Prefácio.
A
compreensão sobre a teologia de Schleiermacher constitui um desafio assaz
dificultoso para a teologia hodierna; pois, além da teologia da Schleiermacher
está envolta em tantas mentiras e imbecilidades propagadas pelos seus invejosos
adversários, se tem a grande dificuldade de se entender o programa teológico de
Schleiermacher e os aspectos de sua teologia, tanto pelas ínvias e obscuras
categorias racionais utilizadas por Schleiermacher, quanto pela profundidade e
agudeza de argumentação; para começar a sanar estas dificuldades, alguns breves
escritos vem sido apresentados, e aos poucos se consegue adentrar ao estudo e a
compreensão de Schleiermacher; e eis mais um escrito neste mesmo propósito, a
saber, apresentar aspectos sobre a teologia de Schleiermacher.
Este
escrito procura apresentar uma reflexão geral sobre a teologia de
Schleiermacher a partir da consideração e da apresentação de suas principais
obras acadêmicas; pois, mesmo que não seja o aspecto central da teologia de
Schleiermacher, é a melhor forma de se adentrar ao pensamento de
Schleiermacher; embora tenha mais dificuldade neste quesito, é a metodologia
mais eficaz, pois assim sana-se as dificuldades de compreensão sobre o
propósito e a tarefa da teologia de Schleiermacher, e, com isso, se consegue
adentrar com mais segurança ao aspecto central da teologia de Schleiermacher, e
assim também se consegue adentrar a compreensão sobre a filosofia de
Schleiermacher[1].
Portanto, iniciar pela apresentação (neste escrito), e em seguida, a análise
mais específica, das obras acadêmicas de Schleiermacher (em outros escritos), e
depois sobre suas preleções na Universidade, é a maneira mais adequada de se
compreender a teologia de Schleiermacher.
Por
isso, ao se apresentar este escrito, se procura compreender Schleiermacher da
melhor maneira possível, indo além dos antigos intérpretes, e sublimando as
sempre significativas perspectivas de Barth, sem o qual não seria possível
interpretar Schleiermacher de maneira adequada; a partir do velho Barth, se
pode começar a entender Schleiermacher de maneira correta; amparado nos ombros
de Barth, podemos ver além e conhecer Schleiermacher como ele realmente é, e
não a partir de seus invejosos críticos e das empulhas filosóficas que provêm
de Hegel e do hegelianismo, que sempre atrapalharam e vituperaram o pensamento
de Schleiermacher.
Assim
sendo, se apresenta a teologia de Schleiermacher, de um modo geral,
demonstrando os principais aspectos a serem compreendidos para o entendimento
da teologia de Schleiermacher, bem como analisando um destes aspectos, o de
Schleiermacher como teólogo acadêmico a partir de suas publicações mais
importantes; com isso, se estabelece um parâmetro básico para o entendimento da
teologia de Schleiermacher, a saber, o da teologia de Schleiermacher como
pregador e pastor (que será apresentado e analisado em outros escritos) e o da
teologia de Schleiermacher como teólogo acadêmico em suas publicações e
preleções na Universidade (que será apresentado neste escrito de forma geral, e
analisado de maneira mais específica em outros escritos).
Portanto,
por ser uma apresentação, é um escrito sintético, mas assaz necessário para a
compreensão dos temas e das proposições referentes a estas obras, que através
desta simples apresentação já se consegue obter vários insights e perspectivas,
as quais são imprescindíveis para o entendimento da teologia de Schleiermacher.
Soli Deo Gloria!
In Nomine Iesus!
02 de março de 2024.
I. A
Análise da Teologia de Schleiermacher.
1. A
vida e obra de Schleiermacher exerce um fascínio; evidentemente, àqueles que
não estão encharcados com as críticas invejosas e maledicentes que rondam seu
nome de maneira assombrosa nos últimos duzentos anos; geralmente, se atribui a
Schleiermacher ser o pai da teologia liberal, arauto da teologia romântica e
outros epítetos errôneos, que continuam a ser propagados por muitos imbecis, e
pasme-se mesmo por muitos teólogos com boa formação acadêmica; no entanto,
estes muitos críticos e estas muitas críticas que continuam a ser propagadas
são totalmente errôneas; pois, certamente, aquele que melhor compreendeu
Schleiermacher fora Karl Barth, muito embora, tenha sido Barth um dos que mais
tenha tentado ridicularizar a Schleiermacher; atitude controversa, mas que
demonstra uma coisa: se Barth, o maior teólogo do séc. XX, e um dos maiores de
todos os tempos, teve a dificuldade de lutar a vida toda com a teologia de
Schleiermacher, e em muitos aspectos tentou ridicularizar a Schleiermacher, mas
também foi justo e sincero com a obra de Schleiermacher, isso é sinal da
grandeza e da genialidade de Schleiermacher. Pois, ninguém tenta ridicularizar
sem motivos e provas quem é imbecil, mas, pelo contrário, os imbecis, sem
motivos e provas, tentam ridicularizar aqueles que possuem alguma grandeza.
Portanto,
elucubrar e procurar entender Schleiermacher sem as críticas invejosas e sem se
deixar levar pelos críticos imbecis que o rondaram nestes últimos duzentos
anos, é tarefa preponderante e assaz necessária; na verdade, uma tarefa que se constitui
de imperativo para a teologia contemporânea.
