisas; pois, sem a moral a sociedade retoma o princípio do velho materialismo, “homo mensura”, o homem como medida de todas as coisas; com isso, sem a moral, cada um se torna o próprio “deus”, e o que disto surge é a confusão e a devastação dos valores e das virtudes.

8. Deste modo, são descritos, em linhas gerais, o propósito e o encargo da ação comunista; mas, o propósito do comunismo, é um axioma “camaleônico”, se transmuta de diversas formas e de diversos modos a partir das diversas ferramentas que o comunismo estabeleceu ao longo dos anos, para assim, implementar os motes da ação comunista; e a ação comunista é “padronizada” ao redor do mundo, é a mesma, conquanto, os comunistas, de maneira diversa, evocam para si todos os instrumentos para esta ação; enquanto a ação comunista numa parte do mundo é de um modo, em outra parte será de outro modo, e ainda, em outra parte, será de outro modo, etc.; mas o propósito da ação comunista é o mesmo, a saber, uma práxis global, a partir de diversos instrumentos, para instaurar a revolução mundial.

Portanto, este é, num panorama generalíssimo, o propósito do comunismo, a partir da descrição da origem do comunismo; e, como fora dito, toma-se como ponto de partida a origem do comunismo a partir da publicação do “Manifesto do Partido Comunista” em 1843, que embora não seja a fonte inicial do comunismo, pode-se considerar a publicação deste livreto ou opúsculo de Marx e Engels, como o ponto de virada pública do comunismo como movimento sócio-político; e assim, se demonstra ao mundo o que realmente é o comunismo e quais os propósitos inerentes do comunismo, os quais, são evocados neste texto, que sem sombra de dúvida, é o manual da doutrina comunista e da ação comunista.

 

II. O Comunismo como Fenômeno Infernal.

 

9. A análise e a compreensão sobre o comunismo não somente é função da filosofia e da ciência política; mas também da ciência sagrada, embora não ocupe um lugar preponderante na ciência sagrada, esta, por lidar com assuntos filosóficos, também há de analisar e procurar conhecer a nefasta doutrina comunista; alguns teólogos do passado fizeram isso, como Herman Bavinck, que em 1903 escreveu “Het Marxisme” (O Marxismo), uma análise sobre o marxismo; ou ainda, nas invectivas de Pio IX, que viu o desenvolvimento do comunismo e o condenou em seus muitos documentos; ou a sapiência de Leão XIII, que enxergou no socialismo e no comunismo, elementos de manipulação e de destruição da sociedade; entre tantos outros exemplos, provenientes tanto de teólogos católicos quanto de teólogos protestantes.

10. E, uma coisa em comum figura em todas estas análises, a saber, a análise justa e racional sobre o comunismo, e a condenação do comunismo como elemento contrário a fé cristã e ao cristianismo; tal como o próprio Bavinck afirma, comunismo e cristianismo são auto-excludentes; os documentos papais, com agudas e precisas análises, também testemunham disso; mas, muito antes do comunismo como movimento mundial eclodir, antes mesmo das invectivas de Pio IX contra o comunismo, houvera uma análise feita sobre o comunismo ainda como movimento nascente; pois, de quando da publicação do manifesto comunista em 1843, houveram aqueles que analisaram e se aperceberam dos grimórios terríveis e cruentos do comunismo.

11. Certamente, a análise mais pungente desta época, feita logo após a publicação do manifesto, foi a análise de August C. F. Vilmar, teólogo luterano; Vilmar, que também fora político e era parte da alta-cultura alemã de sua época, também por sua função como historiador da literatura alemã, ao perceber os perigos do comunismo, logo após a publicação do manifesto comunista, empreendeu um ensaio intitulado “Ueber den Communismus[3], escrito em 1843, no qual, faz uma cirúrgica análise do comunismo; a análise de Vilmar sobre o comunismo não é a mais completa e nem a mais exaustiva análise que um teólogo ou um acadêmico fizera sobre o comunismo; até o livro do pastor Wurmbrand, “Marx e Satã”, é mais extenso do que a análise de Vilmar; mas a análise de Vilmar é de capitular importância pois é a primeira análise que um teólogo fizera sobre o comunismo, bem como por ser uma análise do mesmo ano da publicação do manifesto comunista, é a análise teológica mais antiga, bem como é a análise mais cirúrgica sobre o comunismo; certamente, a análise de Vilmar se mostrou “profética”, porque anteviu a verdadeira essência da doutrina comunista.

