Prólogo.
1. “O coração alegre aformoseia o rosto” (Pv
15.13a); a alegria é uma bênção; é uma dádiva; é fruto do Espírito (cf. Gl
5.22-23); o preceito sapencial descreve que a alegria traz beleza; a alegria é
um elemento embelezador; mas, também a alegria pode ser elemento de manipulação
e com isso deixa de ter beleza e fulgor; pois, a alegria verdadeira difere da
falsa alegria; e isto pode ser entendido a partir da distinção entre riso e
sorriso; e a elucubração sobre a risada, isto é, sobre o ato de rir, ou mais
propriamente, sobre a manifestação da alegria, pode ser entendida a partir
desta simples distinção, mas que demonstra a diferença entre a alegria virtuosa
e que faz bem, e a falsa alegria que é viciosa e contamina todo o ser.
2. Assim sendo, se faz necessário investigar os aspectos concernentes a este tópico de estudo, delineado a partir da proposição da risada; e compreender este assunto tanto da perspectiva bíblica, quanto da perspectiva filosófica; tanto a partir dos ensinamentos bíblicos, quanto a partir dos ensinamentos filosóficos; pois, a alegria como parte das virtudes, diz respeito a algo fundamental da vida humana, e por isso, é objeto de investigação racional; logo, compreender sobre a risada abaliza o entendimento sobre a alegria e sobre a distinção entre riso e sorriso, bem como as nuances que vem amalgamadas a estes entendimentos, que são fundamentais no entendimento sobre o drama da vida humana.
Capítulo I: A definição de risada.
3. O primeiro aspecto a ser falado diz respeito a uma
definição de risada; evidentemente, risada diz respeito ao ato de rir ou de
gargalhar; portanto, numa definição mais específica, é necessário compreender o
que é o riso; Cícero diz que o riso está limitado por alguma torpeza ou
deformidade (cf. Cícero, De Oratore, II, 236); logo, o riso surge a
partir de algum defeito, e/ou deformidade que de alguma forma não deveria estar
disforme; esta deformidade causa o riso ou pelo menos impulsiona sua prática
através de algum uso desta deformidade. Esta é a definição mais simples de riso
e de sua causa mais comum.
4. Mas, além disso, o riso pode conter elementos de
análise psicológica; pois, como diz Quintiliano, o riso é movido por certo
movimento do ânimo (cf. Quintiliano, Institutio Oratoria, VI, 6); logo,
onde há o riso há algo ou alguma coisa influenciando o ânimo ou movendo-o, que
tanto pode ser a deformidade, quanto a compreensão inversa da deformidade, isto
é, se ri da “deformidade” de outrem para esconder e velar a própria deformidade;
e isto, infere tantos aspectos que vão desde o entendimento sobre a alma, pois
o riso é certo movimento da alma até o entendimento sobre a feitiçaria (por
mais chocante que isso possa parecer), que produz o movimento do ânimo
involuntariamente bloqueando o entendimento para compreender coisas boas e
virtuosas; etc.
5. Portanto, se tem alguns preceitos para se
compreender a risada: primeiro, o modo da risada (se é riso ou sorriso);
segundo, a raiz da risada; terceiro, o estado de alma de quem dá o riso;
quarto, o riso utilizado como instrumento de pessoas viciosas; quinto, o riso
como inversão da realidade; sexto, o riso como expressão de alguma morbidade da
alma; sétimo, o riso pode ser expressão de submissão absoluta a um sistema
vicioso. Estes preceitos e aspectos, ao serem analisados com cuidado e esmero,
constituem-se uma excelente ferramenta para se descobrir a raiz da risada, bem
como para descortinar o estado de alma dos participes das risadas.
6. Além destes aspectos, se observa que as pessoas viciosas e sem caráter, tentam se utilizar da risada para manipular e/ou influenciar negativamente aqueles de quem riem; pois, o riso serve como uma flecha pontiaguda que acutila a mente e corrompe a vontade daqueles que se deixar enfeitiçar pela inveja que emana da risada; tanto que os filósofos antigos, pensavam na risada como elemento que era utilizado pelo sofistas em seus discursos, para enganar e surrupiar as pessoas; mas não somente pelos sofistas em seus discursos, mas principalmente por aqueles que vivem tal qual sofisma, isto é, de maneira dissoluta, insolente e viciante. Na verdade, os que mais se utilizam da risada como instrumento de escárnio são aqueles que menos possuem virtudes e os que mais cometem os vícios da baixeza (cf. Rm 1.26-32).
