Prólogo
Tendo recebido vossas indagações no início do mês
passado, somente agora que consigo as responder; espero que minhas respostas o
encontrem bem, bem como espero que estas respostas sirvam para sanar vossas
dúvidas, pois estas também são dúvidas de muitos outros; cada indagação que
fizeste tomei como um artigo, e os ordenei do modo como fizestes estas
indagações; as respostas são breves e sintéticas, mas são respostas precisas e
estão em perfeita conformidade com a autoridade da Sagrada Escritura e com a
autoridade da Sagrada Tradição naquilo a que se referem.
Artigo 1: Se a desobediência aos preceitos morais tira
a alma do caminho da divinização?
Os preceitos morais são outorgados pelo Salvador para
curar a alma, como afirma São Clemente de Alexandria no livro I do Pedagogo
(cap. II); ora, como eles são dados para curar a alma, e a alma é cada vez mais
curada a medida que usufrui os mistérios da divinização, então, a desobediência
aos preceitos morais retira a alma do caminho da divinização e a coloca no
processo de infernização; por esta razão, a Sagrada Escritura intitula como
apostasia a desobediência deliberada e orgulhosa dos preceitos divinos (ou
preceitos morais); com isso, se há desobediência deliberada e orgulhosa dos
preceitos morais, então a alma se torna em pasto no qual os demônios agem,
retirando-a do caminho glorioso da verdadeira divinização. Portanto, é
imprescindível e inalterável que os fiéis desenvolvam suas vidas espirituais
sempre em obediência absoluta aos preceitos morais, tanto para evitar os
engodos de Satanás, quanto para evitarem que suas almas sejam presas nas
correntes da infernização.
Artigo 2: Se a desobediência aos preceitos morais gera
obstinação?
A desobediência deliberada e continuada dos preceitos
morais gera obstinação com relação as coisas espirituais; na verdade, todo
indivíduo que fica obstinado com relação a coisas espirituais, já sendo
participante dos mistérios da fé, é porque está em completa desobediência aos
preceitos morais; a desobediência aos preceitos divinos gera obstinação; e esta
obstinação, por sua vez, é insuflada pelos demônios através de práticas
luxuriosas; pois, o demônio da luxuria se deleita com obstinação espiritual, e
a obstinação espiritual semeia no próprio coração a volúpia, que uma vez
semeada, frutifica rapidamente; por isso, a obstinação espiritual atina o
coração para a luxuria, e esta, por sua vez, acaba por obnubilar o intelecto e
cauterizar a consciência para a compreensão dos efeitos terríveis da
desobediência aos preceitos morais; além do que, o demônio da luxuria é
totalmente avesso aos preceitos morais; por isso, onde se tem desobediência aos
preceitos morais se tem a ação do demônio da luxuria.
Artigo 3: Se o consumo de tabaco é pecado?
Depende; sim, depende; pois, como se tem uma série de
preceitos morais nas Escrituras Sagradas sobre o devido cuidado com o corpo e
com a saúde, como parte do que concerne ao fiel no caminho da verdadeira
divinização, então se o consumo de tabaco inferir algo deste tipo, o mesmo se
torna pecado; obviamente isto tem a ver com o modo como o fiel vive no equilíbrio
que convém a vida na fé.
Por isso, nem em todo caso se pode afirmar que o
consumo de tabaco é pecado, como no caso dos charutos, que nem sempre são
maléficos a saúde; e isto depende da constituição física de cada um: para uns
faz mal, para outros não; para aqueles que faz mal é pecado, já para aqueles
que não faz mal não é pecado. Todavia, em outros casos, se pode afirmar que o
consumo de tabaco sempre é pecado, como no caso dos cigarros que são totalmente
prejudiciais a saúde (por isso, o consumo de cigarro sempre é pecado).
Portanto, se requer equilíbrio e discernimento sobre o
que convém a prática do consumo de tabaco: se for por necessidade de
relaxamento ou lazer, que se averigue se isso faz mal ou não a si mesmo. Ora,
se não for prejudicial a si mesmo que se o consuma com bom senso e moderação;
no entanto, se o consumo de tabaco faz mal a si mesmo, então é pecado.
Por isso, o consumo de tabaco, para aqueles a quem é
permitido, se quiserem consumir, que seja expressão de relaxamento e lazer, e
não de divertimento; pois, se o consumo de tabaco for expressão de divertimento
se tornará em um vício totalmente pecaminoso.