2. Na
verdade, o verdadeiro progresso e desenvolvimento para a teologia pós
Schleiermacher ainda não veio de maneira adequada, porque o encargo da reflexão
teológica ainda não teve o verdadeiro respeito pelo pai da teologia moderna;
enquanto imbecilidades sobre Schleiermacher continuarem a ser propagadas, tais
como: Schleiermacher é o pai da teologia liberal, Schleiermacher é a primeira
teóloga (a expressão é de Barth!), Schleiermacher é um herege, além das
interpretações desvairadas e distorcidas sobre o pensamento de Schleiermacher
tanto sobre sua teologia quanto sobre sua filosofia, etc., a teologia moderna
não crescerá e não se desenvolverá; por isso, é necessário empreender uma
análise mais justa e mais precisa sobre a teologia de Schleiermacher; algo que
não é fácil de se fazer; pois, adentrar em todo o amplo aspecto do pensamento
de Schleiermacher, é algo de ínvia dificuldade, já que para se compreendê-lo é
necessário ter um amplo conhecimento sobre a filosofia de sua época e as razões
do porquê Schleiermacher talhou certas proposições, que ao se olhá-las e tentar
compreendê-las com as lentes teoréticas do séc. XXI, chegam a desconcertar;
mas, para compreender Schleiermacher é necessário entender seu contexto e suas
lutas, bem como o propósito de suas atividades e de seus labores.
3.
Assim sendo, se estabelece alguns pressupostos para compreender Schleiermacher[2]; no passado, Barth, em
seus cursos e preleções na Universidade, estabeleceu alguns axiomas para
compreender Schleiermacher; e, alguns destes são bem justos e interessantes; e,
elenca-se os três primeiros destes pressupostos que Barth apresenta: “[1]
Toda pessoa que pensa tem um objetivo. [2] Exigimos de uma pessoa que pensa
muito: (a) que o objetivo do seu pensamento possa ser claramente formulado; (b)
que o caminho para atingir este objetivo é tão bem pensado que continua a
cativar-nos mesmo quando consideramos o objetivo absurdo; (c) que o caminho bem
pensado tenha sido trilhado de forma tão consistente que nos arranca a
admiração, ou melhor, a iluminação intelectual que só um caminho bem percorrido
nos pode arrancar. [3] Schleiermacher, em todos os sentidos, foi um grande
pensador; e o maior pensador de todos os tempos (ao lado de Hegel) na teologia
dos últimos quatro séculos”[3]. E, estes princípios
elencados por Barth, estes axiomas, são sempre necessários, pois, são justos,
honestos e sinceros; realmente Schleiermacher se enquadra nestas descrições;
ainda que, ao se conhecer Schleiermacher, se percebe que estes três pressupostos
elencados por Barth estão incompletos e são fragmentários, mas para a época em
que Barth os apresentou foram um avanço imenso na interpretação de
Schleiermacher. E Barth procurou honrar Schleiermacher de acordo com seus
labores e feitos; e nisso, Barth procurou ser justo com Schleiermacher, ao
identificá-lo como um grande pensador.
Pois, Schleiermacher, em todos os sentidos, na
filosofia, na teologia, nas disciplinas a que se dedicou e refletiu em suas
magistrais preleções, foi um grande pensador; isso Barth acertadamente
declarou; embora se possa considerar, do ponto de vista da contemporaneidade
alguns pressupostos de Schleiermacher um absurdo, ao se compreender seu
contexto e sua época, se percebe que eram pressupostos corretíssimos e
extremamente eficazes para demonstrar o cristianismo como religião, e como a
religião verdadeira, que influencia a cultura e a vida humana de maneira
salutar e frutífera. Portanto, como Barth dissera em sua época, Schleiermacher
é o maior pensador dos tempos modernos (ao lado de Hegel), e o maior nome da
teologia nos últimos quatro séculos.
4.
Deste modo, Schleiermacher, que fora pastor, pregador, professor, capelão,
teólogo, filósofo, etc., tem seu pensamento como uma das obras máximas que o
gênio humano já produziu; Schleiermacher podia, em sua obra e pensamento,
conversar de igual para igual com Goethe, Hegel, Schelling, e outros; todavia,
compreender este pensamento é uma tarefa de extrema dificuldade; pois,
Schleiermacher foi pastor, teólogo, filósofo; e ao mesmo tempo os três, embora
em cada atividade que exerceu, soubera adequar o que era necessário ao ambiente
e ao seu público; todavia, são indissolúveis em Schleiermacher, o pastor, o
pregador, o pastor-teólogo, o teólogo-pastor, e o filósofo; com isso, para se
compreender Schleiermacher é necessário fazer algumas distinções, conquanto
estas distinções possam “desfigurar” um pouco o pensamento de Schleiermacher, é
a maneira mais simples de se fazer uma aproximação, uma apresentação do
pensamento de Schleiermacher, para compreendê-lo e entender sua obra e
pensamento.
