20/12/2025

Encómio ao Primeiro Concílio de Niceia

1. Ó tu, cidade de Niceia, antiga glória do Império Romano, joia do Império Bizantino, viste ocorrer em vossas ruas empoeiradas um dos maiores Concílios Ecumênicos da história.

Que cidade, pois, fora digna de dignatária assembleia?

Não somente uma dignatária assembleia, mas a própria Santa Igreja, representada pelos sucessores dos apóstolos, se ajuntou para resolver questões teológicas e aperfeiçoar o que concerne a Sagrada Tradição.

Ó Niceia, cidade lendária, viste as resoluções de bispos santos abalizar e definir adequadamente o símbolo da fé.

Ó Niceia, o que tu não teria a nos contar se tu pudesses falar.

2. Assim, ao rememorar os 1700 anos do Primeiro Concílio de Niceia, não se poderia deixar de saudá-la, ó antiga cidade; mas, principalmente saudar este notável Concílio Ecumênico, um dos maiores e mais importantes de toda a história.

A teologia nicena é a teologia da cristandade; não que as fórmulas nicenas acoplaram todo o desenvolvimento teológico, o que por si seria impossível; mas as fórmulas nicenas definiram com precisão e síntese no que consiste a fé cristã enquanto conjunto de doutrinas reveladas.

A fé cristã é fundamentalmente experiência com Cristo, mas esta experiência também deve ser manifesta em formulações racionais precisas e sintéticas, não só para testemunho entre as gentes, mas também para glorificar a Deus através dos dons da inteligência.

3. A fé nicena é uma fé que concatena a verdadeira experiência com a explicação racional adequada; pois, aquilo que se crê há de ser corretamente entendido (cf. Is 7.9b); e fora isso que os padres nicenos fizeram, a saber, definiram da melhor maneira possível a experiência da fé verdadeira que lhes fora transmitida, a qual verdadeiramente experienciaram, e a qual preservaram e conservaram sem nenhuma alteração.

A teologia nicena é expressão da fé imutável da Santa Igreja; a fé na Santíssima Trindade, na obra de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, nos quais está a beatitude da vida cristã, e o esplendor do hábito da glória.

Convocados para lidar com as heresias de Ário, lidaram não somente com estas terríveis heresias de maneira magistral, mas legaram à toda Igreja um tesouro inestimável, que enriquecera e enobrecera grandemente a Sagrada Tradição. O símbolo niceno é uma das glórias da Sagrada Tradição.

4. Deste modo, o que provém das fórmulas nicenas é a mais límpida e útil teologia: glorificar a Deus por quem Ele é e louvá-lo e honrá-lo pelo que Ele faz; glorificar a Jesus Cristo, nosso bendito Redentor, por sua obra da cruz para nos salvar e livrar do inferno; glorificar ao Espírito Santo, Senhor nosso e que vivifica nossas almas para os mistérios santificantes; mas também honrar e dignificar a Santa Igreja, na qual se administra os Santos Sacramentos, proclamando aos fiéis e ao mundo a esperança da vida eterna.

Em suma, isto constitui a teologia dos padres nicenos; o que para alguns parece apenas uma simples fórmula antiga, para os verdadeiros cristãos é motivo de alegria e veneração, já que as fórmulas nicenas ao estarem em perfeita conformidade com o que é transmitido na Sagrada Escritura, engendram o verdadeiro propósito da Sagrada Tradição, desenvolver a fé que de uma vez por todas foi entregue aos santos sempre em conformidade com o que os Santos Apóstolos ensinaram.

5. Por isso, veneramos o Primeiro Santo Concílio Ecumênico, por sua fidelidade ao mandamento de Cristo aos Apóstolos, e por terem laborado em honra a verdade, defendendo a reta fé, debelando os erros perniciosos dos hereges, e ensinando o caminho do bem, no qual se conforma disciplina correta e crença correta, ortodoxia e ortopraxia.

Ó Padres Nicenos, louvamos a Deus por vossas vidas e testemunho, que assistidos pelo imperador Constantino, preservastes a fé apostólica sob a liderança iluminada de São Ósio de Córdova, digno sucessor dos apóstolos, e testemunhastes a beleza da fé ortodoxa.

Por esta razão, a Santa Igreja, tanto no Oriente quanto no Ocidente, após algumas discussões, reafirmara em concórdia as fórmulas definidas, as quais deram testemunho fidedigno do que era proclamado desde os tempos apostólicos.

6. Assim sendo, a fé nicena é a manifestação da verdadeira unidade da Igreja, a unidade na verdade; a firmeza na verdade é o que manifesta plenamente a unidade da Igreja em todos os rincões do mundo; ó Padres Nicenos, vós fostes fanal para preservar a unidade e a proclamar em honra a verdade, que é o próprio Cristo (cf. Jo 14.6).

A beleza fulgurante da unidade da Igreja, se dá sempre que a Igreja confessa e honra toda a verdade, e permanece plenamente em conformidade com a verdade; assim a Santa Igreja cumpre sua função, sendo coluna e firmeza da verdade (cf. 1Tm 3.15).

A firmeza da verdade foste manifesta em vós, Padres Nicenos, que preservam esta firmeza na fidelidade a Tradição Apostólica, e em testemunharem de maneira fidedigna a fé que recebestes.

7. Por isso, diante da memória dos 1700 anos do Primeiro Concílio de Niceia, rendamos louvor ao Deus Trino, pelo testemunho e fidelidade dos Padres Nicenos, orando de maneira uníssona em todo o mundo:

Ó Santíssima Trindade, mistério altissonante de graça, bondade e comunhão, louvamos-te pelo Venerável Primeiro Concílio Ecumênico, pelos Padres Nicenos, os quais em razão da firmeza da fé que receberam e movidos pelo Espírito Santo, testemunharam da fé reta e sólida diante dos ataques dos hereges; Deus Glorioso, nos dê a graça de sermos fiéis a Ti como foram os Padres Nicenos, principalmente diante dos tempos difíceis que vivemos e diante das dificuldades que se apresentam a Santa Igreja; nos conduza, ilumine, e fortaleça no caminho da verdade, a fim de que sob o ímpeto niceno, testemunhemos da verdade e possamos sempre encontrar o mel saído da rocha, que o nosso bendito Senhor Jesus Cristo nos outorga sempre que o buscamos em Sua palavra revelada. Glória seja dada a Ti, Deus Uno e Trino, por Cristo nosso Senhor, na unidade do Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém”. 


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