28/05/2024

Sobre a Sujeira

Prólogo.

1. A sujeira é uma questão com qual o ser humano tem de lidar; pois, o ser humano, produz lixo e sujeira; portanto, compreender este “fenômeno” natural, inerente a própria vida requer alguns cuidados, devido a complexidade do assunto, que embora aparente certa simplicidade, permeia alguns aspectos importantíssimos da vida e da condição humana; pois, a sujeira tanto é uma realidade quanto é um problema; é uma realidade que o ser humano não consegue negar, mas se não for entendida corretamente pode se tornar um problema tanto para o indivíduo quanto para a sociedade.

2. Deste modo, analisar este “fenômeno” natural e compreendê-lo de maneira racional e com sobriedade, tanto ajuda a enfrentá-lo de maneira correta quanto proporciona o entendimento para se evitar que a sujeira se torne um problema; aliás, a sujeira serve de aferidor de medida para o estado espiritual de uma sociedade; pela sujeira se consegue medir e compreender o estado de alma de uma sociedade, e se consegue compreender o grau ou não da personalização de um indivíduo; e, com isso, se observa o quão importante é compreender a sujeira enquanto uma questão humana e enquanto um problema da humanidade, tanto para o bem humano, em benefício da saúde humana, quanto para se compreender aspectos que envolvem a sujeira e que destroem a dignidade humana. Portanto, compreender sobre a sujeira é uma das coisas naturalmente naturais que se fazem necessárias de serem entendidas.

Capítulo I: A sujeira como objeto de análise.

3. A sujeira, deve, portanto, ser colocada como objeto de análise; não da análise química da sujeira; mas, da análise da sujeira enquanto um “fenômeno” humano; pois, compreender sobre a sujeira, ajuda a compreender mais sobre a humanidade. A sujeira, se estabelece como objeto de análise, pelo simples fato de que o ser humano, em seu viver, produz sujeira, nas coisas que lhe são naturais; pois, as necessidades humanas básicas produzem sujeira, e a própria existência humana e dos animais também atesta este fato, a saber, todos os animais produzem sujeira.

4. Deste modo, se pode afirmar que a sujeira, é uma questão humana; pois, lida com o ser humano, mas também com o meio ambiente; e o ser humano, tem uma ordenança divina para cuidar e velar pela natureza; na verdade, é parte do que significa ser humano, velar e cuidar do meio ambiente, e nisto, está imbuído a correta compreensão sobre a sujeira; entre os pressupostos do cuidado para com a natureza, está a sobriedade com relação a natureza; e, por isso, o entendimento sobre a sujeira serve de aferidor sobre a dignidade humana do indivíduo e da dignidade de uma sociedade; onde não há sobriedade com relação a sujeira, se tem uma sociedade doente e adoecedora; e onde os indivíduos produzem sujeira com o intuito de prejudicar e destruir a natureza, se tem morbidades da alma. Então, compreender sobre a sujeira, racionalmente, afere aspectos racionais, psicológicos e sociais.

Capítulo II: Os três tipos de sujeira.

5. E, para se entender corretamente a sujeira, é necessário compreendê-la sob pelo menos três aspectos, que forma os três tipos de sujeira; pois, entender os três tipos de sujeira ajuda a entender o que é e qual a natureza da sujeira e como lidar com este “fenômeno” humano; e os três tipos de sujeira são: primeiro, a sujeira natural; segundo, a sujeira provocada; terceiro, a sujeira causada com propósitos nefastos.

Primeiro, a sujeira natural; o ser humano, em seu viver, produz sujeira; pois, como Tomás de Aquino afirma: “é preceito da natureza que o homem sustente o corpo”, logo, neste preceito da natureza, ao homem procurar sustentar seu corpo, também produz sujeira, tanto devido as suas necessidades básicas, quanto devido a alimentação e a manutenção e cuidado da vida; este tipo de sujeira surge naturalmente e é produzido todos os dias, cabendo a cada indivíduo o cuidado e a limpeza pessoal e de seu lar.

6. Segundo, a sujeira provocada; é a sujeira que vai além da natural, e que é provocada pelo ser humano por algum motivo, que faz surgir mais sujeira do que o normal, como é o caso de construções e coisas similares; este tipo de sujeira, geralmente não é nocivo, mas pode se tornar em instrumento de destruição da dignidade, se não for entendida com sobriedade; pois, quando um acúmulo maior de sujeira é provocado, seja por qual motivo for - desde que não seja por motivo e motivações nefastas -, deve ser com sobriedade e a fim de evitar o máximo possível de prejuízo ao próximo e à sociedade.

7. Terceiro, a sujeira causada com propósitos nefastos; este tipo de sujeira é o que mais preocupa; pois, é proveniente de doenças da alma, que se chega ao ponto de causar sujeira para trazer prejuízo ou para destruir outrem ou a propriedade privada de outrem; este tipo de sujeira além de demonstrar o estado de morbidade da alma, também demonstra a ação maligna, já que a sujeira provocada com propósitos nefastos é a sujeira do inferno; portanto, quando há sujeira provocada ou a sujeira manipulado para prejudicar e destruir a dignidade humana, que é o que este tipo de sujeira ocasiona, é sinal de uma sociedade adoecida e contaminada por práticas vis e infames.

8. Deste modo, se observa que os dois primeiros tipos de sujeira não são naturalmente nocivos, bastando apenas a sobriedade e o cuidado pessoal para estas sujeiras não se transformem em problema social; mas o terceiro tipo de sujeira é sinal de doença psíquica e de doença social, bem como é evidência de obra maligna e de despersonalização, pois, a sujeira causa com propósitos nefastos, para denegrir outrem e o que lhe é próprio, é sinal que o ser humano deixou de ser humano e se tornou em animal bestializado.

Capítulo III: A sujeira e a dignidade humana.

9. Com isso, ao se falar dos três tipos de sujeira, e ao se perceber quão grave e terrível é o terceiro tipo de sujeira, a sujeira causa com propósitos nefastos, se compreender que a sujeira interfere na dignidade humana; pois, a sujeira se não cuidada devidamente, denigre e corrompe a dignidade humana; portanto, a sujeira, principalmente a causada com propósitos nefastos, destrói a dignidade humana, e por isso é um atentado contra os direitos humanos; a sujeira enquanto problema também é questão dos direitos humanos.

10. Pois, se a sujeira for tornada em elemento de manipulação e de destruição, se torna, evidentemente, na destruição da dignidade do próprio indivíduo que causa a sujeira por propósitos nefastos, bem como ocasiona a destruição da dignidade de outrem; com isso, se pode afirmar que a sujeira, se torna elemento de manipulação e de desfiguração da humanidade; o verdadeiro humanismo sabe como lidar com a sujeira; a desumanização, pelo contrário, lida com a sujeira para destruir e vituperar a dignidade humana.

11. Portanto, o entendimento sobre a sujeira se coaduna racionalmente com o entendimento sobre a dignidade humana, bem como o entendimento sobre a sujeira se coaduna juridicamente com o entendimento sobre os direitos humanos; por isso, entender corretamente a sujeira, é princípio preponderante da racionalidade, da dignidade e dos direitos humanos. E, estes três aspectos, inferem diretamente e fundamentalmente no desenvolvimento do indivíduo e no funcionamento da sociedade. A sujeira, mesmo que um assunto que pareça simplório, diz muito sobre a alma do indivíduo e sobre a alma da sociedade.

Capítulo IV: A sujeira e a poluição.

12. E, em relação ao terceiro tipo de sujeira, e a compreensão que este tipo de sujeira corrompe a dignidade do indivíduo, há um outro aspecto que demonstra de maneira clarividente a sujeira provada com propósitos nefastos, a saber, a poluição; e duas são as formas de entender a poluição: primeiro, a poluição tida como “necessária”; segundo, a poluição provada com fins nefastos.

A primeira, diz respeito a poluição proveniente das fábricas, usinas, etc., que fala-se como necessárias devido aos elementos necessários que provêm destes, mas que, se estudadas com cuidado, pode ser diminuída em seu impacto e males.

