Capítulo I: A fé e a castidade.
1. A fé de um jovem, se for fé verdadeira, é
evidenciada e demonstrada principalmente através da castidade; se um jovem (ou
adolescente) se diz cristão, mas não vive a castidade requerida na Sagrada
Escritura, então este jovem ou esta jovem não é cristão; a falta de castidade é
evidência de que alguém se enveredou pelos caminhos da prostituição; e o
Apóstolo é categórico quanto a exortação à santidade: a vontade de Deus para os
fiéis é a santificação, e por esta razão os fiéis devem se abster de qualquer
forma de prostituição (cf. 1Co 6.18; 1Ts 4.3ss).
Assim, o que não está em conformidade com a castidade
é prostituição; e que cause espanto esta sentença: qualquer ato ou ação que
atente contra a castidade é prostituição; assim sendo, se um jovem ou uma
jovem, ó diletíssima sra., atenta contra a castidade, este jovem ou esta jovem
não faz parte da fé cristã; pois, nada mais ultrajante para a fé do que a
prostituição; prostitutas ou prostitutos não são cristãos.
2. Além disso, lembro-me que ao conservar com a sra.
pessoalmente, a sra. ficou estarrecida quando afirmei isso, dizendo-me que isso
era radicalidade demais; ora, isto não é radicalidade demais, é apenas o
ensinamento bíblico, no qual se fundamenta o ensinamento da Santa Igreja; pois,
tanto os ensinamentos bíblicos quanto os ensinamentos dos Padres da Igreja
sobre a moral sexual demonstram que o que não está em conformidade com a
castidade é prostituição.
E o problema não está em demonstrar isso, algo mais do
que evidente na fé cristã; o problema maior é que se aceitou tantas
imoralidades como se fossem algo certo sem ninguém falar nada, que ao se
ensinar a verdade concernente a moralidade sexual, tem gerado espanto e
estupefação.
3. Assim sendo, escrevo-lhe para lhe responder vossa
indagação a respeito da necessidade da castidade nos jovens cristãos; pois, é
inaceitável que os jovens cristãos não vivam de acordo com a castidade exigida
pela fé em Jesus Cristo; se se aceita a falta de castidade nos jovens cristãos,
então se está aceitando que pessoas que se dizem “cristãos” e “cristãs” vivam
na prostituição.
Ora, é fundamental recuperar e ensinar com esmero o
que concerne a moral sexual cristã, para que aqueles que se dizem cristãos
vivam de modo digno do Santo Evangelho (cf. Fp 1.27).
E isto, ó diletíssima sra., não é radicalismo, é
simplesmente ser cristão; na verdade, a castidade é uma das maiores evidências
- senão for a maior - que um jovem (homem ou mulher) verdadeiramente é cristão.
Capítulo II: O ensinamento bíblico sobre a castidade.
4. A questão sobre a moral sexual é tão importante que
existe um livro na Sagrada Escritura para tratar deste assunto, o livro do
Cântico dos Cânticos ou Cantares de Salomão; é um livro que geralmente é
deixado de lado e tido como sem importância; mas, é o livro bíblico que ensina
sobre a moral sexual do início ao fim; enquanto em toda a Escritura se tem
vários preceitos quanto a moral sexual em geral, neste livro em especifico se
tem delineado tudo quanto concerne a moral sexual em específico.
E assim como todo livro da Sagrada Escritura, este
livro tem dois sentidos: um literal, no qual se explica tudo quanto concerne ao
casamento e a moral sexual, e um místico, no qual se explica o relacionamento
entre Deus e o Seu povo (entre Cristo e a Igreja); e, infelizmente, quase todas
as explicações e/ou menções a este livro bíblico se dão no âmbito do sentido
místico.
Todavia, isso não impugna o sentido literal, e nem
serve de desculpa para o desconhecimento bíblico por parte daqueles que se
dizem “cristãos” quanto a moral sexual bíblica.
5. Portanto, o livro do Cântico dos Cânticos, que é o
hino (ou poesia) mais importante já escrito entre os homens, versa
especificamente sobre o relacionamento entre homem e mulher em tudo quanto
concerne ao casamento e a moral sexual. Pois, neste livro se tem a explicação
de tudo quanto deve permear o casamento e ao que deve permear as etapas antes
do casamento; e o que não está em conformidade com isto é prostituição.
