29/08/2024

Comentário as Epístolas de Pseudo-Dionísio - Prólogo

1. “Mas o que se gloriar glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR, que faço beneficência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR” (Jr 9.24); a verdadeira glória do ser humano é conhecer a Deus; pois, como Tomás de Aquino afirma, “o fim último do homem é o conhecimento de Deus[1].

Portanto, esta é a maior glória que pode ser alcançada por um ser humano, o conhecimento de Deus, ao ponto de a alma experenciar a mesma certeza da do salmista: “Far-me-ás ver a vereda da vida; na tua presença há abundância de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetuamente” (Sl 16.11).

E este é o objetivo do conhecimento de Deus, produzir na alma do fiel três coisas: primeiro, a visão da vereda da vida: “Far-me-ás ver a vereda da vida”; segundo, experienciar abundância de alegrias: “na tua presença há abundância de alegrias”; terceiro, experimentar delícias espirituais: “à tua mão direta há delícias perpetuamente”. Nisto, consiste a verdadeira glória do ser humano, na qual, pode verdadeiramente se gloriar: “Mas o que se gloriar glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR”.

2. Por isso, conhecer aquilo que melhor abaliza o conhecimento a respeito das coisas concernentes a Deus, é preponderante na ordem do conhecimento; e, entre os muitos escritos além das Escrituras que concernem ao conhecimento de Deus, sobressaem os escritos de Pseudo-Dionísio, o Areopagita; portanto, em vista desta glória ora mencionada, os escritos de Pseudo-Dionísio estão em ordem a ajudar no conhecimento de Deus, e, por esta razão, revestem-se de importância.

Por isso, entre os escritos secundários, os além da Escritura, que ajudam na compreensão sobre o conhecimento das coisas que concernem a Deus, se tem os escritos de Pseudo-Dionísio, os quais, perfazem a tríplice estrutura do que a compreensão humana se refere ao alcance deste fim último.

3. E, sobre isso, evidentemente, três aspectos são salientados: primeiro, a investigação sobre o conhecimento a respeito de Deus; segundo, a investigação sobre o que se pode conhecer a respeito de Deus; terceiro, através da ordem hierárquica das coisas sagradas estabelecida pelo Criador.

Quanto ao primeiro, se estabelecem dois aspectos: primeiro, a compreensão da incapacidade humana de conhecer as coisas concernentes a Deus, o que Pseudo-Dionísio faz na obra “De Mystica Theologia”; segundo, a compreensão dos elementos simbólicos pelos quais se pode conhecer algo das coisas concernentes a Deus, o que Pseudo-Dionísio faz na obra “De Symbolica Theologia”.

Quanto ao segundo, se estabelecem dois aspectos: primeiro, através dos atributos divinos, o que Pseudo-Dionísio faz na obra “De Divinis Hypotyposibus”; segundo, através dos nomes divinos, o que Pseudo-Dionísio faz na obra “De Divinis Nominibus”.

Quanto ao terceiro, que se dá tanto em relação as criaturas quanto em relação ao modo de se cultuá-lo, se estabelecem dois aspectos: primeiro, através da hierarquia celeste, as quais revelam mistérios escondidos a este mundo, o que Pseudo-Dionísio faz na obra “De Caelesti Hierarchia”; segundo, através da hierarquia eclesiástica, a qual demonstra o modo correto de cultuar a Deus bem como o modo certo de servi-lo através das ordens eclesiásticas, o que Pseudo-Dionísio faz na obra “De Ecclesiastica Hierarchia”.

4. Nestes três aspectos, concretiza-se todo o Corpus Dionysiacum; e, como se pode observar, algumas destas obras estão ou foram completamente perdidas, tais como “De Symbolica Theologia” e “De Divinis Hypotyposibus”; o que não tolhe a unidade dos preceitos estabelecidos por Pseudo-Dionísio, mas estabelece uma lacuna a respeito destas tríades de preceitos, estabelecidas em díades de pressuposições.

Logo, a compreensão plena da teologia dionísica, é fragmentária; mas, mesmo assim constitui-se de um efusivo programa teológico, o qual influenciou toda a tradição teológica da cristandade, tanto da teologia latina quanto na teologia grega; nos latinos, Pseudo-Dionísio foi comentado e estudado com esmero e dedicação; nos gregos ainda mais, ao ponto de São Gregório Palamas afirmar que Pseudo-Dionísio é “o mais eminente de todos os teólogos que sucederam aos maravilhosos apóstolos[2].

5. E, além destas obras, que perfazem uma estrutura teológica precisa e bem pensada, existem também as epístolas de Pseudo-Dionísio; são dez epístolas que trabalham temas teológicos, e respostas a dúbias e a questões diversas; destas dez epístolas, as cinco primeiras, trabalham temas diretamente ligados as obras de Pseudo-Dionísio, enquanto que as cinco últimas versam sobre temas diversos; aliás, menciona-se que a partir da Epístola IX, se pode ter uma ideia do que se constitui a obra “De Symbolica Theologia” que está ou foi completamente perdida; logo, da Epístola IX, se pode reconstruir alguns filosofemas da obra “De Symbolica Theologia”.

No entanto, em relação ao programa teológico, anteriormente mencionado, as cinco primeiras epístolas estão em conexão mais direta, pois, tratam de temas intimamente e diretamente ligados as obras “De Mystica Theologia” e “De Divinis Nominibus”, que das obras restantes de Pseudo-Dionísio, constituem-se como as mais importantes e as centrais no âmbito do programa teológico por ele desenvolvido.

6. Logo, antes de propriamente se adentrar na análise das obras de Pseudo-Dionísio, convém, de antemão, analisar estas epístolas e compreendê-las em si mesmas e em ordem aos preceitos do programa teológico dionísico. Pois, o entendimento, segundo Tomás, se inicia pelo mais fácil, para que o aprendizado se dê de maneira mais adequada[3].

