25/07/2024

Elogio Fúnebre a uma Querida Professora

1. Em momentos de luto e de dor aguda, volve-se a mente as sábias palavras do rei Salomão, chamado em tempos passados de o Pregador, quando este afirmara: “porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma” (Ec 9.10); ora, diante da morte, não há ciência, nem conhecimento, pois, para a sepultura, destino natural de todos os seres humanos, não há sabedoria e nem entendimento que nos faça compreender corretamente o mistério que envolve a morte.

2. Mas, diante da morte, temos a palavra esperança; isto é, diante de uma realidade inexplicável, temos algum consolo ao defrontarmo-nos com a morte, principalmente com a morte de uma pessoa querida; pois, diante da morte, ao se evocar a terrível carranca da morte, somos compelidos àquilo que dissera o profeta Jeremias em suas lamentações: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lm 3.21); ora, diante da tristeza pela morte de um ente querido, duas coisas são evocadas: primeiro, a realidade da vida eterna, fonte de esperança e de consolo; segundo, a memória da pessoa querida nas lentes daqueles que lhe foram próximos.

3. Primeiro, a realidade da vida eterna; ora, nossa vida é um sopro (cf. Tg 2.14), isto é, passa rapidamente; por isso, diante da reflexão sobre a vida ou diante da realidade da morte, somos impelidos a pensar sobre as coisas eternas; e, sobre isso, temos a bendita esperança da fé; da fé em Jesus Cristo, que nos leva a crer na vida após a morte, na vida diante de Deus, na vida eterna àqueles que creem em Jesus Cristo como Senhor e Salvador e que por Ele são recebidos no céu após a morte. Para aqueles que nEle creem, a morte é o início da vida, tal como dissera o Apóstolo: “tendo o desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” (Fp 1.23). As palavras de Dietrich Bonhoeffer, pastor luterano, que ao caminhar para o local onde seria enforcado pelos nazistas, volvem a lembrança sobre a esperança do cristão diante da morte: “a morte é apenas o início da vida”. Esta deve ser a esperança em momentos de luto diante da morte, mesmo em meio as maiores dores e tormentas.

4. Segundo, a memória da pessoa querida nas lentes daqueles que lhe foram próximos; e, não somente a fé nos lega esperança em momentos de luto pela morte de um ente querido, mas também se evocar a memória da pessoa querida a partir dos testemunhos daqueles que de alguma forma lhe foram próximos; pois, como dissera Petrus Bertius, “para os justos a sinceridade de seus labores é suficiente para provar a excelência de sua virtude”; e, que melhor virtude poderia ser evocada a uma querida professora do que simplesmente ser lembrada por seus feitos e dedicação esmerada no grandioso labor do magistério, principalmente pelo fato de ter sido uma excelente professora.

5. Por isso, diante da memória de uma querida professora, a tristeza e as lágrimas são evidentes, tal como dissera Virgílio: “há soldado que as lágrimas estanque?[1]; logo, diante desta situação, se é convocada à honra e à decência todos aqueles que foram conduzidos em ensinamentos durante suas aulas e em seus conselhos; mas, como afirmara Sêneca: “grande força convoca minha voz, e uma maior a contém[2]; e, assim diante desta tristeza, parece que uma dor maior refreia a voz e contém os rios da inteligência de fluírem com as mais belas palavras, que devem expressar gratidão e honra em memória da querida professora.

6. Deste modo, as inquietações deste momento, parecem impregnar a alma e a inteligência de uma perplexidade grandíssima, como afirma Sêneca: “as inquietações leves falam; as gigantescas ficam estupefatas[3]; no entanto, mesmo diante de tal perplexidade, a honra deve-nos mover, mesmo que de maneira imperfeita, a pronunciar palavras e rememorar os bons momentos ao lado da querida professora, em honra de sua saudosa memória; pois, certamente os seres humanos só chegam a ser alguém na vida, com princípios e bons valores, porque tiverem bons professores. E o que dizer de uma professora, que mesmo com rigidez, ensinou bons princípios e costumes, àqueles que ao que pareciam não os tinham? Certamente, faltam palavras para poder descrever a importância e o legado de um bom professor naqueles que realmente buscam o caminho da virtude e da decência, o que a querida professora fizera de maneira grandiloquente.

7. Assim sendo, ficam minhas breves palavras, descritas nestes termos, para lembrar a memória de uma querida professora, que com esmero e destreza, me ensinou não somente como professora, mas também como amiga; pois, quando era apenas um adolescente, com cerca de 14 anos, me aconselhara e me ajudara, quando por muitas vezes, me pus a ajudá-la; e, isto, em relação as coisas humanas, é uma das maiores bênçãos que as gerações mais velhas podem conceder as gerações mais novas, quando estes se põem a aprender com aqueles que tem o que ensinar. Albert Schweitzer chamava a gratidão de “o segredo da vida”, pois ensina o caminho da vida feliz; portanto, ao evocarmos a memória da querida professora, mesmo diante de um momento de luto e tristeza, podemos com isso também, em razão da memória abençoada daquela que nos deixou, pensar o que concerne ao caminho da vida correta e virtuosa pelo exemplo e legado que a mesma nos deixara.

Por isso, pessoalmente, só tenho a dizer: querida professora Fátima, MUITÍSSIMO OBRIGADO!

 



[1] Vírgilio, Eneida, livro II, n. 9.

[2] Sêneca, Fedra, n. 603.

[3] Ibidem, n. 607.

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