18/12/2025

Resposta a 7 indagações

Prólogo

 

Tendo recebido vossas indagações no início do mês passado, somente agora que consigo as responder; espero que minhas respostas o encontrem bem, bem como espero que estas respostas sirvam para sanar vossas dúvidas, pois estas também são dúvidas de muitos outros; cada indagação que fizeste tomei como um artigo, e os ordenei do modo como fizestes estas indagações; as respostas são breves e sintéticas, mas são respostas precisas e estão em perfeita conformidade com a autoridade da Sagrada Escritura e com a autoridade da Sagrada Tradição naquilo a que se referem.

 

Artigo 1: Se a desobediência aos preceitos morais tira a alma do caminho da divinização?

 

Os preceitos morais são outorgados pelo Salvador para curar a alma, como afirma São Clemente de Alexandria no livro I do Pedagogo (cap. II); ora, como eles são dados para curar a alma, e a alma é cada vez mais curada a medida que usufrui os mistérios da divinização, então, a desobediência aos preceitos morais retira a alma do caminho da divinização e a coloca no processo de infernização; por esta razão, a Sagrada Escritura intitula como apostasia a desobediência deliberada e orgulhosa dos preceitos divinos (ou preceitos morais); com isso, se há desobediência deliberada e orgulhosa dos preceitos morais, então a alma se torna em pasto no qual os demônios agem, retirando-a do caminho glorioso da verdadeira divinização. Portanto, é imprescindível e inalterável que os fiéis desenvolvam suas vidas espirituais sempre em obediência absoluta aos preceitos morais, tanto para evitar os engodos de Satanás, quanto para evitarem que suas almas sejam presas nas correntes da infernização.

 

Artigo 2: Se a desobediência aos preceitos morais gera obstinação?

 

A desobediência deliberada e continuada dos preceitos morais gera obstinação com relação as coisas espirituais; na verdade, todo indivíduo que fica obstinado com relação a coisas espirituais, já sendo participante dos mistérios da fé, é porque está em completa desobediência aos preceitos morais; a desobediência aos preceitos divinos gera obstinação; e esta obstinação, por sua vez, é insuflada pelos demônios através de práticas luxuriosas; pois, o demônio da luxuria se deleita com obstinação espiritual, e a obstinação espiritual semeia no próprio coração a volúpia, que uma vez semeada, frutifica rapidamente; por isso, a obstinação espiritual atina o coração para a luxuria, e esta, por sua vez, acaba por obnubilar o intelecto e cauterizar a consciência para a compreensão dos efeitos terríveis da desobediência aos preceitos morais; além do que, o demônio da luxuria é totalmente avesso aos preceitos morais; por isso, onde se tem desobediência aos preceitos morais se tem a ação do demônio da luxuria.

 

Artigo 3: Se o consumo de tabaco é pecado?

 

Depende; sim, depende; pois, como se tem uma série de preceitos morais nas Escrituras Sagradas sobre o devido cuidado com o corpo e com a saúde, como parte do que concerne ao fiel no caminho da verdadeira divinização, então se o consumo de tabaco inferir algo deste tipo, o mesmo se torna pecado; obviamente isto tem a ver com o modo como o fiel vive no equilíbrio que convém a vida na fé.

Por isso, nem em todo caso se pode afirmar que o consumo de tabaco é pecado, como no caso dos charutos, que nem sempre são maléficos a saúde; e isto depende da constituição física de cada um: para uns faz mal, para outros não; para aqueles que faz mal é pecado, já para aqueles que não faz mal não é pecado. Todavia, em outros casos, se pode afirmar que o consumo de tabaco sempre é pecado, como no caso dos cigarros que são totalmente prejudiciais a saúde (por isso, o consumo de cigarro sempre é pecado).

Portanto, se requer equilíbrio e discernimento sobre o que convém a prática do consumo de tabaco: se for por necessidade de relaxamento ou lazer, que se averigue se isso faz mal ou não a si mesmo. Ora, se não for prejudicial a si mesmo que se o consuma com bom senso e moderação; no entanto, se o consumo de tabaco faz mal a si mesmo, então é pecado.

Por isso, o consumo de tabaco, para aqueles a quem é permitido, se quiserem consumir, que seja expressão de relaxamento e lazer, e não de divertimento; pois, se o consumo de tabaco for expressão de divertimento se tornará em um vício totalmente pecaminoso.