E, embora as obras de Pseudo-Dionísio tenham a mesma dificuldade, as epístolas são mais fáceis tendo vista as obras; logo, iniciar pelas epístolas, é o caminho mais adequado para que o aprendizado se dê de maneira mais adequada e a compreensão seja melhor efetivada.

Pois, as próprias epístolas, assim como as obras, são permeadas pela boa teologia, pela profundidade de análise, pela límpida exegese bíblica e pela salutar influência da filosofia grega na explicação dos mistérios da fé.  

7. Assim, estas epístolas constituem-se um adendo, um complemento, um grande excurso ou uma grande nota de rodapé, ao programa teológico dionísico desenvolvido tal como consta em suas peculiares obras, tanto nas que chegaram até nós, quanto naquelas que foram ou estão completamente perdidas, mas que se sabe sobre o que versam por vários testemunhos.

Portanto, analisar-se-á estas epístolas, antes propriamente de prosseguir à análise das obras de Pseudo-Dionísio, tal como na ordem delineada.

E, oremos para que o Senhor nos ilumine na compreensão dos benditos mistérios concernentes a fé, os quais, Pseudo-Dionísio conseguira refletir com agudeza de análise, limpidez de argumentos, fulgor de pensamento e vivacidade espiritual. 



[1] Tomás de Aquino, Suma contra os Gentios [2ª ed. Campinas, SP: Ecclesiae, 2017], livro III, cap. XXV, n. 10, pág. 385.

[2] São Gregório Palamas, Capítulos Físicos, Teológicos, Éticos e Práticos, cap. 85.

[3] cf. Tomás de Aquino, O Ente e a Essência [2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014], proem., n. 2, pág. 17.


Comentário as Epístolas de Pseudo-Dionísio - Prefácio

As obras e a teologia de Pseudo-Dionísio tem influenciado a cristandade por séculos; poucos autores influenciaram tanto como Pseudo-Dionísio, e, soma-se a isso, o fato de que Pseudo-Dionísio fora amplamente estudado e comentado tanto na teologia latina quanto na teologia grega; o Corpus Dionysiacum, como é formalmente conhecido a obra de Pseudo-Dionísio, exerceu grandíssima influência na história; na teologia apenas Santo Agostinho exercera uma influência maior do que Pseudo-Dionísio.  

E isso é um fato curioso; pois, a verdadeira identidade deste autor fora pelo mesmo ocultada; escolheu um pseudônimo para indicar o caminho de sua obra e seu propósito teológico, a saber, o nome Dionísio; pois, como Bento XVI afirma: “a sua intenção era pôr a sabedoria grega ao serviço do Evangelho, ajudar o encontro entre a cultura e a inteligência gregas e o anúncio de Cristo[1]; e, por isso, ocultou sua verdadeira identidade, em função do programa teológico que iria desenvolver, e que desenvolvera com maestria.

Mas, conquanto a isso, as dificuldades do Corpus Dionysiacum são várias, por muitos motivos: algumas obras estão ou foram completamente perdidas; os ínvios e obscuros caminhos de argumentação; a utilização de termos filosóficos gregos para explicar os mistérios da revelação; etc.; por isso, compreender Pseudo-Dionísio não é tarefa simples; mas, é algo sumamente necessário; pois, a teologia de Pseudo-Dionísio continua refulgindo com luminosidade e limpidez, ao procurar explicar a glória de Deus, manifesta em Seu Ser e em Seus atributos (e nomes), tanto quanto manifesta de maneira plena em Jesus Cristo.

E, para compreender Pseudo-Dionísio, é necessário analisar suas obras; e Corpus Dionysiacum tal como se encontra no estado atual da pesquisa é composto por quatro livros, e por dez epístolas; a dificuldade em relação aos livros é a mesma; Tomás de Aquino descreve muito bem a razão desta dificuldade: “é preciso considerar que o bem-aventurado Dionísio usa um estilo sombrio em todos os seus livros. Na verdade, ele não fez isso por inexperiência, mas por diligência, a fim de esconder os dogmas sagrados e divinos do escárnio dos infiéis[2].

Por isso, é necessário de antemão estabelecer uma forma de analisar as obras de Pseudo-Dionísio; e a melhor maneira de iniciar a análise de suas obras se dá pela compreensão sobre suas cartas, algumas das quais sumariam aspectos das obras de maneira mais simples, já que algumas delas foram explicações sobre dúvidas surgidas a partir de algumas de suas obras. Logo, analisar e compreender as epístolas, constitui-se a melhor forma de se adentrar ao estudo do Corpus Dionysiacum.

Portanto, como as epístolas versam sobre temas teológicos importantes, através da compreensão destas epístolas se tem o melhor modo de apresentar e se conhecer o efusivo programa teológico dionísico. Assim, as epístolas são a melhor maneira de se introduzir ao programa teológico dionísico.

Por isso, ao adentrar a compreensão de Pseudo-Dionísio, que possamos orar para entender o propósito que o guiara, e que também deve ser o propósito a nos guiar, tal como Bento XVI ensinara: “Oremos ao Senhor a fim de que nos ajude inclusivamente hoje a pôr ao serviço do Evangelho a sabedoria dos nossos tempos, descobrindo novamente a beleza da fé, o encontro com Deus em Cristo[3]. Este é o propósito de se analisar as obras de Pseudo-Dionísio, bem como o propósito que deve permear a existência teológica e o testemunho da fé entre os pagãos, acoplando a sabedoria filosófica em tudo aquilo que não impugna os assuntos da fé.

Soli Deo Gloria!

In Nomine Iesus!

28 de agosto de 2024.



[1] Bento XVI, Dionisio Areopagita, Audiência Geral de 14 de maio de 2008.

[2] Tomás de Aquino, In Librum B. Dionysii De Divinis Nominibus Expositio, proem.

[3] Vd. nota 1.


26/08/2024

Sobre a Ordem Cósmica

Prólogo.