Deste modo, que se saiba que o livro do Cântico dos
Cânticos ensina sobre a castidade, tanto a que antecede ao casamento, como a
que é própria ao casamento; ou seja, ensina sobre a santidade que convém em
relação a sexualidade, tanto a de antes do casamento, quanto a que deve permear
o próprio casamento. O casamento é demonstrado em todo sua beleza justamente
quando o casal vive a santidade que é própria da dignidade do matrimônio.
Além disso, também é necessário se reafirmar que tanto
no sentido revelacional (Sagrada Escritura) quanto no sentido puramente
racional (Filosofia), quem não vive em castidade não tem moral para falar de
nenhum erro moral seja ele qual for; ou no linguajar mais popular: quem não
vivem em castidade não tem moral para falar nem de um animal.
6. Por isso, se constata que tudo quanto concerne a
castidade é algo inerente a fé; quem tem fé é casto, quem tem fé vive a
castidade; e o que está contra isso é doutrina de demônios; pois, como diz o
Apóstolo, é doutrina de demônios tudo quanto vitupera e/ou está contra o
casamento (cf. 1Tm 4.3); ou dito em outros termos, é doutrina de demônios tudo
que está contra a moral sexual bíblica, pois a contrariedade a moral revelada
se dá tanto naqueles que proíbem ou tentar impedir o casamento (ou alguém de
casar), quanto naqueles que não vivem retamente segundo a lei moral. Assim
sendo, se alguma prática, mesmo a tida mais inofensiva, é contra a moral sexual
bíblica, então tal prática é prostituição.
7. Pois, tudo quanto diz respeito as práticas da
intimidade sexual entre homem e mulher é algo para o casamento; qualquer ato de
intimidade sexual que é praticado antes do casamento é pecado, e é tido como
prostituição pelos parâmetros bíblicos; não há meio termo quanto ao que é parte
da fé: ou se vive de acordo com o que transmitido na Sagrada Escritura e na Tradição
Apostólica (cf. 2Ts 2.15), ou então não há fé cristã; por isso, neste assunto,
o qual é de suma importância, seguir os parâmetros bíblicos é algo
imprescindível, para que a alma não fique presa no anzol do demônio, que pesca
e se assenhora de muitos jovens por estes não viverem a castidade que é
requerida pela fé que dizem professar.
Capítulo III: A necessidade da castidade numa cultura
corrompida.
8. Ora, a castidade deve ser cada vez mais ensinada e
valorada principalmente em culturas corrompidas; como no caso do Brasil a
cultura é totalmente corrompida, então a necessidade de ensinar sobre a
castidade é ainda maior; pois, se um jovem ou uma jovem que se diz “cristão” ou
“cristã” não vive a castidade requerida pela Sagrada Escritura, no lugar da
alegria que provém da castidade procurará divertimentos; e as mais das vezes,
se constata que os jovens que se dizem “cristãos” buscam divertimentos porque
não vivem em castidade; e os divertimentos são uma forma de obnubilar a
consciência para a compreensão da miséria que advém da falta de castidade.
9. E sempre que se busca divertimentos em função da
falta de castidade, estes divertimentos serão expressão de sensualidade
desordenada; os divertimentos que velam a falta de castidade sempre são
divertimentos sensuais e sensualizadores; e sensualidade desequilibrada
ocasiona a destruição da inteligência (cf. Os 4.11); portanto, a falta de
castidade afeta todo o ser, da vontade ao intelecto; por isso, os que vivem a
castidade equilibrada, conforme é ensinado na Sagrada Escritura, conseguem
viver uma vida ordenada, virtuosa e piedosa neste mundo que jaz no maligno, e
estes, pela graça de Deus, saem vitoriosos contra as tentações de Satanás
porque seguem a vontade de Deus (cf. 1Jo 2.17).
10. Por esta razão, é necessário se reafirmar os
princípios sobre a moral sexual tal como transmitidos na Sagrada Escritura,
especialmente os que são ensinados no livro do Cântico dos Cânticos; e os
princípios deste livro não estão dispostos em ordem sistemática; no entanto, no
livro do Cântico dos Cânticos se tem ensinamentos preciosos sobre o que
concerne as etapas que antecedem ao casamento, sobre o próprio casamento, bem
como sobre a vida íntima do casal, etc.