12. Mas, infelizmente, a análise de Vilmar ficou esquecida e não foi devidamente valorizada. E, se elenca um fato terrível e curioso, talvez, um mistério das épocas; pois, sempre, com meios diversos, Deus usa seus servos ou quem bem quiser para alertar sobre os perigos inomináveis destas doutrinas nefastas, mas os homens não escutam; na época do fascismo foi a mesma coisa; com o nazismo, Churchill ficou dez anos alertando e avisando, e ninguém escutou; com Vilmar do mesmo modo, analisou e descreveu o comunismo a partir de sua base filosófica, e ninguém escutou; mas, pela graça de Deus, a análise de Vilmar foi preservada, e em tempos atuais pode-se lê-la e compreender a aguda, cirúrgica e profética análise que Vilmar fizera sobre o comunismo.

13. Deste modo, se faz necessário, a partir da descrição do tópico anterior sobre o comunismo, investigar a análise de Vilmar sobre o comunismo, para compreender o que este esquecido pastor, teólogo, político e historiador da literatura, falara a respeito do comunismo; e mesmo que sua análise seja antiga, de mais de 180 anos atrás, sua atualidade nunca perderá a pungência e o vigor, pois, o que Vilmar dissera do comunismo, no decorrer das épocas se mostra cada vez mais evidente e cada vez mais se avoluma de maneira alarmante. Vilmar foi o “profeta” que viu, a partir do manifesto comunista, no que o comunismo se tornaria e o que o comunismo iria fazer com a sociedade, com o povo e com o mundo; em relação a isso, Vilmar foi mais preciso do que um cirurgião numa cirurgia de alto risco.

14. A análise de Vilmar sobre o comunismo concentra-se em algumas proposições singulares, as quais, serão elencadas de maneira gradual; não se vai analisar todo o ensaio de Vilmar, que apesar de ser um pequeno ensaio, não constitui-se o propósito de se fazer um comentário a este ensaio; mas sim elencar os principais aspectos do que Vilmar dissera e elucubrara sobre comunismo; para isso, seis aspectos são elencados: (i) primeiro, o comunismo como movimento revolucionário; (ii) segundo, o comunismo é pior e mais perturbadora de todas as revoluções; (iii) terceiro, o comunismo como fenômeno infernal; (iv) quarto, o comunismo é anti-humanidade; (v) quinto, o comunismo como guerra contra tudo o que existe; (vi) sexto, o comunismo e a destruição das virtudes.

15. [i] Primeiro, o comunismo como movimento revolucionário; Vilmar assevera que sob Luís XIV, houvera uma corrupção da língua, da literatura e dos costumes, a qual, foi seguida por uma profunda ruptura da fé e das virtudes políticas, os quais, somados a revolução francesa e o ímpeto de Napoleão, atacaram os valores principais da sociedade europeia; para Vilmar, este ataque, foi seguido por ataque ainda mais feroz e ignominioso; um ataque ainda mais pernicioso e ainda mais perigoso que a soma de todos os ataques provenientes da revolução francesa; um espírito ainda mais pernicioso que está assolando o interior da vida social; para Vilmar, “esse espírito se chama insatisfação, possessividade e ganância, se chama inveja, roubo e pilhagem, ou em uma palavra: comunismo[4].

16. A descrição de Vilmar é caustica, mas precisa; este “espírito” ainda pior e ainda mais vil do que o espírito pernicioso da revolução francesa, chama-se comunismo; e numa síntese peculiar, Vilmar conseguiu descrever o comunismo como poucos; em seis vocábulos, Vilmar “desvelou” o enigma do que realmente é o comunismo; portanto, se coloca a seguinte pergunta: o que é o comunismo? Vilmar toma a palavra e responde: o comunismo é insatisfação, é possessividade, é ganância, é inveja, é roubo, é pilhagem.

17. O comunismo é insatisfação; o comunismo é insatisfação contra tudo; não insatisfação que busca melhorar, mas insatisfação que busca destruir; uma insatisfação desfiguradora, na verdade, o tédio deificado em grau máximo; este tédio, que o comunismo tem em si, infiltra-se nas mais diversas camadas sociais, e assim, se torna em elemento de inoculação do veneno da insatisfação destruidora no seio da sociedade.

O comunismo é possessividade; o comunismo é a doutrina da possessividade, onde os homens procuram ser donos de outrem; onde a liberdade é assassinada e onde aquilo que é inerente de outrem como parte de sua dignidade intrínseca se torna possessão do Estado comunista; a possessividade comunista quer se assenhorar de tudo e de todos.

O comunismo é ganância; e ganância desmedida, ganância deificada; o comunismo é a doutrina da ganância suprema, da avareza tornada “deus”; e onde os comunistas se infiltram a ganância se torna ainda maior e ainda mais terrível.

O comunismo é inveja; a doutrina comunista é a doutrina da inveja; inveja contra tudo de bom que existe e inveja contra tudo de bom que os homens possam fazer; e onde há inveja há todo tipo de vício e de malignidade, pois, a inveja é a porta de entrada dos vícios e dos demônios.