1. “Conforme tudo o que ordenaste, tudo se mantém até hoje; porque todas as coisas te obedecem” (Sl 119.91); ora, a expressão do salmista demonstra a base e o fundamento da ordem cósmica, da ordem no cosmos; pois, o Criador estabelece tudo com ordem, e as coisas naturais cumprem especificamente sua ordem e sua ordenação; portanto, se observa que no cosmos há uma ordem estabelecida pelo Criador, a qual é mantida e preservada pelo próprio Criador.

2. Ora, a compreensão sobre a ordem cósmica, abaliza a compreensão sobre qual deve ser a base da ordem nas coisas humanas; pois, o bondoso Deus ao conceder aos homens o domínio sobre a terra (cf. Gn 1.28; Sl 115.16), concedeu a estes o domínio com relação aos assuntos humanos, os quais, só se desenvolve em consonância com a ordem estabelecida na natureza pelo próprio Deus; pois, tudo o que é necessário para o ser humano com relação as coisas naturais, bem como tudo o que é necessário para a própria natureza, está na própria natureza; logo, a ordem cósmica, toma expressão na ordenação terrestre das coisas humanas, pois, do contrário, a desordem toma conta das coisas humanas.

Portanto, compete compreender o que concerne a ordem cósmica, e entender o modo como as coisas humanas devem estar em ordem a esta ordenação estabelecida pelo próprio Criador.

Capítulo I: A ordem cósmica.

3. A ordem cósmica faz parte da vida humana, pois, a vida humana é parte desta ordem, tal como diz Olavo de Carvalho: “no céu vemos o drama humano inserido no drama cósmico, e o drama cósmico inserido no drama humano”; logo, a ordem cósmica é um grande drama, tanto no sentido dos corpos celestes, ou a perspectiva heliocêntrica, quanto no sentido da vida humana, ou a perspectiva geocêntrica; o drama é justamente a inter-relação entre estes aspectos, já que a ordem cósmica, no movimento natural dos corpos físicos, celestes e terrestres, é compreendida corretamente sob a luz deste drama.

4. Com isso, se pode falar na hierarquia cósmica; logo, se pergunta sobre a ordem da hierarquia cósmica; e um modo de se entender isso, provêm das artes que demonstraram de maneira correta o drama cósmico, tal como consta nas catedrais góticas, que encarnaram de maneira plena a expressão artística deste drama; um exemplo é uma conhecida e famosa rosácea da Igreja de Saint-Denis na França, com o tema da criação, no qual se estabelece a ordem cósmica: no centro, está Deus; em orbita a Deus, os seis dias da criação, demonstrando a Criação e a natureza como um todo; depois, se tem o círculo do Zodíaco (no sentido científico e não preditivo), demonstrando a harmonia cósmica, entre a obra da criação de Deus a partir do nada e a preservação desta criação; e, por fim, o círculo do trabalho dos homens, o que demonstra a ordem terrestre; logo, se tem um esquema bem adequado para designar a ordem cósmica, e seus sentidos básicos, e do modo se compreender as esferas e a hierarquia desta ordem.

5. Portanto, a ordem cósmica se estabelece da seguinte maneira: primeiro, Deus no centro; segundo, a ordem da natureza tal como estabelecida pelo Criador na criação; terceiro, a ordem das coisas celestes, simbolizada pelo Zodíaco (tomado no sentido científico e não preditivo), o que é o símbolo mais adequado e único até hoje feito para designar a harmonia cósmica, isto é, a harmonia dos corpos celestes; quarto, a ordem na vida humana, o mais importante aspecto da ordem cósmica, donde ser tida em mais alta estima, já que toda consideração sobre o cosmos e sobre a própria vida humana, é feita nonde ocorre a ordem terrestre, pois, assim, a vida humana demonstra o lugar central no cosmos, ou como afirmara filosoficamente Max Scheler, sobre a posição do homem no cosmos, que ocupa um lugar central em relação as outras criaturas e ao restante da criação, ficando abaixo apenas de Deus.

6. Deste modo, a ordem cósmica estabelece de maneira adequada e ordenada, o grau de importância das coisas; primeiro, evidentemente, Deus, que como dissera Pseudo-Dionísio, “Aquele que é super-principal a todo princípio” (Epist. II); depois, o ser humano; e depois, a harmonia celeste e a harmonia terrestre que se inter-relacionam nas coisas naturais. Ora, em suma, este é o entendimento sobre a ordem cósmica, que por ser ordem, se estabelece somente nesta ordem.

Capítulo II: O universo como sistema total das latências.

7. Assim, surge a pergunta sobre o que é cosmos? E, esta pergunta se estabelece não no sentido de uma definição natural e/ou científica, mas no sentido da compreensão da ordem; logo, o que é o cosmos segundo a própria ordem do qual faz parte? A resposta é simples: o cosmos, o universo, como diz Olavo de Carvalho, “é o sistema total das latências”; e esta definição açambarca os aspectos concernentes a designação da ordem cósmica, pois, como o próprio Olavo de Carvalho afirma, “todos os objetos, até os ideais, se apresentam como latências”; portanto, todos os objetos do cosmos, se apresentam como latências, pois, estes objetos enquanto existentes, só são compreendidos a medida que se os percebe e que se compreende que em dado momentos eles foram percebidos.

8. Deste modo, perceber um objeto, seja ele qual for em todo o universo, é a latência; mas, não somente isso, pois, perceber um objeto, é ao mesmo tempo, compreender que se percebeu este objeto e haurir algum conhecimento desta percepção a partir de outros conhecimentos; por isso, Olavo de Carvalho afirma: “perceber um objeto é perceber o seu círculo de latência”; ora, perceber um objeto em suma é isso, é ao mesmo tempo perceber seu círculo de latência; portanto, o universo é o sistema total das latências, porque o mesmo deve ser compreendido, e a compreensão sobre o mesmo se dá na percepção dos objetos que o compõem, o que primeiro demonstra o círculo de latência de determinado objeto e sua relação com o sistema total das latências.