A segunda, diz respeito a poluição provocada com fins nefastos, desde queimadas, fumaças, etc., que são feitas especificamente para prejudicar e danificar a saúde do próximo; logo, este tipo de poluição, é açambarcado na descrição do terceiro tipo de sujeira, a sujeira provocada com propósitos nefastos; é a poluição que desfigura e destrói a dignidade humana e contamina a vida em sociedade.

13. Deste modo, este tipo de poluição, causa males à saúde, e, por consequência, vitupera a dignidade do indivíduo; a poluição causada com propósitos nefastos, que causa tanto a contaminação da natureza quanto a destruição das condições naturais para a vida ser desenvolvida, não somente atesta a destruição da dignidade proveniente da sujeira causada com propósitos nefastos, mas esta forma de poluição, fundamentalmente demonstra que este tipo de sujeira é uma morbidade, uma manifestação de uma doença da alma (morbus animi).

Capítulo V: A sujeira e a morbidade na alma.

14. Assim sendo, se pode definir a sujeira, a do terceiro tipo, bem como a poluição causada com propósitos nefastos, como uma espécie de morbidade da alma; pois, tudo aquilo que vitupera e denigre a dignidade humana, e que é provocado pelo próprio ser humano, é, na verdade, evidência de uma doença na alma; a sujeira causada com propósitos nefastos - entre as quais, acrescenta-se a poluição -, é expressão de uma doença da alma que causa uma doença na sociedade.

15. Com isso, se pode afirmar que a sujeira causada com propósitos nefastos, é uma morbidade da alma, por quatro razões: primeiro, porque vitupera a dignidade de outrem ao mesmo tempo em que se vitupera a própria dignidade; segundo, porque é expressão de cauterização da consciência; terceiro, porque é sintoma do apodrecimento do coração e da razão; quarto, porque é sinal de despersonalização e despessoalização.

Estas quatro razões são por si mesmas suficientes para descrever este tipo de sujeira como uma morbidade, a qual é expressão de outras morbidades bem como a fonte de outras morbidades terríveis e contaminadoras.

16. Portanto, a sujeira e a poluição causadas com propósitos nefastos, demonstram um estado de consciência com inúmeras mortandades; por isso, esta espécie de morbidade, produz também outras mortandades, não somente as que vituperam a integridade e a saúde física, mas também que destroem a natureza; logo, além de morbidade, este tipo de sujeira é crime contra a lei e crime contra os direitos humanos, porque destrói um dos princípios fundamentais dos direitos humanos, o direito a saúde - que também é um dos princípios constitucionais, como um dos direitos sociais, que emanam diretamente dos direitos fundamentais. Deste modo, a sujeira e a poluição causadas com propósitos nefastos, são tanto uma morbidade da alma quanto um crime perverso; e isso é algo que serve de alerta tanto para a saúde mental de uma sociedade quanto para a preservação e o cuidado com a natureza, fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade e de uma nação.

Capítulo VI: A sujeira como problema e o problema da sujeira.

17. A sujeira, pois, se estabelece como um problema; e a sujeira se torna um problema, quando o terceiro tipo de sujeira começa a se tornar mais evidente; na verdade, um grande e terrível problema, pois, além de ser evidência de morbidade da alma, também é evidência de um mal social, que aos poucos se avoluma, até castificar a sociedade sob um sistema (comunismo) que forma uma barreira quase que intransponível, ou em outros termos, se forma uma “muralha” que quase não permite se vencer este estado de castificação.

18. Mas também se estabelece o problema da sujeira; se a sujeira se torna um problema, logo, se terá o problema da sujeira; e o problema da sujeira, é tanto um problema moral quanto um problema social; e, num sentido teológico, também é um problema espiritual, ou de ação demoníaca no caso dos ímpios, ou de apostasia no caso de ditos “cristãos”; logo, o problema da sujeira infere em vários aspectos da vida individual e da vida social, pasme-se, até mesmo da existência eclesial, já que se aqueles que se dizem cristãos causam o terceiro tipo de sujeira são apóstatas e com isso contaminam a Igreja com a sujeira espiritual da apostasia calcificada pela sujeira causada com propósitos nefastos.

19. Portanto, se tem dois aspectos ao lidar com a sujeira: a sujeira como problema e o problema da sujeira; se a sujeira se estabelecer como um problema terrível, então, se terá o problema da sujeira, que é muito mais difícil de lidar; deste modo, se se estabelece o problema da sujeira, então, se terá a sujeira como um caractere que permeará a vida em sociedade, o que, em si, desfigura o verdadeiro propósito da vida em sociedade, e se torna em mais um elemento que enfraquece o múnus da vida social e que torna a sociedade sujeita a “vontade de domínio” de alguma ideologia nefasta. O problema da sujeira é uma semente das ideologias nefastas (e dos demônios) para domínio e propagação das maldades e dos males existenciais.

Capítulo VII: A solução para o problema da sujeira.

20. Deste modo, pergunta-se se existe uma solução para o problema da sujeira? E a resposta é sim, existe uma solução para o problema da sujeira; mas é uma solução demorada; na verdade, é bom que se evite que a sujeira se torne um problema; todavia, se for calcinado o problema da sujeira, então, se deve fazer três coisas principais: primeiro, se descobrir a procedência da sujeira; segundo, os meios que tem causado esta sujeira; terceiro, as formas de se solucionar o problema da sujeira.

Primero, se descobrir a procedência da sujeira; evidentemente, em primeiro lugar há de se descobrir a procedência da sujeira, isto é, donde provêm a sujeira; pois, a sujeira causada com propósitos nefastos não é causada simplesmente por motivos naturais; mas esta sujeira é, fundamentalmente, uma sujeira causa para destruir, contaminar e adoecer; ou dito de outro modo, o problema da sujeira é proveniente de alguma fonte, ou de algum elemento causador - geralmente algum indivíduo maldoso e vil que causa a sujeira para prejudicar outrem.

21. Segundo, os meios que tem causado esta sujeira; em segundo lugar, há de se identificar os meios que tem sido utilizados para causar esta sujeira; seja por meio de poluentes que adoecem e fazem mal a saúde, seja por meios que causam lixo e que produzem lixo para prejudicar outrem, etc.; os meios que causam a sujeira geralmente são utilizados para tornar esta sujeira ainda mais prejudicial e ainda mais terrível para a vida humana; na verdade, os instrumentos utilizados para causar esta sujeira (inclusive a poluição, como fumaças, queimadas, venenos, contaminação de solo, destruição do bioma, etc.), são expressão do estado de alma do indivíduo que os causa e que os propaga na sociedade.

22. Terceiro, as formas de se solucionar o problema da sujeira; em terceiro lugar, há de se verificar as formas de se solucionar o problema da sujeira, pois, se identificou a procedência da sujeira, e os meios que tem causado a sujeira, então, soluciona-se este problema sob o rigor da lei; pois, a sujeira causada com fins nefastos, é entendida na lei como aquilo que prejudica e vilipendia a dignidade do próximo e de sua propriedade; então, se alguém causa este tipo de sujeira, tendo sido verificado e comprovado, a solução é a punição sob o rigor da lei e a limpeza imediata desta sujeira; a única forma de se vencer a sujeira causada com propósitos nefastos, é o cumprimento da lei e dos preceitos jurídicos consoante a preservação da vida e do meio ambiente, os quais, em si mesmos, são suficientes para conter o problema da sujeira, pelo menos em relação a vida em sociedade.

23. Com isso, se observa que não fáceis os meios para se solucionar o problema da sujeira; na verdade, é mais fácil falar do problema da sujeira, do que de fato solucioná-lo; todavia, os labores civis hão de se focar na solução deste problema, pois, é em função do bem comum; no entanto, como os causadores deste tipo de sujeira são, na verdade, indivíduos como morbidades na alma, certamente, a utilização do rigor da lei deve servir de estalo de consciência para que este problema seja solucionado; do contrário, se terá caos moral e caos na ordem da própria sociedade, pois, a sujeira causada com propósitos nefastos é um instrumento de desordem social.

24. Termina aqui esta explicação sobre a sujeira. Bendito seja Deus por todas as coisas. Amém.

19/05/2024

Declaração Teológica sobre a Dignidade dos Judeus

Prefácio.