Portanto, se tem de compreender o que este livro fala
sobre estes aspectos, e então explicá-los em uma ordem que facilite a
compreensão; e para isso, precisamos dispô-lo em uma ordem sistemática de
acordo com estas perspectivas ora evocadas; ou seja, entender em ordem: a vida
íntima do casal, as etapas que antecedem ao casamento e o próprio casamento.
E em suma, este é o núcleo do ensinamento da Sagrada
Escritura sobre a moral sexual, o qual é seguido de maneira fidedigna pela
Sagrada Tradição.
11. Todavia, não é tarefa simples entender estes
aspectos no livro do Cântico dos Cânticos; pois, é um livro com linguagem
extremamente metafórica; sem dúvida, é o livro mais metafórico da Sagrada
Escritura, é uma síntese precisa de metáforas, mais profundas, por exemplo, do
que as sentenças virgilianas e as sentenças dantescas; e compreender estas
metáforas, as quais eram comuns a três milênios atrás, é algo dificílimo,
principalmente pela altíssima dificuldade que é transpô-las adequadamente para
a compreensão dos leitores hodiernos; se fazer isso já era difícil nos
primórdios da era cristã, o que não se dirá de fazê-lo em tempos modernos.
Por isso, as menções feitas ao livro do Cântico dos
Cânticos já são postas a partir de uma interpretação literal do texto sagrado,
e não me aterei a explicação detalhada destas metáforas; entretanto, as menções
feitas já servem para aclarar a doutrina bíblica quanto a moral sexual.
Capítulo IV: As três esferas da moral sexual bíblica.
12. Assim, se deve entender, em ordem, estes três
aspectos delineados neste desconhecido e pouco estudado livro bíblico; com
isso, a partir dos ensinamentos do Cântico dos Cânticos, se tem três seções
para se entender no que concerne a moral sexual cristã: (i) primeiro, a moral
sexual que antecede ao casamento; (ii) segundo, a moral sexual do casamento;
(iii) terceiro, a moral sexual sobre a vida íntima do casal.
13. [i] Primeiro, a moral sexual que antecede ao
casamento; ora, quanto a moral sexual que antecede ao casamento, se a subdivide
em três aspectos: primeiro, em relação ao cortejo; segundo, em relação ao
namoro, ou início do relacionamento; terceiro, em relação ao noivado, ou a fase
preparatória para o casamento.
14. Primeiro, em relação ao cortejo, isto é, ao que se
chama de manifestação do interesse, onde tanto o homem quanto a mulher
demonstram algum interesse um no outro; quanto a isso, o texto sagrado fala
sobre o ser agradável (cf. Ct 1.5a, 10), não só no sentido da educação e
cordialidade, mas no sentido de atinar o ímpeto da atração psicofísica; no
entanto, ainda que esta atração possa ser atinada, não se deve acordar nem
despertar o amor até que este o queira (cf. Ct 2.7), isto é, não se deve deixar
dominar pela sensualidade até que o coração esteja preparado para usufruir dos
deveres e das benesses do casamento. Mas, o cortejo é a etapa inicial onde se
atina o interesse para o relacionamento.
15. Segundo, em relação ao namoro, ou início do
relacionamento; o texto sagrado não menciona o termo namoro, mas indica uma
etapa inicial do relacionamento que difere da fase preparatória ao casamento
(noivado); esta etapa inicial se intitula em tempos hodiernos como namoro; e o
texto sagrado demonstra algumas características que deve permear esta etapa, as
quais são:
(i) a predileção de um ver o outro e escutar um ao
outro (cf. Ct 2.14).
(ii) a admiração de ambos pela beleza e pelas virtudes
de cada um (cf. Ct 4.1).
(iii) o se guardar na intimidade sexual (cf. Ct 4.12),
isto é, não praticar ato sexual no namoro, já que o sexo é para ser usufruído
apenas no casamento.
(iv) a virgindade é comparada a um jardim fechado, a
um poço de águas vivas, posto ser expressão de vida correta (cf. Ct 4.15), bem
como é comparada ao exalar dos bons unguentos para denotar uma excelsa e santa
virtude (cf. Ct 1.3-4).
(v) o coração estremecer de amor (cf. Ct 5.4), isto é,
o coração ao estar em retidão, se atinará de modo reto ao amor quando este quer
se manifestar, causando o anelo pelo outro, já que o estremecer aqui não diz
respeito a medo, mas respeito, anelo e submissão.