O comunismo é roubo; a doutrina comunista é a doutrina do roubo, da roubalheira, do “esbanjar” o dinheiro público e de torná-lo em “caixa financeiro” do partido comunista.

O comunismo é pilhagem; o comunismo, por ser roubo, ocasiona a pilhagem, ocasiona o surgimento de uma quadrilha de ladrões, de um bando de salteadores, que de maneira deslavada e de maneira vil, surrupiam o dinheiro público, e tornam este dinheiro em “troféu” da pilhagem que o comunismo reúne ao redor de si.

Isto, em linhas gerais, é a essência do comunismo.

18. [ii] Segundo, o comunismo é a pior e mais perturbadora de todas as revoluções; entre todas as revoluções mais cruentas que já houveram, o comunismo é a pior de todas; mesmo a sanguinária revolução francesa é ainda menos pior do que o comunismo; o comunismo consegue ao mesmo tempo ser a pior e a mais perturbadora de todas as revoluções; a pior, pois, nenhuma das revoluções anteriores são tão ruins e infernais como o comunismo; a mais perturbadora, porque nenhuma das revoluções anteriores trouxe tantas tribulações e tantas destruições e mortes para a humanidade quanto o comunismo.

Certamente, Vilmar anteviu, devido a própria doutrina comunista, e pelo avanço do comunismo na Alemanha da época, aquilo que o comunismo é em sua essência, e por isso, pode descrever alguns dos epítetos que definem o comunismo de maneira contundente. Talvez, Vilmar seja aquele que melhor definira o comunismo; pois, todas as grandes análises sobre o comunismo, são feitas ou com o desenvolvimento do movimento comunista ou então após as grandes revoluções comunistas, enquanto que a análise de Vilmar é feita de quando do nascimento do comunismo; por esta razão, é a mais precisa e cirúrgica análise do que é o comunismo.

19. A descrição de Vilmar se baseia naquilo que ele vira do comunismo; pois, se o comunismo é insatisfação, então a insatisfação permeará todas as camadas e esferas da sociedade; e uma sociedade com insatisfação se tornará em sementeira da revolução, fato esse que os comunistas se aproveitam para lançar as sementes da destruição, sementes essas que ao brotarem geram devastação.

Se o comunismo é possessividade, então essa possessividade tomará conta, e a medida que se tornar cada vez mais volumosa, acabará por descambar no desrespeito pela propriedade privada, na destruição das liberdades e na calcificação da injustiça.

Se o comunismo é ganância, então tudo o que a sociedade produz de riqueza, será instrumento de domínio de uma pequena elite dominante, a qual, surrupiará toda a riqueza de uma nação.

Se o comunismo é inveja, então onde o comunismo influenciar, haverá todo tipo de obra maligna, pois, onde a inveja há todo tipo de obra maligna (cf. Tg 3.16); o próprio Vilmar afirma que a inveja é um monstro que corrompe os sentimentos[5]; logo, o comunismo se aproveita da inveja para corroer todos os bens inerentes a vida humana; pois, onde há inveja passa a não haver nada de bom e nem resquícios de honra, de bondade e de sensatez.

Se o comunismo é roubo, então os comunistas roubarão e se apossarão do dinheiro do Estado, que por sua vez, é o dinheiro do povo; o comunismo rouba o dinheiro do povo, usurpa para fins nefastos o dinheiro dos contribuintes, para financiar as práticas vis do comunismo em determinado país e para financiar o comunismo ao redor do mundo.

Se o comunismo é pilhagem, então o comunismo passará a formar uma grande quadrilha que saqueará os bens financeiros e os bens morais da sociedade, e assim, a tornará sujeita a uma quadrilha de ladrões; e assim, o comunismo conquistará uma sociedade através desta grande quadrilha de ladrões, que embora nem todos sejam ladrões de dinheiro, são ladrões que procuram surrupiar as virtudes e os bens naturais da vida humana.

20. Por isso, Vilmar descreve o comunismo como a pior e mais perturbadora de todas as revoluções; pior em sentido qualitativo, e, que, posteriormente, se tornaria na pior em sentido quantitativo; em sentido qualitativo porque é a que destrói completamente todas as virtudes e qualificativos humanos; em sentido quantitativo porque é a que mais destruição e matança operara no seio da sociedade, e, realmente, em se tratando de crueldade e quantidade de mortes, o comunismo é a pior de todas as revoluções.