9. Por isso, ao se compreender sobre a ordem cósmica, há de se compreender que o universo é o sistema total das latências; pois, esta ordem cósmica, demonstra não somente os objetos que compõem o universo, mas que existe uma hierarquia natural, na qual estes objetos se movem e a qual é fundamental para a correta compreensão dos próprios objetos; e, nesta hierarquia, se compreende os aspectos simbólicos que são caractere inerentes dos objetos existentes (mesmo os ideais), e os quais, ao serem entendidos como parte do círculo de latência, perfazem o conhecimento inerente a compreensão destes objetos. Portanto, o universo como sistema total das latências, demonstra a ordem cósmica, de maneira hierárquica, bem como evoca e demonstra o sistema simbólico que é haurido da própria realidade ao que se entender a ordem da mesma. 

Capítulo III: Os símbolos naturais.

10. Ora, sendo o universo, o sistema total das latências, do próprio universo será haurido os símbolos sobre o mesmo; estes são chamados de símbolos naturais; pois, o ser humano é um animal racional, isto é, tem uma animalidade enquanto criatura, mas é uma criatura racional, que existe para compreender a realidade; e ao compreendê-la, apreende as proporções reais das coisas reais, ou pelo menos, como animal racional isto deveria fazer; no entanto, ao se entender este aspecto concernente ao ser humano, se percebe que ao compreender a realidade, o ser humano haure da própria realidade os símbolos que da mesma emerge ao procurar compreendê-la.

11. Por isso, os símbolos naturais, partem da própria ordem da natureza; por exemplo, os elementos que primeiro o ser humano percebe ao tentar compreender a realidade, são aqueles que lhe estão diretamente ligados com a própria vida, como a luz e quatro os elementos naturais; ora, a luz é o primeiro aspecto do que concerne a compreensão sobre a realidade, até mesmo porque fora a primeira coisa criada por Deus (cf. Gn 1.3s); depois, se tem os elementos naturais imprescindíveis para a vida humana, como o ar e a água; etc.

Portanto, se compreende a razão de muitos dos povos antigos, tomarem estes elementos como alguma divindade, tamanha a importância dos mesmos e tamanha a força simbólica dos mesmos. Em relação a força simbólica se percebe deste o início do mundo, o que em si é algo corretíssimo; todavia, também se percebe a desfiguração desta força simbólica ao querer deificar elementos naturais, tornando o simbolismo em religião naturalista, ou xamanismo, o que perverte o sentido natural do simbolismo.

12. No entanto, se compreende que os símbolos naturais emergem de maneira cristalina da própria realidade; e, as mais das vezes, em ordem e importância a partir da ordem que o próprio Criador estabeleceu ao criar todas as coisas, como se observa nos seis dias da criação em Gênesis 1; logo, os símbolos naturais seguem uma ordem criacional; e isto é algo de suma importância, pois, se observa que a própria abstração dos símbolos naturais segue a estrutura da ordem cósmica; por isso, estes símbolos representam esta ordem, de modo ordenado e bem explicado, a fim de conduzir ao entendimento a partir da representação simbólica; pois, ao se ver e observar um símbolo natural, necessariamente, se deve perceber o objeto que o mesmo representa, e com isso, levar a percepção do círculo de latência deste objeto, e deste à compreensão do universo como sistema total das latências.

13. Deste modo, os símbolos naturais são fundamentais não somente à ordem do conhecimento, mas também para a própria ordenação da vida, sem a qual, não se alcança o próprio conhecimento; a simbologia natural não somente é uma forma de compreender o universo ou questões científicas sobre a natureza, mas é parte da própria vida e do modo como a vida deve se desenvolver, ou pelo menos, do modo como deveria se desenvolver, a saber, em ordem em relação com a própria ordem da realidade estabelecida pelo Criador.

Capítulo IV: A simbologia celeste e a simbologia terrestre.

14. A simbologia natural é algo inescapável; ou, se apreende de maneira correta a partir da própria realidade, e, com isso, se desenvolve o senso das proporções a partir da própria realidade; ou, então se apreende de maneira errônea e desfigurada esta simbologia e evoca-se outra realidade, e, com isso, se desenvolve um senso das proporções emburrecedor; portanto, ou a simbologia natural contribui com o conhecimento, ao se hauri-la da própria realidade, ou então a simbologia natural evoca outra realidade (a Segunda Realidade) a partir de um grimório de algum “sonhador” que sempre é algo anti-realidade.

15. Deste modo, se deve compreender a ordem da própria simbologia natural; ora, se o universo possui uma ordem, a simbologia natural também deve refletir esta ordem; e, assim se estabelece a ordem da simbologia natural a partir da seguinte proposição: primeiro, a ordem simbólica; segundo, a ordenação da ordem simbólica.

16. Primeiro, a ordem simbólica; a ordem simbólica deve refletir a ordem da realidade; como fora afirmado anteriormente como exemplo, a rosácea da Igreja de Saint-Denis, reflete muito bem esta ordem simbólica, a saber: primeiro, Deus, o Criador; segundo, a ordem da natureza tal como disposta na Criação; terceiro, a ordem das coisas celestes; quarto, a ordem da vida humana. Ora, esta ordem demonstra o esteio da ordem simbólica, a qual, por sua vez, reflete a ordem da realidade, tanto em eminência, quanto na ordem essencial.

17. Segundo, a ordenação da ordem simbólica; ora, tendo a ordem simbólica uma ordenação essencial, isto designa, por sua vez, o modo da ordenação da própria ordem simbólica; pois, assim se estabelece dois aspectos pelo qual se deve compreender a ordenação da ordem simbólica: primeiro, a ordem celeste; a ordem de acordo com o ordem dos corpos celestes e a partir de suas grandezas e propriedades no sistema cósmico. Segundo, a ordem terrestre; a ordem de acordo com a vida terrestre, a partir do domínio do ser humano sobre a natureza e no desenvolvimento do todo da vida humana (cf. Gn 1.28), o que atesta a questão da ordem essencial da criatura (ser humano) com relação ao restante da criação.