Além disso, a proibição ou não do consumo de tabaco se vincula a costumes; por isso, se tem denominações cristãs que proíbem totalmente o consumo de tabaco, enquanto outras não o proíbem, e outras ainda que o incentivam; não é errado a proibição, nem é errado a permissão; todavia, se alguém está em alguma denominação que proíbe o consumo de tabaco convém que obedeça aos costumes da mesma, senão tal pessoa está em estado de esquizofrenia; agora os que praticam tal ato dentro dos conformes não se utilizem disso para querer gerar provocação e brigas com aqueles que o proíbem - pois, tal tipo de provocação evidencia obstinação.

Outrossim, é que o consumo de tabaco sempre é pecado para quem teve problemas com vício; se uma pessoa foi viciada em tabaco, então o consumo do tabaco para essa pessoa sempre é pecado; portanto, se alguém perdeu a sobriedade por causa de vício em tabaco, ao vencer esse vício que nunca mais consuma tabaco, senão decairá em pecado e sofrerá com a recaída no vício (que sempre é sete vezes pior).

Então, num geral a exortação é que se evite; pois, as mais das vezes, não se tem moderação para tais atos, principalmente na cultura brasileira; pois, pode ocorrer, dado aos desequilíbrios inerentes da cultura brasileira, que alguém comece consumindo tabaco e acabe ficando viciado neste consumo; por isso, se alguém ainda tem fraquezas na fé, ou na própria personalidade (como é o caso de todo brasileiro), que se evite o consumo de tabaco, mesmo que tal consumo possa não ser pecado.

E a guisa de conclusão, se aplique também tudo o que foi dito sobre o tabaco nesta resposta à questão do consumo de bebida alcoólica. Num geral, é o mesmo raciocínio.

 

Artigo 4: Se a vida espiritual está sujeita a liberdade?

 

A vida espiritual está sujeita a lei da liberdade, tanto no sentido da liberdade enquanto um bem da natureza, como uma verdade eterna, que deve ser preservada incólume e inviolável; quanto no sentido da liberdade enquanto um dom da graça; mas, principalmente neste segundo aspecto, da liberdade enquanto um dom da graça; pois, a vida espiritual só se desenvolve a medida da obediência a perfeita lei da liberdade (cf. Tg 1.25); na verdade, a verdadeira espiritualidade está em conformidade com a perfeita lei da liberdade; a piedade é aferida pela lei da liberdade; por isso, a vida espiritual está sujeita a liberdade, pois a vida espiritual, a vida no caminho da verdadeira divinização, é uma vida permeada pelos ensinamentos do Santo Evangelho, o qual é a perfeita lei da liberdade. Assim sendo, a bem-aventurança da vida espiritual é estar em conformidade plena com a perfeita lei da liberdade, já que é por esta lei que os fiéis vão ser julgados perante Deus de acordo com o modo como vivem (cf. Tg 2.12).

 

Artigo 5: Se é correto a utilização do vocábulo sobrenatural?

 

Não é correto a utilização do vocábulo sobrenatural; no entanto, se tem uma exceção quanto a utilização deste termo, que é no âmbito dos autores escolásticos; mas, em suma, este vocábulo é errado; e isto se evidencia por três razões: primeiro, não existe nada sobre-natureza, ou está na natureza (coisas naturais) ou além da natureza (coisas espirituais); assim, tanto fisicamente não existe nada sobre-natureza quanto teologicamente não existe nada sobre-natureza.

Segundo, o termo sobrenatural foi criado para tentar focalizar uma sub-esfera na esfera natural; ora, isto é um erro crasso; pois, só se tem na natureza duas esferas: a das operações visíveis e a das operações ocultas; o termo sobrenatural passou a ser designado para as operações ocultas; com isso, cometeu-se o erro de afirmar que a obra de Deus se dava nas operações ocultas da natureza, na esfera quântica; por isso, se afirmar coisas como o “sobrenatural de Deus” e similares é um erro teológico monstruoso, pois coloca a obre extraordinária de Deus como se fosse apenas a das operações quânticas da natureza. Portanto, falar no “sobrenatural de Deus” é querer colocar as coisas reveladas como se fossem as operações ocultas da natureza.