Este escrito foi estabelecido tendo em vista a crescente onda de antissemitismo que se avolumou nos últimos meses dos anos de 2023, que se iniciou a partir do ataque de um grupo terrorista contra Israel em outubro de 2023; este antissemitismo se avolumou, e infelizmente influenciou muitos cristãos; diante desta situação, em novembro de 2023, escrevi esta declaração teológica, para demonstrar a dignidade dos judeus tendo em vista os ensinamentos bíblicos. E, de quando a escrevi a enviei para muitos locais, no intuito de procurar uma solução comum para refrear a influência nefasta do antissemitismo nos arraiais cristãos em vários locais no mundo.

A necessidade de uma declaração nestes termos se fez necessária, pois, junto com esta nova onda do antissemitismo, também se avolumou sobre os cristãos uma série de práticas anti-racionais; na verdade, sempre que o antissemitismo é evocado, é porque houve alguma corrupção e/ou destruição da racionalidade; na verdade, o antissemitismo sempre é algo irracional; assim sendo, se o antissemitismo for aceito e praticado por cristãos, é sinal que os próprios cristãos se tornaram anti-racionais; e o cristianismo quando se torna anti-racional, deixa de ser cristianismo. Pois, antissemitismo e cristianismo não se coadunam, até mesmo porque o antissemitismo uma vez semeado desemboca em anti-cristianismo.

E, nesta declaração se apresenta algumas pressuposições que demonstrem biblicamente a dignidade dos judeus; não somente racionalmente, mas fundamentalmente e principalmente teologicamente, para que os cristãos, sejam católicos, sejam protestantes, possam compreender a importância de Israel, bem como entender como devem entender e se posicionar a respeito de questões sobre o antissemitismo; deste modo, compreender que a afirmação da dignidade dos judeus por parte dos cristãos é parte do que se configura como “existência eclesial”; logo, a existência eclesial, entre tantas coisas, também tem as proposições a respeito de Israel e dos judeus, as quais, são apresentadas, ainda que de forma simples e sintética, através dos parágrafos evocados nesta declaração.

Com isso, que esta declaração sirva para ajuizar o entendimento dos cristãos sobre a dignidade dos judeus bem como para ajuizar a compreensão dos próprios cristãos sobre como devem compreender e entender Israel a partir dos princípios genuinamente cristãos.

Soli Deo Gloria!

In Nomine Iesus!

19 de maio de 2024.

 

Preâmbulo.

A atual situação do antissemitismo, novamente assombrando o solo da história, se tornou um problema urgente que deve ser combatido; não somente pela questão da liberdade religiosa, mas principalmente pela própria dignidade humana; devido a esta horrenda situação, é necessário a igreja evangélica se posicionar contra o antissemitismo e se pronunciar sobre a dignidade dos judeus. A diferença entre posições teológicas se torna menos importante diante da dignidade humana ante o terrorismo e ideologias totalitárias.

Diante desta realidade, reafirmamos os princípios da fé cristã e os princípios fundamentais dos direitos humanos, a fim de aclarar que todos os seres humanos, independente de raça, cor ou credo religioso, possuem a dignidade que lhes fora conferida pelo Criador. Portanto, ao reafirmarmos a dignidade dos judeus, reafirmamos a dignidade de todos os seres humanos, livres e iguais em direitos e deveres, como bem atesta a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Considerando estas e outras questões, levantadas novamente as pessoas de bem diante do crescente antissemitismo, é necessário reafirmar os princípios teológicos fundamentais sobre a dignidade dos judeus. E assim, confessamos em alto e bom tom as seguintes verdades:

 

Parágrafo 1.

§ 1. “Eis que não tosquenejará nem dormirá o guarda de Israel” (Sl 121.4).

O Senhor é o guarda de Israel; é o próprio Deus Todo-Poderoso quem protege a Israel e que vela pela segurança de Seu povo; isso confessamos em alto e bom tom, pois, o Deus que cuida de Seu povo não cochila e nem dorme.

Por isso, rejeitamos as dissuasões antissemitas que dizem que Deus não vela e não cuida de Israel; pois, tais dissuasões beiram ao ateísmo por não reconhecerem a Palavra de Deus e no que esta Palavra afirma sobre o cuidado de Deus para com Israel.

 

Parágrafo 2.

§ 2. “O SENHOR jurou a Davi com verdade e não se desviará dela: Do fruto do teu ventre porei sobre o teu trono” (Sl 132.11).

O Senhor estabeleceu como decreto eterno, colocar um descendente de Davi no trono para reinar perpetuamente; se o Senhor fez esta promessa, e jurou a Davi, logo, ele cumprirá; pois, Deus não é homem para que minta e nem filho do homem para que se arrependa (cf. Nm 23.19); portanto, as promessas de Deus são também para Israel, e tais promessa são verdadeiras e certas.

Por isso, rejeitamos as doutrinações antissemitas que dizem que tais promessas são invenções humanas e mentiras; as promessas de Deus não falham, e as promessas de Deus para com Israel se cumpriram cabalmente e se cumprirão cabalmente; a própria história é testemunha deste fato; logo, as doutrinações antissemitas são fruto da inveja e da maledicência comuns aos povos presos pela intolerância e pelo extremismo irracional.

 

Parágrafo 3.

§ 3. “Porque o SENHOR elegeu a Sião; desejou-a para sua habitação, dizendo: Este é o meu repouso para sempre; aqui habitarei, pois o desejei. Abençoarei abundantemente o seu mantimento; fartarei de pão os seus necessitados” (Sl 132.13-15).

O Senhor elegeu a Israel; fora Deus quem escolhera Israel para ser Sua propriedade exclusiva dentre os povos (cf. Êx 19.1-6); deste modo, o próprio Deus desejou Sião para sua habitação, para nela habitar perpetuamente; e por isso, o próprio Senhor abençoa abundantemente a Israel e abençoa aqueles que são necessitados; embora se tenha certa distinção entre o Israel da antiga aliança e o Israel da nova aliança, a promessa de Deus de cuidado se estende tanto ao Israel antigo quanto a Igreja; portanto, o Deus que cumpriu suas promessas em Cristo, ainda cuida de Israel mesmo que estes não creiam em Cristo como Senhor e Deus.

Por isso, rejeitamos a filosofia antissemita que diz que Israel não é mais objeto dos cuidados e da atenção de Deus; Israel continua sendo objeto da atenção e dos cuidados de Deus; todavia, se os judeus não crerem em Cristo não serão salvos (cf. Rm 3.9-26); assim sendo, o cuidado de Deus para com Israel se refere a existência de Israel e a preservação de Israel, já que o próprio Deus prometeu que abençoaria e fartaria o povo que desejou para Sua habitação. Pois, o Deus dos judeus também é o Deus dos gentios (cf. Rm 3.29): Deus cuida de Israel como dissera que cuidaria, e outorga a salvação a todos quantos confessam a Jesus Cristo como Senhor e Salvador (cf. Jo 1.12; Rm 10.9), seja judeu seja gentio.

 

Parágrafo 4.

§ 4. “que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, e as promessas; os quais são os pais, e dos quais é Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente” (Rm 9.4-5).

O Senhor outorgou a Israel o encargo revelacional; por isso, o Apóstolo afirma que dos israelitas é a adoção, a glória, os concertos, a lei, o culto e as promessas, isto é, tudo quanto diz respeito as instituições revelacionais do povo de Deus; os patriarcas são de Israel; e de Israel provêm o Senhor Jesus; portanto, de Israel vem todos os princípios das dádivas revelacionais que são consumadas e completadas em Jesus Cristo, e que se tornam dádivas outorgadas a todos quantos nEle creem (cf. Ef 1.3). Logo, Israel é o primeiro instrumento de Deus para ser deposito fidei, depositário da fé a fim de preservar o encargo revelacional para a posteridade, o qual após a morte e ressurreição de Cristo fora dispensado à Igreja.