O comunismo não somente é a pior de todas as revoluções, mas também a mais perturbadora de todas as revoluções; mais perturbadora, porque, se o comunismo é o que fora descrito, então, as consequências do comunismo serão perturbações tão infernais, que ocasionarão uma perturbação a ordem social que jamais fora ocasionada. Portanto, o comunismo, sem sombra de dúvida, é a pior e a mais perturbadora de todas as revoluções; o comunismo é a maior e mais terrível das calamidades da história da humanidade. Vilmar percebera isso em 1843, quando da publicação do “Manifesto do Partido Comunista”.

21. [iii] Terceiro, o comunismo como fenômeno infernal; o comunismo é um “fenômeno” social; evidentemente, o próprio princípio do Partido Comunista, evoca o pressuposto do comunismo como um “fenômeno” social; e todo fenômeno, deve ser analisado em sua essência; pois, ao se compreender o fenômeno em sua essência, se pode compreender o propósito e o escopo de tal fenômeno; por isso, Vilmar, ao analisar a origem do comunismo, a partir da publicação do “Manifesto do Partido Comunista”, descreve o comunismo como fenômeno infernal; isto é, se o comunismo é um fenômeno, é um fenômeno infernal; logo, o comunismo, em sua essência, propósito e escopo, é um fenômeno infernal; em dado momento de sua análise, Vilmar assevera: “não quero examinar mais de perto a origem social deste fenômeno infernal. Pelo contrário, a minha preocupação é demonstrar e julgar a atitude em que se baseia[6]; Vilmar se propõe a não somente examinar a origem deste fenômeno infernal, isto é, os fatos que contribuíram para formar o comunismo; mas, pelo fato do comunismo ser um fenômeno infernal, Vilmar se propõem a demonstrar a atitude, a ação, na qual os comunistas se baseiam; ou dito em outros termos, em analisar a práxis comunista.

22. Então, como fenômeno infernal, tudo o que o comunismo é (doutrina comunista) e tudo o faz (práxis comunista), refletirá este caractere intrínseco; a doutrina comunista será infernal em tudo o que prescreve e estabelece como base teorética; mas também a doutrina comunista será infernal em tudo o que prescreve e estabelece como base para práxis; a teoria e a prática comunista é intrinsecamente infernal; e por isso, onde a teoria comunista impera e subjuga o pensamento teorético, haverá um domínio infernal e sofístico sobre a intelectualidade; e onde a práxis comunista impera e subjuga a ação humana, haverá meios e modos de tornar esta práxis um ordenativo absoluto e obrigatório para toda a sociedade, o que ocasiona a destruição da fraternidade e das virtudes inerentes a vida em sociedade; logo, infernal na teoria e infernal na prática, eis o que é o comunismo.

23. [iv] Quarto, o comunismo é anti-humanidade; o comunismo, como a pior e mais terrível de todas as perturbações, como fenômeno infernal, é por isso, o mais inigualável movimento anti-humanidade que a história já conheceu; o comunismo, em sua essência, existe contra a humanidade, existe para destruir o múnus do verdadeiro humanismo e da humanidade; por isso, Vilmar assevera: “dificilmente é possível pensar num pensamento que se desvie mais fundamentalmente de tudo o que antes se chamava humanidade[7]; portanto, o comunismo, em sua natureza e propósito, é anti-humanidade; pois, o qualificativo inerente do comunismo como fenômeno infernal, é o que conduz o comunismo contra tudo o que diz respeito a pessoalidade do ser humano e contra tudo o que incentiva e que propaga o verdadeiro humanismo.

24. O comunismo, em sua essência, é desumanizante e desumanizador; a realidade fenomênica do comunismo, demonstra que tudo o que provêm do comunismo, é contra a dignidade humana; tudo o que provêm do comunismo procura desfigurar a dignidade humana; tudo o que provêm do comunismo procura destruir a dignidade humana. Com isso, se consegue perceber que o comunismo é, em si mesmo e em relação ao todo da vida humana, uma doutrina social e um sistema filosófico que existe para destruir e corromper os valores fundamentais do ser humano e vituperar a dignidade inerente a cada ser humano; em termos mais atuais, o comunismo é contra os direitos humanos; pois, o comunismo apoia práticas que atentam contra a vida, contra a liberdade  e contra a segurança; logo, o comunismo é inerentemente contra os direitos humanos.