5. A
primeira destas distinções, é sobre o Schleiermacher como teólogo e o
Schleiermacher como filósofo; evidentemente, não se vai analisar aqui o
Schleiermacher como filósofo; mas, aproveita-se o ensejo para afirmar que as
preleções filosóficas de Schleiermacher são um conjunto magistral de
observações filosóficas que resolvem inúmeros problemas filosóficos de sua
época, e que são muito mais salutares do que o sistema da ciência de Hegel, e
da mesma grandeza que as reflexões de Schelling na mesma época; em suas
preleções filosóficas, Schleiermacher pode ser reconhecido, de maneira justa e
honrada, como um dos maiores filósofos da história; e é uma tarefa de extrema
necessidade se compreender a filosofia de Schleiermacher. Todavia, o que
interessa nesta invectiva é a teologia de Schleiermacher; e, para a compreensão
da teologia de Schleiermacher algumas outras distinções são necessárias.
6. A
obra e as atividades de Schleiermacher como teólogo, é o que o fazem ser o
maior teólogo dos últimos quatrocentos anos, e o que o faz estar em pé de
igualdade com Lutero e Calvino; como Barth assevera: “podemos apenas
acreditar que Schleiermacher também foi um teólogo cristão; isso, repito, é
algo que ele tem em comum com Lutero e Calvino (para que não seja esquecido!),
e, no plano inferior, com todos nós”[4]. Portanto, Schleiermacher,
em primeiro lugar, em relação ao protestantismo, pode e deve ser comparado com
Lutero e Calvino; e, em segundo lugar, num plano mais inferior, segundo Barth,
com “todos nós”, os outros teólogos; isso é sinal da grandeza de
Schleiermacher; pois, o próprio Barth, que não tinha a modéstia como uma de
suas maiores virtudes - algo que o próprio Barth assevera -, se coloca num
plano inferior em relação a Schleiermacher. E isso, também é evidência da
grandeza de Schleiermacher.
7.
Assim sendo, a teologia de Schleiermacher pode ser entendida de dois modos:
primeiro, em sua atividade como pastor e pregador, o verdadeiro encargo da
teologia de Schleiermacher, e onde verdadeiramente está toda a grandeza e a
fulgor de sua teologia; segundo, em sua atividade acadêmica, que se subdivide
em dois aspectos: nas obras acadêmicas publicadas e que foram extremamente
importantes em sua época, e nas preleções teológicas na Universidade.
O
primeiro modo, requer uma análise muito maior, muito mais extensa, devido as
centenas e centenas de sermões pregados por Schleiermacher (mais de 3.000
sermões), tarefa essa que ele desempenhou semanalmente, por anos a fio, década
após década, de maneira fervorosa e bíblica - e, lembre-se aqui, que
Schleiermacher era moraviano, e seus sermões e orações nos cultos, refletem
totalmente este aspecto. E, este modo, requereria um tratado muito mais
extenso; no entanto, um princípio estabelecido por Barth pode contribuir para
uma análise introdutória da teologia de Schleiermacher como pastor-teólogo, a
saber, os sermões festivos, os sermões de Páscoa, de Natal, etc.; mesmo assim,
a análise requeria um substancioso livro, que não é o propósito desta invectiva.
Aliás, em relação a isso, indica-se o livro de Karl Barth, “Die Theologie
Schleiermacher’s” (The Theology de Schleiermacher), principalmente a
primeira parte (cap. 1, § 1 e § 2), que trabalha a obra de Schleiermacher como
pregador a partir dos sermões festivos de maneira magistral.
8.
Portanto, resta-nos analisar o segundo modo da teologia de Schleiermacher, a
saber, sua teologia a partir de sua atividade acadêmica, tanto em suas obras
publicadas, quanto em suas preleções; primeiro, evidentemente, a partir de suas
obras publicadas; depois, a partir de suas preleções teológicas; estes aspectos
aos poucos vão sendo elencados em outras obras (livros e ensaios); no entanto,
é necessário se considerar alguns aspectos sobre as obras acadêmicas de
Schleiermacher; pois, as obras acadêmicas de Schleiermacher, pelo menos as
obras que exerceram uma influência significativa ao serem publicadas, e que se
tornaram clássicos na época, são poucas; na verdade, são cinco grandes obras.
Logo, se deve, em primeiro lugar, compreender a teologia de Schleiermacher a
partir de sua atividade acadêmica, em suas publicações mais importantes,
depois, em suas preleções[5].
9. E a teologia de Schleiermacher como teólogo acadêmico se desenvolve em suas publicações e preleções; e afirme-se de maneira contundente, que é uma atividade que não pode ser dissociada de sua obra como pastor e pregador, e nem podem ser analisadas em se conhecer sua piedade fervorosa; todavia, em sua obra acadêmica, Schleiermacher utiliza-se do rigor científico, e vai além da simples e fervorosa piedade moraviana, para subir aos cumes do pensamento científico e teológico, em erudição, profundidade de análise e agudeza de pensamento; pois, estas cinco obras a serem analisadas demonstram um aspecto interessante, que pouco fora comentado, e que passara despercebido pelos estudiosos, a saber, estas obras são complementares, uma complementa a outra, para formar um todo de uma teologia acadêmica a ser utilizada nas Universidades e que visavam liberar a teologia como ciência da neologia; logo, há uma complementariedade nestas obras, que se consuma no propósito da teologia acadêmica a ser utilizada nas universidades, que somada as preleções, perfazem o aspecto central das disciplinas teológicas a serem dispostas num “curriculum” da ciência teológica.
II. As
Obras Acadêmicas de Schleiermacher.
10.