Capítulo II: A distinção entre riso e sorriso.
7. E, ao se elucubrar sobre a risada, após a definição
basilar da mesma, é necessário se compreender outro aspecto de fundamental
importância; pois, ao se evocar o termo risada, se açambarca muitos aspectos;
além disso, o tema também se reveste de dificuldades incisivas; Quintiliano
afirma: “a natureza de sua matéria é muito perigosa, pois o riso não se
afasta muito do escárnio” (Quintiliano, Institutio Oratoria, VI, 7);
por isso, elucubrar sobre o riso, sobre a risada, requer uma distinção,
justamente para se evitar este perigo elencado por Quintiliano; deste modo na
elucubração racional sobre a risada, se evoca a distinção entre riso e sorriso,
que constitui-se de um dos mais importantes aspectos nesta elucubração.
8. O riso, refere-se a atitude da risada como
escárnio; o riso é expressão de escárnio, da risada que é escarnecedora; por
isso, segundo o Pe. Vieira, o riso sempre é seguido pelo pranto, bem como
também diz o Pe. Vieira que a maior impropriedade da razão é o riso, e que o
riso é o final do racional; logo, se percebe que o riso, por ser expressão de
escárnio, é sempre contrário a razão; na verdade, o riso é a maior
impropriedade da razão, pois é expressão da rejeição a razão; cada ato de riso
é sinal da cristalização da rejeição a razão.
9. O sorriso, refere-se ao verdadeira risada, a expressão da verdadeira alegria; o sorrido é expressão de alma virtuosa; por isso, o sorriso é sempre seguido por virtudes, bem como o sorriso é uma das mais belas propriedades da razão; pois, o sorriso é expressão do racional e da perfeita sobriedade da razão; logo, se percebe porque o sorriso é sempre favorável a razão; na verdade, o sorriso é uma das mais belas propriedades da razão, pois é expressão da sobriedade da razão e das virtudes na alma; portanto, o sorriso é evidência de um coração alegre, de um coração que experimenta a verdadeira alegria, que fortalece a inteligência e fortifica a vontade, ao ponto de até mesmo de servir de elemento embelezador (cf. Pv 15.13a).
Capítulo III: O riso e o sorriso na sabedoria bíblica.
10. E, esta distinção entre riso e sorriso, e suas
respectivas propriedades, também é extraída da sabedoria bíblica; e, sobre
isso, dois aspectos são salientados: primeiro, as descrições bíblicas sobre o
riso; segundo, a descrição bíblica sobre o sorriso.
Primeiro, as descrições bíblicas sobre o riso; nas
Escrituras, o riso é apresentado como elemento de escárnio contra as coisas de
Deus e de zombaria contra os preceitos de Deus; por isso, no Evangelho se diz:
“Ai de vós que agora rides, porque vos lamentareis e chorareis!” (Lc
6.26b). Além disso, o riso, como é parte do escárnio, é praticado por aqueles
que as Escrituras chamam de “bocas ímpias”; e a boca ímpia derriba uma cidade
(cf. Pv 11.11); e, como os ímpios maquinam o mal, então, o riso é proveniente de
um coração corrompido e onde há engano, pois há engano no coração dos que
maquinam o mal (cf. Pv 12.20); e, o riso é expressão do coração que maquina o
mal ou que pratica o mal, donde, muitas vezes o próprio riso provir de maneira
involuntária, tal como Quintiliano afirmara que o riso muitas vezes irrompe
involuntariamente (cf. Quintiliano, Institutio Oratoria, VI, 9); e, se
irrompe de maneira involuntária aquilo já domina o coração mais não se apercebe,
e através do riso “involuntário” se consegue compreender e perceber o que está
no coração de alguém e o que este alguém está fazendo.
11. Segundo, as descrições bíblicas sobre o sorriso;
nas Escrituras, o sorriso é apresentado como elemento de alegria e do coração
alegre (cf. Pv 15.13); por isso, a expressão da alegria é o sorriso, que
diferentemente do riso, não é expressão de maldade e engano, mas de verdade e
sinceridade; outrossim, é que o riso sempre é calcinado com a injustiça,
enquanto que a verdadeira alegria é praticar a justiça (cf. Pv 21.15).