18. Ora, a ordem essencial da ordem simbólica fora desenvolvida de maneira indiscutível, desde os tempos antigos através da simbologia astrológica; desde o crescente fértil, se tem aspectos do que concerne a simbologia astrológica, que fora desenvolvida pelos povos antigos, entre os quais, os mais famosos neste quesito, os babilônicos, o povo que também desenvolveu de maneira significativa a matemática, a astronomia, etc.; mas, a simbologia astrológica desenvolvida por estes povos estava amalgamada com a questão preditiva ou religiosa, o que a Sagrada Escritura condena veementemente, inclusive em relação a própria Babilônica (cf. Is 47.13).

19. No entanto, esta simbologia astrológica fora desenvolvida por outros povos, e ganhou uma forma mais adequada durante os séculos, sem com isso perder sua forma fundamental, e que se desenvolveu também em outro sentido além do sentido preditivo, a saber, o sentido cientifico; a astrologia científica, acoplou de maneira plena a ordenação da simbologia natural de forma eficaz de tal modo, que até os tempos atuais, é a única forma simbólica adequada e correta para compreender a simbologia natural que emerge da própria realidade; e, esta simbologia astrológica, tanto na astrologia preditiva quanto na astrologia científica, é chamada de Zodíaco; o Zodíaco é a forma básica e elementar, e a única que consegue acoplar, todo o amplo escopo da simbologia natural, ao ponto de acoplar corretamente a ordem cósmica de maneira inter-relacionada no que concerne as coisas naturais através dos próprios símbolos naturais (o que constitui-se de uma tarefa da astrologia científica, mas que infelizmente desde a ascensão da modernidade se emprega apenas no sentido preditivo, o que tornara este simbolismo desfigurado e quase que totalmente rejeitado).

Capítulo V: A imagem de mundo.

20. A simbologia natural, ao se desenvolver, seja do modo correto, seja de maneira desfigurada, sempre gera uma imagem de mundo simbólica; se se desenvolve de maneira desfigurada, permanece apenas uma imagem de mundo, que se torna ou imagem de mundo ideal ou desemboca num sonho doentio; no entanto, se se desenvolve de maneira correta, a partir da abstração da simbologia natural, então, se desenvolve em uma visão de mundo.

21. Deste modo, a imagem de mundo, é a base donde emana a visão de mundo; pois, toda visão de mundo é, em seu fundamento, uma imagem de mundo, só que designada de maneira mais bem desenvolvida; mas, em suma são basicamente a mesma coisa; por isso, a imagem de mundo ou é reflexo da realidade, ou do sonho que recusa a própria realidade; portanto, nisto também se observa a maneira de compreender se a imagem de mundo realmente é a que emerge do simbolismo natural, ou se surge da corrupção da percepção deste simbolismo, seja por qual fator for; logo, a imagem de mundo é uma maneira de aferir o estado da percepção natural e da compreensão sobre a ordem cósmica.

22. Portanto, se a imagem de mundo reflete a ordem cósmica, logo, a cosmovisão tende a ser ordenada nas coisas naturais de maneira correta; no entanto, se a imagem de mundo não reflete a ordem cósmica, mas busca se orientar por algum “ismo”, a cosmovisão não será ordenada nas coisas naturais de maneira correta, e já nisto se pode desmontar qualquer pretensão de uma cosmovisão de ser a verdadeira. Logo, a imagem de mundo é o que naturalmente surge do simbolismo natural, sendo necessário apenas o entendimento da regra básica, do axioma fundamental, para ordenar esta imagem de mundo de acordo com a própria ordenação da simbologia natural.

Capítulo VI: Os dois tipos de imagem de mundo.

23. Neste sentido, surgem dois tipos de imagem de mundo: uma que se conforma com a ordem dos corpos celestes, pois como dissera Tomás de Aquino, que Deus move os corpos inferiores pelos corpos superiores; e a imagem de mundo que surge desta perspectiva, é o heliocentrismo; mas o heliocentrismo, refere-se apenas a grande dos corpos em relação ao movimento; a perspectiva heliocêntrica não contempla o centro do cosmos a partir da importância do mordomo da criação, mas a partir da grandeza dos corpos físicos.

24. Logo, tem-se outra imagem de mundo que se conforma com a realidade da importância do ser humano no cosmos; no que Scheler afirmava sobre a importância do homem no cosmos; por isso, o cosmos se orienta não somente de acordo com a grandeza dos corpos celestes, o que reflete caractere físico do universo; mas, principalmente, o cosmos reflete a importância da ordem moral, sublimada no âmbito da vida, através do ser humano, a mais importantes criatura de todo o universo; o ser humano e onde se desenvolve sua vida, é mais importante do que os corpos celestes e os outros animais; por isso, a imagem de mundo que contempla este aspecto, é o geocentrismo; a perspectiva que coloca a terra no centro do universo não por conta da grandeza dos corpos, mas pela grandeza do ser humano, mais excelente do que todos os outros animais (cf. Sl 8.3ss).

25. Deste modo, se compreende que as duas imagens de mundo que existem são o geocentrismo e o heliocentrismo; no entanto, a inter-relação entre estes dois aspectos, tem gerado inúmeras aporias; pois, geralmente, após o advento da modernidade se coloca quase que de maneira absoluta a imagem de mundo heliocêntrica para ordenar a vida humana, o que, em si, é algo sumamente aporético; mas, goste-se ou não, isto se estabeleceu como o fundamento da modernidade, e, em parte se compreende a razão das confusões de princípios que tomou conta da modernidade e da contemporaneidade. E, diante disso, se faz necessário se organizar a ordem destas duas imagens de mundo, de maneira sóbria e de acordo com a ordem que convém as mesmas, a saber: a imagem de mundo heliocêntrica diz respeito a grandeza dos corpos celestes e ao movimento dos corpos celestes, enquanto que a imagem de mundo geocêntrica diz respeito a posição humana no cosmos.