Portanto, o namoro não é fase de intimidade física;
antes, naqueles que realmente possuem algum interesse, é fase de conhecer o
outro e de surgir admiração; se se passa disso, não é algo de acordo com a
vontade de Deus; pois, o texto sagrado é categórico quanto ao que deve permear
esta fase inicial do relacionamento, a saber: respeito, diálogo, admiração,
nada de intimidade física, de tal modo que se o amor for verdadeiro se
demonstrará no respeito e na obediência aos preceitos bíblicos; etc.
Por isso, aqueles que se guardam corretamente no
namoro, se tornam totalmente agradáveis (cf. Ct 5.16), isto é, manifestam a
agradabilidade desejável que os torna aptos a darem prosseguimento para a fase
preparatória ao casamento.
16. Terceiro, em relação ao noivado, ou a fase preparatória
ao casamento; ora, o noivado se segue logo após o namoro; e o noivado, assim
como namoro, deve ser permeado pela retidão e pela decência; além disso, a
admiração que surge no namoro, deve crescer no noivado, ao ponto do amor se
manifestar na admiração, respeito e docilidade pelo outro (cf. Ct 4.3, 5.4-5);
por esta razão, o amor verdadeiro se demonstrará na desejabilidade pelo outro,
de modo tal ao se compreender que o ser amado é totalmente desejável (cf. Ct
5.16).
Outrossim, é que no noivado, a manifestação do desejo
pelo ser amado tende a crescer, ao ponto de tanto o homem quanto a mulher
ficarem perturbados (no linguajar prosaico, com o fogo aceso) apenas com o
olhar do amado ou da amada (cf. Ct 6.5), isto é, a sentir desejo até mesmo
através do olhar; mas, neste ínterim, a retidão e a castidade devem se mostrar,
pois ainda que o desejo seja atinado não deve ser satisfeito no noivado; antes,
se deve esperar consumar o casamento. Mas, este desejo surgir nesta etapa é
algo totalmente normal e saudável.
Pois, antes deste desejo ser satisfeito, antes do
homem sentir a mulher e a mulher sentir o homem, se deve buscar a virtude e a
decência do esperar; por isso, o homem ao ser atinado neste desejo pela mulher
no noivado, a coloca nos carros excelentes (cf. Ct 6.12), ou seja, ambos
colocam um ao outro num patamar de respeito e dignidade a ponto de respeitar o
seu povo, isto é, a ponto de ambos se respeitarem não somente por causa do
outro, de si, da família, mas principalmente para cumprirem a vontade de Deus.
Ademais, o noivado como é a fase que antecede
diretamente o casamento, é a fase do anelo pelo encontro do outro, ou seja, é a
fase do anelo para a consumação do casamento; por isso, o anelo para o
casamento se torna maior, para então a mulher dar o seu amor ao homem, e o
homem dar o seu amor a sua mulher, o qual ambos guardaram exclusivamente para
este momento (cf. Ct 7.12-13), ou seja, exclusivamente para o casamento.
17. [ii] Segundo, a moral sexual do casamento; ora,
tendo compreendido brevemente o que concerne a moral sexual que antecede ao
casamento, se faz necessário compreender a moral sexual que deve permear o
casamento; pois, do mesmo modo como é necessário se guardar de qualquer ato
íntimo antes do casamento, no casamento os atos íntimos são valorados e devem
ser muito praticados; portanto, os manjares da intimidade sexual são permitidos
apenas no casamento; e qualquer coisa que atine contra moral do casamento é
doutrina de demônios (cf. 1Tm 4.3).
Por exemplo, o beijo na boca é proibido no namoro e no
noivado, ao ponto de quem o faz antes do casamento ser desprezado (cf. Ct
8.1b), isto é, ser tido como indigno e vil, mas no casamento o beijo na boca
deve ser algo rotineiro, isto é, algo praticado diariamente (cf. Ct 1.2); o
mesmo se diz do sexo, o qual é proibido antes do casamento (cf. Gn 2.24; Ct
4.12), mas é valorado no casamento como o leito viçoso (cf. Ct 1.16), como os
amores que são melhores do que o vinho (cf. Ct 4.10), como o amor em suas delícias
(cf. Ct 7.6); etc.