Por isso, rejeitamos a falsa doutrina que afirma que Israel não tem nenhuma importância na esfera religiosa; a importância religiosa de Israel é indiscutível; e para os cristãos, a existência de Israel é de suma importância, pois sem Israel não haveria a adoção, não haveria a lei, não haveria os concertos, não haveria as promessas e não haveria Cristo; deste modo, a importância de Israel é pressuposta pela glória de Deus; se Israel existe, e se Israel tem sua importância de maneira indiscutível, isso é sinal clarividente da glória de Deus; a existência de Israel é prova da existência de Deus, e prova de que Deus vela e cuida de Israel; portanto se voltar contra Israel é lutar contra o próprio Deus.

 

Parágrafo 5.

§ 5. “Sejam confundidos e tornem atrás todos os que aborrecem a Sião!” (Sl 129.5).

O Senhor traz juízo a todos quantos se voltam contra Israel, contra todos aqueles que aborrecem a Sião; tal como dizia um antigo provérbio: “O Senhor trata as nações como as nações trataram os judeus” (frase atribuída a Benjamin Disraeli). Desde modo, é parte da compreensão do cuidado de Deus para com Israel o entendimento de que Deus pune aqueles que querem destruir a Israel; todas as nações que aborreceram a Israel foram despedaçadas e não existem mais; conquanto Israel tenha sofrido muito ao longo da história, o próprio Deus abençoara e preservara a existência de Israel; tal como diz a Escritura: “Se o Senhor dos Exércitos nos não deixara descendência, teríamos sido feitos como Sodoma e seríamos semelhantes a Gomorra” (Rm 9.29).

Por isso, rejeitamos a falsa concepção antissemita de que Israel é um povo cruel e bárbaro; na verdade, são os inimigos de Israel que são cruéis e bárbaros; pois, se não fora o Senhor, Israel não existiria mais; a poderosa mão de Deus que preservou a descendência de Israel ao longo da história diante de tantos ataques e das vilezas oriundas dos povos antissemitas: dos romanos aos árabes, dos comunistas aos nazistas, Deus tem preservado a descendência de Israel; tal como diz o salmista: “Se não fora o Senhor, que esteve ao nosso lado, ora, diga Israel: Se não fora o Senhor, que esteve ao nosso lado, quando os homens se levantaram contra nós, eles, então, nos teriam engolido vivos, quando a sua ira se acendeu contra nós” (Sl 124.1-3). Portanto, o Senhor guarda e protege a Israel e vela para que Israel continue a existir mesmo diante de tantos inimigos; deste modo, é vívido e preciso o axioma: todos aqueles que aborrecem a Israel são confundidos.


Parágrafo 6. 

§ 6. “Eis que porei Jerusalém como um copo de tremor para todos os povos” (Zc 12.2). “E acontecerá..., que farei de Jerusalém uma pedra pesada para todos os povos” (Zc 12.3).

O Senhor colocou Israel como cálice de tontear para todos os povos; é Israel o instrumento de Deus para colocar as nações em seu devido lugar, já que Jerusalém é uma pedra pesada para todos os povos; aqueles que apoiam e ajudam a Israel são abençoados por Deus (cf. Sl 122.6); já aqueles que aborrecem a Israel o Senhor faz de Israel uma pedra pesada para estes povos.

Por isso, rejeitamos a política totalitária que diz que Israel não tem importância política; a desvalorização de Israel do cenário político, através de doutrinas e práticas antissemitas, na verdade, advêm da inveja e da maledicência dos povos violentos; portanto, rejeitamos o antissemitismo envolto e velado na rejeição ou desvalorização de Israel do cenário político.

 

Parágrafo 7.

§ 7. “Jesus Cristo, Filho de Davi, Filho de Abraão” (Mt 1.1).

O Senhor, em sua infinita sabedoria e em seu eterno conselho, dignou-se estabelecer Israel como a nação do Messias; Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, nasceu judeu e viveu em Israel; além disso, a Escritura atribui a Ele dois dignos da profecia veterotestamentária, a saber, Filho de Davi, e Filho de Abraão; Filho de Davi simbolizando a linhagem real e o ofício real; Filho de Abraão, simbolizando a linhagem sanguínea e o cumprimento da promessa de Deus a Abraão (cf. Gn 12.1-3; Gl 3.13-14).

Por isso, rejeitamos a filosofia antissemita que diz que Israel não importância para a Igreja; a existência de Israel e a existência da Igreja tem uma linha de raciocínio básico que estabelece numa conexão intima e especial; conquanto se tenha as diferenças doutrinárias, o respeito e o amor para com Israel é parte da existência eclesial e da vida cristã, cumprindo assim a máxima do salmista: “Orai pela paz de Jerusalém! Prosperarão todos aqueles que te amam” (Sl 122.6).


Sobre a Amizade

Prólogo.

1. “O homem que tem muitos amigos pode congratular-se, mas há amigo mais chegado do que um irmão” (Pv 18.24); esta sentença bíblica demonstra a importância da amizade, pois, aquele que tem muitos amigos pode congratular-se, pode se alegrar, pois, tem amigo que é mais chegado do que um irmão; e não somente a sabedoria judaica evoca este singular ensinamento, a sabedoria grega sempre teve a amizade em grande estima, tanto que os gregos falavam da amizade como uma forma de amor, o amor phileo, que alguns consideravam uma forma sublime de amor.

2. Aristóteles afirma que as coisas belas são louváveis, bem como são louváveis as coisas que acompanham as virtudes (cf. De Virt. et Vit. 1249a); e, segundo o próprio Aristóteles, à virtude seguem coisas como: honestidade, otimismo, amor ao lar e amor aos amigos, etc.; logo, para o Filósofo, o amor aos amigos, ou mais propriamente, estão entre as coisas que se seguem à virtude, e são nestas pressuposta e que acompanham as virtudes; portanto, se pode acoplar a amizade entre as coisas belas, entre as coisas que são louváveis; pois, a amizade, acompanha à virtude, isto é, somente aqueles que possuem virtude e são virtuosos, é que são amigos; a amizade é uma virtude primordial que se segue às virtudes cardeais; logo, a amizade é uma coisa bela, louvável e virtuosa. A amizade é, em si mesma, algo possuinte de virtuose, pois, acompanha à virtude e demonstra a virtude.

3. Portanto, se faz necessário compreender sobre a amizade; não somente a amizade, segundo a Escritura, mas primordialmente, a amizade no sentido racional, pois, se a amizade demonstra a virtude e o que acompanha a virtude, a não-amizade (ou a não-amigabilidade), demonstra os vícios e o que acompanha os vícios; logo, se faz necessário se compreender este excelente bem existencial, sobre o qual, o próprio Filósofo afirma, a amizade é sumamente necessária à vida, porque sem amigos ninguém escolheria viver, ainda que possuísse todos os outros bens (cf. Et. Nic. 1155a5-6); por isso, analisar o significado da amizade, é compreender algo sumamente necessário, que se reveste não somente de praticidade, mas principalmente, porque versa sobre um dos assuntos fundamentais da vida e do que significa viver neste mundo.

Capítulo I: O ser humano como um ser social.

4. A amizade, como diz o Filósofo, é sumamente necessária à vida; pois, como o próprio Filósofo diz, o ser humano é um animal social; e a forma mais adequada e mais frutífera de socialização é através da amizade; o ser humano, sendo um ser social, necessariamente, na vida em sociedade, reflete este caractere através da socialização, que se dá por vários meios e de diversas formas; a forma mais eficaz e mais significativa do processo de socialização e de vida em sociedade, é através da amizade, a partir da qual, se mostram as virtudes e o que advêm após as virtudes; logo, a amizade é também parte de um elo que edifica e fortifica a sociedade. Uma sociedade que não tem amizade, ou que o verdadeiro sentido da amizade é desfigurado, é uma sociedade doente; pois, as mais das vezes, a destruição da amizade significa a deificação da inveja.

5. Com isso, a amizade é parte da significação do ser humano como um ser social; e, como parte de seu desenvolvimento pessoal, do desenvolvimento da personalidade, há o contato e o diálogo com outros seres humanos, e neste contato, principalmente através da amizade, se proporciona o meio de desenvolver a personalidade do indivíduo diante da realidade para a vida em sociedade; pois, a amizade serve como um canalizador que permite que os homens encontrem em um mesmo objeto amado algo que os une e que permite que se relacionem cordialmente uns com os outros.