Portanto, o sorriso é a descrição da alegria, da verdadeira alegria, que se
expressa não de maneira involuntária como o riso, mas que se expressa de
maneira sóbria e voluntária, demonstrando sobriedade na alma. Pois, a
verdadeira alegria é fruto de olhos bons (cf. Pv 15.30), enquanto que o riso é
proveniente de olhos ruins. Logo, o sorriso difere do riso em natureza e
essência, bem como naquilo que demonstra exteriormente o estado do interior do
indivíduo.
12. Deste modo, na sabedoria bíblica existem descrições primárias da distinção entre riso e sorriso, e existem inúmeras descrições secundárias que são açambarcadas a partir da distinção entre riso e sorriso e no modo como as características do riso e do sorriso são delineadas na sabedoria bíblica; o riso como elemento que descreve o escárnio e a zombaria; o sorriso como a verdadeira alegria a que aformoseia o rosto e fomenta coisas boas na alma.
Capítulo IV: Os tipos de riso.
13. Tendo feito esta distinção fundamental entre riso
e sorriso, tanto na reta razão quanto em relação a sabedoria bíblica, se
prossegue para entender os tipos de riso e os tipos de sorriso. Primeiro,
evidentemente, os tipos de riso; depois, os tipos de sorriso. Pois, ao se
verificar o riso como “impropriedade da razão”, se observa que o mesmo se
expressa de alguns modos, e estes modos ou tipos, também tem imbuídos em si
algumas outras coisas. Logo, compete analisar os tipos de riso. E, sobre isso,
duas coisas se estabelecem: primeiro, o riso como ato vicioso; segundo, o riso
como ato viciante.
14. Em relação ao primeiro, se estabelece três
pressupostos: primeiro, o riso é expressão de escárnio, isto é, de zombaria
contra as coisas de Deus; por isso, como diz o Pe. Vieira, o riso sempre é
seguido pelo pranto.
Segundo, o riso é expressão de tolice, e é tal como o
crepitar dos espinhos debaixo de uma panela (cf. Ec 7.6); logo, aqueles que
riem expressam tolice, seja em atos e/ou palavras seja no apoio a práticas
tolas e vis.
Terceiro, o riso desdenhoso, o riso que as mais das
vezes é movido pela inveja; como o riso irrompe involuntariamente, então, o que
move para o riso, é a razão do riso; então, se o riso é desdenhoso, isto é, se
se escarnece da virtude ou do caráter virtuoso de alguém, então, isto é desdém,
o qual, por sua vez, nasce da inveja; por isso, o riso desdenhoso é expressão
de inveja calcinada na alma.
Logo, se tem o riso escarnecedor, o riso tolo, e o
riso invejoso; algumas vezes o riso manifesta uma destas características,
outras mais de uma; mas, geralmente, o riso é expressão da amalgama destas três
características. Assim sendo, o riso é sempre expressão de vícios, pois é um
ato vicioso, emana de vícios e expressa os mais variados tipos de vícios. Por
isso, aqueles que dão risadas, estão com a alma enlameada nos vícios.
15. Em relação ao segundo, se estabelecem dois
pressupostos: primeiro, o riso como elemento de contaminação; pois, como o riso
é expressão de atos viciosos, então, necessariamente, o riso germinará vícios;
por isso, o riso é viciante, isto é, gera vícios em quem as flechas do riso
acertam; e, por isso, em todas as manifestações do riso, sempre se tem a
geração de vícios; aqueles que dão risadas propagam os vícios, e por isso, são
viciantes.
Segundo, o riso como elemento de degeneração; o riso como elemento de contaminação, não somente contamina aquele que dá risada, e aqueles diante de quem as risadas são feitas, mas o vício gera a degeneração espiritual; e toda degeneração espiritual, mina a força vital e fundamental; logo, as risadas servem de elemento para minar a verdadeira força e a vitalidade natural, isto é, as risadas buscam interromper as fontes cristalinas das virtudes. Por isso, onde há o riso, há a degeneração espiritual; e onde há degeneração espiritual, haverá todo tipo de males e de obra maligna; pois, a degeneração espiritual, transforma os jardins da alma em pasto lodacento para a obra dos demônios.
Capítulo V: Os tipos de sorriso.
16. Depois de se ter evocado alguns tipos de riso, se
faz necessário analisar os tipos ou modos do sorriso. E, sobre isso, se evoca
três coisas: primeiro, o sorriso como expressão de alegria; segundo, o sorriso
como expressão da piedade natural; terceiro, o sorriso como expressão da
piedade espiritual.