25. [v] Quinto, o comunismo é guerra contra tudo o que existe; o comunismo, não somente é anti-humanidade, mas o comunismo é guerra contra tudo o que existe; o próprio Marx assevera: “O sufrágio universal parece ter sobrevivido apenas por um momento, para que com sua própria mão possa fazer sua última vontade e testamento diante dos olhos de todo o mundo e declarar em nome do próprio povo: tudo o que existe deve ser destruído[8]. Numa de suas palavras, Marx retoma as palavras de Mefistófeles, demônio do Fausto de Goethe, “tudo o que existe  deve ser destruído”; este é o axioma do comunismo, o “brado” de guerra dos comunistas contra a humanidade e contra tudo o que existe; o comunismo existe para guerrear contra tudo o que existe; Vilmar, compreendendo este aspecto sobre o comunismo, faz uma descrição de como o comunismo, em sua práxis, perfaz este axioma de Marx; Vilmar assevera que os comunistas, estão “a espreita como uma fera em uma emboscada, espiando avidamente como um abutre ávido por comer, ansiando pelos bens do vizinho como um tigre pronto para atacar, todos estão agora em constante batalha com todos os outros; uma guerra constante de todos contra todos é o estado regular que os comunistas lutam, ou melhor, no qual já se encontram de acordo com a sua mentalidade[9]. Esta é a mentalidade comunista, guerra contra tudo o que existe. E, se for feita uma análise psíquica com todos os líderes do comunismo[10], se constatará este mesmo fato, o comunismo é guerra contra tudo e contra todos; este é o “ar” que os comunistas respiram e o verdadeiro motivo pelo qual lutam e vivem.

26. A luta comunista, é a luta sem trégua contra a realidade; é a luta contra tudo aquilo que possui algo de bom, de belo e de verdadeiro; o comunismo procura destruir toda bondade; o comunismo procura destruir toda beleza; o comunismo procura destruir tudo aquilo que é verdadeiro; por isso, os comunistas ficam a espreita, procurando tragar e desfigurar tudo aquilo que possui algo de bom, algo de belo e algo de verdadeiro; o comunismo, ao “sentir” o cheiro de bondade, ou de beleza, ou de algo verdadeiro, age igual a um animal selvagem, e procura tragar e devorar aquilo de bom, de belo e de verdadeiro que surge no meio da sociedade; a “cadeia alimentar” social e moral para o comunismo, é predatória; e o comunismo no topo desta “cadeia alimentar”, procura devorar e tragar tudo aquilo que faz bem para a sociedade e tudo aquilo que valora e incentiva a verdadeira moral. O comunismo, portanto, é a evocação de um grande grimório, tal como no antigo xamanismo, para subjugar a sociedade e o povo aos ditames nefastos e incautos que o próprio comunismo propaga.

27. [vi] Sexto, o comunismo ocasiona a destruição das virtudes; o comunismo, por ser guerra contra tudo, é uma guerra contra as virtudes inerentes ao ser humano; o comunismo é contrário a toda virtude e contra todo ímpeto de virtuosidade; por isso, Vilmar afirma que no comunismo, “haverá um fim para toda devoção, todo sacrifício, um fim para o amor; e quando o apóstolo profetiza: o amor nunca cessará, ainda que cessem as profecias, e as línguas cessem, e o conhecimento cesse, hoje um coro de mil vozes responde com uma voz infernal: o amor cessou. Os três que foram prometidos que permaneceriam: a fé, a esperança e o amor, faleceram um após o outro: a fé há muito se tornou uma zombaria, a esperança um ridículo, e agora o amor também se tornou um crime[11]. Portanto, com o comunismo, as virtudes cardeais deixam de existir, e as virtudes teologais, são solapadas e transmogrifadas a partir daquilo que os comunistas entendem como as “verdadeiras” virtudes; isto é, onde antes houvera a fé, passa a haver zombaria em relação a quem tem fé e/ou em relação ao que a fé representa; onde antes houvera a esperança nas coisas que viriam, passa a haver a ridicularização do esperar as coisas que virão; onde antes houvera o amor e os atos de amor, passa a haver a criminalização dos atos de amor, e então, a prática da caridade passa a se tornar como um crime.

28. Portanto, o comunismo, como fenômeno infernal e como guerra contra tudo o que existe, procurará, em sua doutrina e em sua práxis, destruir as virtudes; e para isso, se utilizará dos meios da zombaria, da ridicularização e da criminalização. O comunismo se utilizará da zombaria, pois, pela zombaria se enfraquece e se mina o ânimo; logo, onde há zombaria da fé, se tem de maneira gradual e continua uma infinidade de setas malignas que procuram desfibrar o vigor e a vitalidade do ânimo, e por consequência, do vigor e da virtude da fé. O comunismo se utilizará da ridicularização, pois, pela ridicularização se consegue impedir que alguém busque a virtude, pois, o ridicularizar é uma seta tão profunda, que se atingir a alma da pessoa, esta passa a ser movida pelos desejos infernais da ridicularização de outrem, passando assim a rir da honra e a desgostar-se da honestidade e da virtuosidade. E o comunismo se utilizará da criminalização, pois, pela criminalização da virtude e dos verdadeiros atos de amor, se oprime e se “reeduca” para o que o comunismo quer implementar como verdadeiros atos de amor, que no comunismo é a mudança do certo no errado e do errado no certo; pois, os comunistas consideram atos de amor o que é injustiça e o que o perdão é a falta de justiça para com quem comete crimes hediondos.