Deste modo, em relação a Schleiermacher como teólogo acadêmico, se deve
analisar suas cinco principais e mais importantes publicações, as quais são:
primeiro, os “Reden” (1799), os discursos sobre a religião; segundo, os “Monologen”
(1800), os monólogos; terceiro, “Die Weihnachtsfeier” (1806), a festa de
natal, um diálogo sobre a encarnação; quarto, a “Kurze Darstellung des
theologischen Studiums” (1811; 2ª ed.: 1830), a breve introdução ao estudo
da teologia; quinto, o “Glaubenslehre” (1821; 2ª ed.: 1831), a doutrina
da fé, a exposição da fé cristã.
Estes
escritos se complementam, num todo sistêmico, cada qual com seu propósito
específico, mas também como um propósito mais englobante no programa teológico
de Schleiermacher; não são o aspecto mais importante da teologia de
Schleiermacher, mas são significativos complementos ao verdadeiro encargo da
teologia de Schleiermacher, a saber, os sermões; além disso, as publicações
acadêmicas são um programa teológico significativo de apologia da religião e da
fé cristã de acordo com o contexto de sua época, bem como de estruturação da
enciclopédia teológica a partir de princípios racionais e com o rigor
científico das disciplinas acadêmicas. Portanto, se faz necessário analisar
estas obras, para se compreender parte da atividade e dos labores de
Schleiermacher como teólogo acadêmico.
11. A
primeira obra de Schleiermacher como teólogo acadêmico, fora os “Reden”,
os discursos sobre a religião, publicado em 1799; é a obra que inicia a
teologia moderna (e que também é um marco na passagem da filosofia moderna para
a filosofia contemporânea); esta obra, quase que um “misto” de filosofia e
teologia, mas que pode ser descrita de maneira acertada como uma obra de
filosofia com o propósito teológico; os discursos sobre a religião são uma
magistral combinação de retórica, filosofia e profundidade de análise, com
vista a um propósito teológico; e isto, Schleiermacher fizera de forma
magistral; embora, se tenha inúmeras críticas teológicas aos “Reden”,
estas são forjadas justamente porque não se entende o formato e os princípios
metodológicos do que realmente são os “Reden”; ao se entender que é uma
obra filosófica, com o intuito evocar novamente a importância da religião
diante da alta-cultura, se percebe que é uma obra magistral, e se compreende o
propósito teológico de tal evocação, como depois se mostrará mais evidente em
outras obras de Schleiermacher.
Pois,
há uma estreita conexão entre o propósito estabelecido nos “Reden” e os
princípios delineados na introdução do “Glaubenslehre”; o que
Schleiermacher faz de forma geral nos “Reden” e em outras obras, ele faz
de maneira mais específica, sob os princípios da teologia dogmática, na
introdução do “Glaubenslehre”; Barth assevera: “Os parágrafos 1-31 da
Doutrina da Fé são escritos precisamente no mesmo sentido do trabalho teológico
de sua juventude, o Discurso sobre a Religião”[6]; portanto, o que
Schleiermacher estabelece como uma resposta ao iluminismo e uma resposta geral
ao princípio da crítica da religião da neologia, através dos “Reden”, é
reformulado com mais precisão teológica e dogmática, com a virtuose do mestre
da estrutura dogmática, na introdução do “Glaubenslehre”. O princípio
geral e filosófico na defesa da religião nos “Reden”, é burilado como um
princípio teológico mais específico na introdução da dogmática de
Schleiermacher. Por isso, os “Reden”, são ao mesmo tempo uma obra
filosófica e teológica: uma obra filosófica e retórica como um propósito
teológico.
12. A
segunda obra de Schleiermacher como teólogo acadêmico, fora os “Monologen”,
os monólogos, publicado em 1800; enquanto nos “Reden” Schleiermacher
trabalha os princípios tal de uma defesa da religião, nos “Monologen”,
Schleiermacher trabalha os princípios da compreensão da autoconsciência da
liberdade que o indivíduo deve ter diante de Deus, de si mesmo e da
sociedade; nos monólogos, Schleiermacher deixa a retórica dos discursos, para
evocar uma reflexão e uma meditação sobre a condição humana, a partir dos
princípios idealistas, do homem como ser pensante e capaz de conduzir-se neste
mundo; todavia, Schleiermacher apresenta uma modificação em relação ao
pensamento idealista reinante, a partir da proposição da liberdade do indivíduo;
pois, o ser humano só encontra auto-determinação para viver a partir da
consciência da liberdade.
Assim
sendo, os monólogos, complementam a proposição inicial estabelecida nos “Reden”,
da apologia da religião a fim de se evitar duas coisas, como o próprio
Schleiermacher assevera[7]: a pedantice (a soberba em
querer que se colocar como “deus” ou como um demiurgo) e a uniteralidade (a
tentativa de subjugar ou colocar sob si todo o pensamento teórico ou de ser o
ponto arquimédico da realidade [que diga-se de passagem, é o que Hegel
procurara fazer]); pois, somente com a consciência que o indivíduo tem da
liberdade, a partir da apologia da religião, é que se pode verdadeiramente
evitar a pedantice e a uniteralidade, pois, como afirma Schleiermacher a
religião é a inimiga jurada de toda pedantice e de toda uniteralidade; pois,
tanto a pedantice quanto a uniteralidade acabam por aprisionar a liberdade do
indivíduo e castrar o desenvolvimento humano racional e sóbrio; e, somente a
evocação da religião, como elemento imprescindível e inegável da vida humana, é
que se pode evitar tanto a pedantice quanto a uniteralidade, bem como pela
consciência consciente do indivíduo da liberdade que lhe é inerente e que o
exercício pleno desta liberdade é parte preponderante de sua dignidade como ser
humano.