Primeiro, o sorriso como expressão de alegria; o
sorriso é expressão de verdadeira alegria; e o sorriso, como tal, traz inúmeros
benefícios para o corpo; pois, o sorriso é o ato que mais movimenta músculos na
face, e com isso, produz aquilo que a Escritura chama de embelezamento (cf. Pv
15.13). Logo, o sorriso sempre traz evidência de alegria, e esta alegria sempre
“poliniza” ao seu redor, e “contagia” outras pessoas com coisas boas, pois,
esta é a natureza da alegria.
17. Segundo, o sorriso como expressão da piedade
natural; além disso, o sorriso é expressão de piedade natural, isto é, daquela
piedade inerente a natureza humana, que na Ética ganha o nome de virtudes
cardeais ou naturais; logo, o sorriso é expressão de que a natureza humana não
fora degenerada totalmente (embora isso não signifique necessariamente que haja
justiça espiritual [cf. Is 64.6]); mas o sorriso, mesmo naqueles que não
conhecem a Deus, é expressão de piedade natural, a qual é obrigação natural e
inalienável de todo ser humano, pela dignidade inviolável que lhe é inerente.
Portanto, o sorriso, diferente do riso, demonstra as propriedades da razão e do
racional; enquanto que o risível é irracional e vitupera a vontade, o sorriso é
racional e preserva a vontade da contaminação.
18. Terceiro, o sorriso como expressão da piedade
espiritual; e, o sorriso, evidentemente, também tem a ver com a alegria
espiritual; pois, aqueles que foram regenerados, haverão de sorrir; e,
principalmente estes, haverão de demonstrar a verdadeira alegria através do
sorriso; e, mesmo que na vida nem tudo seja “sorriso” e alegria, todavia, a
alegria há de ser evidente no cristão, mesmo em momentos de tristeza e de
intensas tribulações. Por isso, aquele que crê em Cristo, é alguém alegre (cf.
Fp 4.4). Logo, o sorriso é expressão de piedade espiritual, a piedade da
comunhão com Deus, que o torna o humor, mesmo em personalidades fortes,
expressão do atuar da graça de Deus no indivíduo. Portanto, o sorriso
principalmente se torna manifesto a partir da piedade espiritual.
19. Deste modo, há três maneiras de se entender o sorriso; todos eles, se manifestam em menor ou maior grau; mas, em todos os tipos de sorriso, há a manifestação da graça de Deus; a verdadeira alegria, sempre é obra da graça; nos dois primeiros tipos evocados, obra da graça comum de Deus; no último tipo, obra da graça salvadora; mas, sempre é obra da graça. Nos dois primeiros tipos, de quando da preservação da natureza da corrupção total do Pecado; no último tipo, de quando da obra soberana do Espírito em reconciliar o pecador com Deus através de Cristo. Portanto, há estes três tipos de sorriso, os quais testemunham da obra da graça, diferentemente do riso, que são expressão da degeneração espiritual, e que são a rejeição da graça comum de Deus, seja de maneira consciente na blasfêmia e revolta contra Deus, seja de maneira inconsciente de quando do domínio cultural pelas ideologias nefastas.
Capítulo VI: A alegria natural verdadeira.
20. E, se observa que em relação a descrição dos tipos
de sorriso, se percebe algo interessante; pois, ao se diferenciar riso e
sorriso, e os aspectos que vem amalgamados, se pode aclarar a compreensão sobre
a alegria natural verdadeira, que justamente deve ser objeto de análise; pois,
em se tratando dos verdadeiros cristãos, a alegria deve ser algo evidente, e é
parte da vida cristã; sobre isso, não é necessário se falar muito neste
escrito; todavia, é necessário se entender os aspectos do que se constitui a
alegria natural verdadeira, a qual, deve permear toda a vida humana, seja nos
cristãos seja naqueles que não são cristãos; e isto, pelo fato de que são seres
humanos, bem como porque a alegria verdadeira é evidência incontestável da
preservação e da conservação da dignidade humana.
21. Assim sendo, a alegria natural verdadeira é
entendida a partir de dois prismas, os quais também são os transcendentais dos
direitos humanos, a saber: primeiro, a partir da vida em liberdade; segundo, a
partir da busca pela felicidade.