Terceiro, o termo sobrenatural é parte da secularização da compreensão sobre a natureza; embora os escolásticos tenham desenvolvido muitos aspectos, a questão sobre a natureza (physis) ficara em grande parte incompleta, e como ninguém abalizou esta questão, a mesma serviu para gestar um secularismo na compreensão sobre as esferas da realidade; assim, acoplou-se as operações ocultas da natureza como “sobrenatural”, e reduziu-se as coisas reveladas a meras operações quânticas; por esta razão, cresceu-se muito uma espiritualidade mágica, focada nas “mensagens” do universo e similares; mas tudo isso não passa de pensamento mágico; portanto, utilizar do termo sobrenatural acabou por se tornar expressão de um pensamento xamanista.

Deste modo, que se afirme e se reafirme que não existe “sobrenatural de Deus” e que Deus não age de modo “sobrenatural”; Deus age além da natureza de maneira gloriosa, mas nunca Sua obra poderosa pode ser apenas classificada como “sobrenatural”, pois isto seculariza a compreensão sobre o infinito poder de Deus e sobre o próprio modo como Ele revelou que age no mundo. Assim, só se aceite, com ressalvas, o termo “sobrenatural” em reflexões permeadas pela teologia da escola, do contrário se rejeite de maneira cabal qualquer coisa dita sobre o “sobrenatural” de Deus.

 

Artigo 6: Se é soberba falar do que não se sabe?

 

Uma das manifestações da soberba é falar do que não se sabe; pois, querer arrolar um saber que não se possui, em si, é ato de vanglória; além disso, falar do que não se sabe é jactância; e a jactância é uma das manifestações de soberba, especificamente em relação ao conhecimento; e a soberba se manifesta de dois modos em relação ao conhecimento: a jactância e a imbecilidade; portanto, seja a imbecilidade seja a jactância são manifestações da soberba; aliás, na Sagrada Escritura aqueles que “não investigam” (investigar aqui tem o sentido de inquirir, de buscar o saber), isto é, aqueles que rejeitam o conhecimento, são dominados pelo orgulho (cf. Sl 10.4); portanto, biblicamente, as manifestações da soberba quanto ao conhecimento são equiparadas ao orgulho de Satanás (cf. Ez 28.15-17); assim, os imbecis e os jactantes são filhos de Satanás. Por isso, falar do que não se sabe é soberba, e rejeitar o saber também é soberba; e ambos são evidência da obra de Satanás, já que tanto a imbecilidade quanto a jactância são frutos do impedimento da razão que é algo operado pela eficácia de Satanás (cf. 2Ts 2.9-10).

 

Artigo 7: Se convém tratar com severidade os soberbos?

 

Obviamente, convém tratar com severidade os soberbos; pois, os soberbos são aqueles que atentam de maneira obstinada e sofística contra a verdade; e tais práticas são parte das fortalezas que os demônios levantam contra o conhecimento de Deus (cf. 2Co 10.5); por isso, os soberbos devem ser tratados consoantes ao tipo de soberba que propagam: se no sentido moral, então que sejam repreendidos e exortados duramente; se no sentido intelectual, então que sejam confrontados e confutados de maneira veemente e firme; pois, a permissividade para com os soberbos corrompe as pessoas símplices, e vitupera a simplicidade espiritual inerente a própria fé; na verdade, os soberbos roem como gangrena na vida eclesial (cf. 2Tm 2.17-18), bem como são como pragas que destroem uma lavoura na vida social; assim, quem respeita os soberbos acaba por se tornar soberbo. Por isso, os soberbos devem ser tratados consoantes as suas soberbas, e isto sempre com severidade; pois, quanto mais grave é a doença mais dosado deve ser o remédio; a doença da soberba só é tratada corretamente com doses fortes do remédio da repreensão e/ou pela disciplina moral.

***

Com cordiais saudações, e cumprimentos sinceros, rogo as bênçãos de Deus sobre vossa dileção, com votos cada vez maiores para que adentres a leitura e ao estudo das Divinas Escrituras, sabendo que estas te tornarão sábio para a salvação em Jesus Cristo (cf. 2Tm 3.15); não deixe de ler, meditar, estudar, escrutinar as Divinas Escrituras, pois estas são sempre mel saído da rocha para aqueles que estão nas sendas do Bom Pastor. 

Bendito seja Deus para sempre. Amém. 


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