Além disso, a proibição ou não do consumo de tabaco se
vincula a costumes; por isso, se tem denominações cristãs que proíbem
totalmente o consumo de tabaco, enquanto outras não o proíbem, e outras ainda
que o incentivam; não é errado a proibição, nem é errado a permissão; todavia,
se alguém está em alguma denominação que proíbe o consumo de tabaco convém que
obedeça aos costumes da mesma, senão tal pessoa está em estado de esquizofrenia;
agora os que praticam tal ato dentro dos conformes não se utilizem disso para
querer gerar provocação e brigas com aqueles que o proíbem - pois, tal tipo de
provocação evidencia obstinação.
Outrossim, é que o consumo de tabaco sempre é pecado
para quem teve problemas com vício; se uma pessoa foi viciada em tabaco, então
o consumo do tabaco para essa pessoa sempre é pecado; portanto, se alguém
perdeu a sobriedade por causa de vício em tabaco, ao vencer esse vício que
nunca mais consuma tabaco, senão decairá em pecado e sofrerá com a recaída no
vício (que sempre é sete vezes pior).
Então, num geral a exortação é que se evite; pois, as
mais das vezes, não se tem moderação para tais atos, principalmente na cultura
brasileira; pois, pode ocorrer, dado aos desequilíbrios inerentes da cultura
brasileira, que alguém comece consumindo tabaco e acabe ficando viciado neste
consumo; por isso, se alguém ainda tem fraquezas na fé, ou na própria
personalidade (como é o caso de todo brasileiro), que se evite o consumo de
tabaco, mesmo que tal consumo possa não ser pecado.
E a guisa de conclusão, se aplique também tudo o que
foi dito sobre o tabaco nesta resposta à questão do consumo de bebida
alcoólica. Num geral, é o mesmo raciocínio.
Artigo 4: Se a vida espiritual está sujeita a
liberdade?
A vida espiritual está sujeita a lei da liberdade,
tanto no sentido da liberdade enquanto um bem da natureza, como uma verdade
eterna, que deve ser preservada incólume e inviolável; quanto no sentido da
liberdade enquanto um dom da graça; mas, principalmente neste segundo aspecto,
da liberdade enquanto um dom da graça; pois, a vida espiritual só se desenvolve
a medida da obediência a perfeita lei da liberdade (cf. Tg 1.25); na verdade, a
verdadeira espiritualidade está em conformidade com a perfeita lei da liberdade;
a piedade é aferida pela lei da liberdade; por isso, a vida espiritual está
sujeita a liberdade, pois a vida espiritual, a vida no caminho da verdadeira
divinização, é uma vida permeada pelos ensinamentos do Santo Evangelho, o qual
é a perfeita lei da liberdade. Assim sendo, a bem-aventurança da vida
espiritual é estar em conformidade plena com a perfeita lei da liberdade, já
que é por esta lei que os fiéis vão ser julgados perante Deus de acordo com o
modo como vivem (cf. Tg 2.12).
Artigo 5: Se é correto a utilização do vocábulo
sobrenatural?
Não é correto a utilização do vocábulo sobrenatural;
no entanto, se tem uma exceção quanto a utilização deste termo, que é no âmbito
dos autores escolásticos; mas, em suma, este vocábulo é errado; e isto se
evidencia por três razões: primeiro, não existe nada sobre-natureza, ou está na
natureza (coisas naturais) ou além da natureza (coisas espirituais); assim,
tanto fisicamente não existe nada sobre-natureza quanto teologicamente não
existe nada sobre-natureza.
Segundo, o termo sobrenatural foi criado para tentar
focalizar uma sub-esfera na esfera natural; ora, isto é um erro crasso; pois,
só se tem na natureza duas esferas: a das operações visíveis e a das operações
ocultas; o termo sobrenatural passou a ser designado para as operações ocultas;
com isso, cometeu-se o erro de afirmar que a obra de Deus se dava nas operações
ocultas da natureza, na esfera quântica; por isso, se afirmar coisas como o “sobrenatural
de Deus” e similares é um erro teológico monstruoso, pois coloca a obre
extraordinária de Deus como se fosse apenas a das operações quânticas da
natureza. Portanto, falar no “sobrenatural de Deus” é querer colocar as
coisas reveladas como se fossem as operações ocultas da natureza.