Primeiro, a partir da vida em liberdade; o ser humano
nasceu para viver em liberdade; logo, para que haja a alegria natural deve
haver liberdade, e liberdade plena em todos os sentidos; na verdade, a alegria
natural verdadeira, é fruto da vida em liberdade; alegria e liberdade se
coadunam; a alegria natural, pressupõem a liberdade, enquanto que a liberdade
ao ser experienciada tal como tem de ser traz a alegria natural. Logo, a vida
em liberdade, pressuposto singular da dignidade que é inerente a todo ser humano,
é o caminho para que a alegria natural verdadeira seja evidente e mais
demonstrada; além disso, a vida em liberdade, calcina o caráter do povo a
partir da bondade natural, da bondade em relação as coisas naturais que se
manifesta de diversos modos, tais como: respeito para com próximo, cuidado com
a natureza, amor para com a criação, busca da justiça nas coisas humanas, senso
de dever, de justiça, de esperança, etc.
22. Segundo, a partir da busca pela felicidade; além
de ter nascido para viver em liberdade, o ser humano nasceu para a felicidade;
a vida feliz, objeto de reflexão dos filósofos antigos, é pressuposto
inalienável da vida humana; logo, se manifesta de diversos modos e de diversas
maneiras, principalmente a partir da vida em liberdade, que expressa a alegria
natural verdadeira; pois, com isso, o ser humano vive em liberdade, e o faz
para poder buscar a felicidade; isto, ao ser vivenciado de maneira sóbria e digna,
produz a alegria natural verdadeira, que é expressão da satisfação natural que
advêm do exercício do mandato cultural; logo, o ser humano ao exercê-lo de
maneira correta e de acordo com sua natureza, tal como Deus o criou para exercer,
gera os elementos para se usufruir da alegria natural verdadeira, expressa na
vida em liberdade e que se torna mais evidente na correta busca pela felicidade
em relação as coisas naturais.
23. Isto, é o que perfaz o entendimento na sabedoria racional e na sabedoria bíblica, sobre o coração alegre; o coração alegre, na sabedoria natural, é fonte de vida e fonte para a vida; logo, o coração alegre, proporciona à alma uma série de benefícios, que inclusive beneficiam o corpo; pois, a alegria é remédio natural para a alma e para o corpo; por isso, na sabedoria racional se valora a verdadeira alegria, como princípio da vida feliz; e na sabedoria bíblica se prescreve a alegria como elemento preponderante para se entender a beleza da vida e se compreender a responsabilidade que o ser humano tem em relação ao cuidado com a criação.
Capítulo VII: Riso e sorriso, vício e virtude.
24. Assim, se compreende a distinção entre riso e
sorriso; e, respectivamente, esta distinção, também estabelece a diferença
entre vício e virtude; o vício é a contrariedade da razão, como diz Tomás de
Aquino; a virtude, por sua vez, é o assentimento da razão em vista da vida
correta; logo, como o riso é a impropriedade da razão, logo, o riso é expressão
de vícios e conduz a vícios, isto é, é vicioso e viciante; em contrapartida, o
sorriso é a propriedade da razão, logo, o sorriso é expressão de virtudes e conduz
a estas e ao entendimento da importância de buscar desenvolver as virtudes.
25. Deste modo, se compreende a dialética antitética
entre o riso e o sorriso; enquanto o riso é evidência de atos viciosos e
viciantes, o sorriso é evidência de atos virtuosos e de atos que possuem
virtuose; enquanto que o riso é a demonstração de irracionalidade, o sorriso é
a demonstração de racionalidade; enquanto que o riso é expressão de
imbecilidade, o sorriso é expressão de inteligência; enquanto que o riso é
escárnio, o sorriso é benquerença; enquanto que o riso é expressão de desdém e
inveja, o sorriso é expressão de simpatia e de caridade; enquanto que o riso é
expressão de doença na alma, o sorriso é expressão de alma saudável; enquanto
que o riso é expressão de sensualidade maléfica, o sorriso é expressão de
satisfação; enquanto que o riso é expressão de impiedade, o sorriso é expressão
de piedade; etc.
26. Com isso, se pode compreender a diferença fundamental entre riso e sorriso, que demonstra a diferença entre vício e virtude; assim sendo, esta simples distinção serve para aclarar o entendimento sobre vários aspectos concernentes ao vício e a virtude, os quais, por sua vez, demonstram que riso e sorriso diferem não somente em sentido conceitual, mas no próprio âmago da alma de um ser humano, sendo a partir destes, isto é, de riso e de sorriso, possível reconhecer o caráter e o estado de alma de um indivíduo.