26. Pois, como afirma Olavo de Carvalho: “descrever o sistema solar é uma coisa, e descrever a posição humana no cosmos é outra completamente diferente”; logo, se deve compreender o lugar e a necessidade de descrever o sistema solar, o que o heliocentrismo faz, e se deve compreender o lugar e a necessidade de descrever a posição humana no cosmos, o que o geocentrismo faz; assim, quando se trata do entendimento sobre as coisas naturais, sobre a natureza, e do que concerna a filosofia da natureza, se deve evocar a perspectiva heliocêntrica; agora, quando se trata do entendimento sobre a posição humana no cosmos, sobre a centralidade da vida humana em todo o cosmos, se deve evocar a perspectiva geocêntrica.

27. Deste modo, nesta ordem, se consegue relacionar corretamente as duas imagens de mundo, e colocar cada uma em seu devido lugar para melhor contribuir com o entendimento sobre a ordem cósmica, que deve fundamentalmente ser compreendida a partir destes dois aspectos: no que concerne a ordem da grandeza dos corpos celestes e de seus movimentos, e o que concerne a posição do homem no cosmos.

28. Nestes aspectos também estão delineados o que concerne ao entendimento sobre a ordem cósmica, e sobre a própria ordem que se estabelece a partir da mesma; logo, a ordenação da vida humana, tanto em relação ao saber quanto em relação a própria vida, é compreendida a partir desta ordem e da simbologia natural, pois, tudo que é necessário o ser humano conhecer sobre o universo no que diz respeito a ordem é delineado na simbologia natural ou simbologia astrológica. Logo, a ordem cósmica é disposta nestes termos e de acordo com estas pressuposições. E, por enquanto, basta o que fora dito e elucubrado sobre a ordem cósmica.

29. Termina aqui a explicação sobre a ordem cósmica. Bendito seja Deus por todas as coisas. Amém. 


16/08/2024

Sobre a Contaminação do Ar

Prólogo.

1. “o sopro e o ar abarcam o cosmos inteiro”; esta sentença de Anaxímenes, demonstra um princípio fundamental da vida, o ar; para este filósofo antigo, o ar era o princípio (arché) de todas as coisas; conquanto se saiba que isso não procede, pelo menos Anaxímenes identificou a importância de se tomar um dos elementos naturais como princípio da vida, assim como fizeram os outros filósofos jônicos; e, elucubrar sobre o ar, não somente se reveste de importância científica, mas também de importância filosófica, pois, diz respeito a um tema fundamental da vida humana.

2. Por isso, se deve elucubrar sobre ar; mas não somente sobre o ar em si, mas também sobre os aspectos amalgamados a reflexão sobre ar; e, entre estes aspectos, um se sobressai em importância, devido a urgência e pungência do assunto, a saber, sobre a contaminação do ar; ora, elucubrar sobre a contaminação do ar é algo sempre urgente, pois, de vez em quando, se tem elementos e situações que tem contaminado o ar de maneira alarmante e de maneira perigosíssima para a saúde humana; por isso, em muitos códigos de leis, se afirma categoricamente a necessidade de um meio ambiente sóbrio e equilibrado, pelo qual passa a qualidade do ar.

Portanto, compreender sobre a contaminação do ar, envolve aspectos científicos, filosóficos, jurídicos e teológicos. Por isso, se vai brevemente analisar o que concerne a compreensão sobre a contaminação do ar.

Capítulo I: A importância do ar para a vida humana.

3. Ora, como Anaxímenes afirma que tudo é ar, isso em si, já demonstra a importância vital do ar para a vida humana; pois, cada um dos elementos da natureza são de suma importância para a vida; mas, em se tratando do ar (e da água), se pode afirmar, que o mesmo é imprescindível, pois, sem ar há morte; na verdade, a própria constituição do ser humano, pressupõem o ar, já que precisa deste para respirar e ficar vivo; o próprio Deus ao criar o ser humano soprou neste o ar (fôlego) da vida (cf. Gn 2.7); e a morte, entre outros aspectos, é confirmada pela ausência de respiração, isto é, de ausência de ar.

4. Portanto, o ar é de suma importância para a vida, porque diz respeito a própria sobrevivência da vida humana; do mesmo modo como o ser humano não vive em água, também não vive sem ar; pois, o ar faz parte da constituição natural do ser humano e do meio ambiente onde vive; a atmosfera terrestre, constitui-se de um ambiente com a medida de ar adequada para a vida; logo, a terra é feita para a vida e transmite vida, a medida que se vive de acordo com os preceitos da natureza, inerentemente presentes no ser humano. E, entre estes preceitos, está o ar, a atmosfera, o conjunto do ar que faz parte da vida, tanto do fôlego de vida inerente a cada ser vivo, quanto do ar atmosférico no qual habitam os seres vivos.

5. Ora, a importância de algo em relação a vida se dá de dois modos: primeiro, em sua utilidade para a vida humana; segundo, em sua natureza em relação a vida.

Quanto ao primeiro, se compreende que o ar é útil para a vida humana em tudo; pois, o ar permeia todos os aspectos da vida humana e da biosfera terrestre.

Quanto ao segundo, se compreende que o ar é imprescindível para a vida; na verdade, ar é vida; logo, se compreende que o ar é elemento necessário para a vida biótica, na natureza como um todo, e para a vida do ser humano, em sua respiração; como diz o Filósofo, vida e morte dependem de aspirar e expirar (cf. Resp. 472a12), como se demonstra em todos os seres humanos, embora nas diversas espécies o modo e a forma da respiração sejam diversos, mas todos incluídos sobre a atmosfera terrestre, isto é, em toda a terra e mar; ou dito em termos prosaicos, na grande “redoma” que é o planeta terra, no qual existe perfeitamente a condição para a vida, na amalgama inter-relacional entre água e ar.