O casamento é o momento onde o homem possui a mulher e
a mulher possui o seu homem (cf. Ct 2.16); aliás, por esta razão a nudez é
permitida apenas no casamento (cf. Ct 4.4-5); e também por isto a esposa tem o
anelo sexual por seu esposo e o esposo por sua esposa, ao ponto de não poderem
esperar o dia terminar para se relacionarem intimamente (cf. Ct 4.6), isto é, o
esposo por sua esposa e a esposa por seu esposo tem anelo ardente pela
intimidade sexual.
E isto é uma das benesses do casamento, um dos
manjares a serem usufruídos apenas no casamento; se se pratica tais coisas
antes do casamento, além disto ser definido biblicamente como prostituição, se
obscurece e se perde toda a beleza da vida intima que deveria ser usufruída com
as bênçãos de Deus apenas no casamento.
Portanto, o casamento é o lugar das delícias que homem
e mulher usufruem na vida neste mundo; e esta é a bênção maior de Deus em
relação a vida natural tanto para o homem quanto para a mulher (cf. Pv 5.18-19;
Ec 9.9).
18. [iii] Terceiro, a moral sexual sobre a vida íntima
do casal; ora, tendo compreendido o que concerne a moral sexual do casamento,
se deve prosseguir e compreender o que concerne a moral sexual sobre a vida
íntima do casal; pois, o que não é permitido antes do casamento, como beijo na
boca, sexo, etc., é totalmente valorado e incentivado no casamento; assim, em
tudo quanto é prescrito na moral sexual bíblica, se deve ser praticado e
vivenciado com todo deleite no casamento; por isso, a Sagrada Escritura prescreve
no que deve consistir a vida sexual do casal. E, em relação a isso, se tem as
seguintes proposições:
(i) A vida sexual do casal tem de ser deleitosa e
viçosa (cf. Ct 1.16), pois nisto consiste o leito sem mácula (cf. Ct 6.9; Hb
13.4).
(ii) A vida sexual do casal tem de ser permeada pelo
desejo um pelo outro, ao ponto de o ato sexual ser tal como fruta doce ao
paladar (cf. Ct 2.3-4), dado o deleite de tal ato para um casal casto.
(iii) A vida sexual do casal é um ato de sacrifício
agradável a Deus, tal como o incenso que o agrada (cf. Ct 4.6); por isso, a
vida sexual do casal casto é uma forma do casal glorificar a Deus, tal como
incenso que se esparge no templo.
(iv) A vida sexual do casal deve ser deleitosa ao
ponto de ser comparada ao sabor do bom vinho, e dos favos de mel e do licor dos
mais preciosos perfumes (cf. Ct 4.10-11).
(v) A vida sexual do casal deve ser tão prazerosa ao
ponto de se não houver vivência sexual isto causará “enfermidades” de amor (cf.
Ct 5.8), isto é, causa tanta estranheza no casal que chega a parecer
enfermidade.
(vi) A vida sexual do casal é permeada pela
intimidade, onde a nudez do esposo para com sua esposa e da esposa para com seu
esposo é tida como algo deleitoso, prazeroso e do mais refinado paladar (cf. Ct
5.3a, 7.3, 7.7-9).
(vii) A vida sexual do casal deve ser permeada pelas
labaredas do Senhor (cf. Ct 8.6), isto é, pelo desejo ardente e sóbrio do
esposo pela esposa e da esposa pelo esposo, a ponto do anelar de um pelo outro
tal como faz os corços sob os montes dos aromas (cf. Ct 8.14), ou seja, com um
desejo que só se satisfaz na possa plena do ser amado.
Em suma estes são os aspectos do que concerne a vida
intima do casal.
Capítulo V: Outras considerações sobre a sexualidade.
19. Além disso, se deve compreender que o que é
permissível na cultura corrompida, nem sempre é permitido segundo os parâmetros
bíblicos; assim sendo, o adágio popular de que em quatro paredes tudo é
permitido não é uma verdade; entre quatro paredes, gíria para significar a
intimidade sexual, deve sim haver total privacidade, e obviamente se não
estiver contra os preceitos bíblicos o que não é errado é permissível; tudo é
permitido entre quatro paredes desde que seja algo correto e seja algo santo;
pois, o sexo quando praticado no casamento, de acordo com os parâmetros
bíblicos, é um ato de santidade praticado pelo esposo com sua esposa e pela
esposa com seu esposo.