13. A
terceira obra de Schleiermacher como teólogo acadêmico fora o “Die
Weihnachtsfeier”, um diálogo sobre a festa de natal, um diálogo sobre a
encarnação, publicado em 1806; este escrito, sob o fulgor da filosofia
platônica, tal como os grandes diálogos de Platão, estabelece uma reflexão sob
um ponto teológico fundamental, a encarnação; enquanto em outras obras
anteriores, Schleiermacher faz uma defesa da religião (Reden) e da
liberdade do indivíduo (Monologen), neste diálogo Schleiermacher traça
os princípios básicos do porque a religião deve ser valorada a partir dos
princípios que estabeleceu (totalmente corretos), e do porque a liberdade do
indivíduo também deve ser valorada, a saber, por causa do verdadeiro humanismo;
goste-se ou não, no diálogo sobre a encarnação, Schleiermacher estabelece o
encargo do humanismo, a saber, pelo fato de que Deus se tornou homem. É isto
que reflete o natal, em seu principal aspecto, a saber, que o Verbo se fez
carne (cf. Jo 1.14).
Portanto,
no diálogo sobre o natal Schleiermacher complementa e completa a invectiva que
trabalhara nos “Reden” e nos “Monologen”; e com isso se
estabelece um tríplice aspecto, a saber: primeiro, a teologia religiosa, a
apologia da religião; segundo, a reflexão sobre a liberdade, a apologia da
liberdade do indivíduo, pela autoconsciência desta liberdade; terceiro, a
reflexão sobre a encarnação, o fundamento cristão para se falar da religião e
da liberdade. Por isso, afirme-se de maneira contundente, que o diálogo sobre o
natal é uma obra genial de Schleiermacher, porque adentra aos terrenos de um
tópico teológico fundamental, e o faz sob os princípios metodológicos da mais
bela e efusiva forma literária já feita pelos homens, o diálogo, e diálogo sob
o princípio do conteúdo e da forma platônica. E isto, faz com esta obra se
revista de beleza literária e de fulgor de conteúdo, bem como fazem uma obra
simples de ser lida, difícil de ser compreendida em sua inteireza e uma obra
profundíssima pelo tema que reflete e em relação a sua interpretação como um
todo. Por isso, diga-se de passagem, uma obra notadamente schleiermachiana.
14. A
quarta obra de Schleiermacher como teólogo acadêmico, fora a “Kurze
Darstellung des theologischen Studiums”, a breve introdução ao estudo
teológico, publicado em 1811 (2ª ed.: 1830); nesta obra, uma espécie de manual
sobre o estudo teológico a ser utilizado na Universidade, Schleiermacher
apresenta as linhas gerais do estudo teológico a partir de três grandes
princípios; estes princípios acoplam toda a ampla gama das disciplinas
teológicas fundamentais; o primeiro aspecto, é a teologia filosófica; o segundo
aspecto é a teologia histórica; o terceiro aspecto é a teologia prática. Nestes
três aspectos, e a partir destes três aspectos, Schleiermacher reestabelece
toda a ampla gama de princípios para o estudo teológico a serem empregados em
todas as faculdades de teologia de sua época[8].
Esta
obra, embora tenha ficado esquecida, foi um marco em relação aos estudos
teológicos em sua época; pois, Schleiermacher abalizara o estudo teológico, e o
estabelecera a partir do rigor das disciplinas acadêmicas; por isso, esta obra
se tornou o manual básico a ser comentado no âmbito do ensino das disciplinas
teológicas na Universidade, e que funciona como o “curriculum” básico de
todo o estudo teológico; tanto que, após a morte de Schleiermacher, os grandes
teólogos posteriores, mesmo os que seguiram nos “liberalismos teológicos”
subsequentes, estabeleceram-se como grandes mestres de uma destas três linhas
do estudo teológico elaborado por Schleiermacher; certamente, o único grande
teólogo a se estabelecer nestas três grandes áreas fora Ritschl, que refletiu
sob aspectos da teologia prática, e que fora mestre da teologia histórica e
mestre da teologia filosófica; já Harnack fora o mestre da teologia histórica,
e diga-se, o mestre por excelência da teologia histórica; e Tillich fora o
mestre da teologia filosófica; etc. Portanto, Schleiermacher estabeleceu os
parâmetros básicos do estudo teológico, do estudo da teologia como ciência, e
isso influenciou todas as gerações de teólogos posteriores, e ainda continua a
imperar, de maneira diversa, sob a alta-cultura teológica.