6. Por isso, se compreende que o ar é um elemento fundamental da natureza (physis), e, embora não se possa afirmar que o ar é o princípio de todas as coisas, como dissera Anaxímenes, contudo, o ar é um dos princípios fundamentais da natureza e da vida; pois, toda a esfera biótica da realidade, isto é, toda a esfera da realidade que se refere a vida e ao viver, tem o ar como elemento imprescindível. Por isso, compreender sobre o ar, e cuidar e velar pela qualidade do ar, são elementos fundamentais da vida humana, pois, ambos dizem respeito a vida e a sobrevivência do ser humano.

Capítulo II: A natureza da atmosfera.

7. A terra é envolta numa atmosfera, numa esfera de ar; e o ar necessário para a vida humana é preservada no âmbito da vida impedindo que este ar "saia" para o espaço sideral, e impedindo que o ar (os gases) dos corpos celestes permeiem a atmosfera terrestre; isto é feito pela camada de ozônio, que atua com vários gases, os quais, impedem, a partir de uma certa altura, a propagação do ar comum a atmosfera terrestre adentre na atmosfera sideral, e vice-versa.

8. Por isso, a natureza da atmosfera terrestre, existe em função da vida humana e para proteger os elementos fundamentais da vida humana, através da amalgama de ar, vapor e umidade, tal como o próprio Deus criara, o que é chamado nas Escrituras de expansão (cf. Gn 1.6-8).

9. No entanto, nesta atmosfera se podem propagar elementos nocivos a vida humana, causados principalmente pela poluição e pela contaminação do ar. Logo, a pureza do ar, e o equilíbrio natural da atmosfera, é surrupiado pela contaminação do ar; por isso, se estabelece que a natureza da atmosfera é tanto permeada por elementos naturais, quanto por elementos artificiais, isto é, por poluição deliberada (tolerável ou não).

10. Deste modo, se compreende que a natureza da atmosfera possui uma estrutura funcional, principalmente no âmbito mais específico da vida humana; o ar respirado pelo ser humano deve ser um ar puro do ambiente saudável e equilibrado, pois, o ar expirado pelo ser humano como gás carbônico é purificado pelas árvores e algas no efeito fotossíntese, e assim o ar mantém sua umidade e sua pureza; e isto forma um ciclo natural que faz parte do funcionamento da natureza, em relação as coisas naturais. O problema é quando a poluição é tão grande que nem mesmo o ciclo natural de mantenimento da umidade do ar, consegue purificar esta impureza e contaminação; por isso, a contaminação do ar se torna um problema, pois, quanto mais contaminação menos umidade do ar, e quanto menos umidade do ar mais desequilíbrios naturais se desenvolverão, prejudicando e causando males à vida humana, os quais, são consequências das próprias atitudes dos seres humanos em contaminar o ar.

Capítulo III: A contaminação do ar.

11. Assim sendo, compete analisar o que é a contaminação do ar; basicamente, como a própria expressão diz, é tudo aquilo que contamina a pureza e as propriedades naturais do ar; e a contaminação do ar se dá de dois modos: primeiro, de maneira natural; segundo, de maneira espiritual.

12. Em relação ao primeiro, se fazem duas coisas: primeiro, a contaminação natural no cotidiano; isto é, a contaminação que provêm da emissão de gás carbônico pelo ser humano; este tipo de contaminação não é nocivo, pois, a própria natureza reverte esta contaminação, no processo da fotossíntese; logo, no próprio desenvolvimento da vida humana há este tipo de contaminação.

Segundo, a contaminação provocada; e esta se subdivide em dois aspectos: um em relação a contaminação provocada tolerável, em aspectos sumamente necessários a vida e a manutenção da vida, como em casos de fábricas que produzem produtos de saúde e coisas similares; é contaminação, mas é tolerável, desde que dentro dos limites da lei e da normalidade ambiental. O outro aspecto, em relação a contaminação provocada de maneira nefasta, isto é, todo tipo de contaminação do ar que é feito para prejudicar e/ou causar dano a saúde humana: como queimadas provocadas, incineração de produtos nocivos a saúde, o aumento desenfreado de gases poluentes e danosos a saúde, etc.; e, a instrumentalização da contaminação do ar como arma de guerra e/ou como arma para destruir alguém ou todo um povo, o que, pasme-se também tem ocorrido.

13. Portanto, em relação a contaminação do ar, se deve evitar o que se tem de evitar, pois, a contaminação desmedida do ar, traz consequências catastróficas e quase que irreversíveis para a vida humana; pois, a contaminação da atmosfera, aos poucos vai tornando a mesma um lugar sem condições para a vida, e isso, por culpa do próprio ser humano; logo, quanto mais contaminação do ar, menor a qualidade do ar e mais difícil se tornam a manutenção e a subsistência da vida em questões naturais. Isto, é o que concerne a proposição da contaminação natural do ar.

Capítulo IV: A contaminação espiritual do ar.

14. Em relação ao segundo - a contaminação espiritual do ar -, se evidencia que, a contaminação desmedida e nefasta do ar, sempre tem por detrás algum mover maligno; pois, a Escritura fala do Diabo como príncipe da potestade do ar (cf. Ef 2.2), e o termo ar (ἀέρος, aeros), diz respeito tanto as regiões espirituais, quanto ao ar como elemento natural; notadamente, diz respeito a um modo de ação maligna nos ares, bem como a atuação na contaminação dos ares, ou mais propriamente, da contaminação e desfiguração dos elementos naturais, para a destruição do ser humano.

15. E, sobre isso, três considerações são feitas: primeiro, a contaminação nefasta do ar, sempre tem alguma obra maligna; e isto se prova pelo seguinte argumento: onde se tem muita contaminação do ar, sempre se tem a destruição da natureza e a desfiguração dos valores essenciais da vida humana; logo, onde se tem contaminação nefasta do ar, se tem obra maligna.