Capítulo VIII: O riso e o problema da sensualidade.
27. Além desta dialética antitética que a distinção
entre riso e sorriso demonstra, ao se perceber os aspectos concernentes ao
riso, se observa outro problema em relação a risada, a saber, o problema da
sensualidade; este problema está imbuído nos vícios que são evidentes e que
emanam do riso; mas, especificamente, o riso é expressão de sensualidade
deformada ou degenerada; pois, a sensualidade degenerada, faz com que o
indivíduo perca a sobriedade da consciência para resistir as forças culturais
de domínio e a vontade de poder das ideologias nefastas.
28. Com isso, se observa que o problema da
sensualidade, que também é o problema da sexualização desmedida, que gera
luxuria e desenfreio; por isso, aqueles que são dominados por esta sexualização
desmedida, acabarão por se tornar indivíduos despersonalizados; pois, esta
sexualização, torna os indivíduos insolentes e luxuriosos, e, por consequência,
avessos ao conhecimento e a verdadeira sabedoria - e por isso, também
contrários a Deus. E no texto sagrado se diz que a sensualidade tira a
inteligência (cf. Os 4.11), isto é, a sensualidade da maneira errada; logo,
esta sensualização desmedida tende a se evidenciar não só por práticas erradas,
mas principalmente através do riso; o riso é um dos elementos preponderantes
que se tornam evidentes quando a sensualidade fora degenerada, ou por práticas
infames ou pela sensualidade desmedida que destrói a inteligência e cauteriza a
consciência.
29. Portanto, o riso demonstra uma série de outros problemas que não somente os anteriormente mencionados; na verdade, o riso é aferidor de medida de vários problemas que assolam o ser humano, seja como indivíduo seja na sociedade, ou em concomitantemente em ambos; logo, o riso atesta não somente o problema da sensualidade, mas vários problemas que tiram a dignidade humana, pois, estes obscurecem a inteligência, obnubilam a consciência e rompem com o ímpeto natural para as coisas humanas.
Capítulo IX: A necessidade da alegria.
30. Com isso, ao se compreender a distinção entre riso
e sorriso, e os aspectos amalgamados a este distinção, se pode prosseguir para
o término desta reflexão; e, isto, se compreendendo a necessidade da alegria; o
ser humano necessita de alegria; a vida feliz não somente é um ideal dos
filósofos estoicos, mas pressuposto da própria vida; logo, é preponderante se
entender a necessidade da alegria, não somente para evocar mais sorrisos na
existência humanas, mas também para se vencer a ditadura do riso, que sufoca o
ímpeto da verdadeira alegria.
31. Pois, a alegria tem suas expressões, tais como: o
desenvolvimento pessoal; o desenvolvimento da personalidade; o crescimento em
conhecimento; o desenvolvimento do ímpeto natural da vida, em viver, casar, ser
bom marido, ser boa esposa; ter filhos; produzir cultura; honrar a Deus acima
de tudo; viver em liberdade; cuidar da natureza; os velhos ajudarem com sua
sabedoria os mais jovens; os mais jovens ajudarem os mais velhos com suas
forças; o amor e o esmero nas simples atividades cotidianas; etc. Tudo isso, e
muitas outras coisas, são formas de expressão da verdadeira alegria natural, a
qual é inerente ao desenvolvimento das virtudes cardeais.
32. Por isso, a alegria é necessária; para que estas e
outras coisas sejam desenvolvidas de maneira natural e sóbria; ao mesmo tempo
em que, ao estas coisas se tornarem evidentes e se manifestarem, são formas de
expressão da verdadeira alegria; por isso, ao se elucubrar sobre o riso, ou ao
elucubrar sobre o sorriso, há sempre de se desembocar e se averiguar como
pressuposto indiscutível a proposição da necessidade da alegria; pois, sem
alegria a vida se torna insuportável e sem sentido; uma das coisas que confere
sentido a vida humana no tocante as coisas naturais, é a alegria, a qual,
atesta a existência de um Ser Superior, Deus, “que é um ser vivo, eterno,
maximamente bom” (Met. 1072b30). Em última instância, é a Deus que se
refere a verdadeira alegria natural. Logo, a necessidade da alegria, evoca de
maneira altissonante o fundamento da vida e da existência, que está em Deus.
33. Termina aqui esta explicação sobre a risada.
Bendito seja Deus por todas as coisas. Amém.
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