29. Estas são apenas algumas descrições que Vilmar estabelece em sua análise sobre o comunismo no referido ensaio; embora se tenham outras descrições de Vilmar, no próprio ensaio referido, e em outros ensaios, estas descrições acima elencadas são suficientes para se entender a cirúrgica e completa análise do comunismo como fenômeno infernal; e a análise de Vilmar fora uma análise “profética”, pois, cumpriu-se realmente, no desenrolar dos anos, o fato de que o comunismo é um fenômeno infernal; portanto, a análise de Vilmar sobre o comunismo, por ser a primeira análise de um teólogo sobre o comunismo, continua a ser importante; e mesmo para todos aqueles que procuram compreender e entender o que é o comunismo, o lendário teólogo e historiador da literatura alemã não pode ser negligenciado e esquecido. Vilmar, bradou contra o comunismo, e seu brado, deve ser ouvido ainda em tempos atuais.

30. Além disso, em meio a estas elucubrações e descrições que Vilmar faz sobre o comunismo, se tem uma sentença que ele evoca de fundamental importância; pois, Vilmar fala sobre a maneira como o comunismo iria avançar na política, ou pelo menos, o elemento que fortaleceria o comunismo para que este pudesse se desenvolver; Vilmar afirma: “Quanto mais arrogância você tiver, mais certo será que a tempestade do comunismo irromperá contra você[12]; a descrição de Vilmar novamente é cirúrgica; pois, alertara tanto as futuras gerações de políticos quanto aos jovens; o comunismo prospera e se desenvolve aonde há arrogância; e a medida da arrogância de uma pessoa é a medida da influência do comunismo sob esta pessoa; evidentemente, onde o comunismo passa a imperar, qualquer ato de arrogância é sinal clarividente de influência, consciente e/ou inconsciente, do comunismo; e onde há o domínio cultural do comunismo, quanto mais arrogância, mais preso se fica aos tentáculos do comunismo.

O comunismo é um fenômeno tão infernal, que a medida que domina sobre toda a cultura, coloca sob seu jugo todos aqueles que mesmo não sendo comunistas são açambarcados pelos modos da ação comunista, entre as quais, aqueles que não sendo comunistas, agindo com arrogância, passam a agir em prol do comunismo; a arrogância coloca toda ação “anti-comunista” sob o bojo da contradição comunista, que, de maneira desconcertante, acaba por ajudar e servir aos propósitos do próprio comunismo.

 

III. Conduzir os Pobres sob a Cruz.

           

31. Por isso, pode-se afirmar que a análise de Vilmar sobre o comunismo, é precisa, direta, dir-se-ia cirúrgica; e mais, é profética, pois descreve de maneira assombrosa tudo aquilo que o comunismo iria fazer no solo da sociedade; e mais, Vilmar acertou em cheio quando falou que por volta de 70 anos, os comunistas, se não fossem contidos da maneira correta, começariam a dominar toda a sociedade europeia; e Vilmar estava certo, pois, ele escreveu este ensaio em 1843, e por volta de 60 a 70 anos depois, as revoluções comunistas começaram a estourar na sociedade europeia, dando início a uma série de revoluções que desembocou na implementação do comunismo em vários países, e que estabeleceu a força do comunismo enquanto movimento de dominação mundial.

32. No entanto, Vilmar não somente se apercebeu do caractere revolucionário do comunismo, ao descrever o comunismo como fenômeno infernal; mas também compreendeu que algumas das reinvindicações dos comunistas, o tornaram “atraentes” para a sociedade de seu tempo; pois, ao inocular o ideal da revolução com o espírito da insatisfação, o comunismo, passa a evocar o questionamento a tudo o que existe (a forma primária e inicial da dialética negativa); e ao se questionar tudo, evidentemente, alguns questionamentos realmente farão algum sentido, já que sempre se tem algo a melhorar no seio da sociedade; portanto, ao comunismo questionar estas questões, se propugna como o único capaz de solucionar estas questões urgentes na vida social. Por isso, Vilmar assevera: “quanto mais tudo é questionado, mais o comunismo assume o controle de finalmente responder a estas questões[13].