Segundo, a contaminação espiritual do ar, torna os homens viciados naquilo que lhes traz prejuízo em sua saúde, e, por consequência, em suas dignidades; pois, a contaminação nefasta do ar, sempre é feita de maneira usurpante com relação a dignidade humana; logo, sempre tem por caractere indiscutível a destruição da dignidade pela vituperação da saúde que ocorre pela contaminação do ar.

Terceiro, a contaminação espiritual do ar, sempre provoca a castificação de obras malignas; ora, se um elemento natural, imprescindível para a vida humana, é contaminado de maneira nefasta continuamente, então, necessariamente, se ocasiona um movimento no coração para questões anti-naturais, no que concerne a ação humana; logo, onde há este tipo de contaminação, certamente há ou haverá uma castificação de obras malignas e perversas, pois, o ar contaminado move os corações corrompidos sujeitos a ação maligna, do mesmo modo como esta contaminação causa prejuízos ao corpo humano.

16. Além disso, o texto do livro de Jó, apresenta que os demônios, podem se utilizar do ar (sob a permissão de Deus) para causar morte, ou qualquer outro prejuízo à saúde humana; no caso do livro de Jó, se apresenta que o Diabo causou um “vento impetuoso” ao ponto de derribar a casa e matar os filhos de Jó (cf. Jó 1.19); ora, o vento é uma das manifestações do ar; e os demônios agiram para ocasionar um vento impetuoso que causasse morte; logo, os demônios tanto podem agir de maneira direta, ocasionando morte através de manipulação do ar, quanto podem agir de maneira indireta, utilizando-se da poluição do ar para ocasionar prejuízos à saúde humana, tal como ocorre na contaminação do ar, pois os componentes químicos da poluição, são extremamente nocivos à saúde humana, e ao matando os seres humanos aos poucos.

17. Deste modo, se compreende que quando a contaminação do ar sai da esfera do natural, isto é, daquilo que é inerente a natureza, se deve causar alguns alardes; agora, quando este contaminação chega a níveis de periculosidade, isto é, quando é nefasta, então, se tem evidência da obra maligna; logo, a contaminação do ar, também pode ocorrer por obra maligna, ou em si mesma, ou através de alguma forma de poluição, o que, ocasiona terríveis problemas para a vida humana, desde a questões referentes aos prejuízos a saúde, quanto em questões aos homens serem movidos pela obra maligna; os elementos presentes na contaminação do ar, produzem efeitos terríveis à saúde, enquanto que a raiz desta contaminação produz efeitos espirituais.

Capítulo V: A necessidade de qualidade no ar.

18. Portanto, tendo compreendido a descrição dos problemas concernentes a contaminação do ar, se deve pontuar a necessidade sempre urgente de se compreender a necessidade de qualidade no ar; pois, isto diz respeito diretamente a vida humana, tanto em relação ao desenvolvimento da vida quanto em relação a sobrevivência humana; o ar, enquanto de reflexão, diz respeito a preservação da vida.

19. Por isso, ao se analisar a necessidade de qualidade no ar, se evocam quatro pressupostos: primeiro, a qualidade do ar é pressuposto inviolável da vida humana; pois, a vida é um dos transcendentais dos direitos humanos; logo, tudo quanto diz respeito a vida e a qualidade da vida, é tido como inviolável para o indivíduo; portanto, o que concerne a vida e qualidade da vida também; assim sendo, como a qualidade do ar é algo imprescindível para a vida e a qualidade de vida, logo, diz respeito a algo que deve ser tido, tanto pelos seres humanos, como pelos códigos de leis como algo inviolável, o que é feito por estes através da evocação da necessidade de preservação do meio ambiente e do equilíbrio ambiental, no qual está inserido a qualidade do ar.

Segundo, a qualidade do ar é necessária para o desenvolvimento da vida; sem a qualidade do ar a vida não se desenvolve de maneira sóbria; pois, com o ar contaminado, os seres humanos não conseguirão se desenvolver e nem exercer suas faculdades naturais; e, se não se respira um ar com qualidade, não se raciocina de maneira correta; na verdade, se não se respira um ar com qualidade, a natureza humana não cumprirá de maneira natural suas funções naturais, o que, gera inúmeros problemas de saúde, e, em alguns casos, até problemas na alma; pois, a falta de qualidade no ar, é uma forma de “zumbizar” os indivíduos através da má respiração, viciando-nos ao ar contaminado, e, com isso, tornando-os sujeitos a outros tipos de vícios. Portanto, a qualidade do ar é necessária para o desenvolvimento da vida.

Terceiro, a qualidade do ar é necessária para o mantenimento da própria humanidade inerente ao indivíduo; pois, sem a qualidade do ar, ou a qualidade dos outros elementos naturais imprescindíveis à vida humana, não se conserva a dignidade inerente ao indivíduo; pois, a dignidade humana, é demonstrada pela qualidade e usufruto sóbrio e correto dos elementos naturais e destes com qualidade natural que lhes é inerente; portanto, se há contaminação nefasta do ar, logo, se terá consequências terríveis para a dignidade dos indivíduos, e as vezes, até para uma sociedade inteira. Logo, a qualidade do ar é necessária para o mantenimento da própria humanidade inerente ao indivíduo.

20. Deste modo, se compreende a imprescindível e irrevogável necessidade de qualidade no ar, já que o ser humano, e todos os seres vivos terrestres, naturalmente precisam do ar puro para respirar e assim continuar vivos e viverem; o ar é parte da própria vida e do que concerne as coisas naturais do ser humano. Logo, a qualidade do ar, além de ser pressuposto inerente a partir da própria natureza, também é evidente de acordo com a própria natureza do ser humano, para o que, o ar tem uma contribuição inerente.

21. Termina aqui esta simples explicação sobre a contaminação do ar. Bendito seja Deus por todas as coisas. Amém.

Explicação do “Epigrama sobre Hegel” de Karl Marx

Proêmio   O “ Epigrama II ” ou “ Epigrama sobre Hegel ” (1837) [1] é um texto fundamental da filosofia marxiana, e é um dos textos mais...