1. Ó tu, cidade de Niceia, antiga glória do Império
Romano, joia do Império Bizantino, viste ocorrer em vossas ruas empoeiradas um
dos maiores Concílios Ecumênicos da história.
Que cidade, pois, fora digna de dignatária assembleia?
Não somente uma dignatária assembleia, mas a própria
Santa Igreja, representada pelos sucessores dos apóstolos, se ajuntou para
resolver questões teológicas e aperfeiçoar o que concerne a Sagrada Tradição.
Ó Niceia, cidade lendária, viste as resoluções de
bispos santos abalizar e definir adequadamente o símbolo da fé.
Ó Niceia, o que tu não teria a nos contar se tu
pudesses falar.
2. Assim, ao rememorar os 1700 anos do Primeiro
Concílio de Niceia, não se poderia deixar de saudá-la, ó antiga cidade; mas,
principalmente saudar este notável Concílio Ecumênico, um dos maiores e mais
importantes de toda a história.
A teologia nicena é a teologia da cristandade; não que
as fórmulas nicenas acoplaram todo o desenvolvimento teológico, o que por si
seria impossível; mas as fórmulas nicenas definiram com precisão e síntese no
que consiste a fé cristã enquanto conjunto de doutrinas reveladas.
A fé cristã é fundamentalmente experiência com Cristo,
mas esta experiência também deve ser manifesta em formulações racionais
precisas e sintéticas, não só para testemunho entre as gentes, mas também para
glorificar a Deus através dos dons da inteligência.
3. A fé nicena é uma fé que concatena a verdadeira
experiência com a explicação racional adequada; pois, aquilo que se crê há de
ser corretamente entendido (cf. Is 7.9b); e fora isso que os padres nicenos
fizeram, a saber, definiram da melhor maneira possível a experiência da fé
verdadeira que lhes fora transmitida, a qual verdadeiramente experienciaram, e
a qual preservaram e conservaram sem nenhuma alteração.
A teologia nicena é expressão da fé imutável da Santa
Igreja; a fé na Santíssima Trindade, na obra de Deus Pai, Deus Filho e Deus
Espírito Santo, nos quais está a beatitude da vida cristã, e o esplendor do
hábito da glória.
Convocados para lidar com as heresias de Ário, lidaram
não somente com estas terríveis heresias de maneira magistral, mas legaram à
toda Igreja um tesouro inestimável, que enriquecera e enobrecera grandemente a
Sagrada Tradição. O símbolo niceno é uma das glórias da Sagrada Tradição.
4. Deste modo, o que provém das fórmulas nicenas é a
mais límpida e útil teologia: glorificar a Deus por quem Ele é e louvá-lo e
honrá-lo pelo que Ele faz; glorificar a Jesus Cristo, nosso bendito Redentor,
por sua obra da cruz para nos salvar e livrar do inferno; glorificar ao
Espírito Santo, Senhor nosso e que vivifica nossas almas para os mistérios
santificantes; mas também honrar e dignificar a Santa Igreja, na qual se
administra os Santos Sacramentos, proclamando aos fiéis e ao mundo a esperança
da vida eterna.
Em suma, isto constitui a teologia dos padres nicenos;
o que para alguns parece apenas uma simples fórmula antiga, para os verdadeiros
cristãos é motivo de alegria e veneração, já que as fórmulas nicenas ao estarem
em perfeita conformidade com o que é transmitido na Sagrada Escritura,
engendram o verdadeiro propósito da Sagrada Tradição, desenvolver a fé que de
uma vez por todas foi entregue aos santos sempre em conformidade com o que os
Santos Apóstolos ensinaram.
5. Por isso, veneramos o Primeiro Santo Concílio
Ecumênico, por sua fidelidade ao mandamento de Cristo aos Apóstolos, e por
terem laborado em honra a verdade, defendendo a reta fé, debelando os erros
perniciosos dos hereges, e ensinando o caminho do bem, no qual se conforma
disciplina correta e crença correta, ortodoxia e ortopraxia.
Ó Padres Nicenos, louvamos a Deus por vossas vidas e
testemunho, que assistidos pelo imperador Constantino, preservastes a fé
apostólica sob a liderança iluminada de São Ósio de Córdova, digno sucessor dos
apóstolos, e testemunhastes a beleza da fé ortodoxa.
Por esta razão, a Santa Igreja, tanto no Oriente
quanto no Ocidente, após algumas discussões, reafirmara em concórdia as
fórmulas definidas, as quais deram testemunho fidedigno do que era proclamado
desde os tempos apostólicos.
6. Assim sendo, a fé nicena é a manifestação da
verdadeira unidade da Igreja, a unidade na verdade; a firmeza na verdade é o
que manifesta plenamente a unidade da Igreja em todos os rincões do mundo; ó
Padres Nicenos, vós fostes fanal para preservar a unidade e a proclamar em
honra a verdade, que é o próprio Cristo (cf. Jo 14.6).
A beleza fulgurante da unidade da Igreja, se dá sempre
que a Igreja confessa e honra toda a verdade, e permanece plenamente em
conformidade com a verdade; assim a Santa Igreja cumpre sua função, sendo
coluna e firmeza da verdade (cf. 1Tm 3.15).
A firmeza da verdade foste manifesta em vós, Padres
Nicenos, que preservam esta firmeza na fidelidade a Tradição Apostólica, e em
testemunharem de maneira fidedigna a fé que recebestes.
7. Por isso, diante da memória dos 1700 anos do
Primeiro Concílio de Niceia, rendamos louvor ao Deus Trino, pelo testemunho e
fidelidade dos Padres Nicenos, orando de maneira uníssona em todo o mundo:
“Ó Santíssima Trindade, mistério altissonante de
graça, bondade e comunhão, louvamos-te pelo Venerável Primeiro Concílio
Ecumênico, pelos Padres Nicenos, os quais em razão da firmeza da fé que
receberam e movidos pelo Espírito Santo, testemunharam da fé reta e sólida
diante dos ataques dos hereges; Deus Glorioso, nos dê a graça de sermos fiéis a
Ti como foram os Padres Nicenos, principalmente diante dos tempos difíceis que
vivemos e diante das dificuldades que se apresentam a Santa Igreja; nos
conduza, ilumine, e fortaleça no caminho da verdade, a fim de que sob o ímpeto
niceno, testemunhemos da verdade e possamos sempre encontrar o mel saído da
rocha, que o nosso bendito Senhor Jesus Cristo nos outorga sempre que o
buscamos em Sua palavra revelada. Glória seja dada a Ti, Deus Uno e Trino, por
Cristo nosso Senhor, na unidade do Espírito Santo, pelos séculos dos séculos.
Amém”.
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