15. A
quinta obra de Schleiermacher como teólogo acadêmico, fora “Der Christliche
Glaube”, a doutrina da fé, a exposição da fé cristã de acordo com os
princípios da Igreja Evangélica, publicado em 1821 (2ª ed.: 1831), ou como é
popularmente chamado, “Glaubenslehre”; este escrito, a dogmática de
Schleiermacher, foi o tratado sistemático mais influente e que mais causou
debates deste o “Institutio Christianae Religionis” (1536) de Calvino; é
a summae de Schleiermacher; e uma obra densa, difícil, e afirme-se que é
obra de gênio; nesta dogmática, Schleiermacher consegue, ao mesmo tempo
edificar a análise dogmática sob quatro pilares, estabelecer a estrutura da
dogmática, e ainda fazer uma apologia da fé cristã frente aos ataques de seu
tempo e de acordo com as necessidades de sua época. Mas, tenha-se em mente, que
não é um tratado sistemático comum, como o “Institutio” de Calvino ou
como o “Loci” de Melanchthon, ou ainda, uma grande dogmática como a “Kirchliche
Dogmatik” de Barth; o “Glaubenslehre”, é uma summae apologética;
é uma obra dogmática para a apresentação e a defesa da fé.
Deste
modo, o “Glaubenslehre”, é um tratado sistemático como propósito
quadrilátero, tal como o próprio Schleiermacher delineia na introdução; a
dogmática de Schleiermacher se estabelece, portanto, a partir de quatro grande
princípios metodológicos, os quais são: (i) a concepção de Igreja (ética); (ii)
as diversidades das comunhões religiosas (filosofia da religião); (iii) a
apresentação do cristianismo em sua essência em particular (apologética); (iv)
a relação da teologia dogmática com a piedade (os princípios subjetivos na
análise dogmática)[9].
Estes quatro grande princípios se inter-relacionam em todo o “Glaubenslehre”
de maneira concêntrica, na explicação da doutrina cristã de acordo os
princípios subjetivos da análise dogmática (da análise da piedade cristã para a
expressão objetiva da doutrina, enquanto que os princípios objetivos da análise
dogmática parte da expressão objetiva da doutrina para a expressão da piedade
cristã, como Calvino faz no “Institutio”), donde, Schleiermacher, nesta
mudança metodológica, ainda a realizar de maneira genial, acoplando e
relacionando ética, filosofia da religião, apologética e a piedade como
expressão da doutrina cristã, e isto tudo, em algumas proposições de maneira
conjunta numa síntese precisa e cirúrgica.
Esta
invectiva de Schleiermacher resolveu, em sua época, os problemas centrais que
estavam assolando a Igreja, desde o distanciamento da vida que agrada a Deus
(por isso, Schleiermacher apresenta as proposições tomadas da ética), aos
ataques filosóficos de Hegel, dos hegelianos e de outros idealistas (por isso,
Schleiermacher apresenta as proposições tomadas da filosofia da religião), aos
ataques dos desprezadores e escarnecedores da religião tanto em relação aos
descrentes quanto em relação aos “cristãos” influenciados pela neologia (por
isso, Schleiermacher apresenta as proposições tomadas da apologética), e ao
distanciamento da verdadeira piedade (por isso, Schleiermacher apresenta as
proposições da teologia dogmática a partir da piedade).
16. A
compreensão sobre estas cinco obras são parte de um dos aspectos para
compreender a teologia de Schleiermacher; particularmente, sua obra como
teólogo acadêmico; o outro aspecto, são suas preleções; mas, estas obras
elencadas acima dão um norte, e podem servir como uma espécie de introdução à
teologia de Schleiermacher; evidentemente, estas obras, ao serem olhadas com as
lentes do séc. XXI, parecem heréticas e chegam a desconcertar; todavia, ao se
compreender o contexto em que foram escritas e o propósito para que foram
escritas, e compreender as categorias romântico-idealistas pelas quais são
escritas, se pode compreender a profundidade, fidelidade, importância e
genialidade destas obras.
E
justamente estas obras servem como uma introdução à teologia de Schleiermacher,
em relação a sua atividade como teólogo acadêmico; pois, o centro da teologia
de Schleiermacher, o aspecto mais importante da teologia de Schleiermacher,
como fora afirmado e reafirmado, são os sermões, e a atividade acadêmica, nas
publicações e nas preleções, são uma forma de apresentar, no âmbito acadêmico e
sob o rigor das disciplinas acadêmicas, e com o contexto da época, aquilo que
Schleiermacher fizera através dos sermões; evidentemente, um tratado acadêmico
não é um sermão; mas, a partir de sua atividade querigmática, Schleiermacher conseguira
desenvolver os princípios que também aplicou de maneira singular em seus
labores como teólogo acadêmico, e também como filósofo. Portanto, compreender
estas obras, como uma espécie de apêndice à teologia de Schleiermacher, é um
modo de se introduzir à sua teologia; todavia, isto requer um cuidado para que
não se deixe enveredar pelo mesmo caminho das críticas invejosas que rondaram
sua obra no decorrer dos tempos.
17.
Com isso, ao se afirmar a proposição de que estas obras servem de introdução à
teologia de Schleiermacher, se afirma de maneira contundente os aspectos
centrais do pensamento de Schleiermacher; pois, tanto em sua filosofia quanto
em sua teologia, Schleiermacher procurou honrar e servir a Palavra, a Cristo[10]; logo, em seus labores,
pelos instrumentos que possuía, pode honrar a Cristo em todas as esferas do
pensamento teórico, e nas disciplinas acadêmicas a que se dedicou; no entanto,
a distinção da teologia de Schleiermacher em dois aspectos, primeiro, em sua
atividade como pastor e pregador, e segundo, em seus labores acadêmicos,
demonstram também uma dupla distinção em relação aos princípios teológicos
fundamentais que definem a teologia de Schleiermacher; enquanto em sua teologia
como pastor e pregador, Schleiermacher tenha sido um teólogo do terceiro
artigo, e sua teologia uma teologia do Espírito Santo, que pode ser sumariada
pela sentença da teologia como pneumatologia, enquanto teólogo acadêmico, a
teologia de Schleiermacher também reflete este aspecto, mas como uma teologia
da cultura e uma teologia religiosa.