33. A proposição de se questionar tudo o que existe, é um modo do comunismo assumir a solução destes questionamentos e se propugnar como a verdadeira “libertação” da vida em sociedade das amarras da burguesia e dos tiranos; na verdade, o comunismo, pelo questionamento de tudo, procura retomar uma série de questões que foram deixadas de lado e que foram negligenciadas por uma série de motivos, os quais, Marx se aproveita para questionar o real estado da sociedade e inocular a insatisfação na sociedade; cem anos depois da análise de Vilmar, após a Segunda Guerra, Karl Barth também identificou este fato, ao afirmar: “comunismo significa, independentemente da forma como se encara a questão, uma solução radical para a questão social que nós, na Europa, adiámos[14].

O comunismo procurou encontrar uma resposta para as questões fundamentais que a própria Europa, que a própria sociedade europeia havia adiado e havia deixado de lado. Por isso, Marx afirma que “a burguesia produz, acima de tudo, seus próprios coveiros[15]. A sentença de Marx se mostra evidente, pois ele constatara o fato de que a própria burguesia estava produzindo aquilo que a destruiria; na verdade, a própria burguesia, por adiar questões sociais e econômicas fundamentais, deixara estas questões em aberto, e permitira que o comunismo se tornasse ávido nestas questões, donde o comunismo lutar contra a burguesia pelos erros e negligências da própria burguesia.

34. Portanto, os problemas sociais mais importantes, ao serem negligenciados, se tornaram, para Marx, os princípios pelo qual ele desenvolveu a ação comunista e o modo pelo qual a ação comunista se mantém e se efetiva na luta de classes; e uma destas questões urgentes, sem sombra de dúvida, é o problema da pobreza. A pobreza, se tornara um problema sem igual na sociedade europeia; e ao invés das grandes nações terem enfrentado este problema em suas bases, muitos preferiram deixá-lo de lado; por isso, o comunismo se aproveitou deste fato e se levantou em “nome” dos pobres; evidentemente, o comunismo não se preocupa com os pobres e a pobreza, já que os comunistas são os maiores causadores de pobreza; na verdade, os comunistas utilizam-se do mote da pobreza e dos pobres, para poder arrolar para si a solução de um problema que desde o início do séc. XIX, tem agitado a burguesia, e que é um grave problema social; aliás, é pelo mote da “defesa dos pobres” que os comunistas enganam e engodam muitos cristãos; pois, ao se demonstrarem favoráveis aos pobres, os comunistas se passam por “bonzinhos” e enganam as pessoas símplices.

35. E é justamente a questão sobre a pobreza e sobre os pobres, o elemento mais utilizado pelos comunistas para enganar a sociedade e os cristãos, onde se tem uma grande diferença entre o comunismo e o cristianismo, bem como onde se demonstra a razão do porque comunismo e cristianismo são auto-excludentes; o modo como os comunistas dizem erradicar a pobreza, e o modo como dizem que ajudam os pobres, são totalmente anti-bíblicos e anti-cristãos; portanto, no cuidado com os pobres, o comunismo e o cristianismo são auto-excludentes; por isso, diferentemente do comunismo que procura conduzir os pobres como elementos de manipulação (stalinismo) e/ou como instrumento ativo da revolução (maoísmo), o cristianismo procura conduzir os pobres sob a cruz; na verdade, o cristianismo é contrário a todos os meios mundanos que se possa utilizar contra as perturbações sociais ocasionadas pelas ideologias; tal como Vilmar assevera: “Todos os meios mundanos que alguém possa utilizar contra a crescente perturbação das nossas condições sociais serão, sem dúvida, não apenas em vão, mas também se transformarão em venenos destrutivos contra os próprios curandeiros inúteis[16].

36. Os meios mundanos perturbadores, muitos dos quais, o comunismo açambarca em sua práxis, não são a solução para os problemas sociais; antes, acentuam este problema; na verdade, tornam os problemas sociais ainda mais terríveis; pois, os comunistas proclamam a solução destes problemas os tornando ainda mais terríveis e cruentos; pois, os comunistas não ensinam a se suportar os sofrimentos sociais, nem o poderiam; de maneira acertada se afirma que o comunismo jamais pode ensinar a se suportar os sofrimentos, pois, os sofrimentos sociais são inerentemente causados pelo próprio comunismo; o comunismo ensina a insatisfação e o tédio contra todos estes males, que ao invés de solucioná-los, os torna ainda mais incisivos; portanto, ao invés de serem o remédio, na verdade, são, como Vilmar asseverara, os venenos destrutivos que destroem a sociedade, e que acabam por despejar mais venenos sobre a sociedade.

Os comunistas são “curandeiros” sociais; que ao invés de curar os males da sociedade, velam sob supostos “remédios” e dopam a sociedade para que a mesma não seja verdadeiramente curada dos males que a assolam. O curandeirismo social do comunismo é pior e mais terrível do que o curandeirismo do xamanismo, que pelo psiquismo efetua “curas” e outros similares de maneira falsa e doentia; o curandeirismo social, na verdade, dopa e maquia, sob o psiquismo da destruição das virtudes, para que realmente não haja cura para os males da sociedade.