Além disso, como o Filósofo diz a amizade parece unir os Estados (cf. Et. Nic. 1155a23), isto é, parece contribuir para que Estados e Nações se tornem amigos; e, se a amizade parece unir os Estados, então, certamente, a amizade une uma sociedade; não a uniformidade doentia, mas a amizade social; certamente, a amizade social, é uma forma de descrever esta amizade que une os Estados, porque antes uniu suas sociedades no inter-relacionamento; e esta forma de amizade, pode ser entendida através da comparação de que um ferro afia outro ferro; do mesmo modo como o ferro afia o ferro assim um amigo afia o outro (cf. Pv 27.17); ou no dizer de Heráclito, “o que se opõe é que ajuda”, e, “todas as coisas são geradas pela luta” (Fragmento 8 [DK 22 B 8]; cf. Et. Nic. 1155b5); este tipo de amizade, é que fortalece uma sociedade, gerando o que se chama de “amizade social”.

A amizade social é o que torna uma sociedade forte, e que permite, posteriormente, uma nação ser amiga de outra nação, em prol do bem comum. Ou dito de outro modo, uma sociedade que valora e valoriza a verdadeira amizade, é uma sociedade que se desenvolve de maneira forte.

6. Assim sendo, se compreende o porquê a amizade é sumamente necessária à vida humana, bem como para a vida em sociedade; a amizade, serve de aferidor de medida do estado de um indivíduo, bem como do estado de uma sociedade; uma sociedade que possui em suas entranhas a amizade social, tende a ser uma sociedade que cresce de maneira sóbria e virtuosa; e uma sociedade que não possui em suas entranhas a amizade social, sempre é uma sociedade que desemboca em vícios e doenças sociais (que podem se tornar em doenças psíquicas).

Capítulo II: A riqueza da amizade.

7. A amizade é um dos bens da vida; não um dos bens materiais, mas um dos bens existenciais; por isso, Aristóteles afirma que sem amigos ninguém escolheria viver, ainda que possuísse todos os outros bens (cf. Et. Nic. 1155a5-6); portanto, a amizade é uma riqueza existencial que transcende a riqueza dos bens; na verdade, a riqueza da amizade reponta justamente nisso, já que transcende o excessivo apego aos bens materiais, para demonstrar o amor na vida, que partilhado no mesmo objeto, proporciona amizade; a amizade é uma das formas de demonstrar o amor na vida, nas coisas boas da vida, que transcende o apego as coisas materiais, para demonstrar que o mais importante na vida é o amor, e isto, nas mais variadas esferas da vida.

8. E, a riqueza da amizade pode ser entendida a partir de três princípios: primeiro, porque a amizade é bênção na hora das vicissitudes; segundo, porque a amizade é tão próxima quanto o laço familiar; terceiro, porque a amizade é uma fonte de correção e exortação; quarto, porque a amizade é uma forma de aperfeiçoamento mútuo; quinto, porque a amizade é fortalecimento na caminhada da vida.

Primeiro, porque a amizade é bênção na hora das vicissitudes; a verdadeira amizade se conhece na hora da tribulação, de quando das vicissitudes; está escrito: “em todo o tempo ama o amigo; e na angústia nasce o irmão” (Pv 17.17); é na hora da angústia, que o verdadeiro valor da amizade se mostra, pois, na angústia o verdadeiro amigo se torna como que irmão. E nisto está uma das belezas da amizade, se estabelecer e se tornar ainda mais forte em meio a angústia.

9. Segundo, porque a amizade é tão próxima quanto o laço familiar; a verdadeira amizade se torna tão próxima quanto o laço familiar; se na angústia nasce o irmão, então, ao se desenvolver a amizade a mesma se torna um elo tão forte quanto um laço familiar; por isso, “há amigo mais chegado do que um irmão” (Pv 18.24); a verdadeira amizade se desenvolve, e a medida que se desenvolve se torna tão forte quanto um laço familiar; e, em alguns casos, se torna até mais forte do que o laço familiar, se tornando o amigo até mais chegado do que um irmão.

10. Terceiro, porque a amizade é uma fonte de correção e exortação; a verdadeira amizade, é instrumento de correção e exortação; o verdadeiro amigo exorta e repreende com vê aqueles com quem tem amizade enveredando por caminhos tortuosos; pois, “fiéis são as feridas feitas pelo que ama, mas os beijos do que aborrece são enganosos” (Pv 27.6); fiéis são as feridas provenientes da verdadeira amizade, isto é, as correções e as exortações de um amigo são mais fiéis do que as bajulações.

11. Quarto, porque a amizade é uma forma de aperfeiçoamento mútuo; a verdadeira amizade é uma forma de aperfeiçoamento mútuo; está escrito: “Como o ferro com o ferro se aguça, assim o homem afia o rosto de seu amigo” (Pv 27.17); a amizade é um amolador existencial, é um amolador para fortalecer o que há de bom e limpar o que há de ruim; logo, da verdadeira amizade é um elemento afiador do caráter e do desenvolvimento da personalidade.

12. Quinto, porque a amizade é fortalecimento na caminhada da vida; a verdadeira amizade é fortalecimento; está escrito: “porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante” (Ec 4.10); a amizade fortalece a caminhada da vida, porque, se um cair, há outro que levante, se o outro cair, há o que o levanta; portanto, a verdadeira amizade fortalece a caminhada, porque ajuda e serve de encorajamento diante das quedas e das batalhas da vida; a amizade fortalecer o caminhar, ajuda a levantar os que caem, e ajuda a cuidar das feridas que são provenientes das escarpas da vida.

13. Estas são a descrição da amizade, a partir da sabedoria judaica; a qual muito contribui e abaliza a compreensão sobre a amizade muito antes do tempo áureo dos gregos; assim sendo, a riqueza da amizade está delineada nestes e em outros aspectos, uma riqueza existencial preciosíssima, ao ponto de Aristóteles, que conheceu e dominou todas as sendas do saber, e reuniu e verificou aquilo que de melhor havia nos grandes feitos dos povos, pode afirmar de maneira categórica: sem amigos ninguém escolheria viver, ainda que possuísse todos os outros bens. Esta é a excelência da amizade.

Capítulo III: As três espécies de amizade.

14. E, em relação ao entendimento racional sobre a amizade, Aristóteles fala sobre três tipos de amizade; e, a partir deste entendimento, se compreender a diferença entre a verdadeira amizade e as falsas amizades; embora as falsas descrições da amizade não possam ser propriamente definidas como amizade, são tidas como “amizade”; mas, a compreensão sobre os três tipos de amizade, abaliza o entendimento sobre a verdadeira amizade, e sobre as falsas amizades. Aristóteles, primeiro, fala sobre a amizade em vista da utilidade; segundo, sobre a amizade com vista ao prazer; terceiro, sobre a amizade embasada na virtude.

15. Primeiro, a amizade em vista da utilidade; são aqueles que dizem amar a outrem, mas “amam” enquanto lhes oferecem algum bem, isto é, “amam” pelo que é bom e útil para eles mesmos; este tipo de amizade é adoecedor, pois, chega ao ponto de esvair um a força do outro, em busca de um bem próprio, ou mais propriamente em busca da utilização do outro para algum bem egoísta; este tipo de amizade funda-se as mais das vezes na maldade. Esta espécie de amizade é uma falsa amizade.

Segundo, a amizade com vista ao prazer; são aqueles que dizem amar a outrem apenas por algum prazer, isto é, enquanto são agradáveis; e este agradável não diz respeito a gentileza, mas em relação ao que é agradável para outrem, sem que se faça alguma reprimenda e/ou correção; a amizade baseada no prazer vai diretamente contra o ensino da sabedoria judaica, que afirma que a amizade é um afiando o outro; portanto, a amizade que visa somente ao prazer é uma falsa amizade, embora possa ter a aparência de amigabilidade. Esta espécie de amizade é uma falsa amizade.