Terceiro, o termo sobrenatural é parte da secularização
da compreensão sobre a natureza; embora os escolásticos tenham desenvolvido
muitos aspectos, a questão sobre a natureza (physis) ficara em grande
parte incompleta, e como ninguém abalizou esta questão, a mesma serviu para
gestar um secularismo na compreensão sobre as esferas da realidade; assim,
acoplou-se as operações ocultas da natureza como “sobrenatural”, e reduziu-se
as coisas reveladas a meras operações quânticas; por esta razão, cresceu-se
muito uma espiritualidade mágica, focada nas “mensagens” do universo e
similares; mas tudo isso não passa de pensamento mágico; portanto, utilizar do
termo sobrenatural acabou por se tornar expressão de um pensamento xamanista.
Deste modo, que se afirme e se reafirme que não existe
“sobrenatural de Deus” e que Deus não age de modo “sobrenatural”; Deus age além
da natureza de maneira gloriosa, mas nunca Sua obra poderosa pode ser apenas
classificada como “sobrenatural”, pois isto seculariza a compreensão sobre o
infinito poder de Deus e sobre o próprio modo como Ele revelou que age no
mundo. Assim, só se aceite, com ressalvas, o termo “sobrenatural” em reflexões
permeadas pela teologia da escola, do contrário se rejeite de maneira cabal
qualquer coisa dita sobre o “sobrenatural” de Deus.
Artigo 6: Se é soberba falar do que não se sabe?
Uma das manifestações da soberba é falar do que não se
sabe; pois, querer arrolar um saber que não se possui, em si, é ato de
vanglória; além disso, falar do que não se sabe é jactância; e a jactância é
uma das manifestações de soberba, especificamente em relação ao conhecimento; e
a soberba se manifesta de dois modos em relação ao conhecimento: a jactância e
a imbecilidade; portanto, seja a imbecilidade seja a jactância são
manifestações da soberba; aliás, na Sagrada Escritura aqueles que “não
investigam” (investigar aqui tem o sentido de inquirir, de buscar o saber),
isto é, aqueles que rejeitam o conhecimento, são dominados pelo orgulho (cf. Sl
10.4); portanto, biblicamente, as manifestações da soberba quanto ao
conhecimento são equiparadas ao orgulho de Satanás (cf. Ez 28.15-17); assim, os
imbecis e os jactantes são filhos de Satanás. Por isso, falar do que não se
sabe é soberba, e rejeitar o saber também é soberba; e ambos são evidência da
obra de Satanás, já que tanto a imbecilidade quanto a jactância são frutos do
impedimento da razão que é algo operado pela eficácia de Satanás (cf. 2Ts
2.9-10).
Artigo 7: Se convém tratar com severidade os soberbos?
Obviamente, convém tratar com severidade os soberbos;
pois, os soberbos são aqueles que atentam de maneira obstinada e sofística
contra a verdade; e tais práticas são parte das fortalezas que os demônios
levantam contra o conhecimento de Deus (cf. 2Co 10.5); por isso, os soberbos
devem ser tratados consoantes ao tipo de soberba que propagam: se no sentido
moral, então que sejam repreendidos e exortados duramente; se no sentido
intelectual, então que sejam confrontados e confutados de maneira veemente e
firme; pois, a permissividade para com os soberbos corrompe as pessoas
símplices, e vitupera a simplicidade espiritual inerente a própria fé; na
verdade, os soberbos roem como gangrena na vida eclesial (cf. 2Tm 2.17-18), bem
como são como pragas que destroem uma lavoura na vida social; assim, quem
respeita os soberbos acaba por se tornar soberbo. Por isso, os soberbos devem
ser tratados consoantes as suas soberbas, e isto sempre com severidade; pois,
quanto mais grave é a doença mais dosado deve ser o remédio; a doença da
soberba só é tratada corretamente com doses fortes do remédio da repreensão
e/ou pela disciplina moral.
***
Com cordiais saudações, e cumprimentos sinceros, rogo as bênçãos de Deus sobre vossa dileção, com votos cada vez maiores para que adentres a leitura e ao estudo das Divinas Escrituras, sabendo que estas te tornarão sábio para a salvação em Jesus Cristo (cf. 2Tm 3.15); não deixe de ler, meditar, estudar, escrutinar as Divinas Escrituras, pois estas são sempre mel saído da rocha para aqueles que estão nas sendas do Bom Pastor.
Bendito
seja Deus para sempre. Amém.
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