37. Assim sendo, só se enfrenta de maneira legítima e correta os sofrimentos sociais, a partir da cruz de Cristo, e não dos ditames da práxis comunista; o sofrimento só é entendido e suportado a partir do exemplo de Cristo, “homem de dores e que sabe o que é sofrer” (Is 53.3); e somente quem toma o exemplo de Cristo como testemunho, é que consegue enfrentar os terríveis males sociais e epocais ocasionados por diversos fatores, principalmente pelos comunistas; o próprio Vilmar afirmara: “quem está debaixo da cruz no Gólgota suporta as agruras desta vida, suporta a pobreza, suporta a pobreza mais amarga com leveza e confiança. Conduzir os pobres sob a cruz do Senhor Cristo, essa, meus jovens amigos, é a vossa vocação; Ele ainda hoje é o Salvador que tomou as nossas feridas e as curou através das suas feridas, o único que é capaz de curar esta ferida profunda do nosso tempo[17]. O que Vilmar estabelece é um dos mais preciosos axiomas do cristianismo em relação aos pobres, a saber, conduzi-los sob a cruz; essa é a vocação do cristianismo em relação aos pobres; pois, Cristo, somente Cristo, tal como diz Vilmar, é o “único que é capaz de curar esta ferida profunda de nosso tempo”.

38. A solução proposta por Vilmar é simples, profunda e contumaz; pois, apresenta a solução para o questionamento que o comunismo se utiliza para semear a insatisfação no solo da sociedade; portanto, conduzir os pobres sob a cruz é o modo que a cristandade tem para enfrentar o problema da pobreza e exercer o cuidado com aqueles que precisam, tal como ensina o Evangelho, a saber: cuidar dos pobres, e não somente cuidar dos mesmos, mas conduzi-los sob a cruz; conduzi-los sob os ditames e o exemplo de Cristo; é Cristo, e não Marx e o comunismo, o exemplo e a verdadeira fonte do humanismo e do cuidado com os pobres; a solução da pobreza, se inicia com o respeito pleno e a reverência para com Aquele que sendo rico se fez pobre (cf. 2Co 8.9), a fim de redimir o gênero humano.

Diante da resolução e do conselho de se conduzir os pobres sob a cruz, é importante lembrar de que para os conduzir sob a cruz, é preciso estar sob a cruz; Vilmar assevera: “quem quiser conduzir os pobres sob a cruz do Salvador deve ter estado ele mesmo sob esta cruz e saber o caminho para chegar lá[18]; estar sob a cruz e ser conduzido a partir da cruz de Cristo, em seus ideais e valores sociais, é o princípio de todo cristão e da cristandade na luta contra a pobreza e no cuidado amoroso e misericordioso para com os pobres. Este é o verdadeiro cuidado com os pobres, que contradiz completamente as mentiras e os engodos do comunismo, e que demonstra que o cristianismo tem uma responsabilidade do cuidado com os mais pobres, principalmente, de cuidar dos mesmos e os conduzir sob a cruz do Senhor Jesus Cristo.

39. E termina aqui a exposição da análise de Vilmar sobre o comunismo. Bendito seja Deus por todas as coisas. Amém.



[1] Karl Marx e Friedrich Engels, O Manifesto do Partido Comunista [Porto Alegre, RS: L&PM, 2001], pág. 46.

[2] Ibidem. Pág. 58.

[3] In: August C. F. Vilmar, Schulreden über Fragen der Zeit [Marburg: Elw. Univers. Buchhandlung, 1846], pág. 133-145.

[4] Ibidem. Pág. 135.

[5] Ibidem. Pág. 137.

[6] Ibidem. Pág. 135.

[7] Ibidem. Pág. 136.

[8] Karl Marx e Friedrich Engels, Marx-Engels Collected Works Vol. 11: Marx and Engels, 1851-53 [Lawrence & Wishart: 1979], pág. 108.

[9] Vilmar, Op. Cit., pág. 137.

[10] cf. Andrew Lobaczewski, Ponerologia: Psicopatas no Poder [Campinas, SP: Vide Editorial, 2014].

[11] Vilmar, Op. Cit., pág. 138.

[12] Ibidem. Pág. 144.

[13] Ibidem. Pág. 142.

[14] Karl Barth, Die christliche Verkündigung im heutigen Europa - Ein Vortrag [München: Chr. Kaiser Verlag, 1946], pág. 10.

[15] Marx e Engels, Op. Cit., 2001, pág. 45.

[16] Vilmar, Op. Cit., pág. 144.

[17] Ibidem. Pág. 144-145.

[18] Ibidem. Pág. 145.


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