Terceiro, a amizade embasada na virtude; são aqueles que realmente amam a outrem por causa da virtude, e não somente por causa da utilidade e do prazer; é a amizade baseada no bem pelo bem, na bondade pela bondade, na virtude pela virtude; a amizade baseada na virtude é evidência da nobreza de caráter e de virtude, e por isso, se torna como o próprio Filósofo afirma, invulnerável; pois, este tipo de amizade é baseada na confiança, na firmeza de caráter e sobrevive a prova do tempo; e somente entre os bons, como diz Aristóteles, é que é encontrada a confiança; logo, somente entre estes, é que é possível a amizade embasada na virtude. Esta espécie de amizade é a verdadeira amizade.

16. Portanto, no entendimento sobre estas três espécies de amizade, na qual as duas primeiras apenas trazem algo de similar a amizade, enquanto que a terceira é a verdadeira amizade, é que se pode chegar realmente a uma compreensão racional sobre a amizade; logo, se compreende o que é a verdadeira amizade, e com isso, se pode entender quais são as falsas amizades; por isso, como diz o Filósofo: “os maus serão amigos com vistas na utilidade ou no prazer, e a esse respeito se assemelharão um ao outro; mas os bons serão amigos por eles mesmos, isto é, em razão de sua bondade” (Et. Nic. 1157b1-3). Nisto também se compreende a diferença entre a falsa amizade e a verdadeira amizade.

Capítulo IV: A amizade como virtude.

17. A amizade, só é possível, em seu sentido verdadeiro, entre pessoas virtuosas; a amizade pressupõe a virtude; na verdade, a própria amizade é virtude; logo, a verdadeira amizade, é embasada na virtude; pois, aqueles que são virtuosos, encontrarão em outros que são virtuosos objetos de interesse comum; uma pessoa interesseira não encontrará objeto de interesse comum com alguém virtuoso; pelo contrário, aqueles que se abalizam apenas pela utilidade para satisfação egoística, não conseguem firmar amizade com aqueles são virtuosos, e vice-versa; pois, a virtuosidade é exigente, e requer uma certa semelhança em relação a virtude.

18. Deste modo, a amizade pode ser entendida como virtude em três princípios: primeiro, pelo mesmo querer; segundo, pelo mesmo não querer; terceiro, em função dos frutos da virtude.

Primeiro, pelo mesmo querer; o primeiro caractere da verdadeira amizade é o mesmo querer; e o querer que tende a virtude e as coisas boas e louváveis; este querer é o que está presente na verdadeira amizade; o querer que aponta e busca as coisas boas e louváveis, através do qual, as pessoas virtuosas cultivam a amizade e através do qual, a verdadeira amizade cresce, se desenvolve e se fortifica; sempre é pelo mesmo querer que a verdadeira amizade mostra sua vitalidade e veracidade.

19. Segundo, pelo mesmo não querer; o segundo caractere da verdadeira amizade é o mesmo não querer; pois, se se tem o mesmo querer em relação as coisas boas e louváveis, se tem o mesmo não querer em relação as coisas más e repreensíveis; e o não querer das coisas más e viciosas, demonstra o qualificativo da verdadeira amizade a partir da rejeição de atos viciosos; logo, também é pelo mesmo não querer que a verdadeira amizade mostra sua veracidade.

20. Terceiro, em função dos frutos da virtude; sob estes dois caracteres da verdadeira amizade, reponta um terceiro, a saber, os frutos da virtude; a verdadeira amizade frutifica em frutos virtuosos e em virtuosidade; na verdade, a verdadeira amizade não tem limite para o crescimento em virtudes, pois, a medida que um afia o outro, os verdadeiros amigos crescem em virtudes, passando a querer a mesma coisa e passando a não querer a mesma coisa; por isso, a partir dos frutos da virtude é que se demonstra a amizade que se define como o mesmo querer e o mesmo não querer; somente pessoas virtuosas entendem o mesmo querer e o mesmo não querer.

21. Com isso, se entende a sentença clássica da amizade como mesmo querer e o mesmo não querer; realmente, nesta sentença, se define de maneira bem prática o que é a amizade, bem como se compreende o porquê a verdadeira amizade só se encontra entre pessoas virtuosas; pois, a falta da virtude inclina a vontade para o querer coisas viciosas, ao passo que a virtude inclina a vontade para o querer coisas virtuosas; logo, a verdadeira amizade só existe e se desenvolve onde há virtude, de modo tal, que a partir da própria amizade, até mesmo a virtude se desenvolve e torna-se mais burilada.

Capítulo V: A amizade como uma forma de amor.

22. A amizade é uma virtude, porque a amizade é uma forma de amor; e, sabe-se que existem quatro formas de amor: o amor ágape, o amor de Deus, chamado de amor incondicional; o amor eros, o amor de um para com uma mulher e de uma mulher para com um homem, o amor romântico; o amor estorge, o amor para com a família, o amor fraternal; e o amor philia, o amor entre pessoas que compartilham um interesse ou vida comum, chamado de amizade. Esta é a descrição clássica fornecida por C. S. Lewis no clássico “Os Quatro Amores”.

23. O amor philia, a amizade, é o mais raro entre estes amores; e também um dos mais fortes, que chega até a superar o amor familiar (storge); por isso, a philia só existe sob a base da virtude (arete); como o próprio Lewis afirma, este tipo de amor só existe embasado, e embasado na virtude; e este tipo é o mais raro segundo Lewis justamente porque não tem os princípios das outras formas do amor: não é o amor incondicional, que é o amor divino; não é o amor da afeição familiar, pois, não tem laços sanguíneos; e não é o amor romântico, que tem o desejo físico-sexual por outrem; o amor philia, é o amor embasado unicamente na virtude e na busca do bem comum na partilha de um interesse ou vida em comum.

24. Por isso, este amor era tido, como o mais admirável; pois, segundo Lewis, o amor philia não olha o amado, tal como no amor eros, ou olha a família, tal como no amor storge, mas olhe embasado na virtude, pois, fora desta que surgira este amor. Logo, se entende o porquê Aristóteles afirmar que a amizade está como o bem maior que os homens podem alcançar; pois, é um amor que flexiona-se e impulsiona-se a partir da virtude e nos interesses comuns (o mesmo querer e o mesmo não querer); portanto, a amizade é a forma mais rara de amor, bem como é o maior dos bens que o ser humano pode encontrar nesta vida.

Capítulo VI: A importância da amizade.

25. Deste modo, se constata, a importância indiscutível da amizade; pois, além de ser uma forma de amor, o amor storge, e de ser um bem existencial preciosíssimo, a amizade é um elemento que ajuda a viver e a enxergar a própria beleza da vida; por isso, Aristóteles afirma que sem amigos ninguém escolheria viver, ainda que possuísse todos os outros bens (cf. Et. Nic. 1155a5-6); pois, a amizade ajuda a viver e ensina a viver, além do que, através da amizade, se consegue enxergar algumas belezas da vida, as quais, muitas das vezes, se não fosse pela amizade não seriam enxergadas e conhecidas adequadamente.

26. Portanto, se fala da importância da amizade de dois modos: primeiro, da importância para o indivíduo; segundo, da importância para a sociedade.

Primeiro, da importância para o indivíduo; a amizade é de suma importância para o indivíduo; na verdade, a amizade é parte do desenvolvimento do “eu”, é parte do desenvolvimento sóbrio e integrado da personalidade; a amizade é elemento imprescindível para a formação da personalidade e o desenvolvimento integrado da própria personalidade; por isso, a amizade é elemento importante da pessoalização do indivíduo, além do que, a amizade, ao indivíduo crescer e se desenvolver é elemento de aperfeiçoamento do caráter.

Segundo, da importância para a sociedade; se a amizade é importante para o indivíduo, então, também é importante para a sociedade; na verdade, a amizade, é elemento de edificação de uma sociedade; uma sociedade sóbria terá a verdadeira amizade como um de seus pilares, e uma de suas manifestações existenciais mais belas e sinceras; no entanto, uma sociedade adoecida, não terá a verdadeira amizade como uma de suas manifestações existenciais; e uma sociedade só é edificada nos valores realmente humanos, em conformidade com a amizade, uma nobre virtude que demonstra a qualidade de uma sociedade.