Portanto,
a teologia de Schleiermacher é ao mesmo tempo e fundamentalmente uma teologia
pneumática e uma teologia da cultura (e teologia religiosa); Schleiermacher é o
teólogo do terceiro artigo e também é o teólogo da religião; é o teólogo que
movido pelo amor a Cristo procura edificar a fé dos fiéis, mas também é o
teólogo preocupado com a situação da cultura, e que procura demonstrar que tudo
de bom que surge entre os homens é obra da graça de Deus. A teologia pneumática
de Schleiermacher na Igreja e entre a comunidade dos fiéis, na vida eclesial,
se torna em teologia da cultura e em teologia religiosa na esfera acadêmica e
entre as disciplinas acadêmicas, na vida extra-eclesial. E, no “Glaubenslehre”,
isso se conflui de maneira mais adequada, onde tanto o teólogo do terceiro
artigo quanto o teólogo da cultura, se fundem numa magistral apologia da fé e
da doutrina cristã, de acordo com os princípios da Igreja Evangélica, e
afirme-se isso de maneira sempre constante, de acordo com as necessidades de
sua época.
18.
Deste modo, a teologia de Schleiermacher, a partir da dupla distinção acima
evocada, entre a atividade como pastor e pregador e a atividade como teólogo
acadêmico, se confluem com um mesmo propósito, a saber, honrar a Cristo;
conquanto, para levar a cabo este propósito, ele delineara suas preocupações e
intuições mais incisivas de acordo com seus labores; pois, Schleiermacher
instituiu diante de si tão grandes atividades e tantas possibilidades, as quais
exerceu com maestria e genialidade, que Schleiermacher, nestas muitas
atividades, defrontou-se com inúmeros problemas, aos quais deu uma resposta
bíblica, teológica e filosófica de maneira contundente, e sempre com a aguçada
percepção da necessidade de sua época, que em grande parte, é também a
necessidade de todas as épocas.
Portanto,
quando Schleiermacher está pregando, ali está o pastor preocupado com o povo de
Deus a fim de transmitir-lhes a mensagem do Evangelho de tal forma que
incentive nestes a piedade e o fervor evangélico; ou quando está nas preleções
acadêmicas, onde existe algum problema instituído pela neologia, Schleiermacher
procura solucionar este problema e novamente “liberar” a teologia enquanto
ciência dos ditames da neologia; ou, como filósofo, ele procura solucionar os
problemas filosóficos de sua época, a partir da pura reflexão racional, com o
propósito de abalizar o saber e a filosofia a partir da realidade, da
consciência e da natureza; entre outras coisas.
Schleiermacher
defrontou-se com ínvios e agudos problemas, e os enfrentou de maneira incisiva,
de tal modo que forneceu a sua época e a todas as épocas o exemplo de um
testemunho cristão e evangélico de tal maneira que o colocam como o maior
teólogo após Lutero e Calvino, e em igualdade tanto com Lutero quanto com
Calvino.
19. A
teologia de Schleiermacher, portanto, se estabelece dentro destes dois eixos;
e, isto, contrapõem-se a todos os princípios evocados pelos críticos que dizem
que Schleiermacher é o pai do liberalismo teológico ou o pai da teologia
liberal; existe sim um liberalismo em Schleiermacher, mas não do liberalismo
teológico que costumeiramente se apresenta e que se combate com tanta
veemência; o liberalismo de Schleiermacher é o de liberar a teologia da
influência nefasta da neologia, a qual é o verdadeiro liberalismo teológico;
Schleiermacher, procurou, em sua vida e obra, honrar a Cristo, e restaurar a
possibilidade e a necessidade da reflexão teológica sem os ditames da neologia,
isto é, Schleiermacher laborou para livrar a teologia e a Igreja do verdadeiro
liberalismo teológico.
E,
afirme-se de maneira contundente que a neologia é a raiz de todos os “liberalismos
teológicos”, e não a teologia de Schleiermacher; a teologia de Schleiermacher,
no âmbito acadêmico, é uma resposta a neologia; evidentemente, sem se
compreender profundamente a teologia de Schleiermacher enquanto pastor e
pregador, pode-se considerar que sua teologia como teólogo acadêmico chega a
desconcertar e a beirar algumas heresias; realmente, esta percepção ocorre,
todavia, a teologia de Schleiermacher enquanto teólogo acadêmico, é justamente
uma resposta às necessidades acadêmicas de seu tempo, e compreendendo isso, se
compreende o porquê Schleiermacher talhou certos aspectos e evocou certas
pressuposições em suas obras acadêmicas.
20.