20. Aliás, quanto ao sexo, que é permitido apenas no
casamento, a Escritura faz algumas proibições: (i) proíbe a humilhação sexual
(cf. Gn 34.1-2); (ii) proíbe o sexo compartilhado, ou sexo grupal, orgias, ou
partilha de qualquer tipo de intimidade do ato sexual, ou similares (cf. Pv
5.17); (iii) proíbe o sexo anal ou sodomia (cf. 1Co 6.10); (iv) proíbe tudo
quanto diz respeito a imoralidade sexual, pois imoralidade sexual é
prostituição (cf. 1Co 6.18); etc.
Ora, quem viveu a castidade requerida antes do
casamento não encontrará problemas com a vida sexual no casamento; agora
aqueles que se dizem “cristãos” e viveram de forma promíscua antes do
casamento, encontrarão dificuldades em obedecer e/ou se mostrarão obstinados
contra os preceitos bíblicos em relação a sexualidade.
21. Ademais, se deve ponderar a partir destes
aspectos, quanto a sensualidade; pois, a prática de ações que somente deveriam
existir na vida intima do casal no casamento, mas que são praticadas fora do
casamento, seja por fornicação (sexo antes do casamento) seja por adultério
(seja fora do casamento), acabam por instituir desordem na sensualidade.
Além disso, se constata que a sensualização
desequilibrada é evidência de apostasia, pois é a transmogrifação da libido de
um indivíduo (homem ou mulher) que passa a se ter como “deus” (cf. Rm 1.18-32),
e em suas ações passa a se divertir destruindo a si mesmo através dos mais
variados tipos de prostituição.
Deste modo, se a sensualidade não for vivida nos
conformes dos preceitos bíblicos, acaba por cristalizar a parte sensual da alma
na apostasia, gerando consequências terríveis tanto na consciência quanto no
intelecto, cauterizando a consciência e obnubilando o intelecto.
22. Aliás, por esta razão tudo quanto concerne a
intimidade sexual apenas pode ser usufruído no casamento; portanto, o casamento
é um dos manjares criados por Deus para que os fiéis possam usufruir da
sexualidade de maneira correta e deleitosa; pois, o verdadeiro deleite do
casamento está na vida em castidade, tanto na que antecede ao casamento quanto
na que é inerente ao próprio casamento. Portanto, somente através da castidade
é que os deleites do casamento são experimentados em toda sua beleza e fulgor tanto
pelo homem quanto pela mulher.
23. Ora, nestes três aspectos que foram delineados anteriormente
se tem explicado o que concerne a uma compreensão adequada e sóbria sobre a
moral sexual da fé cristã; pois, nos ensinamentos do Cântico dos Cânticos se
tem explicado tudo que diz respeito a castidade; por isso, em relação a vida
correta diante de Deus, inerente a quem professa a fé cristã, a castidade é
preceito inviolável e inegociável; na verdade, se quem professa a fé não vive
em castidade então a fé que diz ter é pior do que a fé dos demônios; pois, a fé
verdadeira se demonstra na obediência aos preceitos bíblicos; e obediência
também quanto a moralidade sexual.
24. E, tendo dito estas palavras, espero que lhe
sirvam para explicar vossa dúvida; sei que vossa dúvida não é insincera, e por
esta razão a respondi com todo préstimo e o mais rápido que pude; oxalá que
isso tivesse sido indagado por algum jovem; mas, fico feliz que alguém tenha se
interessado neste assunto, principalmente pelo fato de poder ponderar sobre
alguns aspectos do que concerne a moral sexual bíblica; pois, é de suma
importância que se volte a ensinar com esmero e constância tudo quanto concerne
a moralidade sexual bíblica àqueles que professam a fé cristã.
E o que fora dito basta para responder vossa indagação
a respeito de no que consiste a castidade; e se tiver alguma dificuldade ao
consultar as referências bíblicas do livro do Cântico dos Cânticos, lembre-se
que são metáforas antiquíssimas e possuem vários significados no sentido
literal.
E evitei explicar detalhadamente estas metáforas para
não estender muito esta resposta, mas a menção a estas metáforas e a aplicação
das mesmas em cada sentença estão em conformidade plena com o sentido literal
do texto sagrado.
Com os melhores cumprimentos, e se por acaso ainda
restar alguma dúvida não hesite em me perguntar, que respondê-la-ei o mais
rápido que puder.
25. E termina aqui esta resposta. Bendito seja Deus
por todas as coisas. Amém.
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