27. Com isso, se pode afirmar, tanto no sentido bíblico quanto no sentido filosófico, que a amizade é um dos bens da vida, porque é uma forma de amor e uma forma de amar e entender a beleza da vida; no sentido filosófico, a partir do Filósofo, ganha uma conotação de uma virtude singularíssima, que só é experienciadas entre aqueles que possuem virtude; e no sentido bíblico, é um preceito sapencial e que ensina, através da sabedoria prática do dia a dia, a viver de maneira adequada e honrada; além disso, o Senhor Jesus ensina sobre a amizade, sendo Ele mesmo o Amigo Verdadeiro; o Senhor Jesus, ensina a amizade como virtude e como ventura, que Ele mesmo encarnara em sua vida e ensinamentos; logo, tanto o Filósofo mesmo que de maneira falha e imperfeita, quanto o próprio Deus dão testemunho do valor e da importância da amizade; o Filósofo, na pura reflexão racional, se apercebeu da importância da amizade, e o próprio Deus revelou de maneira cristalina a adamantina a importância e o valor da amizade. A razão e a revelação estão em acordo sobre a importância e sobre o valor da amizade.

28. Termina aqui esta explicação sobre a amizade. Bendito seja Deus por todas as coisas. Amém.

06/05/2024

Sobre Esperar em Deus

A crença de que eu gosto mais, diz Deus, é a esperança”, Charles Péguy (1873-1914).


Prólogo.

1. “A nossa alma espera no Senhor; ele é o nosso auxílio e o nosso escudo. Pois nele se alegra o nosso coração, porquanto temos confiado no seu santo nome” (Sl 33.20-21); estas palavras do salmista, demonstram o verdadeiro significado do esperar em Deus; a esperança daquele que crê, está fincada sob bases sólidas, sob fundamentos imutáveis e imovíveis; portanto, aquele que crê, ao depositar sua confiança em Deus, também se fia a Ele em confiança naquilo que espera; como diz o Apóstolo, três coisas permanecem: a fé, a esperança e o amor (cf. 1Co 13.13); e, a esperança é o que ensina como colocar a intenção no devido fim; e esta esperança, também diz o Apóstolo, é uma esperança que não decepciona (cf. Rm 5.5).

2. Assim sendo, muitos empecilhos se colocam para aqueles que creem em relação a compreensão sobre a esperança; pois, uma falsa esperança, acaba por decepcionar e desfibrar; por isso, os demônio tentam enganar os homens com uma falsa esperança ou pervertendo o sentido da esperança bíblica; e com isso, muitos são enganados, e esperam o que não deveria esperar, e não esperam o que deveriam esperar; além disso, muitos invejosos, evocam a suposta necessidade de “esperar em Deus” para outrem, para confundi-los, e para desfibrá-los; sempre que há ênfase desmedida em “esperar em Deus”, ocorre o enfraquecimento espiritual, que os apóstatas e os falsos pastores se utilizam como instrumento para corromper o ímpeto e as diversas vocações que Deus outorga a Seu povo.

3. Portanto, se faz necessário entender o que significa esperar em Deus, tanto para um melhor proveito da vida cristã, quanto para se evitar enganos e engodos malignos; pois, na esperança fomos salvos (cf. Rm 8.26), e em esperança vivemos; pois, como dissera o salmista, ele é o nosso auxílio e o nosso escudo. Pois nele se alegra o nosso coração, porquanto temos confiado no seu santo nome; a esperança que não decepciona, alegra o coração na confiança no bendito nome do Senhor; é uma esperança que conforta o coração e dá vigor espiritual mesmo em meio as mais terríveis provações.

Capítulo I: As Escrituras e a esperança.

4. As Escrituras Sagradas fala em esperança; a Bíblia é o livro da esperança; a leitura da Palavra de Deus, germina esperança no coração; o Apóstolo afirma: “Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4); pela Escritura, aqueles que creem são enchidos de paciência e consolação, e assim, com o transbordar destas bênçãos, a esperança é acalentada no coração. E esta esperança, é que ensina a guiar a intenção ao devido fim; na verdade, esta esperança é infundida pelo Espírito Santo, e burilada pelo próprio Espírito, a fim de que pela consolação das Escrituras, onde o Espírito se apresenta como o Consolador (cf. Jo 14.16), e onde se é mostrado todo o resplendor da glória de Deus.

5. Assim sendo, a esperança é um tema bíblico fundamental; a esperança, a verdadeira esperança é tema revelacional, é assunto revelado; os homens naturais, conseguiram elucubrar sobre a esperança natural, nas coisas naturais, esperança essa que murcha e acaba; mas Deus, em Sua infinita bondade, outorgou aos homens o conhecimento da verdadeira esperança, a esperança que não decepciona (cf. Rm 5.5), a viva esperança (cf. 1Pe 1.3), a qual, ao ensinar aquele que crê a colocar sua intenção no devido fim, ensina o que é confiar em Deus, o que é esperar em Deus, bem como ensina a diferença entre a esperança que Deus revela, e infunde no coração como virtude teologal, e a esperança natural, nas coisas desta vida; a verdadeira esperança, a esperança da revelação, ensina a medida correta entre a esperança em relação as coisas de Deus e a esperança em relação as coisas naturais.

Capítulo II: O que significa esperar em Deus?

6. Deste modo, como a verdadeira esperança, a esperança infundida pelo Espírito como virtude teologal, ensina o equilíbrio entre o esperar as coisas naturais e o esperas das coisas espirituais, então, esta mesma esperança abaliza a compreensão sobre o que significa esperar em Deus; e esta é uma dúvida muito frequente, e, aliás, por ser efetivada como uma dúvida comum, se torna em elemento de manipulação, por homens vis e influenciados pela obra maligna; logo, ao se estabelecer a pergunta: “o que significa esperar em Deus?”, se pode evocar alguns princípios que respondem a esta proposição de maneira bíblica, sóbria e racional.

7. E são evocadas algumas pressuposições bíblicas sobre o que significa esperar em Deus:

i. Primeiro, esperar em Deus é esperar nEle e somente nEle, nas coisas que só Ele pode realizar (cf. Sl 42.11).

ii. Segundo, esperar em Deus e se animar neste esperar traz fortalecimento ao coração (cf. Sl 27.14).

iii. Terceiro, a esperança verdadeira é firmada em Deus e somente nEle, porque dEle vem a esperança (cf. Sl 62.5). A esperança que vem de Deus permanece viva e fundamentada nEle. Logo, esperar em Deus, é o esperar que firma-se em Deus e somente nEle.

iv. Quarto, a esperança demorada enfraquece o coração (cf. Pv 13.12); e a verdadeira esperança não é demorada, pois, a esperança demorada enfraquece o coração, enquanto que a esperança verdadeira fortalece o coração (cf. Sl 27.14). Logo, esperar em Deus, é o esperar que fortalece o coração e que não enfraquece o coração.

v. Quinto, a esperança verdadeira é viva e alegre (cf. 1Pe 1.3), e traz amor ao coração (cf. Rm 5.5). Logo, esperar em Deus, é o esperar que traz vida e alegria ao coração.

8. Com isso, se tem uma compreensão mais adequada e apurada sobre o que significa esperar em Deus; e estas pressuposições já se estabelecem contra várias invectivas malignas que são utilizadas para manipular e desesperançar as pessoas nas coisas concernentes a fé; logo, a partir da evocação destas pressuposições se compreende o que é esperar em Deus, e se compreende no que se deve esperar em Deus e no que não se deve esperar em Deus, uma simples distinção, mas que já soluciona muitos problemas existenciais que tem rondado a vida cristã nos últimos decênios, muitos dos quais, calcinados na manipulação diabólica engendrada nos enganos ensinados sobre o esperar em Deus.

Capítulo III: As mentiras inventadas sobre o esperar em Deus.

9. Deste modo, se observa que o Diabo, se utiliza da distorção da verdadeira esperança para enganar e para manipular; e, as mais das vezes, se utiliza dos falsos pastores para através destes, enganar e surrupiar os frutos da verdadeira esperança e para desfigurar as novas vocações que surgem com o ímpeto e a vivacidade da verdadeira esperança; portanto, os falsos pastores, falsos cristãos, falsos líderes religiosos, falsos influenciadores que se dizem cristãos, se utilizam da manipulação diabólica para desesperançar e enfraquecer o ímpeto verdadeiro e a vivacidade das vocações que Deus outorga para edificar Seu povo.