Por isso, ao se procurar entender e compreender Schleiermacher há de se ter em
mente estes princípios e estas pressuposições; logicamente, são apenas alguns
princípios em relação a sua atividade como teólogo acadêmico, em relação as
suas principais obras, e alguns breves insights sobre sua atividade como pastor
e pregador; são elucidações gerais, mais fundamentais para se compreender a
teologia de Schleiermacher e o modo como se deve adentrar no estudo da mesma e
em como se deve interpretá-la; com isso, pode-se prosseguir ao estudo e a
compreensão da teologia de Schleiermacher; suas principais obras teológicas não
estão traduzidas em língua portuguesa (apenas algumas filosóficas), salvo uma
edição dos “Reden”, traduzido como “Sobre a Religião” (que não é
uma tradução muito boa); todavia, as principais obras acadêmicas de
Schleiermacher estão em língua inglesa em traduções e edições antigas, as
quais, são fundamentais para o estudo e a compreensão sobre Schleiermacher, e
que valem a pena de serem lidas; na verdade, são leitura imprescindível para se
compreender os caminhos da teologia moderna.
Com
isso, se percebe que, goste-se ou não, aceite-se ou não, compreenda-se ou não,
Schleiermacher é verdadeira o pai da teologia moderna, e um dos pais da Igreja,
o pai da Igreja no séc. XIX, e como dissera Barth, o pai da Igreja também no
séc. XX; e, certamente o pai da Igreja também para o séc. XXI; mas não somente
isso, pois, Schleiermacher também é um marco na filosofia moderna; os “Reden”
podem ser tidos como um dos marcos do início da filosofia contemporânea, já que
os problemas descritos neste escrito são alguns dos maiores problemas que
ocuparão os grandes filósofos posteriores e que permeiam a existência na
contemporaneidade.
Por
isso, compreender Schleiermacher é compreender muitos dos problemas que tem
assolado a vida moderna, tanto na teologia quanto na filosofia; e,
Schleiermacher permanece um exemplo, tanto na filosofia quanto na teologia, da
luta pela verdade; embora, Schleiermacher tenha sido um homem de seu tempo,
suas posições e proposições teoréticas são fundamentais e imprescindíveis,
tanto em suas tarefas como pastor e pregador, quanto em suas tarefas como
teólogo acadêmico e em suas tarefas como filósofo. Schleiermacher é o teólogo
que todas as gerações posteriores terão de lidar se realmente quiserem edificar
e construir reflexões teológicas sóbrias e frutíferas.
21. E termina aqui a breve exposição sobre a teologia de Schleiermacher. Bendito seja Deus por todas as coisas. Amém.
[1] A filosofia de Schleiermacher, que
não será analisada neste escrito, é uma grande filosofia, até mesmo melhor e
maior do que a Hegel; todavia, é uma filosofia de difícil acesso, tanto devido
a dificuldade dos escritos quanto das linhas de argumentação de Schleiermacher;
em outros escritos posteriores, se apresentará melhor a filosofia de
Schleiermacher que não fora analisada neste breve escrito.
[2] Num escrito anterior, “Axiomas
para a Interpretação de Schleiermacher”, o autor apresentou alguns axiomas
e princípios para se compreender Schleiermacher; um escrito fundamental para se
adentrar no estudo e na interpretação de Schleiermacher.
[3] Karl Barth, Karl Barth
Gesamtausgabe Bd. 24: Vorträge und kleinere Arbeiten 1925–1930 [Zurique:
TVZ Verlag, 1994], pág. 538.
[4] Karl Barth, Protestant Thought: From Rousseau to Ritschl [New
York: Harper & Brothers Publishers, 1959], pág. 313.
[5] Sobre isso, se analisará em outro
escrito, no qual se focará no legado de Schleiermacher enquanto professor
universitário de teologia.
[6] Ibidem. Pág. 322.
[7] cf. Friedrich Schleiermacher, Sobre
a Religião [São Paulo: Fonte Editorial, 2000], pág. 41-42.
[8] Sobre esta obra de Schleiermacher,
consulte-se outra obra do autor, “Schleiermacher e o Estudo Teológico” (Ensaios
de Teologia, n. 4), na qual o autor apresenta, de maneira geral, os
princípios de Schleiermacher sobre o estudo teológico.
[9] Este princípio subjetivo que
Schleiermacher propugna em sua análise, provêm, do princípio estabelecido por
Calvino no início do “Institutio”; pois, Calvino apresenta que os dois
modos de conhecer a Deus são: primeiro, através do conhecimento de Deus
(princípio objetivo na análise teológica); segundo, através do conhecimento de
nós mesmos (princípio subjetivo na análise teológica); embora o próprio Calvino
não apresente uma regra específica, ele segue a partir do princípio objetivo,
deixando assim espaço para o princípio subjetivo. O princípio subjetivo será
elaborado de maneira magistral por Schleiermacher, em igualdade de grandeza com
a análise de Calvino; todavia, com um problema, a obra de Schleiermacher é de
difícil compreensão, devido aos ínvios caminhos de argumentação e as obscuras
categorias romântico-idealistas que se utilizara. Por isso, existe uma
dificuldade de compreensão da dogmática de Schleiermacher muito maior do que
para compreender o “Institutio” de Calvino; Calvino é muito mais fácil
de ser compreendido do que Schleiermacher, e o “Institutio” muito fácil
de ser lido e entendido do que o “Glaubenslehre”; esta diferença de
dificuldade também é elencada através de uma comparação, a qual, pode ser
entendida, guardadas as devidas proporções, respectivamente, com a diferença de
dificuldade entre compreender Tomás de Aquino e compreender Duns Scotus.
[10] cf.
Friedrich Schleiermacher, Sämmtliche Werke II/4 [Berlin, 1835], pág.
838.
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