10. Com isso, se pode observar algumas classes de mentiras inventadas sobre o esperar em Deus; e estas mentiras inventadas sobre o esperar em Deus, que surgem tanto pela obra maligna quanto pela calcificação da inveja, se estabelecem em três aspectos: primeiro, em relação ao que se deve esperar; segundo, em relação a instituição da espera para manipular; terceiro, pela instituição da espera além do necessário como mote de “reeducação” diabólica.

Primeiro, em relação ao que se deve esperar; a primeira classe de mentiras inventadas sobre o esperar em Deus, é sobre o que se deve esperar, ou mais propriamente, em relação ao que não se deve esperar em Deus; pois, as Escrituras prescrevem algumas coisas que se deve esperar em Deus, e outras que não tem necessariamente a necessidade do se esperar em Deus, pois, Deus outorgou ao ser humano a liberdade necessária para escolher no que concerne as coisas da vida humana. Logo, se deve esperar em Deus naquilo que ele determina, e não se deve esperar naquilo que Ele não determina. A ordem das coisas naturais, que há um tempo determinado para todo propósito debaixo do céu (cf. Ec 3.1ss), não diz respeito a ordem das coisas espirituais.

11. Segundo, em relação a instituição da espera para manipular; a segunda classe de mentiras inventadas sobre o esperar em Deus, é em relação a instituição da espera para manipular; geralmente, se institui a “necessidade” de se esperar, para algum propósito nefasto ou diabólico, pois, se se faz esperar o que não se é para esperar, então, necessariamente, tanto aqueles que instituem este tipo de espera se tornam manipuladores, quanto aqueles que são açambarcados por este tipo de espera se tornam manipuláveis, até se tornarem nos “padrões” de comportamento de alguma seita; sempre, absolutamente sempre, que em relação aos assuntos eclesiásticos, se faz esperar no que não se é para esperar, é a demonstração de um qualificativo primordial de uma seita; são as seitas que se utilizam da instituição da espera para manipular; e são homens usados pelo Diabo que se utilizam da instituição da espera para manipular.

12. Terceiro, pela instituição da espera além do necessário como mote de “reeducação” diabólica; a terceira classe de mentiras inventadas sobre o esperar em Deus, é em relação a instituição da espera além do necessário como mote de “reeducação” diabólica; neste quesito se observa a influência do comunismo nos círculos eclesiásticos, pois, toda forma de “reeducação” forçada, ainda que de maneira inconsciente, é evidência da dominação comunista; mas, propriamente, a instituição da espera além do necessário, é para enfraquecer a força e o ímpeto, bem como para através deste enfraquecimento, se conseguir minar e controlar aquilo que se estabelece contra um sistema de ações pré-estabelecidos. A instituição da espera além do necessário, é fruto da implementação de um sistema anti-bíblico e diabólico, que se engendra nas Igrejas, tornando estas, expressão de tudo de ruim que provêm do enfraquecimento da esperança e da consequência destas ações, a saber, a calcificação da inveja - e onde há inveja há todo tipo de obra maligna (cf. Tg 3.16).

Capítulo IV: A esperança que não decepciona.

13. Deste modo, ao se verificar as mentiras inventadas sobre o esperar em Deus, se faz necessário se reafirmar o caractere sempre significativo da verdadeira esperança, que segundo Apóstolo, é a esperança que não decepciona (cf. Rm 5.5); portanto, em contrapartida as mentiras inventadas sobre o esperar em Deus, se evoca a bendita proposição da verdadeira esperança, a qual, ao ser efetivada, se demonstra como um verdadeiro fanal que ensina onde e como se deve ordenar a intenção para o devido fim, o qual, não decepciona, como ocorre de quando das mentiras inventadas sobre o esperar em Deus.

14. Com isso, a verdadeira esperança traz imbuída três coisas: primeiro, a compreensão sobre em quem se deve esperar; segundo, o entendimento sobre como se deve ordenar a intenção ao devido fim; terceiro, a compreensão sobre como se deve viver em esperança.

Primeiro, a compreensão sobre em quem se deve esperar; o objeto primordial da esperança é o próprio Deus, a fonte da esperança (cf. Sl 62.5); nEle, e somente nEle, é que se deve esperar; não em homens, não em coisas, mas em Deus; pois, a esperança que se firma em coisas corruptíveis, tende a ruir e a se corromper; logo, a esperança que se firma em Deus, se firma no Eterno, e em quem não há mudança e nem sombra de variação (cf. Tg 1.17); logo, a esperança que se firma em Deus, é uma esperança firme, tal qual âncora, que o autor aos Hebreus justamente se utiliza como figura de comparação para explicar e evidenciar esta verdadeira esperança, a esperança firmada em Deus e no que Ele diz em Sua Palavra; esta esperança, é a âncora da alma, segura e firme, que penetra até ao interior do céu (cf. Hb 6.18-19); a verdadeira esperança traz firmeza e segurança à alma.

15. Segundo, o entendimento sobre como se deve ordenar ao devido fim; a verdadeira esperança ensina como se deve ordenar ao devido fim; pois, como a verdadeira esperança é a âncora da alma, segura e firme, que traz firmeza e segurança à alma, então, esta esperança, também traz o entendimento sobre como e de que modo se deve ordenar ao devido fim, isto é, a maneira correta pela qual se deve ordenar em relação ao devido fim, a saber, pela vida virtuosa; e, saber se ordenar ao devido fim, é o fortalece o coração e fortifica a alma, nas coisas que são necessárias para o fortalecimento e a fortificação; pois, mesmo uma âncora, símbolo de firmeza e ancoradouro, tem de ser utilizada corretamente, já que uma âncora utilizada de maneira errada não cumpre seu propósito; logo, a verdadeira esperança, tal qual âncora, tem de ser ordenada ao devido fim, da maneira correta e de acordo com a firmeza da fé em Deus e na comunhão com Ele.

16. Terceiro, a compreensão sobre como se deve viver em esperança; o entendimento sobre como se deve ordenar ao devido fim, ensina a como se deve viver em esperança; a ordenação ao devido fim, ensina a como viver de acordo com este fim; a verdadeira esperança, ensina a viver em esperança, mesmo quando necessário se ter esperança contra a esperança natural, como ocorreu como Abraão (cf. Rm 4.18); portanto, a compreensão sobre como se deve viver em esperança, se deve ao fato de que, a esperança ensina sobre o devido fim e a como viver de acordo com a própria natureza da esperança; e a vida só é vivida em esperança; a esperança é viva (cf. 1Pe 1.3), e por isso, só é experienciada a medida que se a vive, com ânimo e alegria; a vida em esperança, mesmo em meio as provações e vicissitudes, é uma vida em alegria e confiança (cf. 1Pe 1.6).

17. E a verdadeira esperança é uma esperança paciente, e uma paciência esperançosa; todavia, a paciência verdadeira, é a paciência que se confirma e se estabelece como a paz e a confiança no Senhor mesmo em momentos difíceis; isto, é o que significa esperar em Deus, e não as manipulações vis que se ensinam sobre a paciência, para desesperançar; logo, a verdadeira esperança ensina sobre e como se espera em Deus, bem como ensina sobre a verdadeira paciência, que de igual modo, é uma paciência que não decepciona, pois, é uma paciência que se firma em Deus e confia nEle diante das vicissitudes, e é isso que todas as vezes ensina as Escrituras sobre o esperar em Deus e sobre a verdadeira paciência. Certamente, por isso, Péguy afirmara: “A crença de que eu gosto mais, diz Deus, é a esperança”.

18. Termina aqui esta breve explicação sobre o que significa esperar em Deus. Bendito seja Deus por todas as coisas. Amém. 


Explicação do “Epigrama sobre Hegel” de Karl Marx

Proêmio   O “ Epigrama II ” ou “ Epigrama sobre Hegel ” (1837) [1] é um texto fundamental da filosofia marxiana, e é um dos textos mais...